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Medo e Gestão de Conflitos – Consciência para Dialogar

15 de Junho de 2015, 4:23 , por Débora Nunes - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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O texto a seguir introduz uma técnica importante para fazer-nos crescer tanto do ponto de vista pessoal, quanto coletivo. Sendo o medo um sentimento instintivo dos seres vivos - medo de morrer, medo de sofrer – e que no ser humano toma proporções mais sofisticadas – medo de não ser amado, medo de não estar à altura das expectativas, entre outros - percebê-lo, entendê-lo e lidar com ele, é uma tarefa árdua mas compensadora, como mostra Vivina Machado. No campo social, os grupos de diversos tipos, as nações, as classes sociais, têm também seus medos coletivos com grande impacto na sua forma de atuação e de legitimação das ações de seus dirigentes. 

O Diálogo, por sua vez, como caminho para um entendimento dos medos mútuos que nos dividem e impedem que vivamos em paz, é uma saída, um instrumento, e sobretudo um modo de enriquecimento. No campo pessoal, o diálogo é o conselho de sempre de qualquer pessoa minimamente madura para que se saia de um conflito. No campo social, as instituições de diálogo se multiplicam, sendo o próprio parlamento das democracias modernas, uma forma de diálogo. É o requisito para que o diálogo seja um caminho de gestão de conflitos que faz falta: “auto-reflexão e auto-responsabilidade, conosco, com o outro com a natureza”, nas palavras de Vivina. Convido o/a leitor/a para passear com a autora de uma situação concreta para uma visão geral de sua proposta. Sem dúvida, lidar de modo diferente com os conflitos, gerindo-os para solucioná-los sem opressão do outro, é um dos caminhos oferecidos pelas “práticas do futuro emergente”, sempre discutidas nesse blog para ilustrar novos paradigmas.

 

Medo e Gestão de Conflitos – Consciência para Dialogar 

Vivina Machado

 

Noite de quinta feira. Dia muito desafiante. Um acúmulo de tarefas e a maior parte do dia num hospital acompanhando uma bebezinha, que aos três meses se submeteu a uma cirurgia para retirada de duas hérnias. Tudo isto misturado com pitadas de tensões outras...

Faço parte do conselho de um prédio onde possuo um apartamento. Abro meu email e leio uma mensagem de uma conselheira que trás uma situação delicada e ameaça impugnar uma assembléia que porventura seja realizada sem a sua presença, já que está com viagem marcada e, na opinião dela a assembléia para validação de algumas contas já deveria ter sito feita.

Na mensagem, a conselheira também diz que alguns membros do conselho – e cita nominalmente, a mim e a outro conselheiro, assinam as pastas de prestação de contas sem ler e analisar.

Ao ler o que está escrito sou inicialmente tomada por um sentimento de cansaço e descrença. Depois de um dia desses... ninguém merece. Uma leviandade! Penso. Este pensamento misturado com alguns outros menos comportados...

No outro dia decido pedir uma reunião com a direção de prédio e o conselho fiscal. Por um desses golpes de sorte, todos podiam no final daquela mesma tarde.

Sentamos e eu iniciei a reunião dizendo que o objetivo daquela chamada  era encontrarmos um espaço de diálogo que conseguisse nos unir para uma ação conjunta diante de um cenário de desafios que estava ocorrendo naquele momento. Caso fossemos para uma assembleia com aquele nível de animosidade e desconfiança, os resultados para a gestão, assim como a tomadas de decisão ficariam bastante comprometidas.

Iniciamos uma conversa e conseguimos encontrar um espaço de convergência para agirmos conjuntamente  e posteriormente chamarmos a assembleia.  Concluída esta etapa o conselheiro que tinha sido citado junto comigo no e-mail da conselheira  anunciou que estava renunciando ao cargo pois tinha se sentido ofendido com o que tinha sido dito a seu respeito.

Este conselheiro se colocou de forma clara, situando como aquelas palavras ditas no e-mail, o atingiram  pois considerava importante ter na vida uma atitude séria, ética e responsável. Aquele e-mail ferira  sua dignidade.

Complemento o que ele diz, me colocando de forma semelhante.  Digo que pensei em renunciar, mas reavaliei em função do momento que estamos vivendo na gestão do condomínio.

 A conselheira fica emocionada com as falas, pede desculpas, diz que não imaginava que iria ferir nós dois e o conselheiro completa a sua fala expondo algumas situações que está vivendo que o coloca mais vulnerável que em outras circunstâncias. E ele contextualiza: A sra.  já pensou que ao escrever isto, desta forma, a senhora vai atingir uma pessoa que pode estar vivendo um momento particularmente delicado? Que em função disto a reação desta pessoa pode ser pior que a atitude  da senhora?

Novamente a emoção de fez presente   e entre lágrimas ela diz baixinho: eu tenho medo que a situação se agrave e fique fora de controle. Eu me sinto responsável e sinto medo.

Bingo.  Ali estava declarada a gênesis do conflito: o medo.

O medo é combustível para os conflitos, os medos que atuam em nós sem nos darmos conta da existência deles, de como eles atuam, podendo distorcer nossos pensamentos e ações. O medo é saudável, nos preserva, nos mantém vivos, no entanto, a inconsciência do medo nos afasta de nós mesmos, do outro, de uma vida mais plena, inteira de uma comunicação centrada no diálogo.

Expanda este caso que acabo de contar e pense numa mesa de negociação entre grupos, entre países que estão com dificuldades, desconfianças   nas relações entre si. A exceção do choro, da expressão de vulnerabilidade, a cena poderia ser transplantada para uma reunião com os dirigentes de grupos, ou de países que estão vivendo antagonismos, divergências e os transformando em conflitos. Ampliar a consciência é fundamental na nossa comunicação, para que possamos viver a plenitude do diálogo e da gestão de conflitos – com criatividade e inteireza.

A ampliação da consciência, no sentido da auto-reflexão e auto-responsabilidade, conosco, com o outro com a natureza, é combustível básico para o que é chamado de “futuro emergente” para quebra de paradigmas vigentes. Para isto, muitas iniciativas tem sido realizadas: os coletivos cidadãos – Débora Nunes e Ivan Maltcheff, a rede internacional Diálogos em humanidade,  o Brechó Eco solidário, a sobriedade feliz, de Pierre Rabhi e Patrick Viveret, as metodologias integrativas, de Valeria Giannella, as pesquisas sobre escuta que Maria Suzana Moura está desenvolvendo e tantas outras que unem metodologias, que avançam  para uma prática amorosa, solidária e mais  consciente.

Na rastro e na inspiração destas iniciativas, tenho compartilhado um método que desenvolvi em Diálogo e gestão criativa para lidar com os conflitos chamado de DGCC.  Este método contribui para expandir as  possibilidades de dialogarmos e gerirmos conflitos criativamente, ampliando nosso estado de consciência.

No post seguinte conheça  mais sobre o DGCC e a associação entre consciência, inconsciência,  medo, crenças e comunicação.

 

Comunicação e Comportamento – consciência e inconsciência

Ruídos de comunicação ou barulho de crenças?   

O DGCC é um método, cuja base é a complexidade do pensamento e a simplicidade da ação, que contribui para ampliarmos as possibilidades de repensarmos como nos comunicamos, os impactos que podemos causar com a nossa comunicação e da similaridade entre comportamento e comunicação.  

No processo de criação e desenvolvimento do DGCC algumas situações, individuais e coletivas-organizacionais serviram de suporte para um diagnóstico cujo um dos aspectos compartilho com você:

      

- Há um elevado nível de  inconsciência nas nossas ações comunicativas e nas repercussões geradas por essas ações – tanto  na nossa atuação individual quanto coletiva; ou seja, um reduzido conhecimento de como nos comunicamos e dos impactos gerados com a nossa comunicação.

 

Falamos no dia a dia de ruídos de comunicação, nos referindo a algo que é dito para ser escutado de uma forma e escuta-se, de outra,  atribuindo-se um significado diferente daquele que inicialmente era desejado. Quando isto ocorre, verificamos que houve um impacto na relação entre pessoas, entre grupos que estavam se comunicando. Alguns ruídos viram barulho, na maioria das vezes, confusão, conflito e até rompimentos. Tendemos a atribuir ao outro a distorção do entendimento. No entanto: 

Até que ponto ao nos comunicarmos ficamos atentos ao como nos comunicamos e aos impactos que esta comunicação pode gerar?

Naturalizamos o processo de comunicação. O que é dito, a forma como nos comportamos parece decorrente tão somente daquela interação – no presente OU é mera consequência da história daquela relação. Seja individual, seja coletiva.

Comunicação e comportamento estão entrelaçados. Paul Watzlawick diz que “comunicação é comportamento”.  Nossos comportamentos estão vinculados a nossa história de vida, ao lugar onde nascemos, a cultura em que nos inserimos, a família de onde viemos, a situação social, política e econômica, os conceitos e preconceitos que sorvemos, a nossa estrutura física, biológica, aos nossos antepassados. Nosso comportamento, nossa comunicação, estão marcados e em parte -  até determinados, pelas nossas crenças.  Nossas crenças formatam uma janela por onde percebemos, enxergamos - “um” mundo,  o nosso mundo - e nele, vivemos. Predominantemente, estamos inconscientes das nossas crenças.

Para gerirmos conflitos criativamente e dialogarmos é importante nos tornarmos conscientes que nossas crenças influenciam e determinam uma identidade, seja individual seja coletiva, que influenciam e determinam nossa relação com a vida e nossa comunicação. Assim, aquilo que desafia, que confronta  as nossas crenças,  ameaça a nossa identidade e tende a ativar nossos mecanismos defensivos. O medo é matéria prima nesta ativação.

Nem sempre é possível identificar a crença, mas é possível ampliarmos a consciência de que alguma crença está movendo as relões que estabelecemos: seja individual, seja coletivamente. Portanto, apesar das inconsciências,   estamos cada vez mais ampliando nossa consciência para encontrar e - já encontrando - novas formas de nos comunicarmos de nos relacionarmos, sendo amorosos,  autênticos e solidários, gerando ações que expressam inteireza, beleza e transformação – pessoal e social.

Da próxima vez que constatar um ruído de comunicação, pergunte-se com humor: será um barulho de crenças?

Meu nome é Vivina Machado,  desenvolvi o DGCC, método para dialogar e gerir conflitos, criativamente. Venho colocando minhas habilidades, amor e paixão para contribuir com pessoas e organizações, fornecendo consultoria, coach,  atendendo individualmente  e em grupo.  Formação como Mestre em Desenvolvimento e Gestão Social pela Universidade Federal da Bahia, Executive Coach pela Royal Roads University, Canadá, Economista pela Universidade Católica do Salvador e em Psicologia Transpessoal pela Escola da Dinamica Energética do Psiquismo, São Paulo e Salvador.

Contato:  [email protected] e (71) 91488236

 

 

 


Categorias

Comunicação, Cultura, Política

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