Ir para o conteúdo
Mostrar cesto Esconder cesto
Voltar a Blog
Tela cheia

Meditação e política

23 de Março de 2016, 18:43 , por Débora Nunes - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
Visualizado 425 vezes

Em tempos difíceis, a busca de manter a serenidade interna em face da tempestade externa, que é um dos objetivos de quem medita, pode ser um bom caminho. E se a tranquilidade de cada um é preciosa, mais ainda é a de um país inteiro. A boa nova ensinada pela física quântica nos diz que o mundo externo e o mundo interno estão em profunda ligação, assim, manter a calma individualmente contribui para a tranquilização do entorno coletivo. Desse modo, manter a “mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo” também pode ser uma atitude política.

Então, vamos lá: tem-se uma tempestade externa que tem raízes ideológicas e de projeto de sociedade distintos. Entretanto, esses projetos vêm se confrontando há  décadas sem que o pais se incendiasse, criando possibilidades nada positivas. O clima atual de polarização pode ser colocado em perspectiva, ao se tentar imaginar o que pode sair dessa crise e cada um pode sentir qual opção quer ajudar a construir. Uma maioria esmagadora de brasileiros quer o prosseguimento da via democrática e o fortalecimento das instituições e seu aperfeiçoamento e é pra esse tipo de pessoas que esse texto está sendo escrito.

Ao se colocar a situação atual em perspectiva, outra técnica meditativa pode ser bem vinda: a que se baseia no sentir profundo em torno de quatro palavras: observo, acolho, agradeço e ofereço. Assim, podemos buscar observar os fatos de modo um pouco mais neutro, olhando a realidade em sua complexidade, sem nos limitarmos apenas ao que “tendemos a ver”. Em seguida, passa-se a acolher o que é visto tentando evitar julgamentos, aceitar o que é, sabendo que tudo tem dois lados. O próximo passo é encontrar caminhos para tirar lições positivas do que vemos e sermos capazes de agradecer o que observamos e acolhemos. Finalmente, é hora de oferecer, ou seja, colocarmo-nos na perspectiva do que podemos nos engajar a ser ou fazer em face do que observamos, acolhemos e agradecemos.

Avançando um pouco mais e alinhavando técnicas meditativas com o quadro político atual: se sua mente estiver calma e seu coração tranquilo, seja de que lado você estiver, algumas questões podem ser facilmente entendidas como detonadores da tempestade externa atual: para muitos, a condução coercitiva e a divulgação intempestiva de escutas telefônicas de Lula, de um lado, é inaceitável. Para outros tantos, é a indicação para ministro de Estado de alguém que está sendo investigado, mesmo em face da imensa mobilização social pela lei da “ficha limpa”, que tenta trazer mais ética na esfera pública.

Ok, leitor/a, para você que está muito envolvido emocionalmente com o que está acontecendo, vou tentar dar voz ao que “não quer calar”. De um lado, o clima de FLA-FLU, persecutório, que a mídia vem tentando imprimir no país (até pra manter sua audiência, em queda livre em face das novas mídias sociais). Do outro, você não quer deixar de falar do uso da máquina pública que o governo faz pra defender sua posição. Certamente há muitas outras circunstâncias, que, de um lado e de outro, agravam o quadro simplificado que descrevi, mas o objetivo não é dar razão a um lado ou outro, mas ver o quadro em perspectiva.

Olhando assim, talvez seja possível entender a ira de cada um dos lados e, sem deixar de tomar partido, se essa é sua opção, ajudar a reencontrar caminhos de convivência civilizada, que é a única saída pra manter a democracia. Nos colocarmos em perspectiva significa imaginar o que vai sair dessa crise: como em outros países onde essas polarizações exacerbadas já ocorreram, os partidos ou linhas ideológicas diretamente em disputa serão provavelmente muito prejudicados nas próximas eleições. Se os políticos de um lado e de outro fossem mais serenos, perceberiam que o acirramento das contradições irá possivelmente afastá-los de seus objetivos de poder.

A crise abre novas oportunidades: se petistas e peessedebistas, juntos com seus aliados, pagarão um preço alto nas próximas eleições, é hora de perguntar: existem alternativas que possam substituir essas tendências políticas? dificilmente eleitoras e eleitores irão mudar da água pro vinho. Provavelmente vão buscar propostas próximas à que já vem abraçando historicamente. O que mudou, de fato, é uma tolerância cada vez menor com a falta de ética na política e uma confiança cada vez menor no sistema político atual, em grande parte manipulado pelo poder econômico.

Duas novas agremiações políticas que se desenham no horizonte político brasileiro provavelmente crescerão no vácuo da crise. O contínuo movimento da Vida, seja da natureza, seja da política, não vai cessar. Os dois partidos propõem maior horizontalidade na política e buscam aliar a preocupação com a ecologia e com as condições sociais dos brasileiros. Essas são tendências que se apresentam também em outros países e que animam a juventude, tão descrente da política. São eles que farão a política do futuro.

Os que se digladiam agora, sem calma, sem autoquestionamento e sem perspectivas, podem estar ateando fogo em suas próprias vestes, e na nação. Não seria melhor buscar encontrar algum lugar de paz dentro de si, olhar o longo prazo da sociedade brasileira e ajudar a construir, serenamente, o país melhor que todos queremos? Conflitos são bons e nos fazem avançar. Mentiras, violência e a negação do direito de existência de outras perspectivas de mundo precisam ficar para traz.  Dialogar é preciso, e faz bem.  Meditar também.


Categorias

Política

0sem comentários ainda

    Enviar um comentário

    Os campos são obrigatórios.

    Se você é um usuário registrado, pode se identificar e ser reconhecido automaticamente.

    Cancelar