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Visitando o novo mundo: Piracanga

18 de Dezembro de 2022, 18:29 , por Débora Nunes - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Piracanga mapa em desenho antes 2016

Regeneração, arte e sucesso

A ecovila Piracanga, fundada em 2010 é fruto de um sonho de Angelina Ataíde, uma portuguesa que atraiu um grupo de pessoas para criar uma comunidade em que a vida cotidiana espelhasse princípios espirituais de partilha e união, em constante busca interior. A área da ecovila, comprada por Angelina e este grupo pioneiro, localiza-se em área de difícil acesso na foz do rio Piracanga, na Península de Maraú-BA no entorno de uma APA. A força regenerativa de Piracanga se mostrou ano a ano, pois o ambiente exuberante de hoje foi fruto de muito trabalho da comunidade desde seu início, já que esta ocupou um terreno originalmente desmatado. As práticas artísticas também marcam o ambiente da comunidade, com painéis pintados em muitos espaços e um bom gosto na simplicidade decorativa ecológica que encanta quem visita a ecovila.

A prática da leitura de aura foi uma das atividades que uniu a comunidade no início e trouxe as primeiras imersões, que se tornaram a fonte do sucesso material que faz Piracanga ser a ecovila mais próspera do Brasil. Os cuidados com a Natureza e o trabalho regenerativo, aliado à oferta de atividades de alto conhecimento e práticas físicas diversas, realizadas em um local paradisíaco de encontro do rio com o mar e a excelente infraestrutura, fazem com que a ecovila seja vista como um inovador spa ecológico. Ao atrair pessoas de alto poder aquisitivo que buscam novos valores e práticas, produz-se um fluxo financeiro que financia as atividades profissionais de boa parte dxs habitantes que atuam junto aos turistas. Atualmente, a intensa publicidade na internet, tenta retomar o fluxo turístico de antes da pandemia de COVID 19 (https://unah.eco/)

Piracanga, como muitas ecovilas, tem como dupla atração a abordagem espiritual e as práticas ecológicas. A permacultura, ou cultura da permanência, em suas diversas modalidades, como a agrofloresta e o uso dos resíduos domésticos e dos sanitários secos para produzir fertilizantes, ajudaram a recuperar a Mata Atlântica original. O trabalho comunitário com participação de trabadorxs da região, ano a ano, devolveram ao terreno a exuberância original. O cuidado com a água do subsolo, essencial para a comunidade que a usa cotidianamente, marcou muitas das inovativas atividades empresariais e comunitárias de Piracanga, onde se destacam os produtos de higiene biodegradáveis.

A população pioneira criou o Centro Inquiri, um conjunto de edificações bioconstruídas composto por recepção, administração, restaurante, lanchonete, lojas, espaços para terapias, escola infantil, casa de artes, casa dos aromas, marcenaria, viveiro de mudas, espaço para tratamento de resíduos, cabanas para vivências e alojamentos para residentes e visitantes. Foi este grupo pioneiro que estabeleceu a boa relação, que dura até hoje, entre Piracanga e a população nativa. Estas e estes encontraram na ecovila fonte de emprego, renda e amizade. Muitas adoções, a princípio informais aprofundaram a parceria entre as duas comunidades, pois crianças da região vieram estudar na “alma” da ecovila, a Escola Inkiri.

O espaço criativo e bem cuidado da Escola Inkiri é atencioso com as necessidades das crianças locais e adotadas e foi um marco na fundação da ecovila, em 2010. Desde então vem mobilizando a comunidade pois cada morador.a pode ser escolhido mentor.a para a curiosidade da criança que escolhe um tema de estudo e vai sendo amorosamente guiada por esta pessoa. Baleias, horta, animais diversos...o que a imaginação da criança busca, pessoas adultas são escaladas para ajudá-la. A maternagem é um valor fundante da comunidade e isto se espalha, como se viu, no cuidado com a Natureza e no autocuidado.

Ao logo do tempo a comunidade foi crescendo, terrenos foram vendidos a pessoas de muitos lugares do Brasil e do mundo em busca de uma vida ecológica integrada com a Natureza. Esta nova população nem sempre estava integrada ao modelo de vida e práticas espirituais propostos pela comunidade Inkiri. vinculada ao Centro citado através de um Instituto. O convívio foi se tornando tenso, com conflitos de diversas ordens, separando a comunidade em duas até o rompimento total durante a pandemia de COVID 19. Angelina e parte da comunidade Inkiri saíram para fundar outra ecovila, desta vez na Chapada dos Veadeiros, no planalto central do Brasil.

Depois de um período de paralisia total vinculado à pandemia e à saída de muitos dxs pioneirxs, o patrimônio imobiliário do Intituto foi alugado à empresa Unah, formada por moradores e investidores ligados à comunidade. Este acordo permite a continuidade das atividades que promoveram Piracanga a uma ecovila de sucesso e busca que ela não se desestruture. Pela primeira vez a comunidade se organiza em uma verdadeira associação de moradores e busca uma relação equilibrada no interior do ecossistema de inciativas empresariais, sociais, ecológicas e espirituais que formam a comunidade.

A arquitetura de Piracanga, que tem cerca de cem edificações, é predominantemente bioconstruída, majoritariamente com estrutura em bambu ou eucalipto e cobertura de piaçava ou telha cerâmica. As paredes podem ser em terra, madeira, tijolos ecológicos, entre outros. A energia elétrica é realizada através da captação solar, sem conexão com a mantenedora Coelba; assim procura-se reduzir o consumo energético, evitando o uso de eletrodomésticos em geral, até mesmo geladeiras. O abastecimento de água se dá através de bombas que captam a água dos lençóis freáticos e a levam para reservatórios, sendo o cuidado com a água subterrânea um dos destaques de Piracanga. Este mesmo cuidado se revela no destino final das águas servidas, utilizando-se de soluções permaculturais como bacias de evapotranspiração, fossas sépticas com filtro biológico e círculo de bananeiras. A maioria das casas possui sanitário seco, assim como as estruturas de hospedagem. Todo o lixo orgânico é compostado e recicla-se grande parte dos outros resíduos, que seguem para a cidade vizinha de Itacaré.

Desde sempre a população de Piracanga foi muito flutuante. Fala-se em 150 pessoas,  com muitas mudanças recentes entre aquelas que saíram e as que vieram morar na ecovila pela oportunidade do trabalho remoto advinda da pandemia. As condições de moradia e serviços e o preço dos terrenos faz com que a população moradora, ou proprietária que aluga suas casas, seja sobretudo de estratos de mais alta renda, com nível de escolaridade superior. O preço a pagar pela qualidade de vida oferecida em Piracanga faz com que a ecovila seja relativamente isolada de pessoas diferentes deste estrato, pois não se permite acampamentos, por exemplo. A Escola da Natureza é o único projeto que oferece imersão gratuita em troca de trabalho, permitindo ainda a chegada de jovens idealistas e sem dinheiro que querem viver na comunidade.

A comunidade adota a alimentação vegana e tem pareceria como agricultores da região para parte de seu abastecimento. Proíbe-se a entrada de qualquer produto alterador de consciência, sobretudo o álcool e não existe prática de assistir televisão em Piracanga. Depois da saída da comunidade Inquiri os comportamentos afetivos e sexuais tornaram-se mais livres e foram realizados eventos discutindo e celebrando a diversidade das formas de afeto. A população adota assim uma forma de vida bem diferente e o relativo isolamento geográfico ajuda a criação de uma “bolha” cultural na qual xs visitantes que aspiram por transformações civilizacionais podem se sentir bem.

 

 

Vista aérea Piracanga.pdf

Vista aérea Piracanga.pdf

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Tags deste artigo: artes Regeneração espiritualidade sustentabilidade ecovilas

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