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January 12, 2009 22:00 , by Unknown - | 1 person following this article.

Lula não é um santo. Viva Lula!

April 6, 2018 13:22, by Débora Nunes - 0no comments yet

 Lula não é santo viva lula

 

Lula não é um santo. O PT teve erros inaceitáveis. Mas a história avança sem perfeições. Quem sinaliza o lado certo em que podemos estar nela é a resposta à pergunta: A quem serve esse fato histórico? É incontestável que Lula mudou o Brasil incorporando os pobres como parte da Nação. É por isso que o povo lhe defende, assim como aqueles que têm sensibilidade social. Isso não quer dizer que todos os que estão "do outro lado" sejam insensíveis. A realidade política é complexa. Há muita gente que apenas quer os corruptos sejam presos, sem se darem conta da injustiça que está sendo cometida contra Lula, ou, dando-se conta, achando que esse é um mal menor.

É importante separar o joio do trigo e não misturar todos como "coxinhas". Eles e elas existem, voltados para seus próprios umbigos, não querendo mudanças no status quo que lhes benefecia. Querem um mundo exclusivo para a classe média e os ricos, os brancos, os heteros, os privilegiados de todas as naturezas. Por que iriam querer empregados que se valorizam e questionam, salário mínimo decente, cotas universitárias que tiram vagas de seus filhinhos, dinheiro público servindo ao povo em grandes programas sociais? mas os coxinhas de carteirinha não são tão numerosos assim.  

O que existe, imensamente majoritário na população brasileira, é uma indignação com a corrupção. E mesmo que a condenação de Lula por um apartamento que não está em seu nome, no qual ele nunca viveu, nem tirou qualquer proveito, seja esdrúxula, o fato de que o PT também se envolveu em corrupção comove a nação. Aliás, nós que votamos e defendemos Lula nesse momento também continuamos indignados e querendo que o PT finalmente faça sua autocrítica e se reconcilie com sua história. Mas a história não é um romance de mocinhos e se queremos estar do lado certo vamos nos perguntar: quem está mais próximo daquilo que acredito que é melhor para o Brasil?

Viva Lula!

 



Micro efeitos culturais do combate à corrupção no Brasil

March 23, 2018 18:33, by Débora Nunes - 0no comments yet

 Banner corrupção

Pode-se ter a sensação de que a corrupção atingiu níveis inimagináveis nos últimos anos pois esse tema tornou-se tão presente na mídia que parece que nunca tinha havido antes tanta roubalheira no âmbito público. Ok, nem vou citar inúmeros escândalos desde a época da ditadura até antes da Lava Jato pra dizer que o que tivemos nos últimos tempos foi apenas investigação e punição. Nem vou entrar na discussão sobre as disparidades entre os crimes, a parcialidade ou não de certos juízes, etc. etc., a perseguição de uns e as vistas grossas para outros, temas sobre os quais já se gastou muitas palavras. Vou falar de nós, pessoas comuns, honestas e que se deliciam ao lembrar que Cunha, Maluf e Geddel estão presos, na companhia de muitos outros notórios corruptos.

O que observo, feliz? Uma intolerância cada vez maior com os pequenos crimes que nos rodeiam. Quem não percebeu o quão é comum hoje falar criticamente sobre as “pequenas corrupções”, desde subornar um guarda de trânsito até ter carteira de estudante falsa? A sociedade está evoluindo muito para perceber o caráter cultural e sistêmico da corrupção e também para combatê-la nos micro espaços. Acompanho nos últimos tempos verdadeiras rebeliões pela ética até mesmo nos rincões mais privados e corporativos da sociedade.  Posso citar as mulheres que denunciam sem cessar os abusos masculinos, sejam eles sexuais ou puro machismo “ordinário” de homens que consideram que tudo lhes é devido.  As manifestações contra o racismo estrutural se multiplicam assim como contra o racismo “ordinário”.  Mas vou terminar focando no ambiente das Universidades, que é onde estudo e trabalho desde meu vestibular, há mais de três décadas.

Estudantes que compram trabalhos em plataformas na internet? Que copiam trabalhos já publicados em suas dissertações e teses? Estão sendo denunciados e punidos pelas bancas de avaliação. Professores que colocam informações falsas na plataforma nacional de currículos do CNPQ? Que acumulam horas em contratos múltiplos que lhes fazem ter até 80 horas remuneradas por semana ? Que faltam aulas injustificadamente e que não honram a profissão por não dedicar-se seriamente à formação de seus alunos e alunas? Estão sendo denunciados pelos próprios colegas que abrem processos muitas vezes unânimes e assim rompem com uma prática corporativa que vi por décadas. Talvez as reações à corrupção no país devessem estar sendo mais públicas, sobretudo quando malas de dinheiro vão e vêm. Mas a reação fulminante da sociedade brasileira em face do assassinato de Marielle Franco e os processos que tenho acompanhado em torno de mim mostram que podemos ficar otimistas com o futuro. Nossa sociedade está mudando em profundidade.

Publicado no Jornal A Tarde, 23/03/2018

 

Micro efeitos da luta contra a corrupção 23 03 18



Permacultura e Meditação

February 16, 2018 8:45, by Débora Nunes - 0no comments yet

Alto do parque horizontal

Acabei de viver um experiência única no município em que nasci, Miguel Calmon, nas imediações do Parque das Sete Passagens. A Escola de Sustentabilidade Integral - ESI, que criei e sustento em parceria com bravas pessoas, levou um grupo de 12 exploradores de si e do mundo para vivências com a Natureza e em sintonia com a Alma. Como disse alguém que estava lá, permacultura e meditação são dois lados da mesma busca de harmonia: pra fora e pra dentro.

Preparando pancsTodxs pintandoPeneirando o barro da tinta

O Sítio do Futuro, que há dez anos vem sendo reflorestado por nós e pela gente da Grota e que produz frutas, raízes, folhas, ervas e legumes livres de agrotóxicos e de fertilizantes, nos acolheu com alegria e beleza.  Os passarinhos, as borboletas, os sapos, as corujas, as iguanas e os jabutis, também. As agroflorestas do Sítio mostraram o caminho da produção de alimentos de forma que enriquece o solo e a biodiversidade, tão diversa do mórbido agronegócio.  Minha alegria de ver aquele ambiente pronto para acolher pessoas buscando uma transição para outro tipo de vida, calma, simples e abundante, cooperativa e alegre, foi enorme. 

A sede de campo da ESI, em contrução, permitiu uma oficina de pintura de terra, divertida e inspiradora, que mostrou o quanto é possível viver em beleza sem química, honrando a beleza que já está aí, numa explosão de cores da Natureza. A casa em adobe e madeira de reflorestamento, a BET- Bacia de EvapoTranspiração,  que transforma os resíduos da casa em fertilizantes, são outros exemplos de bioconstrução. A alimentação natural, os exercícios físicos feitos logo cedo, a cooperação entre os membros dessa pequena comunidade, os momentos de silêncio e meditação e o apoio das pessoas da região resultaram em bem estar e leveza. 

 

 Viver é bomA alegria de son e joana

O Sítio do Futuro e a Escola de Sustentabilidade Integral mostram que o Bem Viver e a alegria que decorrem de uma vida simples, cooperativa e em sintonia com a Natureza estão disponíveis para todo mundo. Milhares de outras iniciativas de permacultura, de autoconhecimento e de vida comunitária ecológica estão por aí. Cada pessoa que quer contribuir para que a humanidade passe a outro patamar de amorosidade precisa viver na prática experiências assim e apoiar aqueles que estão desbravando esse novo mundo, como nós. Venham, estamos abertos a acolhê-los em nossa próxima atividade. Acompanhem a Escola de Sustentabilidade Integral pelas redes sociais e saiba quando:

https://www.facebook.com/escoladesustentabilidadeintegral/

Joana preserva o sítio



A emergência da cidadania planetária

October 6, 2017 17:49, by Débora Nunes - 0no comments yet

Cidadania planetária

 

 

EMERGÊNCIA DA CIDADANIA PLANETÁRIA

Transformar a Visão da Política e da Geopolítica: do Poder Dominador ao Poder Co-criador

A grande questão geopolítica atual não é saber que Potência dominará o século 22, mas se haverá para a Humanidade um século 22. A civilização humana está ameaçada de desaparecer. Mas o que a ameaça é sua irresponsabilidade ecológica e social, sua própria barbárie interior e não exterior. Isto muda a maneira como vemos a questão da defesa.

A defesa, pois, consiste na capacidade dos humanos de organizar seu viver juntos, num planeta que permaneça habitável. As questões ecológica e humana, isto é, a capacidade da humanidade confrontar seus demônios interiores e crescer em humanidade torna-se o centro de uma nova abordagem da geopolítica. Esta visão integral e planetária do lugar do humano na natureza muda nosso olhar, que se torna mais apto à compaixão e mais construtivo. Cada ser humano se torna, naturalmente, cidadão da Terra, portanto, do Universo. Pequenino e ao mesmo tempo responsável pelo seu futuro. Mas, de fato, propenso à humildade e à solidariedade, por ser um elemento frágil da família humana e da de todos os seres vivos.

É, portanto, necessário passar do Poder dominador, que fundamenta a geopolítica clássica, ao Poder co-criador. Isto conduz a uma mudança da noção de governança. E a uma mutação qualitativa da democracia competitiva e delegativa a formas de Democracia participativa e colaborativa. É também a passagem de uma política fundada na inimizade (a figura do inimigo) à que Aristóteles e Derrida chamavam de “uma política da amizade”, fundada na ideia de que a/o “irmã/o” (no sentido de filhas e filhos da Mãe Terra) só pode sobreviver superando suas pulsões violentas. Isto não significa o fim dos conflitos nem dos desacordos, mas a capacidade de entende-los de maneira fecunda e não violenta. Isto é importante tanto nas relações interpessoais quando nas interações no seio da sociedade civil planetária na sua diversidade.

Isto leva a uma mudança da visão jurídica: passagem da “soberania solitária” dos Estados-Nações à “soberania solidária”, capaz de levar em conta “bens comuns” ecológicos e societários. Ela se apoia desde já em novas abordagens jurídicas tais como a noção de ecocídio, ou de crime contra o ambiente que coloca em risco a humanidade. A Corte Penal Internacional se reconhece competente se um crime contra a humanidade de natureza ambiental é provado; este já é um primeiro passo naquele sentido.

É também uma superação da abordagem puramente “internacional” para avançar no sentido da “mundialidade”: a mundialização se opõe à globalização que é somente econômica e financeira, por levar em conta o conjunto das questões ecológicas e sociais mundiais a partir do nível local. Isto significa tratar destas questões em termos de subsidiaridade, para que a mundialidade não entre em contradição com as diferentes identidades. Assim, cada comunidade é responsável pela gestão do seu espaço apoiada, quando necessário, pelos outros níveis. Isto permite, ao mesmo tempo, a construção de identidades-relações entre comunidades e entre diferentes níveis (territórios, países, continentes). Assim, o reconhecimento de uma cidadania planetária, que dá a todo ser humano direitos e deveres definidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Carta da Terra, torna-se compatível com a cidadania local, nacional ou continental. A identidade-relação envolve a co-responsabilidade entre as diferentes escalas de vida, para a sobrevivência do conjunto do povo da Terra.

Há também, evidentemente, mudança em relação à economia. Uma Economia plenamente ecológica, que promove a consciência da necessidade de uma boa gestão de todas as nossas moradas: nosso corpo, nossas casinhas terrestres, nossas comunidades, nossos biomas, nosso país e a grande casa planetária.  Isto exige uma economia do suficiente, que reconheça os limites dos recursos da Terra, promova o consumo sóbrio e responsável de bens materiais e ponha limites ao crescimento; novos conceitos e indicadores de riqueza; e uma abordagem da contabilidade que resgate ao termo benefício seu verdadeiro sentido de atividades benéficas, fontes de melhoras qualitativas e não quantitativas, para todas e todos, e não apenas para um pequeno número de privilegiados. Ora, diversos valores monetários correspondem, de fato, a atividades destruidoras do ser humano, da natureza, da saúde…, tais como a mercantilização da exploração humana, das guerras, das doenças, dos acidentes rodoviários, o agravamento das catástrofes naturais (extrativismo ou construções anárquicas) e os vícios, como o consumo de cigarros.

O que conta numa casa é o Bem Viver de todas e todos os que a habitam. O verdadeiro sentido da atividade econômica deve ser o Viver em Plenitude, e não o lucro e a acumulação de dinheiro e de propriedades. Viver em Plenitude inclui ter acesso a todas as condições que facilitem o desenvolvimento dos potenciais, qualidades e talentos de cada pessoa, comunidade, território e povo. A partilha da propriedade e da gestão dos bens produtivos, seja a terra, as unidades industriais e financeiras, seja a tecnologia e o conhecimento nutrem a solidariedade, a reciprocidade e a complementaridade.

Isto leva a outras mudanças profundas, como a transição para uma economia plural e o deslocamento do centro das atividades econômicas da empresa privada para as comunidades humanas nos seus territórios e ecossistemas, auto gestionárias e solidárias entre si. O planejamento participativo do desenvolvimento socioeconômico e humano auto gestionário orienta a oferta para a produção de bens e serviços que respondem às necessidades reais dos sujeitos sociais e dos modos de governança participativos e não-hierárquicos organizados do local às esferas mais gerais. Esta vocação de serviço ao Bem Viver integral das pessoas se estende ao Estado democrático, cujas responsabilidades abrangem a orquestração da diversidade social e a proteção dos direitos humanos e da soberania nacional e popular; a promoção de relações harmônicas e igualitárias entre as comunidades e as regiões, assim como o respeito à diversidade; a produção das infraestruturas que servem às esferas regionais e nacional; a garantia de uma gestão responsável dos bens comuns, dos biomas e ecossistemas; a proteção da resiliência dos ambientes alterados pela ação humana; e a gestão dos assuntos internacionais e planetários.

Há igualmente mudança em relação à espiritualidade. Espiritualidade aberta, fundada na relação com a beleza, com o mistério da interioridade que permite superar as várias religiões organizadas em torno do medo, da culpa, da submissão e do sacrifício. Em particular há a superação da lógica da Potência dominadora, que corrompeu profundamente diversas instituições religiosas e conduziu às piores guerras, aquelas realizadas em nome de Deus. Essa espiritualidade aberta, criadora e não dominadora pode, então, ser plenamente coerente com uma abordagem aberta da laicidade. A espiritualidade se torna, assim, uma pesquisa íntima da missão profunda de cada uma e cada um nesta vida, o que nos leva à prática da alegria de viver consigo mesmo, com os outros e com a Natureza. É, pois, uma mudança da relação entre micro e macrocosmo, que conduz a uma visão fractal tanto do universo exterior quanto do interior, e abre à abordagem de uma transformação tanto pessoal quanto social. Isto supõe, claro, a abertura a uma inteligência global aberta tanto ao coração e ao corpo, quanto ao espírito.

A partir de agora há uma mudança da noção de civilização. A perspectiva de uma Cidadania mundial permite oferecer uma alternativa não só à noção de civilização colonizadora, mas também à guerra de civilizações teorizada pelos neoconservadores estadunidenses. Isso vale, em particular, para o diálogo necessário, ao mesmo tempo exigente e aberto entre Modernidade e Tradição, capaz de conservar o melhor dos dois. Da Modernidade guardaremos a liberdade de consciência, o reconhecimento da singularidade e, portanto, dos direitos de todos os seres humanos, sem o pior – a coisificação ou mercantilização da Natureza, da Vida e até dos Humanos. E operaremos a mesma “triagem seletiva” entre a parte luminosa da Tradição – a reconexão com a Natureza, com os outros e com as questões do sentido), rejeitando sua parte sombria: a dependência derivada da dominação patriarcal (controle social, fundamentalismo identitário e ecologia misantrópica).

É toda a perspectiva do humanismo que se encontra assim transformada. Co-construção de um Humanismo a serviço do Ser Vivo e da cidadania planetária, e não o humanismo de dominação da natureza e de imposição da visão ocidental do mundo.

 

O desafio do “Bem viver”

 

Nessa perspectiva, a visão manifestada pelos povos originários da América Latina, e divulgada com força a partir do FSM de Belém em 2009, propõe uma transição no sentido de sociedades do “Bom Viver” (sumak kawsay em quechua), do Bem viver, que ganha pleno sentido hoje e cria a reviravolta espiritual de que nosso mundo necessita.

Mas o Bem Viver não se tornará um verdadeiro projeto de sociedade a menos que seja encarnado por um movimento cidadão que o leva a sério para se organizar consequentemente em torno desse eixo e realizar ações concretas. Precisamos responder ao desafio da experiência e não só da esperança. A simplicidade dos 13 passos propostos pelos povos originários dos Andes para exprimir o sumak kawsay no cotidoano pode servir de inspiração a todas e todos que querem empreender uma transformação pessoal e assim contribuir a uma transformação social. Esta transformação começa pela vida cotidiana na escala individual para ampliar-se à escala de toda a sociedade global. É um novo sentido da vida que se exprime na busca do “Viver Plenamente”, no sentido integral: Bem Viver conosco mesmos, com os que nos cercam e com a busca, com aqueles que nos cercam e com aquela que nos nutre, a Mãe Terra. Os 13 princípios do Bem Viver na busca do equilíbrio são:

 

1) saber nutrir-se do que é saudável;

2) saber beber favorecendo o fluxo da vida;

3) saber dançar no ritmo do Universo;

4) repousar, dormir de um dia para o outro;

5) ser capaz de trabalhar com alegria;

6) saber calar-se e buscar o silêncio meditativo;

7) pensar, em conexão com o coração e o espírito;

8) saber amar e ser amada/o;

9) saber ouvir-se, os outros e a Mãe Terra;

10) saber falar de modo construtivo;

11) saber sonhar com uma realidade melhor;

12) aprender a caminhar acompanhado das boas energias; e

13) saber dar e receber.

 

Para que uma transição a sociedades do Bem viver, já iniciada nos quatro cantos do mundo, seja amplificada de modo significativo, é preciso que ela seja atraente. A antecipação deste mundo do devir, que já é praticado e experimentado por um novo tipo de movimento social e cidadão, está criando este desejo em todas e todos de participar dele e de demonstrar que é realizável em grande escala. Devemos, portanto, construir uma verdadeira “aliança das forças da vida”, capaz não só de resistir às lógicas mortíferas, mas também de promover essa grande Transição a sociedades do Bem viver, na linhagem dos movimentos Cidades em Transição, Programa Educação Gaia, Rede Global de Ecovilas, movimento Nação Pachamama, Rede intercontinental de promoção da economia social solidária (RIPESS), o pulular educativo e empreendedor da entidade Gawad Kalinga, nas Filipinas, Ekta Parishad (o movimento gandhiano de Rajagopal) e Vikalp Sangham (grande rede de grupos e movimentos alternativos), ambos na Índia, e todas as iniciativas que manifestam em todo o mundo uma formidável criatividade cultural, ecológica, econômica, societal e cidadã.

No centro deste projeto de Transição para uma sociedade do Bem viver, há, contudo, um ponto cego importante que, não sendo plenamente entendido, conduz vários projetos transformadores ao fracasso ou a ter limitada sua potência criadora. Este ponto cego é que vários projetos alternativos na História terminaram por fracassar não pela força dos seus adversários (o capitalismo, o despotismo, o imperialismo, por exemplo), mas pela implosão causada pelas rivalidades fratricidas e pela insuficiência de energia interior criadora. Sempre encontramos, ao analisar as causas desses fracassos, o fato de que formas de mal viver, e também de maus tratos estavam sempre presentes no seio dessas movimentos. Ora, todo mal viver, coletivo ou individual, traduz-se por um déficit de energia interior que leva à busca no exterior da energia que falta. Isto se traduz pela rivalidade nas relações com o outro, a predação nas relações com a natureza e a depressão na relação da pessoa consigo mesma. Interessa, neste sentido, ver como problemas ditos “pessoais” desempenharam um papel decisivo nas bifurcações negativas de forças transformadoras: quer seja entre Danton e Robespierre, Marx e Proudhon, Lenin e Trotsky, Castro ou Mao Tse Tung, com diversos dos seus companheiros de revolução respectivamente. É longa a lista destas influências negativas de falta de sabedoria, que se traduzem em formas brutais de modos de organização e de liderança. Podemos sem dificuldade encontrar diversos exemplos disso em organizações atuais às quais pertencemos.

A necessidade de mudar esta dinâmica para dar mais lugar a movimentos que renovam a energia dos participantes que desejam mudar o mundo aqui e agora torna-se evidente. Existem diversos movimentos que, baseados na autogestão e na liderança compartilhada, valorizam a contribuição de todas e todos, confirmando esta necessidade cada vez mais consciente. Esses coletivos se tornam mais fortes e atraentes, em especial para a juventude, porque promovem laços de amizade enquanto força política. Esta política da amizade e da confiança repousa na benevolência de um/a em relação ao outro, no acolhimento das diferenças, mas também na exigência de responsabilidade individual e coletiva em coerência com os valores compartilhados. Estes coletivos, graças à sua capacidade de construir unidades na diversidade, se tornam uma força de ação maior para a transformação do mundo. Todos os exemplos que existem aqui e ali desde há decênios são sementes de renovação e são portadores de frutos abundantes, mas frequentemente desconhecidos, à exceção de exemplos políticos emblemáticos como os de Rosa Luxembourg, Rosa Parks, Wangari Matthaai, Leymah Gbowee, Rigoberta Menchú, Nelson Mandela, Desmond Tutu, Martin Luther King e Gandhi, cuja célebre citação resume a filosofia destes novos movimentos cidadãos: “Seja a mudança que você quer ver no mundo”, retomada pelo Papa Francisco na sua Encíclica Laudato Si.

A Alegria de Viver no seio do Bem Viver constitui a alternativa individual e societária às economias do mal estar e dos maus tratos. Assim, segundo as Nações Unidas, as despesas anuais com drogas e entorpecentes representam dez vezes as somas que permitiriam a satisfação das necessidades vitais da humanidade; e as despesas com armamentos, vinte vezes! Acrescente-se que a publicidade que participa desta economia do mal estar, vendendo promessas da ordem do SER (beleza, felicidade…) para melhor alimentar a corrida ao TER, é avaliada em mais de dez vezes as somas exigidas para erradicar a fome, permitir acesso a água potável ou aos cuidados básicos. O déficit energético provocado pela insuficiência de alegria interior deságua na compensação do que o filósofo Spinoza chamava de paixões tristes. Se, em termos ecológicos, o mal viver está também na origem de formas insaciáveis de produtivismo  e extrativismo, só uma sobriedade feliz (contanto que enfatizando este segundo termo) e uma economia do suficiente têm o poder de inverter este processo deletério. Mas isto só é possível se a qualidade de consciência e de presença da Vida nos permite este avanço.

Como podem os atores que colaboram para “a Grande Transição” melhor coordenar-se em escala global? O conceito de cidadania planetária oferece a possibilidade de um projeto mundial ambicioso, que permite a todas as energias criadoras presentes hoje de forma fragmentada, unir-se na sua diversidade e ampliar-se, pois os bens mais preciosos se multiplicam quando são compartilhados. Reunamo-nos, pois, em torno deste projeto comum! Trabalhemos para identificar os sinais de pertencimento à nossa grande família (logos, colantes, ferramentas comuns de comunicação, bandeira, etc.) a fim de torna-la visível, natural, evidente, incontornável. Esta visibilidade é essencial a fim de que seus membros, cada vez mais numerosos, possam dizer-se: sim, temos o poder de agir; sim, estamos em casa em qualquer lugar do planeta; sim, somos todas e todos cidadãs e cidadãos do Povo da Terra; sim, podemos nos organizar para garantir juntos a nossa autonomia em relação ao sistema dominante e para experimentar novas formas de vida que consideramos ecológica e socialmente as mais desejáveis!

De fato, nós ainda estamos na origem de uma célula fractal deste movimento cidadão mundial pelo Bem Viver. Mas todos os grandes projetos na História começaram assim e, se muito atores presentes, por exemplo, no Fórum Social Mundial se aprestam a co-construir um tal Projeto, ele poderá rapidamente se expandir. A Visão deve ser imensa, e a Ação levará tempo, dando pequenos passos para segui-la, em confiança e consciência, brilhando pela qualidade dos seus resultados e atraindo sempre mais energias criadoras do futuro. Este é um paradigma complexo inédito que estamos ajudando a vir à luz .

Ele supõe abordagens múltiplas e ações concretas, tentativas-erros, com uma visão comum, novos espaços de criação, novas relações, novas transversalidades, novas hierarquias de valores, uma nova linguagem a invertarmos com a colaboração de todas as pessoas criativas, em todos os campos – cultural, econômico, político, religioso, agnóstico, espiritual…!

Para servir a esta visão, a rede Diálogos em Humanidade propõe a criação de um Conselho de Segurança da Humanidade. Frente aos colapsos maiores, - tais como as crises financeiras, catástrofes ecológicas, explosões sociais, riscos ligados ao uso voluntário ou acidental de armas de destruição maciça, etc., - a ideia de construir, a partir da sociedade civil mundial, um Conselho de Segurança da Humanidade poderia ser um projeto comum aos nossos movimentos. Sobre este ponto o Conselho de Segurança das Nações Unidas está longe de estar à altura da sua missão de promover a paz com justiça. O fato de seus cinco membros permanentes, que deveriam ter a maior responsabilidade sobre o desafio mundial da paz, sejam também os cinco principais vendedores de armas, constitui uma trágica ilustração. Precisamos, portanto, construir as condições para que seja um autêntico “Conselho de Segurança da Humanidade”, combinando dois tipos de recursos. Por um lado o conjunto de atores susceptíveis de formular alertas e contra propostas relativas aos grandes riscos que corre a Humanidade: as grandes organizações da sociedade civil que atuam nos domínios ecológico, humanitário, social, tecnológico, mas também todo tipo de ator, de qualquer forma institucional, que possa compartilhar de forma descentralizada o conjunto de informações e propostas que possam alimentar esta perspectiva.

Para servir a esta visão, a rede Diálogos em Humanidade retoma a ideia da “Cúpula das Consciências” ocorrida durante a COP21 e propõe a criação de um Conselho de Segurança da Humanidade. Frente aos colapsos maiores, - tais como as crises financeiras, catástrofes ecológicas, explosões sociais, riscos ligados ao uso voluntário ou acidental de armas de destruição maciça, etc., - a ideia de construir, a partir da sociedade civil mundial, um Conselho de Segurança da Humanidade poderia ser um projeto comum aos nossos movimentos. Sobre este ponto o Conselho de Segurança das Nações Unidas está longe de estar à altura da sua missão de promover a paz com justiça. O fato de seus cinco membros permanentes, que deveriam ter a maior responsabilidade sobre o desafio mundial da paz, sejam também os cinco principais vendedores de armas, constitui uma trágica ilustração. Precisamos, portanto, construir as condições para que seja um autêntico “Conselho de Segurança da Humanidade”, combinando dois tipos de recursos. Por um lado o conjunto de atores susceptíveis de formular alertas e contra propostas relativas aos grandes riscos que corre a Humanidade: as grandes organizações da sociedade civil que atuam nos domínios ecológico, humanitário, social, tecnológico, mas também todo tipo de ator, de qualquer forma institucional, que possa compartilhar de forma descentralizada o conjunto de informações e propostas que possam alimentar esta perspectiva.

Por outro lado a criação de um “Conselho de Sábias e Sábios”, com a função de aconselhar e apoiar o Conselho de Segurança da Humanidade,  o que permitiria um diálogo exigente e transparente com o atual Conselho de Segurança da ONU. Um  tal Conselho da cidadania poderia manifestar, para além de todo interesse econômico, político ou religioso, uma consciência do futuro da nossa família humana.  Um primeiro desafio desse Conselho seria participar da mobilização pela Missão 2020, divulgada na revista Nature (junho de 2017). Nesse apelo diversas personalidades propuseram mudanças concretas em seis campos de ação que resultariam na diminuição significativa na emissão de gases-estufa. Isso permitiria à Humanidade ganhar cerca de vinte anos para prosseguir seu caminho de desaceleração da mudança climática. A partir desse apelo decisivo é preciso realizar a aliança de que precisamos entre as forças sociais e cidadãs, os grandes agentes científicos e espirituais, e os atores em posição de responsabilidade política ou econômica. Este poderia ser o primeiro assunto a ser tratado pelo Conselho de Segurança da Humanidade, numa incitação a mobilizar-nos coletivamente por uma agenda dinâmica, na perspectiva de ação da cidadania planetária.

 

 

Texto proposto em nome da rede internacional Diálogos em Humanidade, por Patrick Viveret, Débora Nunes, Marcos Arruda, Anne Marie Codur, Christine Bisch, Siddhartha, Laurence Baranski, Geneviève Ancel et Hugues de Rincquesen. 

 



Dicas para um bom texto acadêmico

September 2, 2017 10:06, by Débora Nunes - 0no comments yet

 

 

Escrever

Dicas para um bom texto acadêmico

 

Débora Nunes

Depois de muitos anos orientando estudantes de graduação, mestrado e doutorado, identifiquei alguns erros recorrentes e fui anotando, um a um. Essa experiência de orientadora é a base desse texto - que já vem sendo útil há muitos anos - e também minha prática como escritora de livros que têm uma reputação de serem fáceis de ler. Espero que pessoas interessadas em escrever melhor, sobretudo no âmbito da Universidade, possam se beneficiar dessas dicas e propiciar a seus leitores e leitoras momentos agradáveis. Então vamos lá.

Um bom texto, mesmo o acadêmico, parece uma boa conversa, que flui agradavelmente, sem deixar subentendidos, nem incompreensões e encantando os interlocutores no prazer de aprender, e de certa forma, de trocar idéias. Como o leitor, ou a leitora, não tem como falar com o autor ou autora, é importante dar-lhe tempo para falar consigo mesmo enquanto lê, fazer pausas, mesmo rápidas, para pensar. Estas pausas podem ser propiciadas pelas pontuações bem usadas, pelas frases curtas, os parágrafos bem ritmados (e que não cansem quem lê), a presença de intertítulos no texto, os capítulos que se sucedem de forma clara...

Escrever bem é saber expressar idéias de foram clara e rápida, pra manter a atenção de quem lê, mas também de forma persuasiva, com capacidade de convencer pela lógica e pela competência demonstrada pela autora ou autor. Uma boa redação revela capacidade de raciocínio e muito esforço pessoal – mesmo para aqueles que têm mais facilidade de escrita. Nenhum bom texto é escrito de uma só vez, mesmo os melhores autores e autoras retrabalham várias vezes seus escritos para brindar quem lê com o melhor. Vamos fazer o mesmo. No final do post há uma lista para que você faça uma auto avaliação: seu texto, ou o texto de sua equipe, está bom?

 

Para escrever de modo agradável e compreensível, faço algumas recomendações.

I - Sobre o tema:

O melhor tema é o que nos desperta muita curiosidade e preenche o autor/a, de alguma forma, enquanto pessoa. Só assim ela pode entregar o melhor de si mesmo/a em seu estudo e na finalização escrita da sua pesquisa. Seja qual for o trabalho acadêmico em que você esteja envolvido.a, busque saber em que ele contribui pra alegria do seu aprendizado ra que você possa dar o melhor de si.

Um bom texto deve mostrar ao leitor o processo intelectual que foi percorrido para que o autor chegue às mensagens que quer lhe passar, tanto dos autores com os quais aprendeu sobre o tema, como dos pontos de vista e formas de aproximações/abordagens que foram usadas para o entendimento do tema e das proposições e/ou conclusões tiradas. Dizendo de outra forma, suas referências teóricas e metodológicas precisam ficar claras no texto.

Importante! Tudo o que você escreve é guiado pelo tema de sua escolha. Assim, observe se você não faz digressões excessivas, rodeios, como se diz, desviando-se demais do que você quer desenvolver. Perder-se no seu próprio texto é um perigo que você não pode correr e para isto, guie-se sempre no seu Sumário e evite parágrafos e parágrafos que não têm relação direta com seu tema. O Sumário é uma peça que ajuda a reflexão do autor e estabelece um compromisso deste com a leitora e o leitor. O Sumário, no processo de escrita, ajuda a organizar suas idéias e não sair do seu tema, trabalhando-o de forma correta. O leitor tem ali uma percepção geral do que vai ler, despertando (ou não) seu interesse. Por isso mesmo, fique atenta.o com os títulos do seu Sumário...

II- Sobre o leitor:

O/a leitor/a deve ser tratado sempre como alguém inteligente e que não tem tempo a perder. Por isto mesmo o leitor deve ter possibilidade de apreender rapidamente, em uma primeira leitura, o que o autor quer dizer. Havendo clareza no texto, o leitor pode se posicionar de acordo, contra ou manter-se em dúvida em face ao que lê e esta dinâmica o estimula a prosseguir.

Em tempos em que falta tempo, o Sumário, a Introdução e a Conclusão são os itens mais garantidos de serem lidos no texto e assim podem fazer o texto ser lembrado ou esquecido. Escreva-os com o maior cuidado, perguntando-se sempre se não podem ser melhorados para expressar de forma mais clara o que de fato você quer dizer. Um Sumário que funciona como um roteiro de viagem, uma Introdução que fornece ao leitor/a um panorama das informações iniciais que ela/e precisam ter pra aproveitar a viagem e uma Conclusão que sintetize a experiência tida na viagem são uma garantia de que seu texto está indo bem. E que a viagem será proveitosa e agradável.

A técnica de leitura dinâmica, usada por muitos leitores, onde se lê principalmente a primeira frase de cada parágrafo, faz com que seja aconselhável começar o parágrafo, o subcapítulo e o capítulo, pelo enunciado mais importante a ser dito ali, e só depois abordar os fatores secundários ou dados menos importantes.

 

III- Sobre a organização do texto ou componentes de um bom texto

Um trabalho começa com uma Apresentação que é onde o/a autor/a explica ao leitor/a o contexto em que o trabalho foi realizado: explica suas experiências anteriores com o tema, o que motivou sua produção, etc e até mesmo o contexto concreto, teve tempo suficiente ou não, foi um período com dificuldades ou possibilidades específicas, etc. É a parte mais pessoalizada do texto acadêmico, depois dos Agradecimentos, claro!

No Resumo, de cerca de 20 linhas (250 palavras), precisam estar respondidas as perguntas: o que é o trabalho, por que foi realizado, onde e quando, como se desenvolveu e quais as conclusões tiradas. É preciso que este importante texto seja bem trabalhado, pois é uma referência geral para quem lê. Para quem escreve é uma comprovação da clareza conseguida em todo o texto.

O Sumário, do mesmo modo, deve ser feito com cuidado e deve ser específico do trabalho e não genérico, apenas com as palavras Introdução, Metodologia, etc. como títulos.  Mostrar a capacidade de organização e síntese das idéias do (a) autor (a) e facilitar a leitura dos leitores é a função do Sumário.

Na Introdução o tema é que é apresentado.  Em linhas gerais se contextualiza a discussão e ao final é apresentado de forma resumida o trabalho que virá a seguir (sugestão: pelo menos um parágrafo para explicar cada capítulo, se for um texto de mais de 15 páginas). Na Metodologia se reafirma o objetivo do trabalho e se descreve as atividades desenvolvidas e as características da abordagem (exploração, descrição, interação participativa, elaboração de proposições, etc) que você escolheu. É importante descrever detalhadamente tudo o que não for tão usual, como metodologias participativas, por exemplo. Explicite onde e como você coletou os dados que usou no trabalho e explique os métodos de análise usados para tratar os dados.

Sobre o desenvolvimento do texto, serão feitas recomendações a seguir, nos itens IV e V, porém é preciso lembrar que se escreve para confirmar hipóteses levantadas previamente, ou seja, argumentar sobre aquilo que quem redige quer transmitir. Todas as considerações apresentadas sobre o tema devem ser argumentadas pelo autor/a e é importante que muitas tenham confirmações bibliográficas, estudos de outros autores e autoras, tabelas, fotos, diagramas... Cada argumento, dado ou informação de pesquisa deve ser referenciada com fontes ali onde elas são feitas pela primeira vez. Isso é muito importante pra que a leitura seja clara, faça isso mesmo que de forma bem sintética, que será desenvolvida depois. Quando autores/as e e argumentos estão presentes em outras partes na frente do texto, sem terem sido antes anunciados, isto dificulta o diálogo autor(a)/leitor(a), essencial em um trabalho acadêmico. Lembre, pegue sua leitora e leitor pela mão e conduza firmemente e com clareza a viagem que fazem juntes, ou o aprendizado em curso.

As afirmações/negações acerca do tema precisam ser feitas de forma clara e organizada para que exista real processo argumentativo a ser seguido pelo leitor. Só assim, ao final, as conclusões do trabalho poderão ser partilhadas entre o autor/a e o leitor/a ou se evidenciará uma discordância entre esses dois pólos da escrita. E, em ambos casos o trabalho argumentativo foi válido já que o leitor/a saiu ganhando em aprendizado sobre o que você pensa e sobre o que ele/a pensa sobre o assunto.

Na “Conclusão” se resume rapidamente o trabalho e se expõe o que foi aprendido. Não deve haver dados novos do trabalho e é o momento mais apropriado para o autor se posicionar livremente sobre o tema, em consonância com a argumentação defendida ao longo do trabalho, mantendo assim a coerência do texto.  Recomendo que a Introdução e a Conclusão tenham em torno de 10% do total de páginas do texto geral.

Os Anexos são aquelas partes, importantes, que são retirados de outra fonte para serem juntadas ao trabalho. Os Apêndices também são adendados ao trabalho no final, mas são produzidas pelo autor (roteiro de entrevista, modelo de questionário, etc). Os anexos grandes, recortes de jornal, por exemplo, devem ter marcação das informações que se referem diretamente ao tema  (com marcador colorido, ou outro, pra ajudar o leitor/a a ler mais rápido) e devem estar organizados em ordem cronológica. Quando os anexos são mapas, é bem produtivo quando eles podem ser reproduzidos em pequeno formato no texto, só pra dar uma idea do que contêm.

 

IV- Ao tratar de um fenômeno, no desenvolvimento do texto:

  • Escrever de forma clara significa ter hierarquias claras: A cada aspecto a ser abordado no texto, discuta o tema atentando para a hierarquia, passando:
    • do geral para o particular, ou seja fornecer uma dimensão geral do problema e depois tratar do específico; do grande para o pequeno; tratar primeiro as causas, depois os efeitos, a cidade e depois o bairro, a história em geral do tema e depois a história do tópico espcífico;
    • partir dos consensos e só depois entrar nas exceções ou nas polêmicas, ou seja vá do grandemente aceito para o duvidoso, comece pelos aspectos afirmativos (positivos) e só depois trate os ‘mas´ e ‘poréns` (negativos);
  • Busque tratar o tema sob vários pontos de vista, em termos micro e macro, abordagens de diferentes disciplinas e de diferentes estudiosos da questão, atentando para a hierarquia citada anteriormente;
  • Um recurso muito útil para dar amplitude ao tema é a apresentação da etimologia do(s) conceito(s) em questão, ou seja, a origem da palavra e suas diferentes acepções constantes no dicionário. Estas abordagens devem ser separadas em parágrafos, ou em subitens ou em capítulos diferentes;
  • Atentar para a cronologia, que deve ser crescente ou decrescente (por exemplo, do tempo mais anterior ao mais presente, ou partindo dos fatos do presente e indo buscar suas origens e causas no passado). A cronologia deve ser inteligível, ou seja, compreensível sem dificuldades e respeitada em sua lógica. Quando o autor decide por uma forma de abordar o tema em termos cronológicos, não poderá mudar no meio do caminho, pois confundirá o leitor;
  • Para que o leitor não se canse e não se perca, compreendendo bem o que está sendo lido, fazer frases curtas (máximo em torno de quatro linhas) e parágrafos também curtos (máximo em torno de 12 linhas). Bons textos têm normalmente um bom ritmo, ou seja, parágrafos mais ou menos do mesmo tamanho: uma referência para um bom parágrafo seria ter em torno de doze linhas, com cerca de três frases. Tudo funciona com ritmo no mundo, pense em qual é a "música" do seu texto;
  • Este ritmo de tamanho de frases e parágrafos deve ser mantido com certa regularidade, sem se tornar monótono, pois é quebrado com intertítulos, figuras, divisão em capítulos, etc.
  • Uma das principais formas de orientar o leitor a melhor saborear o texto é através dos títulos e intertítulos. Trate-os de forma criteriosa, nomeando-os com precisão e síntese a cada vez que o tema tiver subtemas.
  • Atentar para jamais fazer referência a um dado ou idéia que não tenha sido citado ou discutido anteriormente. É na primeira vez que se fala de algo, que se explica se que se trata, seja uma abreviatura, um conceito, um dado, um raciocínio. A seguir, salvo em casos raros, como textos muito grandes, não é necessário repetir;
  • O leitor deve ser considerado como distante do tema para não tornar o texto excessivamente ‘doméstico’ (por exemplo, quando se cita as instituições com abreviações sem dar o nome por extenso, como se todo mundo conhecesse, ou quando se situa os fatos num bairro, sem dizer a cidade a que pertence e até o país, para texto publicado no exterior);
  • O fenômeno deve ser abordado com segurança, demonstrando claramente a opinião do autor em relação ao que está sendo discutido, mas sem que isto seja feito de forma “panfletária”, ou dogmática, em forma de verdades definitivas. Suas dúvidas também devem ser explicitadas para que possa haver um diálogo com outros autores e com o leitor;
  • Incluir frases que ajudem o leitor a passar de uma ideia a outra, de um capítulo a outro, acompanhando o que você quer dizer (“Vendo o problema por um outro ponto de vista”, “retomando o que foi dito anteriormente”, “será abordado a seguir”);
  • As figuras, sejam elas fotos, desenhos, gráficos, quadros ou tabelas são instrumentos preciosos de síntese e em alguns casos, imprescindíveis. Lembrar que as figuras devem ser autoexplicativas e de boa qualidade e também de colocar a fonte e se é elaboração do autor/a, citar isto. Atentar para dizer brevemente a que veio aquela ilustração, mas não dizer tudo que a figura já vai dizer por sí só;
  • Lembrar que uma tabela não tem linhas no corpo e é qualitativa, enquanto que um quadro tem linhas e é quantitativo. Tabelas e quadro têm que ser bem formatados se não parece desleixo;
  • Texto mal escrito pode significar desrespeito ao leitor. Atente para revisar seu texto, ou pedir ajuda de alguém pra fazê-lo, pra evitar a impressão de desleixo, que é imperdoável. Uma dica que ajuda é usar a revisão automática do programa Word para que erros gramaticais, ortográficos, de pontuação e formatação sejam identificados automaticamente e assim corrigidos.
  • Revisar, simplificar e cortar são regras de ouro. Por exemplo, substitua “fazer um debate” por “debater”, e “com o propósito de”, por “para”. Retirando redundâncias o texto fica mais leve e agradável;
  • Deixe o texto descansar antes de revisá-lo pela ultima vez. Ao revisar tente estar no lugar da pessoa que lê, crítica, imparcial e querendo passar um bom momento de leitura;

 

V - Sobre o estilo:

  • Um erro ortográfico ou de conjugação é um pecado muito grande nestes tempos de revisão ortográfica automática. Observe o que diz o programa de escrita do computador, Word por exemplo, e não perca a confiança do seu leitor.
  • Seja direto, evite clichês, não seja empolado falndo palavras difíceis, não use jargões, aproxime-se o mais possível da linguagem cotidiana. Evite tanto as expressões excessivamente coloquiais, como as excessivamente rebuscadas. 
  • Evite abreviações, siglas e símbolos, pois o leitor pode não os conhecer. Se o fizer, explique o que significa e faça lista de abreviações, se forem muitas.
  • Fornecer sempre uma ordem de grandeza compreensível para o leitor não especialista no tema em questão. Se você fala em hectares, mantenha esta referência do início ao fim do texto;
  • O objetivo de um autor deve ser de tratar o tema o mais exaustivamente possível dando o mínimo de trabalho ao leitor, assim, evite redundâncias. “Enxugue” o texto retirando seus excessos e jamais repita o que já foi dito a não ser em situações muito particulares, assinalando para o leitor que você sabe que já falou daquilo, para não parecer descuido.
  • Jamais seja vago. Na medida do possível dê dados precisos e diga suas fontes. Evite o uso de advérbios vagos e não esclarecedores, como “muito”, “pouco”, razoavelmente. É melhor dar uma medida precisa: ao invés de “Esta ideia é muito antiga” (vago) tente substituir por algo como “Esta idéia foi difundida na década de 40 do século XX” (preciso);
  • Em cada parágrafo usa-se sempre o mesmo tempo verbal.
  • Ao fornecer o dado tempo, período histórico, por exemplo, colocá-lo entre vírgulas ou entre parênteses;
  • Não se começam frases com números. Exemplo “40% da população...” coloque uma palavra antes, ou escreva o número po extenso;
  • Uma palavra mal-usada causa má impressão, pois é sinal de ignorância: consulte o dicionário sempre que tiver a mínima dúvida;
  • Escreve-se o número por escrito quando este for menor que 10 (cinco, seis...);
  • Palavras em outras línguas, como “container” e “blitz” devem ser escritas em itálico;
  • Sempre que citar dados históricos, populacionais, técnicos, etc, citar a fonte.
  • Os mapas devem conter a escala, a fontes e as datas de levantamento.
  • Padronizar a unidade de área usada no trabalho – m² ou ha, por exemplo e só usar medidas diferentes que sejam compatíveis entre si (1 ha = 100 x 100m = 10.000m²     41,26 ha = 440.260m²), explicando isto ao leitor.
  • É imprescindível dar legenda a fotos e não só citar no texto a que elas se referem.
  • Citar as pessoas entrevistadas sempre com nome e sobrenome e dar informações rápidas de referência, como brevíssimo CV, se for o caso de especialistas. Outros exemplos: função na empresa, líder comunitário, etc. Quando há várias entrevistas, fazer lista de entrevistados/as com data e tempo de entrevista.

 

VI - Sobre as referências citadas ou as referências bibliográficas:

 

1- Um bom trabalho acadêmico implica em uma pesquisa por parte do autor sobre outros autores que trataram do tema, que sejam citados e enriqueçam o trabalho.

2- Um bom trabalho acadêmico é aquele cujo autor verificou bem, dentro das suas possibilidades e do seu horizonte do trabalho (monografia, dissertação ou tese) os textos locais, nacionais e internacionais sobre o tema;

A ética manda que cada ideia que foi originada por outro texto seja citada. Isto se passa dentro dos limites do bom senso já que existem idéias e dados que são do senso comum e que não precisam ser referenciadas;

Utilizar um autor para dizer algo que é obvio ou amplamente conhecido (exemplo: a segregação urbana é causada pela desigualdade socioeconômica entre os moradores da cidade) demonstra insegurança intelectual do autor/a;

Utilizar de forma ética a credibilidade de outros autores/as, na medida em que se faz uma leitura inteligente dos mesmos, com bons resumos, boas críticas/comentários e boas relações intelectuais com elas e eles faz com que todo mundo ganhe;

3- Entretanto, o melhor do trabalho é aquilo em que a autora/autor tem a dizer, o que ela/ele aprendeu sobre o tema e que repassa a seu leitor/a.

 

Exemplos de referência bibliográfica.

  • Para livros: SINGER, Paul; SOUZA, André Ricardo de (Orgs.) (2000). A economia solidária no Brasil. São Paulo: Contexto, 360 p.
  • Para artigos: FRANÇA, Genauto C. Novos arranjos organizacionais possíveis? O fenômeno da economia solidária em questão (precisões e complementos). In: Organizações & Sociedade/Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia, v. 8, n. 20, p. 125-137, janeiro/abril 2001.
  • Para sites: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2017. Banco de Dados. Disponível em: <http:// www.ibge.gov.br. > Acesso em: 15 maio 2017.
  • Para citar uma informação de jornal, diga o nome do jornal, o n°, a data e a página.
  • Citação no texto é feita em minúsculo “Segundo Santos... ou SANTOS (data).

 

VII - Relação com o (a) orientador (a), professor (a):

A técnica da escrita depende da forma de trabalho de cada pessoa. Você pode escrever todas as idéias que lhe veem a cabeça e depois melhorar, clarear o pensamento, classificar e colocar no local devido (parágrafo, capítulo, etc.), ou pode escrever só o que já está amadurecido. Pense se vale a pena repassar seus esboços ao seu orientador (a), pois ele (a) não vai gostar de perder tempo com isto.

A orientação é feita geralmente de uma pessoa experiente para uma menos experiente. Escute, anote, busque entender as sugestões da orientação mesmo que não concorde. Se não confia no orientador (a), é melhor trocar o mais breve possível.

 

VIII – Auto avaliação: seu texto está bom?

  • Seu resumo é sintético e espelha suas premissas e conclusões?
  • O Sumário diz claramente o que o leitor encontrará no texto?
  • Há uma lógica entre os títulos dos capítulos entre si?
  • Há lógica entre os títulos dos capítulos e os intertítulos contidos nele?
  • Há intertítulos, pelo menos, a cada cinco páginas?
  • A primeira frase de cada parágrafo (que é lida com maior atenção) anuncia o que você vai desenvolver em seguida?
  • O primeiro parágrafo de cada item anuncia o que você vai desenvolver ao longo do item?
  • O último parágrafo de cada intertítulo faz um resumo do que foi dito no item anterior e anuncia o que vai ser discutido depois?
  • Você revisou se todos os autores citados estão na Bibliografia?
  • As normas atuais de citação e de formatação bibliográfica foram seguidas?
  • Suas Introdução e Conclusão são capazes de darem, juntas, uma ideia geral do trabalho realizado? seu tamanho está em torno de 10% do total do texto cada uma?
  • A pessoa que você pediu para revisar o texto disse que ele está claro, mesmo para uma pessoa leiga? Ela não encontrou repetições, erros em geral, digressões (rodeios)?
  • Você está satisfeito consigo mesmo? Busque ser exigente, mas não ao extremo. Lembra que o ótimo (geralmente não realizado) é o pior inimigo do bom (efetivamente feito)

Espero ter lhe ajudado. Reveja várias vezes o texto se guiando por essas e outras dicas (há várias na Internet) para ter um trabalho melhor, mais lido e mais respeitado.

 



Brechó EcoSolidário: Link gratuito do livro sobre sua história e metodologia

August 20, 2017 10:59, by Débora Nunes - 0no comments yet

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Capa livro brechó

 

 



Gandhi x Capitalismo

August 8, 2017 19:43, by Débora Nunes - 0no comments yet

Gandhi e o capitalismo.



A Universidade é um lugar de emancipação dos pobres e negros

July 29, 2017 21:46, by Débora Nunes - 0no comments yet

No seu estilo provocativo, Paulo Henrique Amorim fala das teses do professor Jessé Silva. Vale a pena ver, lembra o magnífico filme "Que horas ela volta?" sobre a realidade brasileira contemporânea. Recomendo o link abaixo e o filme, seguramente!

"O ódio não é à corrupção. Mas ao PT e à ralé!"

Resultado de imagem para que horas ela volta filme



Bem Viver - Sumak Kawsay, uma lição andina

July 18, 2017 15:06, by Débora Nunes - 0no comments yet

Bem viver marcha indígena

 

 

Bem viver a tarde 14 julho 2018



O dinheiro e a alma

June 6, 2017 20:17, by Débora Nunes - 0no comments yet

Publicado no jornal "A Tarde", no dia 05/06/2017

Sobre o dinheiro e a alma