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Gerir nossas casas e nossa cidade

28 de Março de 2017, 13:48 , por Débora Nunes - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Gerir casas e cidades

Os que vivem em condomínios sabem o que significa democracia participativa. Os que vivem em casa com filhos adultos que trabalham, também. Nesses casos, todo mundo contribui para pagar as despesas e a decisão sobre como gastar o dinheiro é coletiva. Alguém faz compras, pagamento e supervisão de serviços, mas sabe ser supervisionado por quem produz a riqueza. O que se vê é que as pessoas tendem a priorizar as despesas necessárias e que “desvio de recursos” são raros.  Do mesmo modo, evita-se o desperdício do próprio dinheiro.  “Obras faraônicas” praticamente não existem e os casos de endividamento além da conta são incomuns para recursos supervisionados.

Porque uma população tão qualificada para gerir o próprio dinheiro não participa do poder nas cidades, se são elas que geram a riqueza do município? Prevista na Constituição como imperativo de governança, a participação na gestão é ainda uma utopia. Em sua maioria, as experiências de participação popular, seja nos orçamentos, sejam nos Planos Diretores, são próximas da farsa. Infelizmente, Salvador não é diferente. Democracia direta não é meia dúzia de reuniões com poucas pessoas, com acesso a poucos dados e sem possibilidade de realmente decidir. Apenas a decisão, e posterior acompanhamento, de como, onde e quando gastar, ou com quais prioridades e critérios se planeja o futuro, pode ser chamada de participação.

Poucos governantes se interessam pela participação cidadã. Incorporar a população nas decisões, como manda a lei, significa serem controlados. Políticos incompetentes e corruptos não querem isso, pois é perigoso para eles. Para os que fingem fazer governança contemporânea, em algum momento seus concidadãos compreenderão que estão sendo lesados.  Para os atrasados em seus modelos políticos, há de vir o momento em que ficarão para trás em face de gestores/as cumpridores da Constituição que querem trabalhar colaborativamente com seus munícipes.

Mas a “culpa” não é apenas dos políticos. Participação é coisa pra gente comprometida com o coletivo. O esvaziamento das reuniões de muitos condomínios mostra o problema. A dificuldade da governança participativa é cultural, pois parte da população só cuida dos próprios assuntos. Para outros, criticar os políticos - e o síndico - é o suficiente.  Como mudar isso? Repetindo o que fazemos em casa, com nossos filhos: treinando-os para serem responsáveis. Fazendo “pedagogia da participação” como fazemos pedagogia da autonomia. Mas falta espírito público para políticas dessa natureza e, por enquanto, apenas uma combativa parte da população luta pelo direito de gerir a própria cidade.  Se olharmos os avanços civilizacionais no decorrer da longa história, esses e essas triunfarão.

 

(Publicado no jornal "A Tarde" dia 28/03/2017


Categorias

Economia, Temáticas, Formação, Política, Cultura

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