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Psicologia yóguica

12 de Junho de 2024, 9:57 , por Débora Nunes - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Resumo evolução yin yang chacras

Conceitos gerais e algumas práticas

Débora Nunes

O doutor Rishi Vivekananda, médico psiquiatra australiano vinculado à tradição de Satyananda (fundador da Bihar School of Yoga, uma das mais respeitadas escolas de Yoga da India, onde estudei em 2023), propôs uma síntese extremamente útil para quem quer se autoconhecer e evoluir. O resumo a seguir busca inspirar pessoas a conhecer seu livro[1], assim como as obras do inspirador guru Swami Satyananda Saraswati e de seu sucessor, Swami Niranjanananda Saraswati. Para situar leitoras e leitores ocidentais, há proximidades da abordagem da  psicologia yóguica  com Gustav Young, impulsionador no Ocidente de uma psicologia não materialista e Abrahan Maslow, com suas sínteses de tipos psicológicos. Minha própria prática de Yoga há mais de duas décadas, assim como a experiência com a “Meditação de harmonização dos chakras” que desenvolvi há muitos anos, ajudam na interpretação e nos exemplos e, espero, ajudem a tornar mais claras as complexidades da psicologia yóguica.

O yoga reconhece alguns padrões de realidade que foram utilizados na abordagem do doutor Vivekananda: os chakras, os sete principais centros de energia do corpo humano; os koshas, as cinco camadas do corpo humano; as gunas, ou graus de evolução de toda existência (inclusive humana) e os nadis, fluxos energéticos do corpo. Com base nestes padrões, e mais alguns códigos bem conhecidos de vida prática do Yoga, como os yamas e os nayamas, e as práticas corporais tais como os ássanas, pranayama, mudras, bandhas e shatkarmas, o Dr Rishi construiu, junto com sua experiência prática de 45 anos como psiquiatra e décadas como praticante do Yoga, um roteiro de autoconhecimento e práticas de autossuperação. Juntamente com a referência aos cinco modos mais conhecidos do Yoga, a Raja Yoga, a Karma Yoga, a Bhakti yoga e Jnana Yoga, a Psicologia yóguica é um rico caminho para se trilhar.

                                  

Comecemos por explicar melhor cada um dos termos citados em sânscrito: os Chakras, centros de energia do corpo humano situados ao longo da coluna vertebral, são sete (principais): Mooladhara, ou chacra Raiz ou Básico, situado no períneo e vinculado às necessidades de sobrevivência e autoproteção e à relação com a Terra; Swadhisthana  ou chakra Sacral ou Genésico, situado quatro dedos abaixo do umbigo, nas imediações do cóccix, rege o poder criador da energia sexual, a ancestralidade e a descendência; Manipura, ou chakra do Plexo Solar ou Digestivo, situado acima do umbigo e relacionado à auto expressão do indivíduo, ao seu poder pessoal; Anahata, ou chakra do Coração, situado no centro do peito e que relaciona-se à compaixão e ao desenvolvimento do amor em dimensão universal;  Vishuddi ou chakra Laríngeo, situado na garganta que representa a comunicação criativa da pessoa no mundo, alinhada com o propósito pessoal de serviço ao cosmos; Ajna ou chakra do Terceiro Olho, situado entre as sobrancelhas e relacionado com a inteligência integrativa, racional e intuitiva ao mesmo tempo; e por fim, o Sahashara chakra da Coroa, situado acima da cabeça e que representa a transcendência, o canal de comunicação com o divino

O segundo padrão de realidade humana reconhecido no Yoga são os Koshas. Dentro da concepção yóguica de que cada pessoa possui um Atma, equivalente à Alma no mundo ocidental, que é parte da emanação divina que tudo une, os koshas são camadas em torno desta alma dentro do complexo corpo-energia-mente. Existem cinco camadas: o Annamaya kosha, referente ao corpo físico; o Pranamaya kosha, ao corpo energético; o Manomaya kosha, ao corpo mental; o Vijnamaya kosha, ao corpo de sabedoria e o Anandamaya kosha, ou camada da plenitude ou da iluminação.  Cada pessoa tem uma preponderância de sua consciência em uma destas camadas.

O terceiro padrão de entendimento do mundo a partir do Yoga são as Gunas. Desde o clássico indiano Bhagavad Gita, o próprio Krishna descreve com as Gunas as qualidades de todas as criaturas da Natureza: Sattwa, pureza; Rajas, paixão e Tamas, inércia. Ele descreve que a qualidade Sattwa influencia a pessoa em direção à pureza, contentamento e sabedoria; a qualidade Rajas influencia a pessoa em direção à busca de satisfação de seus desejos e a qualidade Tamas influencia a pessoa em direção à inércia e à ignorância. Todas as Gunas estão presentes em todos as pessoas em determinado período e situações.  Olhando de forma mais ampla, as Gunas Rajas e Tamas podem ser vistas de forma menos negativa. O dinamismo e a entusiasmo de Rajas podem ser usados para nobres propósitos, assim como a estabilidade e o não julgamento de Tamas, mesmo que por ignorância, podem ser também construtivos.

O quarto padrão de realidade observado no Yoga é a existência dos canais de energia, os Nadis, ao longo da coluna vertebral. Existem três Nadis: um, situado à direita da coluna, Pingala, vinculado ao sol e ao masculino; outro, situado à esquerda da coluna, Ida, vinculado à lua e ao feminino, e um Nadi central, Sushuma, que se ativa quando Ida e Pingala estão harmonizados. Enquanto Sushuma está situado ao longo da coluna em linha direta, Ida e Pingala fazem uma espécie de zig-zag ou espiral ao longo da coluna. Para o Yoga, ainda, Sushuma é o caminho da Kundalini, a serpente que representa e evolução da conciência, que nasce no Mooladara chakra e percorre Sushuma até chegar ao Sahasrara, à iluminação.

Estes padrões de entendimento da pessoa vão constituir a base da compreensão das personalidades segundo a psicologia yóguica. Na proposta do Dr. Vivekananda, na medida em que deciframos a nós mesmos, o Yoga propõe caminhos evolutivos através do estilo de vida yóguico. Neste yoga lifestyle há regras de conduta como as auto restrições dos yamas, que são a não violência, a expressão verdadeira de si, a honestidade para com os outros, o desapego à matéria e prestígio e o autocontrole dos desejos. Já os niyamas são os códigos pessoais, como a pureza e ordem no campo mental e físico, o contentamento e aceitação do que é, as práticas de austeridade (jejum, silêncio, solidão, abstenção, etc),  a auto-observação das forças, fragilidades, necessidades e ambições que se carrega e o cultivo da fé em uma inteligência maior que tudo rege em benefício da evolução pessoal e coletiva.

 O estilo de vida yóguico é também o exercício dos mandamentos das cinco principais yogas: o Raja Yoga, o Karma Yoga, o Bhakti Yoga, e o Jnana Yoga. O Raja Yoga, que, pode-se dizer, rege o comportamento cotidiano, cultiva a presença em toda a ação, auto-observando-se através dos códigos do yamas e niyamas citados anteriormente. O Karma Yoga, que rege principalmente o trabalho, baseia-se no serviço ao mundo com grande eficiência e presença, seguindo nosso Sankalpa, nossa missão no mundo. O Bhakti Yoga, ou yoga de devoção e a doação de si ao propósito maior, busca desenvolver a fé, uma fé não religiosa que é focada em algo que faz sentido pra nós e que honramos dentro da compreensão da nossa unidade com o divino. O Jnana Yoga, que foca no conhecimento, envolve o contínuo aprendizado sobre nós mesmos e sobre o mundo, buscando a consciência maior e a imersão na sabedoria universal.

Outro caminho evolutivo da psicologia yóguica do Dr Vivekananda são as práticas físicas, todas derivadas das indicações da tradição de Satyananda e da Bihar School of Yoga. Um caminho exemplar e universal é recomendado para encontrar o equilíbrio: Entre as centenas de ásanas do Yoga, por exemplo, destaca-se como prática diária o Pawanmuktassana e o Suryanamaskara, por suas capacidades de integrar todo os sistemas do corpo. O Pawanmuktassana envolve exercícios para desenvolver a flexibilidade de todas as articulações, com atenção ao ponto em movimento e à respiração e pequenas pausas entre um exercício e outro. O Suryanamaskara, poderoso exercício devocional de saudação ao Sol, regula Ida e Pingala e ativa o sistema dos chakras, vitalizando o corpo, a mente e o sistema energético.

Ainda nas práticas físicas estão as limpezas corporais (Shatkarmas), onde destacam-se a lavagem das narinas, a lavagem do estômago e a lavagem intestinal periódica. Nos exercícios respiratórios, alguns Pranayamas, são destacados: a observação da respiração natural; a respiração yóguica; a respiração pela garganta (Ujjayi); a respiração alternada das narinas (Nadi Shodana); a respiração forçando o abdômen (Kapalbhati) e a respiração do som das abelhas (Bharamari). Em relação aos Bandas (contrações), a recomendação principal é o Moola Bandha, ou contração do períneo e sobre os Mantras, a repetição do Aum ou Om, e o mantra com respiração So-Ham. Em termos de práticas meditativas, a Yoga Nidra é destacada, em sua prática completa de 30 min. Todas as práticas citadas precisam ser orientadas por pessoa treinada até que a pessoa adquira autonomia. Nos atendimentos profissionais de psicologia yóguica, outras práticas corporais podem ser acrescentadas, segundo os perfis e necessidades pessoais.

A seguir, no próximo post, iremos resumir as formas de identificação dos perfis pessoais segundo os Chakras e as Gunas predominantes, continuando a compreensão da psicologia yóguica, a partir dos conceitos aqui citados.

 

[1] VIVEKANANDA, Rischi (2005). Practical Yoga Psychology. Munger: Yoga Publications Trust

 


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Tags deste artigo: Auto transformação

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