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12 de Janeiro de 2009, 22:00 , por Desconhecido - | 1 pessoa seguindo este artigo.

Indo além do velho mundo: lições da pandemia

28 de Agosto de 2020, 19:48, por Débora Nunes - 0sem comentários ainda

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Esse texto foi publicado também pelo Outras Palavras: https://outraspalavras.net/pos-capitalismo/indo-alem-do-velho-mundo-licoes-da-pandemia/

Débora Nunes

Criei a Escola de Sustentabilidade Integral, com outros parceiros, em 2015, em Salvador, no Nordeste do Brasil. Em 2018, uma inspiração que veio durante uma longa estada na Índia me permitiu escrever um conto chamado "Auroville, 2046. Depois do fim de um mundo", que fala sobre a reconstrução do modo de vida no planeta Terra após o colapso da civilização a partir de 2020. Esses dois eventos se tornaram importantes em minha vida, quando a pandemia COVID19 promoveu a grande ruptura no mundo e a vida de todos passou por convulsões. Com meu marido optamos por ir morar no Sítio do Futuro, a sede rural da Escola, onde parte do treinamento acontecia pelo menos quatro semanas por ano.

Saímos, assim, de uma cidade de três milhões de habitantes para viver em uma fazenda com poucas famílias ao redor e isso nos permitiu vivenciar um mundo novo a cada dia, com seus desafios e promessas. Gostaria de contar esta história de alguns meses para mostrar como este mundo pós-COVID, que muitos esperam ser mais ecológico, igualitário e cheio de sentido, está sendo construído por milhares de iniciativas comunitárias e pessoais, como a nossa neste momento. Pude perceber, aliás, que pessoas que, como nós, já tinham consciência da necessidade imperiosa de construir outras formas de vida sofreram menos com o confinamento. Essas pessoas, por caminhos muito diversos, conseguiram concretizar seus ideais de vida durante o isolamento social imposto ao mundo.

Em 2020, milhões de pessoas começaram a se perguntar por que tudo isso estava acontecendo e como sair deste momento doloroso. Foi assim que a metodologia da Ecologia Integrativa e o slogan da nossa Escola “transformar-se para transformar o mundo” se tornaram mais compreensíveis. Talvez seja por isso que meu conto sobre a história de Indra, a personagem principal de "Auroville, 2046", foi rapidamente traduzido para várias línguas (espanhol, inglês, francês, italiano e catalão). Indra foi, no conto, uma das fundadoras de Auroville, uma das primeiras e maiores ecovilas do planeta, e, em 2046, mostra-nos como essa comunidade foi resiliente ao colapso da sociedade capitalista. Em sua retrospectiva imaginária do que teria acontecido entre 2020 e 2046, Indra explica com toda a simplicidade como chegamos lá e, portanto, pode ser uma inspiração para sairmos da grande crise atual.

Este conto ilustrou como o aprendizado pessoal e coletivo de uma vida comunitária horizontal, cooperativa e espiritual que celebra a diversidade é a fonte de uma vida mais resiliente e feliz para todos. Assim, torna-se uma esperança para seus leitores durante a pandemia e o confinamento e torna-se uma das mensagens fundamentais da Escola. Assim, desde a sua publicação em 2018, tornou-se uma fonte de aprendizagem para os nossos alunos. Ao relatar a trajetória de Indra, que mostra como pessoas de boa vontade reconstruíram esse mundo de maneira diferente, ele nos ensina como passar por esse momento de colapso. Estamos vivendo, em pequena escala e no curto prazo, a jornada de Indra. Nossos alunos muitas vezes nos contam como esse conto visionário os inspirou e os ajudou a viver esse momento, e posso dizer que o mesmo vale para nossos vizinhos e aqueles que trabalham conosco.

O slogan da Escola retoma o significado da frase de Gandhi “Seja o mundo que você quer ver” e para entender por que foi escolhido, temos que voltar um pouco no passado e olhar as mudanças que fizemos em nossas vidas durante esta pandemia. A ideia surgiu de uma derrota: uma longa história de professora e ativista comprometido com a proteção ambiental e a justiça social. Depois de décadas de trabalho na política e na academia, percebi, como muitos outros, a relativa ineficácia de nosso trabalho. Os bloqueios estruturais eram intransponíveis porque a vida cotidiana das pessoas comuns sustentava esse mundo insustentável.

A emergência climática e as desigualdades sociais indignas continuaram a nos oprimir, e entendemos que tínhamos que começar a agir no terreno. Outro ditado: “Se você está com pressa, vá com calma”. Pudemos observar como os meios políticos e institucionais não conseguiram mudar as coisas e desbloquear gradativamente a cultura capitalista para que cada pessoa se tornasse o portador da mudança. As soluções existiriam se estivessem profundamente enraizadas na cultura humana por meio da mudança de um grande número de pessoas. Então, como outras pessoas, decidi fazer a minha parte como beija-flor e convidei alguns amigos ativistas e criativos para se juntarem a mim na fundação desta Escola de Transformações.

A experiência da nossa Escola, que desde 2015 é conhecida do público brasileiro, francês e indiano, foi baseada na formação teórica e prática. Ambas foram muito úteis neste confinamento, assim como a base metodológica da Escola, que é a preocupação em trazer coerência aos sentimentos, aspirações, palavras e ações. Com base em uma compreensão profunda do que significa Ecologia, o treinamento da Escola encorajou os alunos a iniciar um modo de vida mais coerente e significativo.

Os documentos da Escola dizem que na Ecologia Integrativa a inteligência da mente, a do coração e também a do corpo devem ser mobilizadas para permanecer em coerência com as da Natureza e do Cosmos. Assim, quando a Natureza é vista como sagrada, uma espiritualidade secular ganha sentido e passa a fazer parte da vida de todos, pressionando por mudanças. E agora a nossa chegada ao Sítio do Futuro pôs tudo isto à prova. Durante o confinamento, as propostas inovadoras da Escola para a transição para uma sociedade mais equitativa, mais ecológica, mais solidária e democrática mostram toda a sua relevância. A busca por uma sobriedade feliz, uma vida mais unida e serena e mais próxima da Natureza tem sido a experiência de muitos de nossos alunos, e de nós mesmos neste ano de 2020.

A primeira grande mudança em nossa vida foi a própria Natureza que nos cercou por toda parte. Nós, moradores da cidade grande há muito tempo, ficamos maravilhados com sua presença sólida, bela e mutável, da manhã à noite. O ritmo dos dias mudou naturalmente: acordamos mais cedo, dormimos mais cedo também. As tarefas diárias, muito físicas, nos fazem dormir muito mais, para nos reenergizar. Meu marido e eu levamos uma vida muito diferente daquela que tínhamos na cidade como professores da Universidade, com muito mais atividades mentais, apesar de todas as mudanças que havíamos feito na última década. E com tudo isso nos sentimos melhor.

Vista da montanha

Durante as formações da Escola, reflexões sobre o sentido da existência e rodas de conversa estimularam novas práticas cotidianas. Se a transformação de si mesmo em nome da coerência entre dizer, sentir, pensar e fazer era a base principal da nossa metodologia integrativa, as dificuldades devidas ao confinamento confirmavam que essa coerência era sim fonte de alegria e não apenas um dever moral. Tudo isso ajudou a nossa resiliência na estadia na fazenda, e isso continuará por muito tempo.

O Sítio do Futuro é uma área amplamente reflorestada de 30 ha na magnífica região da Chapada Diamantina, na Bahia, aos pés de uma imponente montanha que forma um Parque Natural, o Parque das Sete Passagens. Há uma pequena produção de alimentos orgânicos na fazenda, experimentos agroflorestais, principalmente em uma plantação de café. Quanto aos animais, temos um pequeno rebanho de vacas leiteiras, algumas galinhas e um cavalo. Eles são respeitados, têm um nome e são estimados como cúmplices. A construção principal, com quartos, salas de aula e todos os equipamentos de apoio de uma escola, é totalmente bioconstruída. Quando nos tornamos “neo-rurais”, evitando ir para a cidade, a produção de alimentos tornou-se uma atividade prioritária e nossa fonte de aprendizado diário.

Para apoiar todo o trabalho no Sítio temos a sorte de poder contar com a ajuda de dois adoráveis jovens, uma jovem senhora e um rapaz, que trabalham conosco a tempo parcial e que são ao mesmo tempo nossos alunos e professores. São eles que nos orientam nas questões práticas da vida rural. Eles também são os dois alunos mais assíduos da Escola. Em suas próprias palavras, eles nunca param de aprender sobre um novo mundo que os encanta pela sua simplicidade e consistência. Eles também nos ajudam a entender que as lições que forjamos ao longo da vida vêm do contato com ecovilas em vários países do mundo, da nossa reflexão teórica, das nossas tentativas, erros. e conquistas.

Os treinamentos teóricos organizados pela Escola de Sustentabilidade Integral, que nutrem a mente, foram compartilhados com os alunos por meio de palestras, textos e filmes, e têm se mostrado muito importantes para nós nestes tempos difíceis. Munidos de nossa convicção racional da necessidade de mudar o modo de produção, consumo e descarte da sociedade atual, nossa criatividade tem sido alimentada diariamente. A busca da autossuficiência alimentar básica, a fabricação de conservas (frutas secas, queijos envelhecidos, chucrute, melaço, kefir, kombucha etc.), a recusa de embalagens, o uso de sanitários secos , a reciclagem de todo o tipo de materiais (papel, vidro, plástico, metal, biomassa), o restauro manual de instrumentos de trabalho, roupas, estruturas agrícolas degradadas… tudo isto passou a ser o nosso trabalho quotidiano. Nosso acesso à água da montanha e da chuva, energia solar, lareiras e muitas outras instalações verdes foi melhorado nos últimos meses.

Nossa força em defender nosso modo de vida “neorural ecológico” em face da desconfiança e mal-entendidos que encontramos veio de argumentos racionais claros que desenvolvemos ao longo de mais de duas décadas. Na formação da Escola, ficou demonstrado que uma visão de mundo patriarcal, capitalista e racionalista define o cotidiano das pessoas e que, para evitar o desastre socioambiental - ou para superá-lo porque acontece a galope - foi necessário praticar outras visões e adotar outros comportamentos. Tivemos que perseverar na explicação de nossas escolhas, e também aceitar, se fosse o caso, sermos mal compreendidos e até mesmo ridicularizados como pão-duros, retrógrados, membros de uma seita, etc.

Se a formação da mente tem sido importante, as chaves práticas do quotidiano no Sítio foram os temas abordados na formação da Escola: consumo consciente, compostagem e reciclagem, vegetarianismo, cozinha ecológica que recusa desperdícios e integra as PANCs (plantas alimentícias não convencionais), agroecologia, bioconstrução, fabricação familiar de produtos de limpeza e beleza, diversas formas de cuidado natural do corpo, economia solidária e autogestão, entre outros. Tanto esta como as dificuldades relacionadas com o isolamento social foram enfrentadas com clareza e espírito de inovação. Foi durante a nossa permanência contínua de vários meses que vimos as vantagens das nossas escolhas num mundo em perigo, que vimos que toda a nossa energia vital foi investida em coisas que funcionam, que têm significado e que nos fazem felizes. Todo este conjunto de práticas é entendido na Escola de Sustentabilidade Integral como a nossa segunda inteligência, a do corpo, de um corpo saudável, que trabalha para uma saúde mais geral, que respeita a comunidade envolvente e a Mãe Natureza.

Talvez o desafio mais significativo no confinamento, para aqueles que não foram afetados por doenças e por uma grave falta de dinheiro, seja viver juntos, quase sem interrupção, ou solidão. Este desafio apela à inteligência do coração, o terceiro aspecto da nossa metodologia que se abre às várias abordagens do autoconhecimento e da gestão criativa dos conflitos. Se nossa inteligência emocional foi amplamente desafiada pelo confinamento, essas ferramentas foram importantes para enfrentar a incerteza que a pandemia criou em relação aos nossos planos de vida, o medo do contato social, a carência criada pela perda de nossos hábitos sociais e culturais, entre outras dificuldades.

Essa inteligência do coração é impossível sem uma atitude empática em relação a nós mesmos e aos outros. Os cursos de formação da Escola utilizaram dispositivos que facilitam a partilha de interioridades para enfrentar as dificuldades. Todos precisam conhecer ferramentas simples, como o silêncio, como meio de curar feridas, ideias iluminadoras e soluções inspiradoras, bem como ferramentas mais complexas de autoconhecimento como a interpretação dos sonhos, o Eneagrama, entre outros. Isso não nos transformou em grandes homens ou grandes mulheres, mas em pessoas mais resilientes diante dos problemas cotidianos, pessoas que perseveram em suas relações humanas apesar de todas as dificuldades, que se recusam a viver mal e buscam com coragem outros caminhos.

Essa inteligência do coração é também aquela que promove a ajuda mútua criativa. Práticas autogestionárias coletivas foram desenvolvidas com nossos vizinhos, como a criação de um mercado comercial, desde o início da pandemia. A dificuldade de acesso a alimentos frescos e variados nos levou a conhecer algumas famílias que moravam no entorno da fazenda, e todos os sábados à tarde trocamos nossos excedentes diretamente, de forma amigável, sem a presença de dinheiro. Inicialmente, isso foi possível porque éramos uma comunidade muito isolada, a 400km das principais fontes de contágio. Quanto mais o vírus se aproximava de nós, mais evitávamos a aglomeração, ainda trocando. No mesmo espírito generoso de troca ganha-ganha, as embalagens dos produtos passam a ser deixadas em um local específico em cestas personalizadas, depois trocadas por voluntários e posteriormente devolvidas pelos participantes, sem a necessidade de contato direto.

 Mãos juntas e ervas

O treinamento nas quatro inteligências da Escola é acompanhado por questionários dinâmicos que convidam à auto-observação e à autoavaliação. Os dois principais são: para iniciar a jornada, (1) “Você está em uma transição ecológica?”  que nos convida a analisar as lacunas entre nossas idéias e nossas práticas. Para aprofundar o caminho temos o (2) “Saúde e Felicidade” com perguntas que servem de suporte para regular a bússola da nossa vida, vindas do coração e da mente. Não é por acaso que no nosso caso, com uma alimentação frugal e natural, atividades físicas plenas e uma vida cheia de sentido e coerência, nossa saúde seja muito boa, mesmo que nossa felicidade não seja completa por causa da situação em nosso país e do mundo e dos riscos da vida cotidiana.

Para nós, a quarta inteligência ensinada na Escola de Sustentabilidade Integral resume as outras três: a inteligência da mente é importante para entender melhor o que está acontecendo na sociedade e para dar clareza e sentido à nossa ação. A inteligência do corpo nos deixa atentos às ações cotidianas, traz consistência entre o que pensamos e o que fazemos, e forma a base de uma vida em plenitude. A inteligência emocional permite a amizade e a compaixão, especialmente em momentos difíceis com nós mesmos e com os outros. A inteligência espiritual, a menos conhecida de todas, é a que torna todas as coisas mais fáceis, pois permite entender que tudo está interligado e que cada mudança individual promove a mudança coletiva e vice-versa.

Por exemplo, a cada emoção negativa, procuramos não espalhar esse excesso de infortúnios no mundo, principalmente nesta época de pandemia de COVID19: aceitamos a dor, mas tentamos amenizá-la não lhe dando tanta importância. Se pudermos no momento, fazemos outra coisa, cuidaremos de um animal, colheremos frutos, plantaremos sementes, meditaremos na floresta ... A natureza assim nos devolve essa alegria simples de ser um beija-flor.

Gerenciar o isolamento foi outro exemplo da necessidade de ver as dificuldades como oportunidades para nós e para o mundo. Em uma fazenda quase sem internet, fica difícil procurar informações e conversar com parentes. Em meio a uma pandemia e em um país governado por uma extrema direita genocida, isso foi uma fonte de angústia, é claro, mas também se transformou em uma fonte de alívio. Ao contrário dos amigos que ficaram na cidade, não podíamos acompanhar as notícias catastróficas e alimentar nossas mentes e espíritos com coisas destrutivas. Isso nos fez bem, e uma compreensão mais ampla do campo sutil do mundo quântico do qual fazemos parte também nos permitiu ajudar o planeta a superar seus males.

A inteligência espiritual da Escola de Sustentabilidade Integral é também estudada do ponto de vista científico pela abordagem quântica. É a física das possibilidades e da alma, como o chama o físico Amit Goswami, ou a física da grande matriz do cientista Gregg Braden. Ajuda-nos a ver na realidade a incerteza, a inclusão, a interconexão, à medida que aprendemos com as tradições de sabedoria de todos os povos e fora das categorias mecanicistas e cartesianas de certezas, hierarquias e separabilidade. A pandemia COVID19 foi muito útil para entender melhor qual é a base da física quântica: tudo o que acontece aqui impacta o todo, e também pode acontecer em outros lugares; tudo é incerto e nossas abordagens da realidade são apenas possibilidades; e todos os seres vivos e inanimados são importantes no processo cósmico em constante evolução.

A dimensão quântica e interconectada do mundo torna-se clara também no aspecto material, na forma interdependente como a Natureza se organiza. Uma anedota: a biodiversidade na Fazenda se desenvolveu muito durante os treze anos em que nos tornamos seus guardiães, principalmente por causa do reflorestamento. Essa dimensão positiva tem consequências: ao árduo trabalho de um agricultor acrescentamos a presença de raposas, veados, tatus, entre outros, que comem nossa produção, o que não acontecia há 50 anos. Isso nos obriga a aprofundar nossa coerência: celebramos a vida, aceitamos a interdependência e compartilhamos com eles o que produzimos!

A dimensão espiritual também se manifesta em nossa relação com a arte e a beleza, uma fonte de admiração e gratidão. Tornar a fazenda mais bonita é um ato cotidiano seja por pinturas de barro de várias cores, por mosaicos de cerâmica quebrados nas paredes, por mandalas de flores na porta de casa (como fazem na Índia, de forma tão artística), através das saladas que se tornaram como pequenas obras de arte muito coloridas e em formato de flores ... Com materiais simples, acessíveis às pessoas dos arredores, oferecemos uma vida mais bela, atentos à alegria de receber a abundância da Natureza e transformá-la em harmonia através de gestos simples de pessoas que têm tempo para o que realmente importa ...

A dimensão espiritual também é reforçada pela prática iogue de meditação, asanas e pranayama, pela contemplação de pássaros, do céu, borboletas ... e principalmente as experiências rituais de homenagem aos elementos, como canções para a Natureza. Para se acalmar, para se inspirar, para ouvir os sons dos elementos que falam ao nosso coração, temos o “templo” da Mãe Terra - uma clareira simples no meio da floresta. Isso nos aproxima do mistério, do sagrado, portanto, de uma vida espiritual ... secular. A incerteza quântica - da qual a morte é o símbolo maior - é integrada pela abertura da mente, por meditações guiadas em torno do tema da finitude ... No Sítio do Futuro temos rituais diários simples que pontuam os dias. Eles celebram a Vida e mostram que uma vida saudável e sustentável é composta de atos de reverência e gratidão para nutrir a Mãe Terra.

Acordamos de manhã agradecidos por estarmos vivos e sendo parte do novo mundo; bebemos suco verde ou limonada morna para limpar e honrar nossos corpos; trabalhamos durante o dia pela reconstrução do mundo neste pedaço de terra de que somos guardiães, atentos ao mais ínfimo pormenor às necessidades dos humanos, animais e plantas que aqui vivem e nos rodeiam; agradecemos a comida e todo o trabalho árduo e energia humana que a trouxe à nossa mesa em abundância; ritualizamos o final do dia cantando, às 18 horas, para o sagrado feminino. E finalmente, antes de dormir, agradecemos novamente, qualquer que seja o nosso estado de espírito, sabendo que a gratidão é a porta para viver bem e que as coisas difíceis que estamos vivenciando neste momento podem ser as que nos permitirão crescer em humanidade; dizemos obrigado por todas essas coisas que nos incomodam e continuamos confiantes na sabedoria da vida. Nessas experiências espirituais profundas, pode-se perceber a unidade de tudo e a sacralidade da vida.

Espero ter mostrado a vocês, por meio desse testemunho, que trabalhar por um mundo melhor pode ser uma experiência agradável e enriquecedora, não um fardo. “Lutar” contra algo é sempre mais difícil. Para ir além do velho mundo é certamente necessário denunciar sua perversidade, mas acima de tudo é necessário agir pela justiça, pela ecologia, pela democracia e pela sacralidade da vida. O que aprendo aqui com esta experiência é que a construção quotidiana de um modo de vida alternativo, onde a alegria da coerência está presente e onde se lançam sementes de esperança todos os dias, é um modo de vida muito mais rico e gratificante do que o que experimentei antes como acadêmica e urbana. Convido você a experimentar também!

 

 

Esse texto foi publicado também pelo Outras Palavras: https://outraspalavras.net/pos-capitalismo/indo-alem-do-velho-mundo-licoes-da-pandemia/

 

 

 



Aller au delà du vieux monde: leçons de la pandémie

20 de Julho de 2020, 9:08, por Débora Nunes - 0sem comentários ainda

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J´ai créé l'École d´Écologie Intégrative, avec d´autres partenaires, en 2015, à Salvador, au Nord-est du Brésil. En 2018, une inspiration venue pendant un long séjour en Inde m’a permis d’écrire un conte appelé «Auroville, 2046. Après la fin d´un monde», qui raconte la reconstruction du mode de vie sur la planète Terre suite au collapse de la civilisation à partir de 2020. Ces deux événements sont devenus majeurs dans ma vie, lorsque la pandémie du COVID19 a promu la grande pause dans le monde et que la vie de chacune/chacun est passée par des bouleversements. Avec mon mari  nous avons choisi d´aller habiter la Ferme de l´Avenir, siège rural de l´École où une partie des formations avaient lieu pendant au moins quatre semaines par an.

Nous sommes ainsi sortis d´une ville de trois millions d´habitants pour vivre dans une ferme avec quelques familles autour et cela nous a permis de vivre au quotidien un monde nouveau, avec ses défis et promesses. Je voudrais vous raconter cette histoire de quelques mois pour montrer comment ce monde après COVID, que beaucoup espèrent plus écologique, égalitaire et plein de sens est en train d´être construit par des milliers d´initiatives communautaires et personnelles, comme la notre en ce moment. J´ai pu percevoir, d´ailleurs, que les gens qui, comme nous, étaient déjà conscients  du besoin impératif de construire d´autres modes de vie ont moins souffert avec le confinement. Ces gens-là, par des chemins très variés, ont pu mettre en œuvre concrètement leurs idéaux de vie pendant l´isolement social imposé au monde.

En 2020, des millions de personnes ont commencé à se demander pourquoi tout cela se passait et comment sortir de ce moment douloureux. C´est ainsi que la méthologie de L´Écologie Intégrative et le slogan de notre École «Transformez-vous pour transformer le monde» sont devenus plus compréhensibles. Peut-être c´est pour cela même que mon conte sur l´histoire d´Indra, le personnage principal d « Auroville, 2046 » a été rapidement traduit en plusieurs langues (espagnol, anglais, français, italien et catalan). Indra était ainsi une des fondatrices d´ Auroville, un des premiers et le plus grands écovillage de la planète, et, en 2046 nous montre comment cette communauté a été résiliente à l´écroulement de la société capitaliste. Dans sa rétrospective imaginaire de ce qui serait passé entre 2020 et 2046 Indra explique en toute simplicité comment nous sommes arrivés là et comment l´humanité pourra s´en sortir.

Ce conte illustrait comment l’apprentissage personnel et collectif d’une vie communautaire horizontale, coopérative, spirituelle et célébrant la diversité était la source d´une vie plus résiliente et heureuse pour tous. Il devient ainsi un espoir pour ses lectrices et lecteurs pendant la pandémie et le confinement et devient un des messages fondamental de l´École. Ainsi dès sa publication  en 2018 il est devenu source d´apprentissage pour nos étudiants. En racontant la trajectoire d´Indra, qui montre comment des gens de bonne volonté ont reconstruit ce monde autrement, il nous apprend à traverser ce moment d´effondrement. Nous sommes en train de vivre, à petite échelle et à court terme, le parcours d´Indra. Nos étudiants nous racontent souvent comment ce conte visionnaire les a inspiré et les a aidés à vivre ce moment, et je peux dire qu’il en a été de même pour nos voisins et ceux qui travaillent avec nous.

Le slogan de l'École reprend le sens de la phrase de Gandhi «Soyez le monde que vous voulez voir» et pour comprendre pourquoi il a été choisi il faut revenir un peu en arrière et regarder les changements que nous avons engagés dans nos vies pendant cette pandémie. L´idée vient d´un échec : une longue histoire de professeure et militante engagée à la protection de l´environnement et à la justice sociale. Après des décennies de travail dans le champ politique et universitaire, je me suis rendue compte, comme beaucoup d´autres, de l´inefficacité relative de notre travail. Les blocages structurels étaient insurmontables car le quotidien des personnes ordinaires soutenaient ce monde insoutenable.

L´urgence climatique et les inégalités sociales indignes ne cessaient de nous oppresser, et  on a compris qu´il fallait commencer à agir sur le terrain. Encore un adage: «Si vous êtes pressés, allez doucement». On a pu observer comment les moyens politiques et institutionnels n´arrivaient pas à changer les choses et à débloquer petit à petit la culture capitaliste pour que chaque personne devienne porteuse de changement. Les solutions existeraient si elles étaient enracinées profondément dans la culture humaine par le changement d´un grand nombre de personnes. Ainsi, comme d´autres gens, j´ai décidé de faire ma part comme un colibri et j´ai invité quelques amis créatifs culturels à me rejoindre pour fonder cette École des transformations.

L ´expérience de notre École, qui est connue du public brésilien, français et indien depuis 2015, partait de formations théoriques et pratiques. Elles ont été très utiles dans ce confinement, ainsi que la base méthodologique de l'École qui  est le souci de mettre en cohérence ressentis, aspirations, paroles et actions. En reposant sur une compréhension profonde de ce que signifie l´Écologie, la formation de l'École encourageait les étudiants à inaugurer un mode de vie plus cohérent et porteur de sens.

Les documents de l´Ecole disent que dans l´Ecologie Intégrative l’intelligence du mental, celle du cœur et aussi celle du corps doivent être mobilisés pour rester en cohérence avec celles de la Nature et du Cosmos. Ainsi, quand la Nature est vue comme sacrée, une spiritualité laïque prend du sens et s´intègre à la vie de chacun/e poussant aux changements. Et voilà que notre arrivée à la Ferme de l´Avenir à mis tout cela à l´épreuve. Pendant le confinement, les propositions innovantes de l'École en vue de la transition vers une société plus équitable, plus écologique, plus solidaire et démocratique montrent toute leur pertinence. La quête d´une sobriété heureuse, d´une vie plus solidaire et sereine et plus proche de la Nature a été l´expérience de beaucoup de nos élèves et de nous-mêmes dans cette année 2020.

Le premier grand changement dans notre vie était la Nature elle-même qui nous entourait de partout. Nous, des citadins de toujours, on s´émerveillait de sa présence solide, belle, changeante, du matin au soir. Le rythme des journées a changé naturellement : on se réveille plus tôt, on dort plus tôt aussi. Les tâches quotidiennes, très physiques, nous font dormir beaucoup plus, pour nos réénergiser. Mon mari et moi nous menons alors une vie très différente de celle qu´on menait en ville comme professeurs à l´Université avec des activités bien plus mentales, malgré tous les changements qu´on avait fait dans la dernière décennie. Et avec tout cela on se sentait mieux.

Pendant les formations de l´École, les réflexions autour du sens de l’existence et les cercles de parole ont stimulé des pratiques quotidiennes nouvelles. Si la transformation de soi au nom de la cohérence entre le dire, le sentir, le penser et le faire était le socle principal de notre méthodologie intégrative, les difficultés dues au confinement ont confirmé que cette cohérence était en effet une source de joie et pas seulement un ¨devoir¨ moral. Tout cela a aidé notre résilience dans le séjour à la ferme, et celle-ci se poursuivra encore longtemps.

La Ferme de l´Avenir est une surface largement reboisée de 30 ha dans la magnifique région de la Chapada Diamantina, à Bahia, au pied d´une montagne imposante qui se constitue en Parc Naturel, le Parc des Sept Passages. Il y a à la ferme une petite production d’aliments biologiques, des expériences d´agroforesterie, notamment dans une plantation de café. Pour les animaux, on a un petit troupeau de vaches laitières, quelques poules et un cheval. Ils sont respectés, ils ont un nom et sont chéris comme des complices. La construction principale, avec des chambres, salles de classe et toutes les installations d´appui d´une école est entièrement bioconstruite. Quand nous sommes devenus des ¨neoruraux¨, évitant d´aller en ville, la production d´aliments est devenue l’activité prioritaire et notre source d’apprentissage quotidien.

Pour soutenir tout le travail de la ferme nous avons la chance de pouvoir compter sur l’aide de deux jeunes adorables, une fille et un garçon, qui travaillent avec nous à temps partiel et qui sont, à la fois, nos élèves et nos professeurs. Ce sont eux qui nous guident autour des questions pratiques de la vie rurale. Ils sont aussi les deux  plus assidus élèves de l´École. Selon leurs propres paroles, ils ne cessent pas d´apprendre un monde nouveau qui les enchante par sa simplicité et cohérence. Ils nous aident aussi à comprendre que les enseignements que nous avons forgés tout au long d´une vie,  viennent de l’accompagnement que nous avons réalisé” auprès des écovillages dans plusieurs pays du monde, de notre réflexion théorique, de nos essais, erreurs et exploits.

Les formations théoriques organisées par l'École d´Écologie Intégrative, qui nourrissent le mental  ont été partagée avec les étudiants à l´aide de conférences, textes et films, et se sont révélées très importantes pour nous en ces temps difficiles. Forts de notre conviction rationnelle du besoin de changer le mode de production, de consommation et d'élimination de la société actuelle, notre créativité a été attisée au quotidien. La recherche d´une autosuffisance alimentaire de base, la manufacture de produits en conserve (fruits secs, fromages affinés, de la choucroute, la mélasse, le kéfir, la kombucha, etc), le refus des emballages, l´usage des toilettes sèches, le recyclage de tous les types de matériaux (papier, verre, plastique, métal, biomasse), la restauration manuelle des instruments de travail, des habits, des structures délabrés de la ferme …tout cela est devenu notre travail quotidien. Notre accès à l´eau de source et de pluie, le système d´énergie solaire, le feu de bois et beaucoup d´autres installations écologiques ont été améliorés ces derniers mois.

Notre force pour défendre notre mode de vie ¨neoruralle écologique¨ en face des méfiances et d´incompréhensions qui nous avons rencontrés venaient des arguments rationnels clairs que nous avons développé pendant plus de deux décennies. Dans la formation de l´Ecole, on démontrait qu´une vision du monde patriarcale, capitaliste et rationaliste définît les actions quotidiennes des gens et que, pour éviter le désastre socio-environnemental - ou pour le surmonter car il arrive à galop - il était nécessaire de pratiquer d'autres visions et d’adopter d’autres comportements. Il fallait persévérer dans l´explication sur nos choix et aussi accepter, si cela était le cas, d´être mal compris et même ridiculisés comme radins, arriérés, membres d´une secte, etc.

Si l´entrainement du mental a été important, les clés pratiques du quotidien à la ferme ont été les thèmes abordés lors des formations de l´École: consommation consciente, compostage et recyclage, végétarianisme, cuisine écologique qui refuse le gaspillage et intègre les « incroyables comestibles », agroécologie, bioconstruction, fabrication familiale de produits de nettoyage et de beauté, diverses formes de soins corporels naturels, économie solidaire et autogestion, entre autres. Cette ainsi que les difficultés liées au confinement ont été affrontés avec clarté et esprit d´innovation. C´est pendant notre séjour continu de plusieurs mois qu´on a vu les avantages de nos choix dans un monde en détresse, qu´on a vu que toute notre énergie de vie était investie sur des choses qui marchent, qui ont du sens et que nous rendent heureux. Tout cet ensemble de pratiques sont comprises à l´École d´Ecologie Intégrative comme notre deuxième intelligence, celle du corps, d´un corps sain qui travaille pour une santé plus générale, qui respecte la communauté environnante et la Mère Nature.

Le défi le plus important du confinement, pour ceux qui n´ont pas été touchés par la maladie et un manque important d´argent a été, probablement, la vie commune continue, presque sans interruption, ou la solitude. Ce défi fait appel à l´intelligence du cœur, le troisième aspect de notre méthodologie qui s´ouvre vers des approches diverses de la connaissance de soi et de la gestion créative des conflits. Si notre intelligence émotionnelle a été largement mise en défi par le confinement, ces outils ont été importants pour affronter l´incertitude que la pandémie a créé par rapport à nos projets de vie, à la peur du contact social, au manque que créait la perte de nos habitudes sociales et culturelles, entre autres difficultés.

Cette intelligence du cœur est impossible sans une attitude empathique envers nous-mêmes et les autres. Les formations de l´École utilisaient des dispositifs facilitant le partage des intériorités pour affronter les difficultés. Tout un chacun a besoin de connaître des outils simples, tels que le silence, comme moyen de guérir des blessures, d´éclairer les idées et d´inspirer des solutions, ainsi que des outils plus complexes d´auto-connaissance comme l´interprétation de rêves, l´Ennéagramme, entre autres. Cela ne nous a pas transformé en supers hommes ou supers femmes mais en personnes plus résilientes face aux problèmes du quotidien, personnes qui persévèrent dans leurs rapports humains malgré toutes les difficultés, qui refusent le mal vivre et cherchent d´autres chemins avec courage.

Cette intelligence du cœur est aussi celle qui favorise l’entraide créative. Des pratiques collectives autogérées ont été développées avec nos voisins, comme la création d´un marché d´échanges crée dès le début de la pandémie. La difficulté d´accès à des aliments frais et variés nous a amené à rencontrer quelques familles qui vivaient autour de la ferme, tous les samedis après-midi pour échanger nos excédents directement, amicalement, sans la présence de l´argent. Au départ cela était possible car on était une communauté très isolée, à 400km des grands foyers de contagion. Plus le virus s´approchait de nous, plus on évitait l´agglomération, tout en échangeant quand même. Dans le même esprit généreux d´échange gagnant-gagnant les paquets de produits sont laissés aujourd´hui dans un endroit précis dans des paniers personnalisés, ensuite échangés par des bénévoles et repris par la suite par les participants, sans besoin de contact direct.

La formation aux quatre intelligences de l École est accompagnée de questionnaires dynamiques qui invitent à l’auto-observation et l’auto-évaluation. Les deux principaux sont : pour commencer le parcours, 1)  ¨Êtes vous en transition écologique?¨ qui invite à l´analyse des écarts entre nos idées et nos pratiques. Pour approfondir le chemin on a le 2) ¨Santé et Bonheur¨ avec des questions qui sont des appuis pour réguler la boussole de notre vie, venues du cœur et de l´esprit. Ce n´est pas par hasard que dans notre cas, avec un régime alimentaire frugal et naturel, des activités physiques bien remplies et une vie pleine de sens et de cohérence, notre santé est très bonne, même si notre bonheur n´est pas complet à cause de la situation de notre pays et du monde et des aléas de la vie quotidienne.

Pour  nous la quatrième intelligence enseignée dans  l´Ecole d´Ecologie Intégrative, résume les trois autres : l´intelligence du mental est importante pour mieux comprendre ce qui se passe en société et pour donner de la clarté et du sens à notre action. L´intelligence du corps nous rend attentifs aux gestes quotidiens, apporte la  cohérence entre ce qu´on pense et ce qu´on fait, et forme la base d’ une vie en plénitude. L´intelligence émotionnelle permet l´amitié et la compassion particulièrement dans les moments difficiles avec nous-mêmes et avec les autres. L´intelligence spirituelle, la moins connue de toutes, est celle qui rend toutes les choses plus faciles. Comment cela? Par la compréhension que tout est interconnecté et que chaque changement individuel favorise le changement collectif et inversement.

Par exemple, à chaque émotion négative, on essaye de ne pas répandre dans le monde ce surplus de malheur, surtout en ce temps de pandémie du COVID19: on accepte la douleur, mais on cherche à l´amoindrir ne la donnant pas trop d´importance. Si on peut sur le moment, on va faire autre chose, soigner un animal, récolter des fruits, planter les semences, méditer dans la forêt…la Nature nous redonne ainsi cette joie simple d´être colibri. La gestion de l´isolement a été autre exemple du besoin de voir dans les difficultés des opportunités pour nous et pour le monde. Dans une ferme presque sans internet, chercher des infos et parler aux proches devient difficile. Au milieu d´une pandémie et dans un pays géré par une extrême droite génocidaire cela était source d´angoisse, bien sûr, mais on le transformait aussi en source de soulagement. Au contraire des amis et amies qui sont restés en ville, on pouvait ne pas suivre les infos catastrophiques et nourrir nos esprits de choses constructives. Cela nous faisait du bien, et une compréhension plus vaste du champ subtil du monde quantique dont nous faisons partie nous permettait d’aider aussi la planète à surmonter ses malheurs.

L´intelligence spirituelle de l´École d´Écologie Intégrative est ainsi abordée aussi d’un point de vue scientifique par l´approche quantique. C´est la physique des possibilités et de l´âme, comme l´appelle le physicien Amit Goswami, ou la physique de la grande matrice du physicien Gregg Braden. Elle nous aide à voir dans la réalité  l'incertitude, l’inclusivité, l’interconnexion, tel nous apprennent les traditions de sagesse de tous les peuples et hors des catégories mécanicistes et cartésiennes de certitudes, hiérarchies et séparativité. La pandemie du COVID19 a été très utile pour mieux comprendre ce qui est la base de la physique quantique : tout ce qui se passe ici, impacte le tout et se passe aussi ailleurs ; tout est incertain et nos approches du réel ne sont que des possibilités ; et tous les êtres vivants et inanimés sont importants dans le processus cosmique qui évolue sans cesse.

La dimension quantique, interconnectée, du monde devient claire aussi dans l´aspect matériel, dans la façon interdépendante dont la Nature s´organise. Une anecdote : la biodiversité à la Ferme s’est largement développée pendant les treize années où nous en sommes devenus les gardiens, à cause, surtout, du reboisement. Cette dimension si positive a des conséquences : au dur travail de fermier on a ajouté la présence de renards, bûches, tatous, entre autres, qui mangent notre production, comme ils ne le faisaient plus depuis 50 ans. Cela nous oblige à approfondir notre cohérence : On célèbre la vie, on accepte l´interdépendance et on partage ce qu´on a produit avec eux !

La dimension spirituelle se manifeste aussi dans notre rapport à l´art et à la beauté, source d´émerveillement et gratitude. Rendre la ferme plus belle est un acte quotidien soit par des peintures en terre de plusieurs couleurs, par des mosaïques de céramiques cassés sur les murs, par des mandalas de fleurs à la porte de la maison (comme le font les indiens si artistiques), par les salades devenues comme des petites ouvres d´art très colorées et en format de fleurs…Avec des matériaux simples, accessibles aux gens des alentours, on propose une vie plus belle, attentive à la joie de recevoir l´abondance de la Nature et de la transformer en harmonie par des gestes simples de gens qui ont du temps pour ce qu´importe vraiment…

La dimension spirituelle est aussi renforcée par la pratique yoguique de la méditation, des asanas et du pranayama, de  la contemplation des oiseaux, du ciel, des papillons...et surtout les expériences rituelles d’hommage aux éléments, comme les chants pour la Nature. Pour se calmer, pour s´inspirer, pour écouter les bruits des éléments qui parlent à nos cœurs, on te le « temple » da la Mère Terre - une simple clairière au milieu de la forêt. Cela nous approche du mystère, du sacré, donc d´une vie spirituelle… laïque. L´incertitude quantique - dont la mort est le symbole majeur - est intégrée par l´ouverture d´esprit, par des méditations guidés autour de la thématique de la finitude… Dans la Ferme de l´Avenir on a des rituels quotidiens simples qui rythment les journées. Ils célèbrent la Vie et montrent qu’une vie saine et durable est faite d’actes de révérence et gratitude à la Terre Mère nourricière.

On se lève le matin dans la gratitude d´être en vie et dans cette partie du monde nouveau et on boit du jus vert ou de la citronnade tiède pour nettoyer et honorer notre corps ; on travaille dans la journée pour la reconstruction du monde dans ce morceau de terre dont nous sommes les gardiens, attentifs au moindre détail aux besoins des humains, des animaux et des plantes qui vivent ici et nous entourent ; on remercie la nourriture et tout le travail et l’énergie humaine qui l´a fait arriver à notre table en abondance ; on ritualise la fin de la journée en chantant, à 18h, pour le sacré féminin. Et pour finir, avant de dormir, on remercie encore, quelque soit notre état d´esprit, sachant que la gratitude est la porte du bien vivre et que les choses dures qu´on vit en ce moment même sont peut-être celles qui vont nous permettre de grandir en humanité; on dit merci pour toutes ces choses qui nous agacent , et on reste confiant en la sagesse de la Vie. Dans ces expériences spirituelles profondes on peut percevoir l’unité de tout et le caractère sacré de la vie.

J´espère vous avoir ainsi montré par ce témoignage que travailler pour un monde meilleur peut être une expérience agréable et enrichissante et non pas seulement un fardeau. « Lutter » contre c´est toujours plus dur. Pour dépasser le vieux monde il est certainement nécessaire de dénoncer sa perversité mais il faut surtout agir pour la justice, l´écologie, la démocratie e la sacralité de la Vie. Ce que j´apprends ici avec cette expérience est que la construction quotidienne d'un mode de vie alternatif, où la joie de la cohérence est présente et où des graines d’'espoir sont semées chaque jour, est un mode de vie bien plus riche et épanouissant que celui que je vivais auparavant en tant qu’universitaire et urbaine. Je vous invite à en faire aussi l’expérience!

 



L´amitié comme force transformatrice du monde

4 de Fevereiro de 2020, 22:05, por Débora Nunes - 0sem comentários ainda

 Amizade dedos

 

LA FORCE DE L'AMITIÉ DANS L ACTION DES ORGANISATIONS LOCALES ET LES RÉSEAUX DE TRANSFORMATION NATIONAUX ET MONDIAUX

L'amitié a toujours été considérée comme une affaire personnelle, mais tout le monde sait qu'elle se multiplie lorsqu'elle est partagée. Des groupes d'amis en émergent, ils peuvent aussi être des groupes engagés lorsqu’ils ont un objectif commun. Sans négliger la discussion sur le rôle des agents économiques, des classes sociales, de la politique, des gouvernements, des institutions, des espaces géographiques et d'autres facteurs structurants qui entravent ou favorisent la performance des réseaux de citoyens, il est important de se concentrer sur la dimension politique des liens affectifs comme quelque chose de pertinent et avec une grande force pratique, comme on le verra dans ce texte.

L'expérience de l'amitié est l'une des constantes de la vie humaine et semble indépendante de la classe sociale, du lieu de naissance ou du stade de la vie de chacun. Il y a ceux qui sont généreux en amitiés et d'autres qui le sont moins, mais cela ne semble pas être directement lié aux problèmes socio-économiques ou politiques. On peut émettre l'hypothèse que seules les caractéristiques personnelles et la dimension culturelle définissent la forme, l'intensité et la dimension numérique de l'expérience d'amitié. Ainsi, si elle transcende l'espace et le temps, l'amitié peut être un moyen inspirant de renouveler la politique partout.

De la véritable relation amicale, il est possible de mettre en évidence au moins deux caractéristiques de base - et apparemment opposées - qui lui confèrent solidité et permanence: la complicité, qui apporte avec elle l'entraide, la compréhension et le respect des individualités et le sentiment agréable de rencontre et coexistence; et l’exigence, dans laquelle votre ami veut voir votre comportement au mieux de vos capacités, critiquant franchement et discrètement un comportement contraire à l'éthique partagée. Ces caractéristiques de l'amitié interpersonnelle peuvent servir de modèle pour des relations collectives alternatives. Au lieu de l'hypocrisie, de la concurrence, de l'atmosphère conflictuelle des relations politiques actuelles, d'autres logiques peuvent gagner de la place et cela peut être promu intentionnellement, dans ce que nous appellerons ici "politique d'amitié".

Dans la pratique, l'amitié est déjà une force motrice inestimable pour les organisations et réseaux locaux qui cherchent à transformer des structures et des processus qui reposent toujours sur la prévalence des inégalités, de la concurrence, de la destructivité et de l'aliénation. Pour contourner leurs difficultés, la société civile organisée utilise les amitiés pour faire face, par exemple, au manque de ressources financières. Le financement collaboratif actuel est beaucoup plus ancien que l'Internet et a servi de base à la constitution historique des organisations présyndicales et syndicales, entre autres. Autre exemple : le manque de soutien professionnel pour mener des actions citoyennes a trouvé dans le volontariat mobilisé par des relations amicales un moyen de surmonter le problème.

De même, l'amitié permet des trous dans le blocus du status quo pour les actions qui veulent le transformer. Le désintérêt des médias traditionnels vis-à-vis des actions civiques a dans l'amitié avec les journalistes, bloggeurs, et dans leur engagement intellectuel, un moyen de vulgariser des actions contre l'hégémonie auprès du grand public. Parmi les nombreux autres obstacles auxquels la société civile organisée est confrontée, citons la bureaucratie et la lenteur de l'État face aux projets socio-environnementaux, ou le désengagement des entreprises et des individus en termes de ressources et d'attentions diverses transmises aux actions collectives. Ainsi, l'utilisation de réseaux d'individus impliqués dans des actions communes est un moyen d'ouvrir des voies viables dans l'enchevêtrement des difficultés qui se dressent sur leur chemin.

Étant donné la preuve du rôle de l'amitié dans le soutien aux organisations et réseaux anti-systémiques, il est temps de la considérer comme quelque chose à cultiver et à amplifier consciemment et pas seulement spontanément, comme cela se produit habituellement aujourd'hui. Il est important de souligner que la « politique d’amitié » pratiquée dans divers cas d'action citoyenne n'a rien à voir avec le népotisme, avec l'usage nocif qui est fait des relations familiales interpersonnelles et de l'amitié pour obtenir des avantages, pour des pratiques de corruption, etc. C'est quelque chose de complètement différent des relations d'intérêt qui recherchent des avantages personnels, mais de la complicité et du respect mutuel qui peuvent prévaloir en cas de partage d'intérêts généreux. L'altruisme des gens qui cherchent à transformer le monde pour le bien des inconnus n'a rien à voir avec les motivations du népotisme. Ils génèrent la confiance et l'amitié interpersonnelles, ce qui enlève les montagnes.

Pour que l'amitié - dans son pouvoir d'inspiration, de contagion et de multiplication - comme l'une des forces de l'action citoyenne face aux défis actuels de l'humanité, que ce soit dans l'espace local, national ou mondial, il faut agir concrètement pour la faire prospérer. Pratiquer la « politique d’amitié », c'est lui ouvrir des espaces de développement au sein des collectifs citoyens. Afin de cultiver l'amitié, elle est introjectée dans le travail quotidien, la production collective, les réunions, les assemblées, les manifestations publiques et d'autres formes d'action par les réseaux civiques, encourageant la confiance et la solidarité. Les moments de détente et de partage favorisent le développement de l’amitié : moments de célébrer, comme les fêtes, les repas, les promenades ; des moments de créativité collective tels que la musique, la danse et les jeux ; les moments d'intimité tels que les cercles de paroles à cœur ouvert, les activités quotidiennes menées en commun et les moments de communion, tels que les rituels, les prières, les méditations collectives. Ceux-ci sont des moments, entre autres, de cultivation de l'amitié qui doivent gagner plus d'espace dans une action engagée.

Dans le réseau international Dialogues en humanité, où une profonde réflexion sur la politique de l'amitié est née, cette discussion a émergé des expériences quotidiennes. Les besoins de traduction et d'hébergement lors d'événements internationaux, par exemple, sont des moteurs de la naissance et de la consolidation des amitiés. Consciemment, il est prioritaire que ces activités soient organisées de manière à ne pas consommer les ressources du réseau, sous forme d'entraide - je le fais pour vous, vous le faites pour moi. L'élargissement de ce concept encourage le don de temps et le partage d’espaces, simplement, sans échange immédiat, juste la culture de nouvelles relations d'intimité et d'amitié prometteuse. Les résultats de ces expériences sont évidents dans les relations personnelles solides et dans la solution de nombreux problèmes concrets du réseau, des services financiers, bureaucratiques et professionnels qui ont dans le réseau des amitiés personnelles une source inépuisable de solutions.

Un autre aspect important du thème de l'amitié en politique est son caractère exemplaire dans la recherche d'un autre monde possible. Sans renouveler les pratiques quotidiennes et sans nouvelles inspirations, les environnements alternatifs contraires aux structures hégémoniques courent le risque de les répéter. La manière de faire de la politique des nouveaux collectifs citoyens, pour soutenir un monde plus juste, solidaire et écologique, ne peut se baser que sur plus de bonne volonté, d'écoute et de respect, pour soi, pour l'autre et pour la Nature. Différentes formes de relations doivent prévaloir afin de ne pas répéter les mêmes pratiques d'exploitation du pouvoir économique, du pouvoir politique hiérarchique traditionnel et d'autres formes de manifestation de l'ego, de la concurrence, de l'égoïsme et de la méfiance. La confiance dans l'objectif commun et le désir « d’être le monde que vous voulez voir » sont la base d'un nouveau comportement politique, qui n'exclut pas la discorde et les conflits, mais le voit comme un processus fructueux de construction de nouveaux accords futurs.

La politique d'amitié, basée sur le partage d'objectifs altruistes et le plaisir de socialiser et de faire confiance est déjà l'un des moteurs de l'action citoyenne, elle est déjà l'une des forces de l'évolution de la politique. Il est pratiqué dans diverses organisations et mouvements sociaux et collectifs où il y a moins de hiérarchie et plus de partage des décisions et des responsabilités. Dans les écovillages et les communautés traditionnelles, où l'attention est portée sur la richesse apportée par chaque partenaire, pour la laisser couler en faveur du bien-être individuel et du développement communautaire. Dans les mouvements spiritualistes où la perception aiguë de l'interdépendance existant dans la grande toile de la vie fait que chaque personne est considérée comme un miroir d'elle-même et du cosmos et que les relations ont donc tendance à être prises en compte dans le cadre de l'amélioration de l'ensemble. Si la politique de l'amitié semble être une nouveauté pas encore suffisamment conceptualisée et analysée, sa pratique est déjà présente dans les micro-mondes qui promeuvent un avenir meilleur pour l'humanité dans son ensemble.

 

Este texto foi publicado originalmente em português, espanhol e francês na mídia cidadã Pressenza:

PT https://www.pressenza.com/pt-pt/2020/02/a-forca-da-amizade-na-acao-de-organizacoes-locais-e-redes-transformadoras-nacionais-e-globais/

FR: https://www.pressenza.com/es/2020/02/la-fuerza-de-la-amistad-en-la-accion-de-organizaciones-locales-y-redes-transformadoras-nacionales-y-mundiales/

ES https://www.pressenza.com/fr/2020/02/la-force-de-lamitie-dans-lactions-des-organisations-locales-et-les-reseaux-de-transformation-nationaux-et-mondiaux/



A amizade como política transformadora

4 de Fevereiro de 2020, 21:08, por Débora Nunes - 1Um comentário

Amizade

 

A amizade tem sido vista historicamente como uma questão pessoal, porém, todo mundo sabe que ela se multiplica quando é partilhada. Disso surgem grupos de amigos.as que podem ser também grupos engajados quando se tem um propósito comum. Sem desprezar a discussão sobre o papel dos agentes econômicos, das classes sociais, da política, dos governos, das instituições, dos espaços geográficos e de outros fatores estruturantes que dificultam ou favorecem a atuação das redes cidadãs, é importante focar a dimensão política dos laços afetivos como algo relevante e com grande força prática, como se verá nesse texto.

A experiência da amizade é uma das constantes da vida humana e parece ser independente de classe social, do local onde se nasce ou da etapa da vida de cada pessoa. Há aquelas que são abundantes em amizades e outras menos, mas isso não parece se relacionar de modo direto com questões socioeconômicas ou políticas. Pode-se levantar a hipótese de que apenas características pessoais e a dimensão cultural definem a forma, a intensidade e a dimensão numérica da vivência da amizade. Assim, se ela transcende espaço e tempo, a amizade pode ser um caminho inspirador da renovação da política em todo lugar.

Da relação amigável genuína pode-se destacar pelo menos duas características básicas - e aparentemente opostas - que lhe dão solidez e perenidade: a cumplicidade, que traz com ela a ajuda mútua, a compreensão e respeito das individualidades e o sentimento prazeroso do encontro e da convivência; e a exigência, na qual o.a amigo.a quer ver no comportamento do.a outro.a o melhor de suas possibilidades, criticando francamente, e discretamente, o comportamento contrário à ética partilhada. Essas características da amizade interpessoal podem servir de modelo para as relações coletivas alternativas. Ao invés da hipocrisia, da competição, da atmosfera conflituosa das relações políticas atualmente existentes, outras lógicas podem ganhar espaço e isso pode ser promovido de modo intencional, no que chamaremos aqui de “política da amizade”.

Na prática, a amizade já é uma força motriz inestimável para as organizações locais e redes que buscam a transformação de estruturas e processos que ainda se baseiam na prevalência da desigualdade, da competição, da destrutividade e da alienação. Para driblar suas dificuldades, a sociedade civil organizada se vale das amizades para enfrentar, por exemplo, a falta de recursos financeiros. O financiamento colaborativo atual é muito mais velho que a internet e foi uma base da constituição histórica das organizações pré-sindicais e sindicais, entre outras. Outro exemplo: a falta de suporte profissional para a realização de ações cidadãs tem no trabalho voluntário mobilizado através das relações de amizade um caminho de superação do problema.

Do mesmo modo, a amizade permite furos no bloqueio do status quo para com as ações que querem transformá-lo. O desinteresse da mídia tradicional em relação às ações cívicas tem na amizade com jornalistas, blogueiros.as, e no engajamento intelectual desses, um caminho para fazer chegar as ações contra hegemônicas ao público em geral. Entre muitos outros bloqueios que a sociedade civil organizada enfrenta estão a burocracia e a lentidão estatal em face dos projetos socio ambientais, ou o desengajamento das empresas e pessoas físicas em termos de recursos e atenções diversas repassados para as ações coletivas. Assim, o uso das redes de contatos dos indivíduos envolvidos em ações comuns são meios de se abrir caminhos viáveis no emaranhado de dificuldades que se interpõem a elas.

Diante da evidência do papel da amizade no suporte às organizações e redes antisistêmicas, é tempo de se pensá-la como algo a ser cultivado e amplificado de forma consciente e não apenas de maneira espontânea, como geralmente ocorre hoje. É importante destacar que a “política da amizade” praticada em várias instâncias da ação cidadã não tem nada a ver com o nepotismo, com o uso nefasto que se faz de relações interpessoais familiares e de amizade para obtenção de mordomias, para práticas corruptas etc. Trata-se aqui de algo completamente diferente de relações interesseiras que buscam benefícios pessoais, mas da cumplicidade e respeito mútuo que podem prevalecer quando existe uma partilha de interesses generosos. O altruísmo das pessoas que buscam a transformação do mundo para o bem de desconhecidos nada tem a ver com as motivações do nepotismo. Elas geram a confiança interpessoal e a amizade, que removem montanhas.

Para se ter a amizade - em seu poder de inspiração, contágio e multiplicação - como uma das forças da ação cidadã em face dos desafios atuais da humanidade, seja no espaço local, nacional ou global, há que se agir concretamente para fazê-la prosperar. Praticar a “política da amizade” significa abrir espaços para que ela se desenvolva no seio dos coletivos cidadãos. Para cultivar a amizade introjeta-se no trabalho cotidiano, na produção coletiva, nas reuniões, nas assembleias, em protestos públicos e outras formas de ação das redes cívicas, o incentivo à confiança e à solidariedade. Momentos de descontração e de partilha favorecem o desenvolvimento da amizade: momentos de celebração, como festas, passeios, almoços e jantares; momentos de criatividade coletiva como músicas, danças e jogos; momentos de intimidade como rodas de conversa com o coração aberto, atividades cotidianas realizadas em comum e momentos de comunhão, como rituais, orações, meditações coletivas, são, entre outros, momentos de cultivo da amizade que precisam ganhar mais espaço na ação engajada. 

Na Rede internacional Diálogos em humanidade, onde nasceu uma profunda reflexão sobre a política da amizade, essa discussão surgiu de vivências cotidianas. As necessidades de tradução e hospedagem nos eventos internacionais, por exemplo, são propulsoras do nascimento e consolidação de amizades. De modo consciente, prioriza-se que essas atividades se organizem de modo a não consumir recursos da rede, na forma de ajuda mútua – eu faço por você, você faz por mim. Ampliando esse conceito incentiva-se a doação de tempo e partilha dos espaços, simplesmente, sem que haja uma imediata troca, apenas o cultivo de novas relações de intimidade e promissora amizade. Os resultados dessas experiências são evidentes nos relacionamentos pessoais sólidos e na solução de muitos problemas concretos da rede, de ordem financeira, burocrática e de serviços profissionais que têm na rede de amizades pessoais uma fonte inesgotável de soluções.

Outro aspecto importante da temática da amizade na política é o caráter exemplar que ela tem na busca de outro mundo possível. Sem renovação de práticas cotidianas e sem inspirações novas os ambientes alternativos que estão na contramão das estruturas hegemônicas correm o risco de repeti-las.  O jeito de fazer política dos novos coletivos cidadãos, para dar sustento a um mundo mais justo, solidário e ecológico só pode se basear em mais boa vontade, escuta e respeito, por si mesmo, pelo outro e pela Natureza. Distintas formas de relacionamento precisam prevalecer para não se repetir as mesmas práticas do poder econômico explorador, do poder político tradicional hierárquico e de outras formas de manifestação do ego, da competição, do egoísmo e da desconfiança. A confiança no propósito comum e o desejo de “ser o mundo que se quer ver” são bases para um novo comportamento político, que não exclui a discórdia e o conflito, mas o veem como um processo fecundo de construção de novos acordos futuros.

A política da amizade, baseada na partilha de objetivos altruístas e no prazer do convívio e da confiança já é um dos motores da ação cidadã, já é uma das forças da evolução da política. Ela está sendo praticada em organizações e movimentos sociais e coletivos diversos em que há menos hierarquia e mais partilha de decisões e de responsabilidades. Nas ecovilas e comunidades tradicionais, onde existe atenção à riqueza que traz cada parceiro/a, para deixá-la fluir em prol do bem estar individual e do desenvolvimento da comunidade. Em movimentos espiritualistas onde a percepção aguda da interdependência existente na grande Teia da Vida faz com que cada pessoa seja vista como um espelho de si e do cosmos e assim os relacionamentos tendem a ser cuidados como parte da melhoria do todo. Se a política da amizade parece uma novidade ainda não suficientemente conceituada e analisada, sua prática já está presente nos micromundos fomentadores de um futuro melhor para a humanidade como um todo.

 

 



Revista Transdisciplinar: A CIÊNCIA PÓS-MATERIALISTA JÁ EXISTE

9 de Novembro de 2019, 9:58, por Débora Nunes - 0sem comentários ainda

http://revistatransdisciplinar.com.br/wp-content/uploads/2019/07/junho-19-Revista-de-julho-19-D%C3%A9bora-Nunes.pdf

 

A Revista Transdisciplinar é um periódico on-line semestral, organizado por Celeste Carneiro, que tem como objetivo socializar o pensamento de autores que desejam expressar suas reflexões sobre os mais diversos temas inter-relacionados com o Ser Integral e sua interação com o mundo que o cerca. Busca a integração de saberes e perfis, valorizando o diálogo entre sabedoria e conhecimento, estimulando a liberdade expressiva e dando oportunidade ao exercício da beleza, quer através da articulação de temas, ideias e conceitos, quer através do estilo de apresentação dessas ideias e conceitos

Pautamos esta Revista no pensamento de Basarab Nicolescu e grupo que escreveu a Carta da Transdisciplinaridade (1994), onde esclarece:

A pluridisciplinaridade diz respeito ao estudo de um objeto de uma mesma e única disciplina por várias disciplinas ao mesmo tempo.

A interdisciplinaridade diz respeito à transferência de métodos de uma disciplina para outra.

A transdisciplinaridade, como o prefixo “trans” indica, diz respeito àquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina. Seu objetivo é a compreensão do mundo presente, para o qual um dos imperativos é a unidade do conhecimento.

Rigor, abertura e tolerância são as características fundamentais da visão transdisciplinar. O rigor da argumentação que leva em conta todos os dados é o agente protetor contra todos os possíveis desvios. A abertura pressupõe a aceitação do desconhecido, do inesperado e do imprevisível. A tolerância é o reconhecimento do direito a idéias e verdades diferentes das nossas.

E no texto Educação para o Séc. XXI, do Relatório Delors (UNESCO, 2006):

Na visão transdisciplinar, há uma transrelação que conecta os quatro pilares do novo sistema de educação (aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser) e tem sua fonte na nossa própria constituição, enquanto seres humanos. Uma educação viável só pode ser uma educação integral do ser humano. Uma educação que é dirigida para a totalidade aberta do ser humano e não apenas para um de seus componentes.

Esperamos contribuir para a difusão do conhecimento, com a sabedoria da abertura e da tolerância, aliada ao rigor que dá o ajuste necessário.



L'École d´Écologie Integrative et la Ferme de l´Avenir

30 de Outubro de 2019, 18:50, por Débora Nunes - 0sem comentários ainda

 

Cabane vue nw    Cabane arrivée sur terrasse 

 Esperando na cancela    Casa sítio vista geral

 

L'École d´Écologie Integrative a son siège social à Salvador depuis 2015 (il est entièrement bio-construit et peut accueillir en résidence 18 personnes). L´Ecole s'adresse à un public de jeunes et d'adultes et son slogan est «Transformez-vous pour transformer le monde».

Les formations ESI sont théoriques et pratiques et peuvent être à long terme (180h en 10 mois), des expériences d’une semaine ou des ateliers d’une journée.

Le programme de formation de l'École repose sur une compréhension profonde de ce que signifie l´Écologie et encourage ses étudiants à inaugurer un nouveau mode de vie.

L’apprentissage est personnel et collectif, et l’expérimentation d’une vie communautaire horizontale, coopérative, et célébrant la diversité fait partie de la méthodologie de l’École.

La Ferme de l´Avenir est le siège rural de l’École, située dans une zone reboisée de 30 ha, avec une production d’aliments biologiques, des salles de classe et des temples pour célébrer la Mère Nature.

En collaboration avec le siège urbain d'ESI, il fournit des expériences permettant d'approfondir les propositions innovantes de l'École en vue de la transition vers une société plus équitable, plus écologique et plus démocratique. À cette fin, chaque participant est encouragé à mener une vie plus solidaire et sereine, en quête d´une sobrieté heureuse où le sens de l’existence est la transformation de soi au nom de la cohérence entre le dire, le sentir, le penser et le faire.

La formation proposée par ESI montre rationnellement, à travers des conférences, des textes et des films, que le mode de production, de consommation et d'élimination de la société actuelle nous amène à la catastrophe.

 En approfondissant cette constatation on peut percevoir qu'il existe une vision du monde (patriarcale, capitaliste et rationaliste) qui définit les actions quotidiennes des gens et que, pour éviter le désastre socio-environnemental, il est nécessaire de pratiquer d'autres visions et d’adopter d’autres comportements.

Du personnel au collectif et du collectif à l’individuel, l´approche quantique de l´Ecole permet de réaliser que tout est interconnecté. Chaque changement individuel favorise le changement collectif et inversement.

La force motrice de ces changements dans le domaine personnel est la cohérence entre l'esprit et le cœur, et dans le domaine collectif c’est la mise en réseau des groupes locaux émergents d’entraide et de créativité.

Ainsi l’Ecole n’est pas uniquement un lieu où on vient pour apprendre (et prendre) mais aussi un espace où on vient pour partager et donner (donner de soi, son temps, son énergie, ses motivations et projets, ses compétences…) ; des groupes de parole sont organisés dans ce sens : ils facilitent le partage des motivations et projets, la mutualisation des moyens et compétences et, s´il est possible, la constitution de groupe-projets.

Les formations de l´École abordent les thèmes pratiques suivants : consommation consciente, permaculture, compostage, recyclage, agroécologie, végétarianisme, bioconstruction, gestion créative des conflits, économie solidaire, méditation, bien-être, diverses approches vers la connaissance de soi, diverses formes de soins corporels naturels, des rituels célébrant une spiritualité non religieuse, des dispositifs facilitant le partage des intériorités et la conscientisation, l’entraide et la créativité, et des pratiques collectives autogérées.

Des visites à des écovillages, des résidences et des espaces organisés de manière écologique, ainsi que l’insertion dans les mouvements de citoyens en quête de transition font partie du programme.

Toute la formation est accompagnée de questionnaires dynamiques qui invitent à l’auto-observation et l’auto-évaluation de ses propres comportements individuels et sociaux ; L’appropriation des résultats est réalisée personnellement et sous forme de cercles de paroles.

Les immersions dans l’espace du futur associent des pratiques écologiques solidaires et démocratiques à une expérience spirituelle profonde dans laquelle on peut percevoir l’unité de tout et le caractère sacré de la vie.

Ces pratiques facilitent l’évolution des comportements vers plus d’attention au vivant ; la joie ressentie lorsqu’on pratique l’attention au vivant devient la boussole qui facilite le changement d’attitude. Là où il y a de la joie, il y a partage, entre les humains et entre eux et la Nature. Travailler pour un monde meilleur devient donc une expérience agréable et non seulement un fardeau de la lutte contre le vieux monde, car dans la construction quotidienne d'un mode de vie alternatif, l'espoir doit être semé chaque jour.

Des rituels quotidiens simples qui montrent qu’une vie saine et durable est faite d’actes de révérence et gratitude à la Terre Mère nourricière rythment les journées.

Les pratiques de l’École et de la Ferme contribuent donc à la construction d’un nouveau modèle de développement plus respectueux des ressources naturelles et des potentiels humains, moins polluant et moins destructeur ; simultanément elles montrent la perversité et la non durabilité du système actuel.

Pour élargir et pérenniser les changements induits par la formation, des petites communautés d’intention et d’action sont proposées de façon à permettre aux stagiaires de rester en réseau, de s’entraider et de co-construire des actions sur leurs lieux de vie.

 

 

 



A Escola de Sustentabilidade Integral e o Sítio do Futuro, propostas de vida alternativa

16 de Outubro de 2019, 10:06, por Débora Nunes - 0sem comentários ainda

Cabane vue nw        Esperando na cancela

 

A Escola de Sustentabilidade Integral tem sede ecológica em Salvador desde 2015, destina-se a um público de jovens e adultos e tem como slogan “Transformar-se para transformar o mundo”. As formações da ESI são teórico-práticas e podem ser de longo prazo (180h, em 10 meses), vivências de uma semana ou oficinas de um dia. O programa formativo da Escola parte de uma compreensão profunda do que significa sustentabilidade e estimula seus estudantes a inaugurarem um novo modo de viver. O aprendizado é pessoal e coletivo e a experimentação da vida comunitária horizontal, cooperativa e que celebra a diversidade é parte da metodologia da Escola.

O Sítio do Futuro é a sede rural da Escola de Sustentabilidade Integral, em área reflorestada de 30ha, com produção orgânica de alimentos, salas de aulas e templos de celebração da Mãe Natureza. Sua sede, como aquela de Salvador, completamente bioconstruída (tijolos de adobe, madeira de reflorestamento, sanitário seco, Bacia de Evapotranspiração, captação de água de chuva, energia solar, etc.) tem 18 leitos e vem recebendo pessoas de várias partes do Brasil e do mundo. Juntamente com a sede urbana da ESI, ele propicia vivências para aprofundamento das propostas inovadoras da Escola em busca de uma transição para uma sociedade mais justa, ecológica e democrática. Para tal, cada participante é incentivado a praticar uma vida sóbria e sadia, mais solidária e serena e onde o sentido da existência se dá na busca da autotransformação em nome da coerência entre o dizer, o sentir, o pensar e o fazer.

A formação proposta pela ESI demonstra racionalmente, através de aulas expositivas, texto e filmes, como o modo de produção, consumo e descarte da sociedade está fabricando a insustentabilidade. Dessa constatação aprofunda-se para a compreensão de que há uma visão de mundo (patriarcal, capitalista e racionalista) que define as ações cotidianas das pessoas e que, para evitar o desastre sócio-ambiental, é necessário praticar outras visões e ações. Do pessoal para o coletivo e do coletivo para o pessoa,l aborda-se o mundo em uma dimensão quântica que faz perceber que tudo está interligado. Cada mudança individual favorece o campo das mudanças coletivas e vice-versa e o motor dessas mudanças no campo pessoal é a coerência entre a mente e o coração, e no campo coletivo, as diversas formas de contestação ao atual modelo de desenvolvimento através do engajamento nas ações da cidadania organizada.

As formações da Escola abordam o consumo consciente, a permacultura, a compostagem, a reciclagem, a agroecologia, o vegetarianismo, a bioconstrução a gestão criativa de conflitos, a economia solidária, a meditação, o Bem Viver, diversas formas de autoconhecimento, diversas formas de cuidados naturais com o corpo, rituais que celebram uma espiritualidade não religiosa e práticas coletivas autogestionárias. Visitas a ecovilas, a residências e espaços organizados ecologicamente, bem como a inserção em movimentos cidadãos de busca da Transição estão no programa. Toda a formação é acompanhada de questionários dinâmicos, inclusive de pegada ecológica e compensação de emissão de carbono, que propiciam a avaliação da evolução gradativa de cada participante, realizada pessoalmente e também em forma de círculos de partilha.

As imersões no espaço do Sítio do Futuro aliam as práticas ecológicas solidárias e democráticas com uma experiência profunda, espiritual, em que se pode perceber a unidade de tudo e de todos e a sacralidade da vida. Isso torna a sustentabilidade algo natural, que, vivenciada, traz alegria, que é bússola de toda a metodologia praticada. Onde há alegria, há partilha, entre os humanos e entre esses e a Natureza. O trabalho por um mundo melhor se torna assim uma experiência prazerosa e não apenas um fardo de combate ao velho mundo, já que, na construção cotidiana de um modo alternativo de viver, se planta a esperança todos os dias.

As práticas da Escola de Sustentabilidade Integral e do Sítio do Futuro contribuem assim para a construção de um novo modelo de desenvolvimento, na medida em que evidenciam, em termos formativos, a perversidade e inviabilidade do atual sistema. Para além de uma ação que atua na mente dos participantes da Escola, ensinam-se  práticas que reduzem a emissão dos gases de efeito estufa em todos os campos da vida (consumo, alimentação, descarte de resíduos, transporte, construção, plantio, de saúde, etc.). Para ampliar o efeito da formação, cria-se uma comunidade de intenções e ações que se ajuda mutuamente na transição para um novo comportamento. Por fim, praticam-se rituais que mostram que a vida sustentável é simplesmente um ato de reverência à Mãe Terra.

 



Movimento Humanista, 50 anos.

21 de Maio de 2019, 14:42, por Débora Nunes - 0sem comentários ainda

 

Alicia, ricardo, eu forum humanista maio 2019 santiago

 

Um olhar externo e alguns materiais para conhecer melhor o Movimento:

https://www.pressenza.com/pt-pt/2019/05/o-forum-humanista-visto-de-fora/

https://www.pressenza.com/fr/2019/05/le-forum-humaniste-vu-de-lexterieur/

https://www.pressenza.com/es/2019/05/el-foro-humanista-visto-desde-fuera/

https://www.pressenza.com/2019/05/the-humanist-forum-seen-from-the-outside/

https://www.pressenza.com/de/2019/05/das-humanistische-forum-von-aussen-betrachtet/

Informações sobre a agencia de notícias do movimento "Pressenza": https://www.pressenza.com/pt-pt/sobre-nos/ 

Materiais sobre o Humanismo, escolhidos por Alícia Blanco:

Documentário sobre os 50 años do Movimento. Silo. La Curación del Sufrimiento. 26 minutos. Subtitulos español e ingles El 4 de mayo de 1969 en Punta de Vacas, Argentina, Silo comenzó su proyecto de humanización https://youtu.be/a5ycOPby8yI

Texto El dia del Leon Alado, em várias línguas: www.silo.net/system/documents/69/original/LeonAlado_es.rtf

Vídeo curto com boa síntese https://www.youtube.com/watch?v=a5ycOPby8yI

Materiais para aprender as quatro "Disciplinas" https://www.parquepuntadevacas.net/matce.php
 

 



Os.as urbanistas e a Habitação: como atuar participativamente, lições do curso de Urbanismo da UNEB

3 de Abril de 2019, 15:39, por Débora Nunes - 0sem comentários ainda

 Minha casa minha vida imagem artigo

PRÁTICAS DE HABITAÇÃO DE INTERESSE POPULAR E EXPERIÊNCIAS NA FORMAÇÃO DE URBANISTAS

(ELTON ANDRADE DOS SANTOS , CAROLINA DE ALENCAR SILVA MARTINEZ, DéBORA NUNES)

 

 

RESUMO

O artigo apresentará práticas de campo de formação de urbanistas em Salvador – BA para avaliar políticas públicas de habitação de interesse social junto ao seu público alvo. Serão abordados aspectos históricos referentes às políticas habitacionais adotadas no Brasil do século XIX ao momento atual e os efeitos desencadeados por essas políticas. Para tanto será apresentado o curso de Urbanismo da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e as metodologias participativas que têm sido utilizadas na disciplina Política e Planos de Habitação, trazendo os resultados da síntese dos estudos de pós-ocupação elaborados pelos discentes entre 1999 e 2017. Nessa síntese, é possível encontrar a descrição do perfil geral dos conjuntos habitacionais (forma, localização e tamanho, por exemplo), os relatos de experiência e conquistas obtidas pelos moradores dos conjuntos avaliados. Além disso, buscou-se trazer outras experiências inovadoras no campo da habitação, aprofundando sobre o governo de Luiza Erundina em São Paulo nos anos 1990, para resgatar práticas participativas na busca por soluções eficientes e eficazes para a população. Por fim, são trazidas reflexões sobre formas de promover mudanças no atual cenário habitacional do Brasil, trazendo perspectivas do que poderia ter sido feito para aprimorar as políticas públicas.

 

Palavras-chave: Habitação; Políticas Habitacionais Brasileiras; Formação do Urbanista; Participação Popular.

 

1 INTRODUÇÃO

A falta de habitação adequada para todas as famílias brasileiras vem sendo motivo de críticas por décadas. As dificuldades de implantar no Brasil um Estado comprometido com as necessidades do povo e o resgate da dívida histórica em relação à habitação das famílias pobres. Nas últimas décadas, a hegemonia do mercado imobiliário nas cidades e a influência das grandes construtoras nas decisões políticas, tornaram o acesso à habitação para todos ainda mais complexa.

Na medida em que as cidades crescem, devido a um acelerado processo de urbanização que transforma as formas de uso do espaço, a garantia da habitação tornou-se questão central no planejamento e gestão destas. Contudo, o acesso à habitação de qualidade, mesmo tendo sido democratizada, é garantida irrestritamente às pessoas com maior renda, privando parcela significativa da população de moradia digna. Em uma tentativa de remediar esta situação, os diversos entes do Estado (Município, Estado e Nação) têm criado, ao longo do último século, políticas públicas com objetivo de assegurar às pessoas mais pobres o acesso à moradia.

Neste contexto, este trabalho tem como objetivo avaliar as experiências de pós-ocupação desenvolvidas pelos discentes do curso de Urbanismo, fazendo uma síntese dessas avaliações sobre as condições de ocupação dos empreendimentos construídos pelo Minha Casa Minha Vida (MCMV) em Salvador e por programas habitacionais anteriores. Busca-se compreender quão bem inseridos seus habitantes estão no condomínio e em seu entorno, e qual o grau de associação coletiva presente entre estes.

Antes de analisar o momento presente, portanto, é interessante olhar para o passado e entender como, apesar de políticas públicas centenárias no campo da Habitação, o desafio da universalização do direito à moradia digna permanece. Para simplificar esse passeio, apresentar-se-á a história das políticas de habitação por períodos. Nesse texto iremos apresentar o caso de Salvador, que além de ser uma cidade com uma história riquíssima, também é a cidade em que se realizou a experiência de campo na disciplina de Política e Planos de Habitação do Curso de Urbanismo da UNEB.

O primeiro período compreende os anos de 1850-1889[1], na época em que o Brasil ainda era governado pela monarquia, mas já possuía sua independência política de Portugal. Nessa época a ocupação urbana era muito concentrada, com senhores e escravos vivendo na mesma moradia, tendo os escravos uma espécie de senzala urbana nos fundos, ou no porão da casa. Quando foi abolida a escravatura, em 1888, inaugura-se um novo período da história da habitação no Brasil.

Entre os anos de 1889-1930[2] houve uma crescente urbanização periférica nas cidades, provocada pelos escravos recém-libertos, que já não mais poderiam morar na mesma casa que os antigos senhores. Estes ex-escravos não apenas ocupavam as áreas periféricas e menos providas de serviços, encostas e alagados, mas principalmente as próximas ao centro urbano que não possuíam valor financeiro. Enquanto isso, as pessoas de mais alta renda, ocupavam essas regiões urbanas centrais, sobretudo as áreas de cumeada. Esse é um padrão que, infelizmente, ainda se repete na maioria das cidades brasileiras.

O mercado de habitação ainda era muito reduzido nesse período, já que as famílias mais abastadas eram proprietárias de seus imóveis e o número de pessoas que dispunham de renda para pagar aluguel ou construir sua casa. Esse mercado foi se ampliando com a industrialização e urbanização, incluindo também poucos ex-escravos que tinham conseguido alguma “colocação” no mercado de trabalho. Esses locatários moravam, de modo geral, em conjuntos de casas, chamadas de vilas, construídas para aluguel.

Pode-se considerar que a Lei do Inquilinato, de 1926, foi uma das primeiras ações para regular o mercado habitacional nascente, pois buscou normas que viabilizasse um acordo entre locador e locatário. Essa lei “congelou os aluguéis como resposta à crise de moradia e elevação exagerada dos valores locativos gerados pela conjuntura da guerra, quando o nível de construção caiu a quase zero” (BONDUKI, 1994).

Neste mesmo período, início da industrialização brasileira, uma outra forma de investimento em habitação, de caráter privado, foram as Vilas Operárias – conjuntos de moradias, concebidas como apêndices das grandes fábricas, financiadas pelos empresários. Neste período a classe média baixa e os operários de maior qualificação moravam majoritariamente de aluguel. Os pobres em geral autoconstruíam suas casas nos “restos” do tecido urbano

O fenômeno do êxodo rural, nos anos 1940 a 1960, foi um dos grandes responsáveis pelo crescimento das cidades e pelo aumento da complexidade do espaço urbano. O êxodo tinha duas causas principais: os camponeses eram expulsos da terra pela força dos coronéis e grileiros e/ou buscavam meios de vida nas cidades, tentando empregos na indústria nascente. Esta, no entanto, pagava salários mais baixos do que deveria, pois havia a sua disposição um enorme contingente de mão de obra, esperando uma vaga para trabalhar nas fábricas. (STEDILE, 1998). O salário baixo e o desemprego mantiveram as condições de moradia popular em níveis precários.

Já avançando no período de 1930-1963[3], do ponto de vista político, existem duas subdivisões nesse período. A primeira ocorre entre 1930-1945, que foi a época da Ditadura do Estado Novo, também conhecida como Era Vargas, e a segunda de 1945-1963, onde ocorreu o período de redemocratização, antes do Golpe Militar de 1964. Embora com subdivisões políticas, no campo das políticas habitacionais observar-se-á certa continuidade, com ampliação paulatinamente a ação governamental.

Considerando a primeira subdivisão desse período, é interessante observar que o Brasil passava por um surto industrial que motivou o crescimento das cidades brasileiras, principalmente no eixo sul-sudeste. Como boa parte da mão de obra que trabalhava nessas indústrias eram pessoas de fora dessas regiões, o problema da habitação se intensificou, juntou com a complexidade urbana. Em 1937, o governo de Getúlio Vargas cria os Institutos de Pensões e as Caixas de Aposentadorias, que financiam habitações coletivas por categoria profissional para os trabalhadores associados com apoio financeiro do governo.

O primeiro órgão nacional dedicado à habitação é criado na segunda subdivisão desse período, foi a Fundação da Casa Popular (FCP), instituída pelo Decreto-Lei 9.218, de 1º de maio de 1946, com a finalidade de provisão de casas a pessoas de renda mais baixa, assinado pelo presidente Getúlio Vargas. A FCP que tinha por função principal apoiar a aquisição ou construção da casa própria. Contudo, ao longo do tempo em que operou foi muito criticada, a Fundação não teve grande alcance, em termos numéricos, porém importante pelo destaque que deu às ideias modernistas e a qualidade de muitas realizações.

O período seguinte a ser apresentado na história das políticas públicas de habitação veio com a criação do Banco Nacional da Habitação (BNH), que coincide com a época da Ditadura Militar (1964-1986). Esse período, como veremos, teve várias subdivisões, acompanhando em vista dos acontecimentos marcantes para a história da habitação que ocorreu nessa época. O BNH foi uma empresa pública de financiamento que tinha como objetivo possibilitar a aquisição de casa própria no mercado através dos saques sobre o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo – SBPE e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS (ROLNIK. 2015. P. 281-294), criados para lhe dar sustentação.

Apesar do aumento na construção de habitações, a iniciativa do BNH não teve o sucesso desejado pela ausência de investimento em serviços públicos correlatos (transporte, segurança saúde e educação, entre outros) e pela priorização de um público de classe média. As cidades brasileiras, já mal estruturadas para receber o número crescente de habitantes vindos da área rural e oriundos da alta taxa de natalidade da época, continuaram a ser locais de moradia indigna para os mais pobres. A crise econômica dos anos 80, o congelamento dos salários ao tempo em que os valores das prestações dos financiamentos continuavam a aumentar, causou a falência do sistema por inadimplência. Em novembro de 1986 o BNH veio à falência.

Antes disso, porém, houve discreta retomada dos investimentos do BNH para populações de baixa renda. Já se aproximando do fim do período ditatorial, têm-se naturalmente o fortalecimento da redemocratização, que nesta época ficou marcada pelo Movimento Nacional pela Reforma Urbana (MNRU). Ainda assim, no balanço da atuação do BNH observa-se que do total de 4.270.000 unidades habitacionais construídas nessa época, apenas 18% foi destinado a população com renda de 1 a 5 salários mínimos (BOLAFFI, 1996).

O próximo período (1986-2002)[4] é marcado pela redemocratização do país tendo como grande marco, a Constituição de 1988. Além disso, é um período que pode ser subdividido em duas partes relevantes para a história da Habitação no país: a primeira ocorreu entre 1986-1995 e a segunda entre 1996-2002.

Considerando essa primeira subdivisão, é importante destacar o fato de que a questão habitacional brasileira não foi muito levada a sério, podendo-se utilizar como argumento a excessiva troca de Ministérios responsáveis pela Habitação no país. Além disso, foi um momento de baixo investimento nesse campo. Essa “falta de interesse” motivada pela consolidação cada vez mais crescente das políticas neoliberais.

Com a descentralização administrativa que ocorreu pós constituinte de 1988 e o fortalecimento dos municípios, começam a surgir ideias e experiências inovadoras no campo da habitação em nível municipal. Em São Paulo, o governo de Luiza Erundina (1989-1992), promoveu grande inovação nas questões habitacionais.

Ao final desse segundo período, é importante destacar que a Caixa Econômica Federal passa a dirigir as políticas habitacionais dos municípios, e passou a financiar a construção dos conjuntos habitacionais. Em 2001, ocorre um marco histórico com a criação do Estatuto da Cidade. Este é o resultado das lutas pela reforma urbana, onde a partir dos artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1988, define-se uma das principais armas na luta pelo direito à cidade: a função social da propriedade.

O primeiro governo Lula (2003) possibilitou a criação do Ministério das Cidades, que já era uma proposta do Instituto Lula quando esse ainda era candidato, intitulada Projeto Moradia. A criação desse Ministério significou uma virada histórica pois pela primeira vez as cidades foram tratadas de modo interdisciplinar pelo governo federal. A Habitação foi uma das quatro secretarias, junto com Saneamento, Mobilidade e Projetos estratégicos. À frente dessas secretarias estiveram, nos primeiros anos do governo do PT, profissionais com profundo envolvimento com a questão habitacional e com a crítica ao modelo do BNH, como Ermínia Maricato, Raquel Rolnik, Nabil Bonduki, entre outros. O arranjo institucional do Ministério das Cidades dura até hoje, mas o impulso criativo e renovador dos primeiros tempos, impulsionado pelas experiências de governo dos profissionais que deram origem à criação do Ministério se perderam nas políticas de alianças do PT com setores conservadores e corruptos da política brasileira.

O Ministério das Cidades foi impulsionador da criação do Conselho das Cidades, que foi uma reivindicação histórica dos movimentos pela moradia e movimentos sociais urbanos em geral, como o MNRU, citado anteriormente. A articulação entre o governo federal e a sociedade civil favoreceu a aprovação, pelo Parlamento Brasileiro, entre 2004 e 2008, de instrumentos inovadores das políticas públicas nesse campo. Entre esses instrumentos estão: a Política Nacional de Habitação e o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS) e o Plano Nacional de Habitação (PLANHAB).

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado em 2007, teve como um dos componentes centrais o desenvolvimento urbano, habitação e saneamento, em que a urbanização de favelas, foi alçada como ação prevista no PAC Habitação. A vertente habitacional do PAC foi chamada de “Minha Casa, Minha Vida”, ou MCMV, que surge em 2009, com a proposta de oferecer habitações de interesse social a preços acessíveis para populações carentes. Buscou-se atingir principalmente os entraves econômicos dos financiamentos habitacionais por meio da concessão de subsídios às famílias das classes sociais mais pobres, permitindo reduzir o grande déficit habitacional existente na faixa de renda mensal que vai até seis salários mínimos (D ́AMICO, 2011).

 

 

Tabela 1 - Evolução dos investimentos em Habitação no Brasil

Ano

Valor investido

2002

5,1 bilhões

2003

5 bilhões

2004

5,8 bilhões

2005

10 bilhões

2010

15 bilhões

2017

7,2 bilhões

Fonte: Orçamento Geral da União, 2017.

 

Tabela 2 – Variação do Déficit habitacional brasileiro

Ano

Déficit habitacional

2007

5,9 milhões

2008

5,5 milhões

2009

6 milhões

2011

5,6 milhões

2012

5,4 milhões

2013

5,8 milhões

2014

6,1 milhões

Fonte: Pnad-IBGE, elaborado pela FGV projetos, 2015.

 

Um dos pontos negativos do programa apontado por diversos autores é o fato de que o MCMV tem como foco o conceito da moradia própria, ou seja, é baseado apenas na construção de novas unidades. Este modelo de intervenção no setor é predominante das políticas anteriores e permaneceu intacto no atual programa. Segundo Rolnik e Nakano (2009, in Ferraz, 2011), é preciso avançar em outros regimes de propriedade imobiliária e na criação de mecanismos de financiamento habitacional que não se restrinjam à construção e aquisição de novas moradias, mas que incorporem as possibilidades de reciclagem e reabilitação de edifícios existentes localizados em espaços urbanos consolidados, servidos de infraestrutura necessária.

Através da pesquisa de campo em condomínios do MCMV, em Salvador, esses problemas ficaram nítidos junto aos moradores principalmente pela localização das habitações distantes dos centros das cidades, verdadeiras ilhas desconectadas das atividades urbanas, aliadas a ausência de equipamentos e infraestruturas próximas dos conjuntos (transporte, segurança saúde e educação, entre outros).

As políticas habitacionais impactam enormemente no mercado da construção civil e no mercado imobiliário formados por empresas de grande poder político e econômico. Os escândalos de corrupção denunciados nos últimos anos no Brasil têm as empresas de construção civil, entre elas a Odebrecht, a OAS, a Camargo Correa, entre outras, como algumas das peças centrais. As deturpações das políticas habitacionais decorrentes dos interesses econômicos de grandes empresas e de seus vínculos com políticos corruptos são um desafio de porte para a sociedade brasileira.

Outro aspecto do problema habitacional brasileiro é que historicamente os profissionais que elaboram e executam as políticas de interesse social não são oriundos de categorias sociais de baixa renda. Esse aspecto do problema tem origem no elitismo da formação universitária, tema que vem sendo enfrentado no Brasil pela política de cotas. Embora o problema seja estrutural, há possibilidade de enfrenta-lo no campo das experiências pedagógicas e estimular estudantes de Urbanismo a terem contato direto com os beneficiários das políticas de habitação de interesse social. Isso vem sendo realizado no curso de Urbanismo da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) há duas décadas. A seguir essa história será apresentada, assim como os resultados obtidos pelos estudantes em campo, que podem ser um caminho de mudança na atuação profissional no campo da Habitação.

 

2 POLÍTICAS HABITACIONAIS NO CURSO DE URBANISMO E A EXPERIÊNCIA DE TRABALHOS DE CAMPO EM COMUNIDADES

O curso de Bacharelado em Urbanismo da surgiu em 1995 com a proposta de capacitar profissionais para analisar, intervir e propor mudanças no espaço urbano, sob a ótica das relações sociais, sendo o primeiro a tratar exclusivamente da questão urbana no Brasil. Houve mudanças, ao longo dessas duas décadas, na organização curricular, mas que mantiveram o curso em posição de destaque pelo estudo aprofundado de todos os aspectos do Urbanismo, de habitação e transporte à gestão, passando por matérias teóricas e outras com conteúdo prático mais destacado.

A forma como as políticas habitacionais são tratadas no curso de Urbanismo da UNEB é uma exceção em termos de formação de profissionais do urbano, marcada pela formação de arquitetos urbanistas. A disciplina Política e Planos de Habitação[5] ministrada pela docente Débora Nunes desde sua criação, apresenta como principais objetivos o estudo da literatura sobre habitação (histórico e conceituação) e o treinamento dos estudantes em metodologias participativas de avaliação pós-ocupação junto a comunidades beneficiadas por programas habitacionais. A combinação desses dois aspectos visa oferecer aos estudantes elementos de reflexão para que possam desenvolver proposições alternativas de intervenção na área de habitação, dentre outros objetivos.

O presente texto fez a revisão de um total de 36 trabalhos de campo realizados na disciplina. Esses trabalhos também são disponibilizados às equipes de cada semestre de forma que se identifiquem os erros das equipes anteriores e os mesmos não sejam repetidos pelas novas equipes, sempre avançando no processo de aprendizado. Todo o processo de ensino-aprendizagem é vinculado à realização dos trabalhos de campo:  estudos pós-ocupação de conjuntos habitacionais em bairros de Salvador, por meio de trabalhos participativos feitos em equipes com as comunidades.

A metodologia utilizada para realização deste trabalho de avaliação de pós-ocupação, baseia-se no livro Pedagogia da Participação, oriundo de trabalho de campo realizado no doutorado da professora Débora Nunes. O processo de pedagogia da participação é fundamental no desenvolvimento do trabalho, pois através dele é possível conhecer o conjunto residencial através do estudo técnico com as visitas, e tivemos oportunidade de analisar, experimentar todas as concepções e ideias dos moradores.

Neste processo de participação os habitantes são influenciados em tomar decisões urbanas que auxiliam na construção do aprendizado de cidadania. A participação tem significado importante na tomada de decisões que pressupõe de um conhecimento prévio e quando a população é levada a participar, o conhecimento é adquirido e as atitudes voluntárias são incentivadas.

Em seu livro Nunes diz que a participação social num processo de planejamento urbano "consiste em um aprendizado dos mecanismos democráticos e das regras que lhe são implícitas" e esse aprendizado tem "consequência direta no exercício da cidadania" (NUNES, 2002, p.13). O trabalho de campo que é realizado na disciplina comporta toda essa metodologia e proporciona aos estudantes experiências únicas, principalmente no que concerne a superação de desafios. A proposta baseia-se na realização de atividades pedagógicas e em ações coletivas que são desenvolvidas pelos discentes junto a população, permitindo que essa experimente o processo participativo, sendo parte integrante do conjunto para inspirá-los o sentido coletivo e incentivar a sua organização.

Por outro lado, as ações coletivas buscam estabelecer um contato maior e direto entre os moradores, muito além de um contato entre vizinhos, pois permitiu a interação das pessoas fazer com que eles saíssem da sua zona de conforto e interagir com os vizinhos desconhecidos para desenvolver ações em prol de um bem comum a todos.

A sistematização das informações obtidas pelos discentes desde a primeira turma da disciplina em 1999 até 2017, permitiu a construção de um quadro de informações com os conjuntos habitacionais avaliados, a partir do desenvolvimento da metodologia de estudo pós-ocupação e das informações de coletadas pelos estudantes.

O quadro possibilita entender a situação geral dos conjuntos habitacionais na cidade de Salvador, sob a ótica de indicadores que buscam evidenciar também a organização e as condições de vida da população beneficiada pelos programas. Foi levado em consideração a localização dos conjuntos, o número e o tamanho de unidades habitacionais, o perfil econômico e social dos habitantes do bairro (renda, escolaridade, tamanho da família e o recebimento de benefícios governamentais). Além disso, foram consideradas as relações com o local de morada anterior quanto a violência e as condições de moradia.

A partir do mapa 1 e dos dados levantados pelos trabalhos, foi possível identificar os bairros onde se concentram a maior parte das construções dos conjuntos habitacionais estudados, com base na divisão de bairros ´proposta pelo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Salvador, em 2016.

 

Mapa 1 - Conjuntos habitacionais estudados em Salvador/BA

Mapa síntese artigo habitação

 

Fonte: Elaborado por SANTOS, Elton (2018), com base no PDDU, 2016.

 

Baseado na divisão proposta por Inaiá de Carvalho e Gilberto Corso (2008) que divide a cidade de Salvador em três áreas de análise: Orla da Baía, Miolo e Orla Atlântica, a grande maioria dos conjuntos está concentrada no Miolo e na Orla da Baía (gráfico 1), áreas ocupadas prioritariamente por população de baixa renda. São áreas em que o preço do solo é menor, favorecendo a sua construção, sem que se adote a noção de habitabilidade (GORDILHO-SOUZA, 2001) em que se inclui os serviços e a infraestrutura necessária para atender à população da área, tornando o custo de implantação de moradias muito alto para moradores que arcam com a não implantação desses equipamentos.

 

Gráfico 1 - Localização dos conjuntos habitacionais em Salvador/BA

Localização dos conjuntos artigo habitação

Fonte: Elaborada pelos autores.

 

Segundo Cardoso (2013), em balanço esse foi um dos problemas enfrentados pelo programa que dificultou a produção de unidades voltadas para as famílias com renda mais baixa. A maioria deles foi feita em áreas periféricas, muito distantes e pouco conectadas com a malha urbana, afastadas dos equipamentos públicos e sem conexão com os serviços básicos de infraestrutura como rede pública de água, esgoto, energia, iluminação pública, entre outros.

Outro ponto importante a ser avaliado nesse contexto é o custo do terreno e/ou a infraestrutura necessária para o empreendimento. No caso, se municípios e estados utilizassem recursos para destinação de terrenos, por meio de aplicações de instrumentos legais definidos pelo Estatuto da Cidade, como Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), inserção do IPTU progressivo em terrenos abandonados, dentre outros. Além do direito de preempção em áreas de interesse o acesso à terra poderia ser mais barato, facilitando a implantação de empreendimentos para a faixa 1, que compreende as famílias com renda de até R$ 1.800,00.

Como alternativa também proposta por Rocha Lima et al. (2010), seria interessante que o programa apresentasse uma linha de financiamento especial para implantação de infraestrutura, o que permitiria que os empreendedores fossem capazes de gerar empreendimentos em terrenos cujo valor de terra esteja condizente com o projeto habitacional. O MCMV e a legislação brasileira dispõem de instrumentos financeiros e legais que poderiam ser utilizados pelos municípios na melhor gestão do uso do solo ou de regularização fundiária, temas esses que não aparecem na composição do programa e que são de extrema importância para a viabilização de empreendimentos habitacionais.

O perfil geral dos conjuntos habitacionais estudados é bastante variado e foi mudando com o tempo. Por exemplo, o tamanho das habitações varia entre 26m² e 59m², (gráfico 2) ou seja, mais do dobro e esse tamanho vem aumentando com o tempo, evidenciando a força política obtida ao longo do tempo através de movimentos de moradia e apoiado por técnicos, representada, por exemplo com o Conselho das Cidades.

 

Gráfico 2 - Tamanho em m² das unidades habitacionais

 Tamanho das unidades artigo habitação

Fonte: Elaborada pelos autores.

 

É possível perceber que boa parte do tamanho das residências varia entre 30 e 50 m², valores que ainda são extremamente baixos para famílias que apresentam uma média de quatro a cinco membros por unidade (gráfico 3), média superior à média nacional que é de 3,3 pessoas (IBGE, 2010). Apesar de existir uma tendência para padronização das residências, onde cada vez mais o tamanho das residências tem reduzido, isso se aplica apenas às pessoas de classe alta, pois a quantidade de membros na família é menor, se comparado às famílias de classe baixa.

 

Gráfico 3 - Tamanho da família dos moradores dos conjuntos habitacionais

Tamanho das familias artigo habitacao

Fonte: Elaborado pelos autores.

 

Com a média de membros por família foi possível projetar o número de moradores por conjunto (gráfico 4). O gráfico revela que há um atendimento mais concentrado nas faixas de até 2000 moradores, apesar de haver de maneira mais pontual conjuntos que fogem a esse padrão.

 

Gráfico 4 - Número de habitantes por conjunto habitacional analisado

Numero de habitantes

Fonte: Elaborado pelos autores.

 

Através das informações observadas no gráfico anterior foi possível comparar com os dados sobre a quantidade de unidades habitacionais construídas nos conjuntos estudados (gráfico 5), pode-se constatar que o número de unidades construídas apresenta poucas variações, apresentando valores que estão concentrados entre 0 e 400 unidades por conjunto, os valores vão se rebater na quantidade de membros por família e consequentemente no número total de moradores dos conjuntos. É possível afirmar também que os locais que se destacam pelo maior número de unidades construídas foram, provavelmente, os locais com maior área para a construção de habitações.

 

Gráfico 5 - Número de unidades habitacionais por conjunto analisado

Numero de unidades artigo habitaçao

Fonte: Elaborado pelos autores.

 

          Outro quesito analisado está relacionado a renda (gráfico 6) da população que vive nos conjuntos habitacionais estudados. Os questionários aplicados junto aos moradores revelam que foi possível avaliar o perfil econômico da população similar ao que o programa MCMV esteve disposto a atender, dentro da faixa 1 (até 2 salários mínimos) que correspondeu no total a 81% do total dos moradores. Nota-se que há uma coerência entre o foco do programa e o atendimento, algo que o BNH não alcançou, por exemplo.

 

Gráfico 6 - Rendimento total dos moradores dos conjuntos habitacionais

Rendimento dos moradores artigo habitacao

Fonte: Elaborado pelos autores.

 

Em relação à infraestrutura básica foram conquistados os maiores avanços, com a instalação da rede de energia elétrica, água, esgoto, coleta de lixo e iluminação (gráfico 7). O atendimento a essas necessidades da população representa uma melhora na qualidade de vida e possibilitam a habitação das famílias com o mínimo necessário às suas atividades cotidianas. Entretanto outras demandas sociais ficaram de lado com o programa que visa apenas atender à necessidade básica da moradia.

 

Gráfico 7 - Comparação da residência nos bairros anteriores e o atuais dos moradores dos conjuntos estudados

 Comparaçao residencias artigo habitacao

Fonte: Elaborado pelos autores.

 

           

Quanto a violência pode-se notar que de acordo com os moradores houve uma melhora significativa se comparado com a localidade anterior, visto que muitos moradores viviam em áreas muitas vezes controladas pelo tráfico de drogas e não necessariamente a presença policial significava um ganho de segurança. Apesar disso, muitos conjuntos habitacionais não tem o devido acompanhamento do poder público e acabam sendo vítimas de grupos violentos que dominam e ameaçam a vida nesses locais.

 

Gráfico 8 - Comparação da violência nos bairros anteriores e o atuais dos moradores dos conjuntos estudados

 Comparacao violencia artigo habitacao

Fonte: Elaborado pelos autores

 

A partir desse contato inicial com os moradores, a pedagogia da participação trabalha em dois sentidos: 1) busca quebrar a relação hierarquizada que faz parte da tradição dos membros da elite. 2) Através de atividades pedagógicas e ações coletivas, a primeira de cunho físico no que diz respeito à questão dos equipamentos inseridos no bairro e que propiciaram uma melhoria na qualidade de vida dos habitantes (como o auxílio na criação de creche comunitária e de associações de moradores, por exemplo) e o segundo de cunho pedagógico diz respeito ao processo de aprendizagem da cidadania por parte da população.

Neste processo participativo, espera-se que os moradores vivenciem os processos básicos da democracia, através de mecanismos de discussão coletiva, assim com o respeito à decisão da maioria em nome dos interesses do coletivo. Busca-se através da compreensão e a implementação da pedagogia da participação o entendimento da dinâmica de programas de habitação social para que se possa construir um modelo de sociedade mais justa e igualitária, através de ações coletivas e o rompimento das relações hierárquicas que contribuam para mudança de comportamento dos habitantes.

 

3 EXPERIÊNCIAS INOVADORAS NA HABITAÇÃO E O QUE SE DEIXOU DE FAZER

Aproximando-se do fim desse artigo em que se propõe destacar soluções para a questão habitacional que se evidenciaram a partir dos trabalhos de campo com estudantes de urbanismo, não se poderia deixar de tratar algumas experiências inovadoras nesse campo que surgiram durante o final do século XX. Elas contribuíram para formulação de um modelo de gestão que confronta os métodos tradicionais e privilegiam a forma não lucrativa de produção habitacional, a partir do protagonismo dos mais pobres na solução dos problemas, apoiados por profissionais engajados.

O melhor exemplo para exemplificar essas iniciativas foi o programa de mutirões da cidade de São Paulo, realizado na gestão de Luiza Erundina (1989-1992). A gestão de Erundina colocou a problemática habitacional como prioridade ao apoiar a implantação de habitação de interesse social por mutirão autogerido, o que ajudou a diminuir o déficit habitacional no município pois foram viabilizadas mais de 11 mil habitações de até 60 m². Havia o compromisso da gestão com os movimentos sociais de priorizar a área de habitação popular como uma das formas de inverter as prioridades de investimento na cidade.

O maior destaque dessa gestão, foi a utilização em larga escala dos recursos provenientes do orçamento municipal, que foi direcionado para o Fundo de Atendimento à População Moradora em Habitação Subnormal (FUNAPS). Esse foi o primeiro fundo municipal de moradia do país, que financiou programas inéditos, “como os mutirões autogeridos, a produção de moradia social nas áreas centrais e a assistência jurídica gratuita à moradia popular” (BONDUKI; ROSSETTO, 2014).

Os princípios norteadores da política habitacional implementada por Erundina foram: o direito à terra; a participação da população na formulação dos programas e execução dos projetos; diversificação das intervenções; redução de custos, sem perda da qualidade; estímulo à autogestão e o respeito ao meio ambiente. A abrangência da política habitacional executada nessa administração executou programas e subprogramas que tinham como objetivo enfrentar, de forma articulada e com participação popular, a complexidade do problema de moradia do Município. A construção de habitação de interesse social era organizada com a aquisição de terras, construção de unidades novas por empreiteiras, construção por mutirão (programa Funaps/Comunitário) e intervenção em cortiços (INSTITUTO PÓLIS, 2003).

O programa construiu milhares de casas e prédios de até cinco andares, mostrando-se a possibilidade de garantir qualidade a edificação de qualquer tipologia habitacional, a um custo 40 a 50% inferior ao de processos convencionais. As famílias conquistaram o direito de viver com dignidade, construindo suas casas, participando da urbanização das favelas, lutando pela regularização dos loteamentos, buscando de forma coletiva repartir o solo urbano. O fato pôs em destaque a importância da parceria entre comunidade e o poder público no enfrentamento dos problemas sociais e mostrou uma nova forma de buscar alternativas viáveis, modernas e eficazes. (BONDUKI, 1996)

Os grandes avanços revelados pelos mutirões autogeridos implementados pela prefeita Luiza Erundina não estão somente ligados ao trabalho gratuito dos futuros moradores, mas na adoção da autogestão. Com esse sistema, o poder público repassa um financiamento a associações comunitárias ou cooperativas formadas pelos moradores, que se responsabilizam pela gestão do empreendimento.

Com autonomia para comprar materiais e contratar assessoria técnica e mão-de-obra especializada para a construção, as associações alcançaram resultados superiores aos obtidos pelo poder público. Materiais são adquiridos por um preço inferior; técnicos contratados diretamente produzem projetos adequados aos desejos, possibilidades e expectativas dos moradores; o desperdício é reduzido (BONDUKI, 2016).

Apesar dos bons exemplos trazidos na gestão, a prática do mutirão foi descontinuada pelas administrações seguintes, como Paulo Maluf, que tinham vínculos com grandes empreiteiras e interromperam obras e projetos. Houve também perseguição às lideranças populares e priorizaram a construção de edifícios de apartamentos por métodos convencionais que têm polarizado o debate sobre as políticas públicas.

Os trabalhos de campo realizados pelos estudantes de Urbanismo da UNEB relacionam-se com a política desenvolvida por Erundina em São Paulo, na tentativa de tornar os moradores protagonistas dessas intervenções nas políticas habitações, aliando de forma participativa o corpo técnico e a população. Entretanto para que isso ocorra, é necessário dispor de profissionais engajados no enfrentamento das problemáticas sócias, esse é o exemplo que tem sido passado aos urbanistas na aproximação com as comunidades e a importância do envolvimento entre comunidade e o corpo técnico para obtenção de resultados que garantam qualidade para moradia e os seus moradores. Diante das considerações, trazemos a fala da discente de Urbanismo Taís de Sousa Pereira (2017) para exemplificar a experiência obtida durante a realização do trabalho:

“Entendo que o trabalho desenvolvido foi uma importante oportunidade para nos mostrar, a nós urbanistas, as diferentes formas de enxergar a realidade e as diferentes formas de atuação que podemos ter. Serviu para nos lembrar que a técnica sozinha não é capaz de resolver todos os problemas da sociedade. Ela precisa vir acompanhada de um entendimento social e uma forma de atuação mais ligada à fenomenologia. Entender e ser capaz de se identificar com a realidade dos cidadãos é bastante importante para uma atuação urbanística mais humana e justa” (PEREIRA, 2017).

A pedagogia da participação vai de encontro ao que é visto nos diversos processos participativos empregados por grande parte das autoridades brasileiras, nos quais a população pobre é vista como objeto e utilizadas em busca de interesses particulares. No processo participativo é de fundamental importância que exista comunicação e compreensão em busca do entendimento bem como do reconhecimento dado entre os membros do diálogo.

Assim, a sobrevivência dessas atividades e ações após a aplicação da metodologia, poderiam alcançar uma independência que significaria aos habitantes a passagem por um processo de conscientização e construção de trabalho comunitário. Para se obter sucesso no processo foram necessários tempo e perseverança para aplicação do trabalho. Em que foi necessário que houvesse compreensão das regras fundamentais para uma discussão em grupo, para que os conflitos pudessem atingir objetivos comuns, em que todos fossem ouvidos e suas ideias sejam compartilhadas com o grupo de maneira organizada afim de atender da melhor forma possível todas as falas.

 

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O problema habitacional é objeto de políticas públicas desde o início do século passado, quando as cidades passaram a sofrer com a migração do campo e com o aumento populacional. No Brasil, o desenvolvimento das políticas urbanas evidencia a importância da participação social no contexto de intervenções públicas. A participação da sociedade civil nas instituições representa um avanço na definição de formas alternativas de intervenção relativas à inclusão socioespacial, bem como no processo de aprendizagem e aprofundamento democrático.

A produção de moradias para famílias de baixa renda no Brasil é deficitária ao longo de toda a história. Ações governamentais para solucionar o déficit habitacional ao longo dos anos não atingiram totalmente as metas devido a fatores como o forte crescimento populacional, a baixa renda familiar, a instabilidade econômica verificada em vários períodos, entre outros.

No âmbito da política urbana e habitacional, observa-se um histórico de intervenções públicas que acabaram por privilegiar os interesses do mercado privado, entretanto novas formas de atuação seguiram o caminho inverso, como no caso do governo de Luiza Erundina com alternativas duradouras, modernas, de alta produtividade e com forte participação social que possibilitaram grandes avanços, principalmente com a autogestão.

A análise do aspecto econômico das inadequações das políticas habitacionais brasileiras vem sendo feita de forma firme, vigorosa e detalhada em pesquisas e em produção de diversos tipos realizadas pelos movimentos sociais ligados à Habitação. O aspecto da formação profissional inadequada para a proposição e realização das políticas nesse campo é certamente secundário, mas sua não evidenciação enfraquece ainda mais o leque de soluções. Esse texto pretendeu incluir neste aspecto as experiências de participativas que vem sendo realizadas há duas décadas na Bahia, pelos Urbanistas formados na Universidade do Estado da Bahia.

No exercício da profissão de urbanista é extremamente necessário o conhecimento da realidade que se estuda, por isso a interação com as comunidades é extremamente fundamental no processo participativo. O processo de obtenção dos dados junto aos moradores dos conjuntos fez com que pudéssemos compreender as comunidades interagindo com elas de forma participativa, que envolviam mudanças no seu comportamento, isso foi possível através da realização de atividades pedagógicas e ações coletivas, ambas as formas tinham o objetivo de promover o aprendizado de iniciativas de trabalho coletivo, garantindo autonomia aos moradores.

Trabalhar com comunidades é uma ação inerente à vida profissional de um urbanista este deve criar suas técnicas, métodos, parâmetros para desenvolver seu trabalho dentro da comunidade. Não deve estabelecer relação de hierarquia ou submissão com os moradores e sua função principal é estimular a autonomia nos mesmos. É necessário desprender dos medos, padrões e estar disponível ao novo, atento e criativo para estimular movimentos e forma de agir.

 

REFERÊNCIAS

 

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BONDUKI, N. G. Origens da habitação social no Brasil. Análise Social, Lisboa, v. 29, n. 127, p.711-732, 1994. Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/41011028?seq=1&refreqid=excelsior:8fd8bc03601c311e646e99 550aee58f0#page_scan_tab_contents>. Acesso em: 07 set. 2017.

 

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[1] Período correspondente ao Brasil Império.

[2] Período correspondente a República Velha.

[3] Período correspondente ao governo getulista e, posteriormente, os governos democráticos anteriores a Ditadura Militar.

[4] Período correspondente a redemocratização do Brasil e, posteriormente, das políticas neoliberais.

[5] A disciplina se desenvolve a partir de aulas expositivas e apresentação de seminários para contextualização e referência aos estudos sobre as Políticas Habitacionais Brasileiras. Além disso, são realizadas rodas de discussão para acompanhamento dos trabalhos de campo realizados pelos estudantes. Nessas rodas, a partir dos conceitos e técnicas participativas da “pedagogia da participação, todos os discentes têm a oportunidade de expressar a sua opinião e assim vão amadurecendo sua reflexão sobre a experiência de campo.

 

 



Pra depois do Carnaval...

26 de Fevereiro de 2019, 15:25, por Débora Nunes - 0sem comentários ainda

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