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12 de Janeiro de 2009, 22:00 , por Desconhecido - | 1 pessoa seguindo este artigo.

Carta para a geração do fim do mundo

31 de Agosto de 2021, 15:48, por Débora Nunes - 0sem comentários ainda

 Fim do mundo

 

 

Esse Artigo foi publicado pela mídia cidadã Outras Palavras em https://outraspalavras.net/pos-capitalismo/carta-para-a-geracao-do-fim-do-mundo/) e e também pela mídia cidadã Pressenza https://www.pressenza.com/pt-pt/2021/06/carta-para-a-geracao-do-fim-do-mundo/. Também foi publicado em inglês (https://www.pressenza.com/2021/07/letter-to-the-end-of-the-world-generation/), francês (https://www.pressenza.com/fr/2021/06/lettre-pour-la-generation-de-la-fin-dun-monde/) e alemão (https://www.pressenza.com/de/2021/07/brief-an-die-generation-weltuntergang/).

Débora Nunes

 

É em solidariedade a vocês que hoje vislumbram o mundo adulto com apreensão e se perguntam sobre o futuro, que escrevo esse texto. Peço licença para oferecer minha experiência como professora de História e pesquisadora do futuro, que me fizeram escrever o livro “Auroville, 2046. Depois do fim de um mundo”. Tenho 55 anos, dois filhos que são jovens adultos e presencio a intensa tomada de consciência da juventude acerca do que nos aguarda, muito antes deles e delas chegarem à minha idade. Os depoimentos são tocantes e a pandemia de COVID19 foi um acelerador dessa antevisão: se um vírus pode fazer o que fez no mundo, imaginem todas as tragédias anunciadas pelos cientistas, como as mudanças climáticas. 

Quero começar partilhando um episódio visionário que aconteceu há vinte anos com um jovem e brilhante estudante, que escreveu sob minha supervisão uma monografia sobre o desenvolvimento urbano da pequena comunidade alternativa do Capão, na Chapada Diamantina, Brasil. Seu trabalho, dedicado e competente, valeu uma aprovação calorosa da banca do Curso de Urbanismo da Universidade do Estado da Bahia. Como é de praxe, a orientadora abraça o orientando dando-lhe as boas-vindas ao mundo dos pesquisadores, que ele entrava com talento evidente. Quando lhe perguntei pelos seus planos de futuro, sobre um possível Mestrado, ele me surpreendeu dizendo que iria morar no Capão e provavelmente ser guia turístico. Espantada, disse-lhe que era muito inteligente e talentoso e que poderia vir a ser professor, ao que ele respondeu com algo como ¨pró, se sou tão inteligente assim não posso planejar minha vida para servir a esse mundo em decomposição¨.

Esse episódio me marcou pois, embora na época conduzisse um grande programa de incentivo ao consumo consciente no meio universitário brasileiro, não tinha tal clareza sobre o futuro. É seguindo o caminho de meu orientando – que está tendo hoje uma vida simples e alegre lá no Capão - que abordarei o tema do futuro dos jovens. Se me permitem um conselho para começar, eu diria: Não planejem carreiras e feitos vinculados ao mundo como ele é - ou era, antes da pandemia - pois ele não existirá mais e essa escolha não será benéfica pra você, nem para a Vida.

Afrontar o ¨ fim de um mundo¨ não é uma perspectiva fácil de encarar, mas posso lhes assegurar que, se as perspectivas são sombrias, é possível também ver luz se aproximando. Como lembram os antigos, após cada noite sempre sobrevém uma manhã. Se as palavras de ordem do futuro próximo serão provavelmente desestruturação e incerteza, elas também serão resiliência e criatividade. Quando a barbárie bater à porta, seremos obrigados a regenerar e em face ao desequilíbrio de grandes proporções, apenas a cooperação poderá fazer com que possamos renascer como civilização. A cooperação também será palavra de ordem do futuro e isso é promissor, mas exigirá coragem e determinação. E, também, o desenvolvimento de habilidades muito femininas, como o cuidado e o acolhimento, que constroem redes de afetos, de amizades, de família e de solidariedade com a família humana e com a Natureza.

Apesar das catástrofes que estão implícitas na ideia de geração do fim do mundo, isso pode ser visto também como uma grande libertação para a juventude. Serão as primeiras gerações que não precisarão, nem poderão, formatar-se ao mundo dos pais, opção sem graça para qualquer jovem com imaginação. E tantos tiveram suas vidas e carreiras profissionais orientadas pelas conveniências... sejam elas de mercado, de trabalhar onde potencialmente se ganha mais dinheiro, ou de prestígio, seguindo os passos da família, para herdar respeito, condições diferenciadas e alta remuneração.

Nesses caminhos antigos em que os e as jovens projetaram seus futuros, muitas vezes se criou expectativas frustradas e infelicidade, pela traição dos talentos individuais. De todo modo, a expectativa de dinheiro e prestígio sempre foi para poucos, deixando a maioria esmagadora frustrada e infeliz. Agora eles são uma quimera acessível talvez apenas a pouquíssimos jovens oriundos de famílias que consigam guardar suas fortunas apesar de tudo e assim possam financiar a ¨prosperidade¨ de mais uma geração. Ao longo da História, muitos jovens, para se integrarem à comunidade de origem, tiveram que abrir mão de seus talentos - e também de suas opções sexuais, de suas inclinações artísticas e de seus sonhos mais criativos. Hoje, pelo impacto da incerteza, eles e elas tendem a ser mais livres para escolherem seus caminhos.

Os sonhos de ¨sucesso¨, de ¨carreiras bem-sucedidas¨, de enriquecimento e prestígio, foram estimulados pela cultura capitalista que construiu o desastre a que estamos assistindo. O modelo do mercado onde o objetivo único é lucrar não é resiliente, sobretudo em tempos de tantas transformações. Na mudança radical que o futuro certamente trará, é uma bobagem gastar a inteligência e o talento da juventude com perspectivas tradicionais.  Num mundo a reconstruir toda a energia e criatividade dos jovens será muito bem-vinda, sobretudo se eles e elas acolhem o futuro como incerto e, portanto, desenvolvem a resiliência – essa capacidade de acomodar-se aos choques da vida tirando da existência o mais importante: aprendizado, amor, inteireza, alegria de viver e conviver.

Muito provavelmente a prosperidade do futuro será concebida de forma diferente. Ela estará muito mais vinculada à ideia de conseguir regenerar a Natureza e as relações humanas em bases que se sustentem. Produzir comida sã, água limpa, ar puro, solos e matas em recuperação, recriando biodiversidade - a grande riqueza do mundo - serão muito mais prestigiados no futuro. Construir relações humanas sólidas, solidárias, com pessoas próximas e distantes – será outra habilidade prestigiada. Ser artista, trazer ao mundo mais fantasia, possibilidades insuspeitadas, mergulhos na alma...Tudo isso será precioso e muito mais valorizado, dando à juventude mais argumentos para rebelar-se, como sempre fez, mas trazendo uma nova legitimidade: afirmar-se servindo ao mundo fazendo o que sua alma pede.

A palavra incerteza aparecerá muito mais nas nossas vidas e nós aprenderemos finalmente o quanto querer controlar a vida é uma ilusão. Melhor vale estar aberta/aberto ao imprevisto e tirar o melhor dele. Quando os sistemas se desestabilizam, principalmente o sistema Terra, as previsões serão mais difíceis, mesmo com todos os avanços tecnológicos. Passo a um segundo conselho, se continuam a me permitir: recomendo vivamente aos jovens que desenvolvam sua intuição, essa habilidade humana tida como feminina, tão pouco usada, e até desprezada. A intuição é um tipo de visão íntima, possibilitada quando mente e coração estão em sintonia. Ela envolve o corpo e a alma e com a intuição é possível escolher o melhor caminho em face do incerto, da dúvida, do medo. Essa habilidade pode ser desenvolvida com exercícios cotidianos, quando a mente é acalmada e outras sabedorias se colocam a nosso serviço. Ela será importante fator de aumento da resiliência e da serenidade necessária para escutar a sabedoria maior em face das adversidades e das possibilidades. Ela é também grande amiga da criatividade e assim da arte, da ciência e da invenção.

Uma potencialidade importante do futuro já pode ser vivida hoje: aprender pela internet, aproveitando o espírito de cooperação que aí impera e que é natural no ser humano. Este espírito é largamente praticado por muitas comunidades alternativas.  Hoje, esses agrupamentos humanos, onde se destacam as ecovilas, já se empenham em diversos modos econômicos ganha-ganha, de partilha e redistribuição; em modos regenerativos de lidar com a Natureza para produzir alimentos e florestas; em modos integrativos de educação e saúde que se baseiam na sabedoria nata das crianças e dos nossos corpos para aprenderem e se manterem saudáveis; nas práticas colaborativas de autoconhecimento que baseiam-se na ideia de transformar-se para transformar o mundo; nas governanças democráticas de coletivos locais que inspiram transformações em escalas maiores; na moderação de consumo requeridas pelo imperativo do lixo zero para evitar o ecocídio; nas tecnologias ecológicas e colaborativas open source, creative commons, etc

É muito provável que no futuro venha a existir muita escassez daquilo que era comum, devido à sucessão de crises previsíveis de alimentos, de água, de combustíveis, pela volatilidade do dinheiro, restrições à mobilidade, etc. Nesse caso, o que era abundante e nocivo felizmente vai aos poucos acabando: petróleo, plásticos, descartáveis, desperdício, superficialidade, competição exacerbada, consumo insensato. Abriremos os olhos para ver abundância ali onde isso era insuspeitado. Todas as possibilidades da reciclagem que transformam resíduos em objetos úteis serão valorizadas no mundo onde os lixões e aterros sanitários serão tesouros. E assim, o que era pouco valorizado pelo “mercado rei”, o que dá pouco ou nenhum dinheiro, mas que traz sentido à vida, se tornará essencial: os fazeres manuais, os fazeres da terra, as artes de modo geral. E, também, aquilo que não traz nenhuma riqueza material: a contemplação, a quietude, o fazer nada, a gostosa interação feliz entre amigos.

Pensem, caros jovens, no mundo apetitoso pode estar vindo por aí...Um mundo em que as “tecnologias interiores” do sonho de Mirra Alfassa para a mais importantes das ecovilas: Auroville, se tornam um caminho de evolução. A “Mãe” de Auroville dizia que chegaria um tempo em que harmonizaríamos nossos feitos externos - as incríveis tecnologias inventadas pela humanidade para lidar com o mundo exterior - com tecnologias interiores, formas engenhosas e sensíveis de lidar com o mundo interno. Esse universo imenso que está dentro de cada um e cada uma de nós está interligado aos outros e pode evoluir. É o que nos dizia Gustav Jung em seu conceito de inconsciente coletivo, como nos diz hoje Rupert Sheldrake no seu conceito de campos morfogenéticos, ou como nos disseram sempre as sabedorias ancestrais. A evolução segue em direção a mais amorosidade e a própria história humana mostra isso, se acompanhamos a evolução histórica da ideia de direito à Vida, por exemplo.

Vocês, jovens de hoje, poderão ajudar a humanidade a dar passos largos na direção da amorosidade. Convido-a, cara juventude, a abrir os olhos para verem as pessoas e comunidades que já estão vivendo o pós capitalismo há anos e mesmo há décadas.Na verdade, essas comunidades apenas atualizaram conceitos presentes nos modos de vida das culturas originárias que foram sufocadas pelo colonialismo. Elas entendiam que a harmonia entre nós e a Terra, entre nós e os outros e entre as diversas partes de nós – corpo, alma, coração e mente – são a única forma de sobrevivermos juntos e de prosperarmos em termos subjetivos e materiais. E de sermos felizes e permitirmos que os outros também sejam. O mundo está falindo, mas também recomeçando, e vocês farão essa história não só superando o capitalismo, mas também o patriarcado.

O lugar em que se está também vai ser muito importante para as oportunidades. Até hoje as cidades grandes e as megálopes eram o lugar dessas oportunidades, mas elas são estruturas pesadas e dependentes, com baixíssima resiliência, insustentáveis. Estão cada vez mais caras, poluídas, congestionadas, violentas e nada no horizonte aponta que isso vai melhorar. Pelo contrário. Cidades médias e pequenas, ecovilas, vida no campo, tudo isso oferece maior resiliência aos problemas ambientais, econômicos, sociais, políticos...Ter um cinturão verde oferece comida mais facilmente, ter um governo mais próximo favorece a democracia, ter famílias e amigos mais perto favorece a cooperação e a vida de vizinhança é muito mais intensa em espaços urbanos menores.

Uma economia de proximidade é mais sólida, os chamados circuitos curtos fortalecem a economia local e distribuem renda. Por isso mesmo haverá uma tendência à descentralização até nas grandes cidades. Com a pandemia e a aceleração do trabalho remoto, via tecnologias digitais, milhões de pessoas deixaram as cidades e instalaram-se em locais mais calmos mantendo sua possibilidade de trabalho e interação. Quando tiveram que se manter isoladas em casa as pessoas tiraram muito mais proveito do comércio local e das relações de vizinhança. Isso tudo já está impactando o futuro, mostrando que há saídas quando o acúmulo de crises for transformando as megacidades em locais com muito mais problemas do que oportunidades.

Essa escassez do que era abundante e abundância do que era insuspeitavelmente útil tende a ser uma característica do futuro.  Dou como exemplo a questão dos alimentos trazendo algo que hoje já faz sucesso em meio à juventude mais criativa: as PANCs, Plantas Alimentícias Não Convencionais, como se diz no Brasil, ou os incredibles edibles, os incroyables comestibles, etc. Sabe aquela plantinha que está ali na esquina, resistente e que cresce sem cuidados? Ela pode ser uma PANC muito nutritiva. Quando a ciência fala que pelas mudanças climáticas será difícil continuar cultivando os alimentos a que estamos acostumados nos lugares em que sempre foram cultivados, nossos olhos podem se abrir para outras possibilidades nutritivas. É o que está acontecendo em muitas partes da Índia hoje com o arroz, a comida nacional. Muitas experiencias estão sendo feitas para substituí-lo pelo mileto, um cereal muito mais nutritivo e resiliente às mudanças climáticas, que demanda muito menos água e fornece muito mais nutrientes que o arroz, e era desprezado.

É quando a catástrofe se torna anástrofe, reconstrução, que cada jovem pode encontrar o lugar da alegria de fazer o que gosta e servir assim ao mundo, sem escolher uma carreira pelo prestígio e dinheiro, como vem se fazendo há gerações. Sem fazer outras escolhas de vida sentindo o peso esmagador das gerações passadas, apenas inspirando-se no que elas fizeram e que vocês admiram e honram. Vocês serão os jardineiros de amanhã, jardineiros DO amanhã, que sabem regenerar, que lidam com os conflitos usando o coração e não o fígado, que percebem que cada gesto individual constrói o mundo coletivo. Que o mundo interno se reflete no mundo externo. E se engajam para fazer o melhor por si, para fazer o melhor para o mundo. Confio em vocês e também desejo boa sorte. Estamos juntas. Estamos juntos. 



Beyond the old world: lessons from the pandemic

24 de Novembro de 2020, 12:40, por Débora Nunes - 0sem comentários ainda

Esperando na cancela 

I created the Integral Ecology School, with other partners, in 2015, in Salvador, in the Northeast of Brazil. In 2018, aninspiration that came during a long stay in India allowed me to write a short story called "Auroville, 2046. After the end of one world", which talks about the reconstruction of the way of life on planet Earth after the collapse of civilization started in 2020. These two events became important in my life, when the pandemic COVID19 promoted a great rupture in the world and everyone's life went through upheavals. With my husband we chose to live in our small farm, “Sítio do Futuro”, the rural headquarters of the School, where part of the training took place at least four weeks a year.

Thus, we left a city of three million inhabitants to live on a farm with few families around and this allowed us to experience a new world every day, with its challenges and promises. I would like to tell this story for a few months to show how this post-COVID world, which many hope to be more ecological, egalitarian and full of meaning, is being built by thousands of community and personal initiatives, like ours right now.

I could see, moreover, that people who, like us, were already aware of the imperative need to build other forms of life suffered less from the confinement. These people, through very different paths, managed to realize their ideals of life during the social isolation imposed to everybody in the world.

In 2020, millions of people started to wonder why all this was happening and how to get out of this painful moment. That is how the methodology of Integrative Ecology and the slogan of our School “transforming yourself to transform the world” became more understandable. Perhaps that is why my story about the story of Indra, the main character of "Auroville, 2046", was quickly translated into several languages (Spanish, English, French, Italian and Catalan). In the story, Indra was one of the founders of Auroville, one of the first and largest ecovillages on the planet, and, in 2046, shows us how this community was resilient to the collapse of capitalist society. In his imaginary retrospective of what would have happened between 2020 and 2046, Indra explains in all simplicity how we got there and, therefore, can be an inspiration to get out of the current great crisis.

This story illustrated how the personal and collective learning of a horizontal, cooperative and spiritual community life that celebrates diversity is the source of a more resilient and happy life for everyone. Thus, it becomes a hope for its readers during the pandemic and confinement and becomes one of the fundamental messages of the School. Thus, since its publication in 2018, it has become a source of learning for our students. In recounting Indra's trajectory, which shows how people of goodwill have reconstructed the world differently, the tale teaches us how to go through this moment of collapse. We are living, on a small scale and in the short term, Indra's journey. Our students often tell us how this visionary tale inspired and helped them to live this moment, and I can say that the same goes for our neighbours and those who work with us.

The School's slogan takes up the meaning of Gandhi's phrase “Be the world you want to see” and to understand why it was chosen; we have to go back a little bit in the past and look at the changes we made in our lives during this pandemic. The idea came from a failure: a long history of a teacher and activist committed to environmental protection and social justice; after decades of work in politics and academia, I realized, like many others, the relative ineffectiveness of our work. The structural blocks were insurmountable because the everyday life of ordinary people supported this unsustainable world.

The climate emergency and unworthy social inequalities continued to overwhelm us, and we understood that we had to start acting on the ground. Another saying: "If you're in a hurry, take it easy". We were able to observe how the political and institutional means failed to change things and gradually unlocked the capitalist culture so that each person became the bearer of change. The solutions would exist if they were deeply rooted in human culture by changing large numbers of people. So, like other people, I decided to do my part as a hummingbird and invited some activist and creative friends to join me in founding this School of Transformations.

The experience of our School, which since 2015 has been known to the Brazilian, French and Indian audiences, was based on theoretical and practical training. Both were very useful in this confinement, as well as the methodological basis of the School, which is the concern to bring coherence to feelings, aspirations, words and actions. Based on a deep understanding of what Ecology means, the School's training encouraged students to start a more coherent and meaningful way of life.

The School documents say that in Integrative Ecology the intelligence of the mind, the heart and also the body must be mobilized to remain in coherence with those of Nature and the Cosmos. Thus, when Nature is seen as sacred, a secular spirituality takes on meaning and becomes part of everyone's life, pushing for changes. And now our arrival at “Sítio do Futuro” has put all this to the test. During confinement, the School's innovative proposals for the transition to a more equitable, more ecological, more supportive and democratic society show all their relevance. The search for a happy sobriety, a more united and serene life and closer to Nature has been the experience of many of our students, and of ourselves in this year of 2020.

The first major change in our lives was Nature itself that surrounded us everywhere. We, residents of the big city for a long time, were amazed by its solid, beautiful and changeable presence, from morning to night. The pace of days changed naturally: we woke up earlier, we slept earlier too. Daily tasks, very physical, make us sleep much more, to reenergize ourselves. My husband and I live a life very different from the one we had in the city as professors at the University, with much more mental activities, despite all the changes we had made in the last decade. And with all this, we feel much better.

During the School's training, reflections on the meaning of existence and conversation circles stimulated new daily practices. If the transformation of oneself in the name of the coherence between saying, feeling, thinking and doing was the main basis of our integrative methodology, the difficulties due to the confinement confirmed that this coherence was indeed a source of joy and not just a moral duty. All of this helped our resilience in staying on the farm, and it will continue for a long time.

The “Sítio do Futuro” is a largely reforested area of 30 ha in the magnificent Chapada Diamantina region, in Bahia, at the foot of an imposing mountain that forms a Natural Park, the “Parque das Sete Passagens”. There is a small production of organic food on the farm, agroforestry experiments, mainly in a coffee plantation. As for animals, we have a small herd of dairy cows, some chickens and two horses. They are respected, have a name and are esteemed accomplices. The main building, with rooms, classrooms and all the supporting equipment of a school, is completely bio-constructed. When we became “neo-rural”, avoiding going to the city, food production became a priority activity and our source of daily learning.

To support all the work at the farm we are fortunate to count with the help of two lovely young people, a young lady and a boy, who work with us part time and who are both our students and teachers. They are the ones who guide us on the practical issues of rural life. They are also the two most frequent students at the School. In their own words, they never stop learning about a new world that delights them due to its simplicity and consistency. They also help us to understand that the lessons we forge throughout life come from contact with ecovillages in various countries around the world, from our theoretical reflection, from our attempts, mistakes and achievements.

The theoretical training organized by the School of Integral Sustainability, which nourishes the mind, has been shared with students through lectures, texts and films, and has proved to be very important for us in these difficult times. Armed with our rational belief in the need to change the way of production, consumption and disposal in today's society, our creativity has been fuelled daily. The search for basic food self-sufficiency, the manufacture of preserves (dried fruits, aged cheeses, sauerkraut, molasses, kefir, kombucha etc.), the refusal of packaging, the use of dry toilets, the recycling of all kinds of materials (paper, glass, plastic, metal, biomass), manual restoration of work instruments, clothing, degraded agricultural structures ... all of this has become our daily work. Our access to mountain and rain water, solar energy, fireplaces and many other green facilities have been improved in recent months.

Our strength in defending our “ecological neorural” way of life in an environment of mistrust and misunderstandings we encounter came from clear rational arguments that we have developed over more than two decades. In the formation of the School, it was demonstrated that a patriarchal, capitalist and rationalist world view defines people's daily lives and that, in order to avoid the socio-environmental disaster - or to overcome it because it happens at a gallop - it is necessary to practice other visions and adopt other behaviours. We had to persevere in explaining our choices, and also accept, if any, being misunderstood and even ridiculed as stingy, backward, sect members, etc.

If the training of the mind has been important, the practical keys of everyday life on the “Sítio” were the themes addressed in the formation of the School: conscious consumption, composting and recycling, vegetarianism, ecological cuisine that refuses waste and integrates PANCs (unconventional food plants), agroecology, bioconstruction, family manufacture of cleaning and beauty products, various forms of natural body care, solidary economy and self-management, among others. Both this and the difficulties related to social isolation were tackled with clarity and a spirit of innovation. It was during our continuous stay of several months that we saw the advantages of our choices in a world in danger, that we saw that all our vital energy was invested in things that work, have meaning and make us happy. This whole set of practices is understood at the Integral Sustainability School as our second intelligence, that of the body, of a healthy body, which works for a more general health, which respects the surrounding community and Mother Nature.

Perhaps the most significant challenge in confinement, for those who have not been affected by illness and a serious lack of money, is to live together, almost without interruption, or loneliness. This challenge calls for the intelligence of the heart, the third aspect of our methodology that opens up to various approaches to self-knowledge and creative conflict management. If our emotional intelligence was largely challenged by confinement, these tools were important to face the uncertainty that the pandemic created regarding our life plans, the fear of social contact, the lack created by the loss of our social and cultural habits, among other difficulties.

This intelligence of the heart is impossible without an empathetic attitude towards ourselves and the others. The school's training courses used devices that facilitate the sharing of interiorities to face difficulties. Everyone needs to know simple tools, such as silence, as a way to heal wounds, illuminating ideas and inspiring solutions, as well as more complex tools of self-knowledge such as dream interpretation, the Enneagram, among others. This did not transform us into great men or great women, but into more resilient people in face of everyday problems, people who persevere in their human relationships despite all the difficulties, who refuse to live badly and courageously seek other ways.

This intelligence of the heart is also that which promotes creative mutual help. Collective self-management practices have been developed with our neighbours, such as the creation of a commercial market, since the beginning of the pandemic. The difficulty in accessing fresh and varied food led us to meet some families who lived around the farm, and every Saturday afternoon we exchange our surpluses directly, amicably, without the presence of money. This was initially possible because we were a very isolated community, 400km from the main sources of contagion. The closer the virus got to us, the more we avoided crowding, still changing. In the same generous spirit of win-win exchange, product packaging is then left in a specific location in personalized baskets, then exchanged by volunteers and later returned by participants, without the need for direct contact.

Training in the School's four intelligences is accompanied by dynamic questionnaires that invite self-observation and self-assessment. The main two are: to start the journey, (1) “Are you in an ecological transition?” which invites us to analyse the gaps between our ideas and our practices. To deepen the path, we have (2) "Health and Happiness" with questions that serve to support the compass of our life, coming from the heart and mind. It is no accident that in our case, with a frugal and natural diet, full physical activities and a life full of meaning and coherence, our health is very good, even if our happiness is not complete because of the situation in our country and the world and the risks of everyday life.

For us, the fourth intelligence taught at the School of Integral Sustainability summarizes the other three: intelligence of the mind is important to better understand what is happening in society and to give clarity and meaning to our action. The body's intelligence makes us attentive to everyday actions, brings consistency between what we think and what we do, and forms the basis of a full life. Emotional intelligence allows for friendship and compassion with ourselves and others, especially in difficult times. Spiritual intelligence, the least known of all, is what makes everything easier, because it allows us to understand that everything is interconnected and that each individual change promotes collective change and vice versa.

For example, with each negative emotion, we try not to spread this excess of misfortunes in the world, especially in this time of the COVID pandemic19: we accept the pain, but we try to alleviate it by not giving it much importance. If we can at the moment, we will do something else, we will take care of an animal, we will harvest fruits, we will plant seeds, we will meditate in the forest ... Nature gives us this simple joy of being a hummingbird.

Managing isolation was another example of the need to see difficulties as opportunities for us and the world. On a farm with almost no internet, it is difficult to search for information and talk to relatives. In the midst of a pandemic and in a country ruled by an extreme genocidal right, this was a source of distress, of course, but it also became a source of relief. Unlike friends who stayed in the city, we could not follow the catastrophic news and feed our minds and spirits with destructive things. This has done us good, and a broader understanding of the quantum world subtle field of which we are a part has also enabled us to help the planet overcome its evils.

The spiritual intelligence of the Integral Sustainability School is also studied from a scientific point of view by the quantum approach. It is the physics of possibilities, or physics of the soul, as physicist Amit Goswami calls it, or the physics of the great matrix for the scientist Gregg Braden. It helps us to see in reality uncertainty, inclusion, interconnection, as we learn from the wisdom traditions of all peoples and outside the mechanistic and Cartesian categories of certainties, hierarchies and separability. The COVID19 pandemic was very useful to better understand the basis of quantum physics: everything that happens here impacts the whole, and it can also happen elsewhere; everything is uncertain and our approaches to reality are only possibilities; and all living and inanimate beings are important in the constantly evolving cosmic process.

The quantum and interconnected dimension of the world is also clear in the material aspect, in the interdependent way in which Nature is organized. An anecdote: the biodiversity on our farm has developed a lot during the thirteen years in which we became its guardians, mainly because of reforestation. This positive dimension has consequences: to the hard work of a farmer we add the presence of foxes, deer, armadillos, among others, who eat our production, which did not happen 50 years ago. This forces us to deepen our coherence: we celebrate life, accept interdependence and share with them what we produce!

The spiritual dimension is also manifested in our relationship with art and beauty, a source of admiration and gratitude. Making the farm more beautiful is an everyday act whether by clay paintings of various colours, mosaics using broken ceramic on the walls, mandalas of flowers on the doorstep (as they do in India, so artistically), through the salads that have become like very colourful works of art in the shape of flowers ... With simple materials, accessible to the people of the surroundings, we offer a more beautiful life, attentive to the joy of receiving the abundance of Nature and transforming it in harmony through simple gestures of people who have time for what really matters ...

The spiritual dimension is also reinforced by the yogic practice of meditation, asanas and pranayama, by the contemplation of birds, the sky, butterflies ... and especially the ritual experiences of homage to the elements, such as songs for Nature. To calm down, to get inspired, to hear the sounds of the elements that speak to our hearts, we have the “temple” of Mother Earth - a simple clearing in the middle of the forest. This brings us closer to the mystery, to the sacred, therefore, to a spiritual ... secular life. Quantum uncertainty - of which death is the greatest symbol - is integrated by the opening of the mind, by meditations guided around the theme of finitude ... At “Sítio do Futuro” we have simple daily rituals that punctuate the days, celebrating Life and showing that a healthy and sustainable life is made up of acts of reverence and gratitude to nourish Mother Earth.

We woke up in the morning grateful to be alive and being part of the new world; we drink green juice or warm lemonade to clean and honour our bodies; we work during the day for the reconstruction of the world in this piece of land of which we are guardians, attentive to the smallest detail to the needs of the humans, animals and plants that live and surround us here; we are grateful for the food and all the hard work and human energy that brought it to our table in abundance; we ritualized the end of the day by singing, at 6 pm, for the sacred feminine. And finally, before sleeping, we give thanks again, whatever our state of mind, knowing that gratitude is the door to good living and that the hard things we are experiencing at this very moment may be the ones that will allow us to grow in humanity; we say thank you for all these things that bother us and remain confident in the wisdom of life. In these profound spiritual experiences, one can perceive the unity of everything and the sacredness of life.

I hope I have shown you, through this testimony, that working for a better world can be a pleasant and enriching experience, not just a burden. "Fighting" against something is always more difficult. To go beyond the old world, it is certainly necessary to denounce its wickedness, but above all it is necessary to act for justice, ecology, democracy and the sacredness of life. What I have learn here from this experience is that the daily construction of an alternative way of life, where the joy of coherence is present and where seeds of hope are sown every day, is a way of life much richer and more rewarding than the that I experienced before as an academic and urban. I invite you to try it too!

 



Indo além do velho mundo: lições da pandemia

28 de Agosto de 2020, 19:48, por Débora Nunes - 0sem comentários ainda

Logo escola no sítio

Esse texto foi publicado também pelo Outras Palavras: https://outraspalavras.net/pos-capitalismo/indo-alem-do-velho-mundo-licoes-da-pandemia/

Débora Nunes

Criei a Escola de Sustentabilidade Integral, com outros parceiros, em 2015, em Salvador, no Nordeste do Brasil. Em 2018, uma inspiração que veio durante uma longa estada na Índia me permitiu escrever um conto chamado "Auroville, 2046. Depois do fim de um mundo", que fala sobre a reconstrução do modo de vida no planeta Terra após o colapso da civilização a partir de 2020. Esses dois eventos se tornaram importantes em minha vida, quando a pandemia COVID19 promoveu a grande ruptura no mundo e a vida de todos passou por convulsões. Com meu marido optamos por ir morar no Sítio do Futuro, a sede rural da Escola, onde parte do treinamento acontecia pelo menos quatro semanas por ano.

Saímos, assim, de uma cidade de três milhões de habitantes para viver em uma fazenda com poucas famílias ao redor e isso nos permitiu vivenciar um mundo novo a cada dia, com seus desafios e promessas. Gostaria de contar esta história de alguns meses para mostrar como este mundo pós-COVID, que muitos esperam ser mais ecológico, igualitário e cheio de sentido, está sendo construído por milhares de iniciativas comunitárias e pessoais, como a nossa neste momento. Pude perceber, aliás, que pessoas que, como nós, já tinham consciência da necessidade imperiosa de construir outras formas de vida sofreram menos com o confinamento. Essas pessoas, por caminhos muito diversos, conseguiram concretizar seus ideais de vida durante o isolamento social imposto ao mundo.

Em 2020, milhões de pessoas começaram a se perguntar por que tudo isso estava acontecendo e como sair deste momento doloroso. Foi assim que a metodologia da Ecologia Integrativa e o slogan da nossa Escola “transformar-se para transformar o mundo” se tornaram mais compreensíveis. Talvez seja por isso que meu conto sobre a história de Indra, a personagem principal de "Auroville, 2046", foi rapidamente traduzido para várias línguas (espanhol, inglês, francês, italiano e catalão). Indra foi, no conto, uma das fundadoras de Auroville, uma das primeiras e maiores ecovilas do planeta, e, em 2046, mostra-nos como essa comunidade foi resiliente ao colapso da sociedade capitalista. Em sua retrospectiva imaginária do que teria acontecido entre 2020 e 2046, Indra explica com toda a simplicidade como chegamos lá e, portanto, pode ser uma inspiração para sairmos da grande crise atual.

Este conto ilustrou como o aprendizado pessoal e coletivo de uma vida comunitária horizontal, cooperativa e espiritual que celebra a diversidade é a fonte de uma vida mais resiliente e feliz para todos. Assim, torna-se uma esperança para seus leitores durante a pandemia e o confinamento e torna-se uma das mensagens fundamentais da Escola. Assim, desde a sua publicação em 2018, tornou-se uma fonte de aprendizagem para os nossos alunos. Ao relatar a trajetória de Indra, que mostra como pessoas de boa vontade reconstruíram esse mundo de maneira diferente, ele nos ensina como passar por esse momento de colapso. Estamos vivendo, em pequena escala e no curto prazo, a jornada de Indra. Nossos alunos muitas vezes nos contam como esse conto visionário os inspirou e os ajudou a viver esse momento, e posso dizer que o mesmo vale para nossos vizinhos e aqueles que trabalham conosco.

O slogan da Escola retoma o significado da frase de Gandhi “Seja o mundo que você quer ver” e para entender por que foi escolhido, temos que voltar um pouco no passado e olhar as mudanças que fizemos em nossas vidas durante esta pandemia. A ideia surgiu de uma derrota: uma longa história de professora e ativista comprometido com a proteção ambiental e a justiça social. Depois de décadas de trabalho na política e na academia, percebi, como muitos outros, a relativa ineficácia de nosso trabalho. Os bloqueios estruturais eram intransponíveis porque a vida cotidiana das pessoas comuns sustentava esse mundo insustentável.

A emergência climática e as desigualdades sociais indignas continuaram a nos oprimir, e entendemos que tínhamos que começar a agir no terreno. Outro ditado: “Se você está com pressa, vá com calma”. Pudemos observar como os meios políticos e institucionais não conseguiram mudar as coisas e desbloquear gradativamente a cultura capitalista para que cada pessoa se tornasse o portador da mudança. As soluções existiriam se estivessem profundamente enraizadas na cultura humana por meio da mudança de um grande número de pessoas. Então, como outras pessoas, decidi fazer a minha parte como beija-flor e convidei alguns amigos ativistas e criativos para se juntarem a mim na fundação desta Escola de Transformações.

A experiência da nossa Escola, que desde 2015 é conhecida do público brasileiro, francês e indiano, foi baseada na formação teórica e prática. Ambas foram muito úteis neste confinamento, assim como a base metodológica da Escola, que é a preocupação em trazer coerência aos sentimentos, aspirações, palavras e ações. Com base em uma compreensão profunda do que significa Ecologia, o treinamento da Escola encorajou os alunos a iniciar um modo de vida mais coerente e significativo.

Os documentos da Escola dizem que na Ecologia Integrativa a inteligência da mente, a do coração e também a do corpo devem ser mobilizadas para permanecer em coerência com as da Natureza e do Cosmos. Assim, quando a Natureza é vista como sagrada, uma espiritualidade secular ganha sentido e passa a fazer parte da vida de todos, pressionando por mudanças. E agora a nossa chegada ao Sítio do Futuro pôs tudo isto à prova. Durante o confinamento, as propostas inovadoras da Escola para a transição para uma sociedade mais equitativa, mais ecológica, mais solidária e democrática mostram toda a sua relevância. A busca por uma sobriedade feliz, uma vida mais unida e serena e mais próxima da Natureza tem sido a experiência de muitos de nossos alunos, e de nós mesmos neste ano de 2020.

A primeira grande mudança em nossa vida foi a própria Natureza que nos cercou por toda parte. Nós, moradores da cidade grande há muito tempo, ficamos maravilhados com sua presença sólida, bela e mutável, da manhã à noite. O ritmo dos dias mudou naturalmente: acordamos mais cedo, dormimos mais cedo também. As tarefas diárias, muito físicas, nos fazem dormir muito mais, para nos reenergizar. Meu marido e eu levamos uma vida muito diferente daquela que tínhamos na cidade como professores da Universidade, com muito mais atividades mentais, apesar de todas as mudanças que havíamos feito na última década. E com tudo isso nos sentimos melhor.

Vista da montanha

Durante as formações da Escola, reflexões sobre o sentido da existência e rodas de conversa estimularam novas práticas cotidianas. Se a transformação de si mesmo em nome da coerência entre dizer, sentir, pensar e fazer era a base principal da nossa metodologia integrativa, as dificuldades devidas ao confinamento confirmavam que essa coerência era sim fonte de alegria e não apenas um dever moral. Tudo isso ajudou a nossa resiliência na estadia na fazenda, e isso continuará por muito tempo.

O Sítio do Futuro é uma área amplamente reflorestada de 30 ha na magnífica região da Chapada Diamantina, na Bahia, aos pés de uma imponente montanha que forma um Parque Natural, o Parque das Sete Passagens. Há uma pequena produção de alimentos orgânicos na fazenda, experimentos agroflorestais, principalmente em uma plantação de café. Quanto aos animais, temos um pequeno rebanho de vacas leiteiras, algumas galinhas e um cavalo. Eles são respeitados, têm um nome e são estimados como cúmplices. A construção principal, com quartos, salas de aula e todos os equipamentos de apoio de uma escola, é totalmente bioconstruída. Quando nos tornamos “neo-rurais”, evitando ir para a cidade, a produção de alimentos tornou-se uma atividade prioritária e nossa fonte de aprendizado diário.

Para apoiar todo o trabalho no Sítio temos a sorte de poder contar com a ajuda de dois adoráveis jovens, uma jovem senhora e um rapaz, que trabalham conosco a tempo parcial e que são ao mesmo tempo nossos alunos e professores. São eles que nos orientam nas questões práticas da vida rural. Eles também são os dois alunos mais assíduos da Escola. Em suas próprias palavras, eles nunca param de aprender sobre um novo mundo que os encanta pela sua simplicidade e consistência. Eles também nos ajudam a entender que as lições que forjamos ao longo da vida vêm do contato com ecovilas em vários países do mundo, da nossa reflexão teórica, das nossas tentativas, erros. e conquistas.

Os treinamentos teóricos organizados pela Escola de Sustentabilidade Integral, que nutrem a mente, foram compartilhados com os alunos por meio de palestras, textos e filmes, e têm se mostrado muito importantes para nós nestes tempos difíceis. Munidos de nossa convicção racional da necessidade de mudar o modo de produção, consumo e descarte da sociedade atual, nossa criatividade tem sido alimentada diariamente. A busca da autossuficiência alimentar básica, a fabricação de conservas (frutas secas, queijos envelhecidos, chucrute, melaço, kefir, kombucha etc.), a recusa de embalagens, o uso de sanitários secos , a reciclagem de todo o tipo de materiais (papel, vidro, plástico, metal, biomassa), o restauro manual de instrumentos de trabalho, roupas, estruturas agrícolas degradadas… tudo isto passou a ser o nosso trabalho quotidiano. Nosso acesso à água da montanha e da chuva, energia solar, lareiras e muitas outras instalações verdes foi melhorado nos últimos meses.

Nossa força em defender nosso modo de vida “neorural ecológico” em face da desconfiança e mal-entendidos que encontramos veio de argumentos racionais claros que desenvolvemos ao longo de mais de duas décadas. Na formação da Escola, ficou demonstrado que uma visão de mundo patriarcal, capitalista e racionalista define o cotidiano das pessoas e que, para evitar o desastre socioambiental - ou para superá-lo porque acontece a galope - foi necessário praticar outras visões e adotar outros comportamentos. Tivemos que perseverar na explicação de nossas escolhas, e também aceitar, se fosse o caso, sermos mal compreendidos e até mesmo ridicularizados como pão-duros, retrógrados, membros de uma seita, etc.

Se a formação da mente tem sido importante, as chaves práticas do quotidiano no Sítio foram os temas abordados na formação da Escola: consumo consciente, compostagem e reciclagem, vegetarianismo, cozinha ecológica que recusa desperdícios e integra as PANCs (plantas alimentícias não convencionais), agroecologia, bioconstrução, fabricação familiar de produtos de limpeza e beleza, diversas formas de cuidado natural do corpo, economia solidária e autogestão, entre outros. Tanto esta como as dificuldades relacionadas com o isolamento social foram enfrentadas com clareza e espírito de inovação. Foi durante a nossa permanência contínua de vários meses que vimos as vantagens das nossas escolhas num mundo em perigo, que vimos que toda a nossa energia vital foi investida em coisas que funcionam, que têm significado e que nos fazem felizes. Todo este conjunto de práticas é entendido na Escola de Sustentabilidade Integral como a nossa segunda inteligência, a do corpo, de um corpo saudável, que trabalha para uma saúde mais geral, que respeita a comunidade envolvente e a Mãe Natureza.

Talvez o desafio mais significativo no confinamento, para aqueles que não foram afetados por doenças e por uma grave falta de dinheiro, seja viver juntos, quase sem interrupção, ou solidão. Este desafio apela à inteligência do coração, o terceiro aspecto da nossa metodologia que se abre às várias abordagens do autoconhecimento e da gestão criativa dos conflitos. Se nossa inteligência emocional foi amplamente desafiada pelo confinamento, essas ferramentas foram importantes para enfrentar a incerteza que a pandemia criou em relação aos nossos planos de vida, o medo do contato social, a carência criada pela perda de nossos hábitos sociais e culturais, entre outras dificuldades.

Essa inteligência do coração é impossível sem uma atitude empática em relação a nós mesmos e aos outros. Os cursos de formação da Escola utilizaram dispositivos que facilitam a partilha de interioridades para enfrentar as dificuldades. Todos precisam conhecer ferramentas simples, como o silêncio, como meio de curar feridas, ideias iluminadoras e soluções inspiradoras, bem como ferramentas mais complexas de autoconhecimento como a interpretação dos sonhos, o Eneagrama, entre outros. Isso não nos transformou em grandes homens ou grandes mulheres, mas em pessoas mais resilientes diante dos problemas cotidianos, pessoas que perseveram em suas relações humanas apesar de todas as dificuldades, que se recusam a viver mal e buscam com coragem outros caminhos.

Essa inteligência do coração é também aquela que promove a ajuda mútua criativa. Práticas autogestionárias coletivas foram desenvolvidas com nossos vizinhos, como a criação de um mercado comercial, desde o início da pandemia. A dificuldade de acesso a alimentos frescos e variados nos levou a conhecer algumas famílias que moravam no entorno da fazenda, e todos os sábados à tarde trocamos nossos excedentes diretamente, de forma amigável, sem a presença de dinheiro. Inicialmente, isso foi possível porque éramos uma comunidade muito isolada, a 400km das principais fontes de contágio. Quanto mais o vírus se aproximava de nós, mais evitávamos a aglomeração, ainda trocando. No mesmo espírito generoso de troca ganha-ganha, as embalagens dos produtos passam a ser deixadas em um local específico em cestas personalizadas, depois trocadas por voluntários e posteriormente devolvidas pelos participantes, sem a necessidade de contato direto.

 Mãos juntas e ervas

O treinamento nas quatro inteligências da Escola é acompanhado por questionários dinâmicos que convidam à auto-observação e à autoavaliação. Os dois principais são: para iniciar a jornada, (1) “Você está em uma transição ecológica?”  que nos convida a analisar as lacunas entre nossas idéias e nossas práticas. Para aprofundar o caminho temos o (2) “Saúde e Felicidade” com perguntas que servem de suporte para regular a bússola da nossa vida, vindas do coração e da mente. Não é por acaso que no nosso caso, com uma alimentação frugal e natural, atividades físicas plenas e uma vida cheia de sentido e coerência, nossa saúde seja muito boa, mesmo que nossa felicidade não seja completa por causa da situação em nosso país e do mundo e dos riscos da vida cotidiana.

Para nós, a quarta inteligência ensinada na Escola de Sustentabilidade Integral resume as outras três: a inteligência da mente é importante para entender melhor o que está acontecendo na sociedade e para dar clareza e sentido à nossa ação. A inteligência do corpo nos deixa atentos às ações cotidianas, traz consistência entre o que pensamos e o que fazemos, e forma a base de uma vida em plenitude. A inteligência emocional permite a amizade e a compaixão, especialmente em momentos difíceis com nós mesmos e com os outros. A inteligência espiritual, a menos conhecida de todas, é a que torna todas as coisas mais fáceis, pois permite entender que tudo está interligado e que cada mudança individual promove a mudança coletiva e vice-versa.

Por exemplo, a cada emoção negativa, procuramos não espalhar esse excesso de infortúnios no mundo, principalmente nesta época de pandemia de COVID19: aceitamos a dor, mas tentamos amenizá-la não lhe dando tanta importância. Se pudermos no momento, fazemos outra coisa, cuidaremos de um animal, colheremos frutos, plantaremos sementes, meditaremos na floresta ... A natureza assim nos devolve essa alegria simples de ser um beija-flor.

Gerenciar o isolamento foi outro exemplo da necessidade de ver as dificuldades como oportunidades para nós e para o mundo. Em uma fazenda quase sem internet, fica difícil procurar informações e conversar com parentes. Em meio a uma pandemia e em um país governado por uma extrema direita genocida, isso foi uma fonte de angústia, é claro, mas também se transformou em uma fonte de alívio. Ao contrário dos amigos que ficaram na cidade, não podíamos acompanhar as notícias catastróficas e alimentar nossas mentes e espíritos com coisas destrutivas. Isso nos fez bem, e uma compreensão mais ampla do campo sutil do mundo quântico do qual fazemos parte também nos permitiu ajudar o planeta a superar seus males.

A inteligência espiritual da Escola de Sustentabilidade Integral é também estudada do ponto de vista científico pela abordagem quântica. É a física das possibilidades e da alma, como o chama o físico Amit Goswami, ou a física da grande matriz do cientista Gregg Braden. Ajuda-nos a ver na realidade a incerteza, a inclusão, a interconexão, à medida que aprendemos com as tradições de sabedoria de todos os povos e fora das categorias mecanicistas e cartesianas de certezas, hierarquias e separabilidade. A pandemia COVID19 foi muito útil para entender melhor qual é a base da física quântica: tudo o que acontece aqui impacta o todo, e também pode acontecer em outros lugares; tudo é incerto e nossas abordagens da realidade são apenas possibilidades; e todos os seres vivos e inanimados são importantes no processo cósmico em constante evolução.

A dimensão quântica e interconectada do mundo torna-se clara também no aspecto material, na forma interdependente como a Natureza se organiza. Uma anedota: a biodiversidade na Fazenda se desenvolveu muito durante os treze anos em que nos tornamos seus guardiães, principalmente por causa do reflorestamento. Essa dimensão positiva tem consequências: ao árduo trabalho de um agricultor acrescentamos a presença de raposas, veados, tatus, entre outros, que comem nossa produção, o que não acontecia há 50 anos. Isso nos obriga a aprofundar nossa coerência: celebramos a vida, aceitamos a interdependência e compartilhamos com eles o que produzimos!

A dimensão espiritual também se manifesta em nossa relação com a arte e a beleza, uma fonte de admiração e gratidão. Tornar a fazenda mais bonita é um ato cotidiano seja por pinturas de barro de várias cores, por mosaicos de cerâmica quebrados nas paredes, por mandalas de flores na porta de casa (como fazem na Índia, de forma tão artística), através das saladas que se tornaram como pequenas obras de arte muito coloridas e em formato de flores ... Com materiais simples, acessíveis às pessoas dos arredores, oferecemos uma vida mais bela, atentos à alegria de receber a abundância da Natureza e transformá-la em harmonia através de gestos simples de pessoas que têm tempo para o que realmente importa ...

A dimensão espiritual também é reforçada pela prática iogue de meditação, asanas e pranayama, pela contemplação de pássaros, do céu, borboletas ... e principalmente as experiências rituais de homenagem aos elementos, como canções para a Natureza. Para se acalmar, para se inspirar, para ouvir os sons dos elementos que falam ao nosso coração, temos o “templo” da Mãe Terra - uma clareira simples no meio da floresta. Isso nos aproxima do mistério, do sagrado, portanto, de uma vida espiritual ... secular. A incerteza quântica - da qual a morte é o símbolo maior - é integrada pela abertura da mente, por meditações guiadas em torno do tema da finitude ... No Sítio do Futuro temos rituais diários simples que pontuam os dias. Eles celebram a Vida e mostram que uma vida saudável e sustentável é composta de atos de reverência e gratidão para nutrir a Mãe Terra.

Acordamos de manhã agradecidos por estarmos vivos e sendo parte do novo mundo; bebemos suco verde ou limonada morna para limpar e honrar nossos corpos; trabalhamos durante o dia pela reconstrução do mundo neste pedaço de terra de que somos guardiães, atentos ao mais ínfimo pormenor às necessidades dos humanos, animais e plantas que aqui vivem e nos rodeiam; agradecemos a comida e todo o trabalho árduo e energia humana que a trouxe à nossa mesa em abundância; ritualizamos o final do dia cantando, às 18 horas, para o sagrado feminino. E finalmente, antes de dormir, agradecemos novamente, qualquer que seja o nosso estado de espírito, sabendo que a gratidão é a porta para viver bem e que as coisas difíceis que estamos vivenciando neste momento podem ser as que nos permitirão crescer em humanidade; dizemos obrigado por todas essas coisas que nos incomodam e continuamos confiantes na sabedoria da vida. Nessas experiências espirituais profundas, pode-se perceber a unidade de tudo e a sacralidade da vida.

Espero ter mostrado a vocês, por meio desse testemunho, que trabalhar por um mundo melhor pode ser uma experiência agradável e enriquecedora, não um fardo. “Lutar” contra algo é sempre mais difícil. Para ir além do velho mundo é certamente necessário denunciar sua perversidade, mas acima de tudo é necessário agir pela justiça, pela ecologia, pela democracia e pela sacralidade da vida. O que aprendo aqui com esta experiência é que a construção quotidiana de um modo de vida alternativo, onde a alegria da coerência está presente e onde se lançam sementes de esperança todos os dias, é um modo de vida muito mais rico e gratificante do que o que experimentei antes como acadêmica e urbana. Convido você a experimentar também!

 

 

Esse texto foi publicado também pelo Outras Palavras: https://outraspalavras.net/pos-capitalismo/indo-alem-do-velho-mundo-licoes-da-pandemia/

 

 

 



Aller au delà du vieux monde: leçons de la pandémie

20 de Julho de 2020, 9:08, por Débora Nunes - 0sem comentários ainda

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J´ai créé l'École d´Écologie Intégrative, avec d´autres partenaires, en 2015, à Salvador, au Nord-est du Brésil. En 2018, une inspiration venue pendant un long séjour en Inde m’a permis d’écrire un conte appelé «Auroville, 2046. Après la fin d´un monde», qui raconte la reconstruction du mode de vie sur la planète Terre suite au collapse de la civilisation à partir de 2020. Ces deux événements sont devenus majeurs dans ma vie, lorsque la pandémie du COVID19 a promu la grande pause dans le monde et que la vie de chacune/chacun est passée par des bouleversements. Avec mon mari  nous avons choisi d´aller habiter la Ferme de l´Avenir, siège rural de l´École où une partie des formations avaient lieu pendant au moins quatre semaines par an.

Nous sommes ainsi sortis d´une ville de trois millions d´habitants pour vivre dans une ferme avec quelques familles autour et cela nous a permis de vivre au quotidien un monde nouveau, avec ses défis et promesses. Je voudrais vous raconter cette histoire de quelques mois pour montrer comment ce monde après COVID, que beaucoup espèrent plus écologique, égalitaire et plein de sens est en train d´être construit par des milliers d´initiatives communautaires et personnelles, comme la notre en ce moment. J´ai pu percevoir, d´ailleurs, que les gens qui, comme nous, étaient déjà conscients  du besoin impératif de construire d´autres modes de vie ont moins souffert avec le confinement. Ces gens-là, par des chemins très variés, ont pu mettre en œuvre concrètement leurs idéaux de vie pendant l´isolement social imposé au monde.

En 2020, des millions de personnes ont commencé à se demander pourquoi tout cela se passait et comment sortir de ce moment douloureux. C´est ainsi que la méthologie de L´Écologie Intégrative et le slogan de notre École «Transformez-vous pour transformer le monde» sont devenus plus compréhensibles. Peut-être c´est pour cela même que mon conte sur l´histoire d´Indra, le personnage principal d « Auroville, 2046 » a été rapidement traduit en plusieurs langues (espagnol, anglais, français, italien et catalan). Indra était ainsi une des fondatrices d´ Auroville, un des premiers et le plus grands écovillage de la planète, et, en 2046 nous montre comment cette communauté a été résiliente à l´écroulement de la société capitaliste. Dans sa rétrospective imaginaire de ce qui serait passé entre 2020 et 2046 Indra explique en toute simplicité comment nous sommes arrivés là et comment l´humanité pourra s´en sortir.

Ce conte illustrait comment l’apprentissage personnel et collectif d’une vie communautaire horizontale, coopérative, spirituelle et célébrant la diversité était la source d´une vie plus résiliente et heureuse pour tous. Il devient ainsi un espoir pour ses lectrices et lecteurs pendant la pandémie et le confinement et devient un des messages fondamental de l´École. Ainsi dès sa publication  en 2018 il est devenu source d´apprentissage pour nos étudiants. En racontant la trajectoire d´Indra, qui montre comment des gens de bonne volonté ont reconstruit ce monde autrement, il nous apprend à traverser ce moment d´effondrement. Nous sommes en train de vivre, à petite échelle et à court terme, le parcours d´Indra. Nos étudiants nous racontent souvent comment ce conte visionnaire les a inspiré et les a aidés à vivre ce moment, et je peux dire qu’il en a été de même pour nos voisins et ceux qui travaillent avec nous.

Le slogan de l'École reprend le sens de la phrase de Gandhi «Soyez le monde que vous voulez voir» et pour comprendre pourquoi il a été choisi il faut revenir un peu en arrière et regarder les changements que nous avons engagés dans nos vies pendant cette pandémie. L´idée vient d´un échec : une longue histoire de professeure et militante engagée à la protection de l´environnement et à la justice sociale. Après des décennies de travail dans le champ politique et universitaire, je me suis rendue compte, comme beaucoup d´autres, de l´inefficacité relative de notre travail. Les blocages structurels étaient insurmontables car le quotidien des personnes ordinaires soutenaient ce monde insoutenable.

L´urgence climatique et les inégalités sociales indignes ne cessaient de nous oppresser, et  on a compris qu´il fallait commencer à agir sur le terrain. Encore un adage: «Si vous êtes pressés, allez doucement». On a pu observer comment les moyens politiques et institutionnels n´arrivaient pas à changer les choses et à débloquer petit à petit la culture capitaliste pour que chaque personne devienne porteuse de changement. Les solutions existeraient si elles étaient enracinées profondément dans la culture humaine par le changement d´un grand nombre de personnes. Ainsi, comme d´autres gens, j´ai décidé de faire ma part comme un colibri et j´ai invité quelques amis créatifs culturels à me rejoindre pour fonder cette École des transformations.

L ´expérience de notre École, qui est connue du public brésilien, français et indien depuis 2015, partait de formations théoriques et pratiques. Elles ont été très utiles dans ce confinement, ainsi que la base méthodologique de l'École qui  est le souci de mettre en cohérence ressentis, aspirations, paroles et actions. En reposant sur une compréhension profonde de ce que signifie l´Écologie, la formation de l'École encourageait les étudiants à inaugurer un mode de vie plus cohérent et porteur de sens.

Les documents de l´Ecole disent que dans l´Ecologie Intégrative l’intelligence du mental, celle du cœur et aussi celle du corps doivent être mobilisés pour rester en cohérence avec celles de la Nature et du Cosmos. Ainsi, quand la Nature est vue comme sacrée, une spiritualité laïque prend du sens et s´intègre à la vie de chacun/e poussant aux changements. Et voilà que notre arrivée à la Ferme de l´Avenir à mis tout cela à l´épreuve. Pendant le confinement, les propositions innovantes de l'École en vue de la transition vers une société plus équitable, plus écologique, plus solidaire et démocratique montrent toute leur pertinence. La quête d´une sobriété heureuse, d´une vie plus solidaire et sereine et plus proche de la Nature a été l´expérience de beaucoup de nos élèves et de nous-mêmes dans cette année 2020.

Le premier grand changement dans notre vie était la Nature elle-même qui nous entourait de partout. Nous, des citadins de toujours, on s´émerveillait de sa présence solide, belle, changeante, du matin au soir. Le rythme des journées a changé naturellement : on se réveille plus tôt, on dort plus tôt aussi. Les tâches quotidiennes, très physiques, nous font dormir beaucoup plus, pour nos réénergiser. Mon mari et moi nous menons alors une vie très différente de celle qu´on menait en ville comme professeurs à l´Université avec des activités bien plus mentales, malgré tous les changements qu´on avait fait dans la dernière décennie. Et avec tout cela on se sentait mieux.

Pendant les formations de l´École, les réflexions autour du sens de l’existence et les cercles de parole ont stimulé des pratiques quotidiennes nouvelles. Si la transformation de soi au nom de la cohérence entre le dire, le sentir, le penser et le faire était le socle principal de notre méthodologie intégrative, les difficultés dues au confinement ont confirmé que cette cohérence était en effet une source de joie et pas seulement un ¨devoir¨ moral. Tout cela a aidé notre résilience dans le séjour à la ferme, et celle-ci se poursuivra encore longtemps.

La Ferme de l´Avenir est une surface largement reboisée de 30 ha dans la magnifique région de la Chapada Diamantina, à Bahia, au pied d´une montagne imposante qui se constitue en Parc Naturel, le Parc des Sept Passages. Il y a à la ferme une petite production d’aliments biologiques, des expériences d´agroforesterie, notamment dans une plantation de café. Pour les animaux, on a un petit troupeau de vaches laitières, quelques poules et un cheval. Ils sont respectés, ils ont un nom et sont chéris comme des complices. La construction principale, avec des chambres, salles de classe et toutes les installations d´appui d´une école est entièrement bioconstruite. Quand nous sommes devenus des ¨neoruraux¨, évitant d´aller en ville, la production d´aliments est devenue l’activité prioritaire et notre source d’apprentissage quotidien.

Pour soutenir tout le travail de la ferme nous avons la chance de pouvoir compter sur l’aide de deux jeunes adorables, une fille et un garçon, qui travaillent avec nous à temps partiel et qui sont, à la fois, nos élèves et nos professeurs. Ce sont eux qui nous guident autour des questions pratiques de la vie rurale. Ils sont aussi les deux  plus assidus élèves de l´École. Selon leurs propres paroles, ils ne cessent pas d´apprendre un monde nouveau qui les enchante par sa simplicité et cohérence. Ils nous aident aussi à comprendre que les enseignements que nous avons forgés tout au long d´une vie,  viennent de l’accompagnement que nous avons réalisé” auprès des écovillages dans plusieurs pays du monde, de notre réflexion théorique, de nos essais, erreurs et exploits.

Les formations théoriques organisées par l'École d´Écologie Intégrative, qui nourrissent le mental  ont été partagée avec les étudiants à l´aide de conférences, textes et films, et se sont révélées très importantes pour nous en ces temps difficiles. Forts de notre conviction rationnelle du besoin de changer le mode de production, de consommation et d'élimination de la société actuelle, notre créativité a été attisée au quotidien. La recherche d´une autosuffisance alimentaire de base, la manufacture de produits en conserve (fruits secs, fromages affinés, de la choucroute, la mélasse, le kéfir, la kombucha, etc), le refus des emballages, l´usage des toilettes sèches, le recyclage de tous les types de matériaux (papier, verre, plastique, métal, biomasse), la restauration manuelle des instruments de travail, des habits, des structures délabrés de la ferme …tout cela est devenu notre travail quotidien. Notre accès à l´eau de source et de pluie, le système d´énergie solaire, le feu de bois et beaucoup d´autres installations écologiques ont été améliorés ces derniers mois.

Notre force pour défendre notre mode de vie ¨neoruralle écologique¨ en face des méfiances et d´incompréhensions qui nous avons rencontrés venaient des arguments rationnels clairs que nous avons développé pendant plus de deux décennies. Dans la formation de l´Ecole, on démontrait qu´une vision du monde patriarcale, capitaliste et rationaliste définît les actions quotidiennes des gens et que, pour éviter le désastre socio-environnemental - ou pour le surmonter car il arrive à galop - il était nécessaire de pratiquer d'autres visions et d’adopter d’autres comportements. Il fallait persévérer dans l´explication sur nos choix et aussi accepter, si cela était le cas, d´être mal compris et même ridiculisés comme radins, arriérés, membres d´une secte, etc.

Si l´entrainement du mental a été important, les clés pratiques du quotidien à la ferme ont été les thèmes abordés lors des formations de l´École: consommation consciente, compostage et recyclage, végétarianisme, cuisine écologique qui refuse le gaspillage et intègre les « incroyables comestibles », agroécologie, bioconstruction, fabrication familiale de produits de nettoyage et de beauté, diverses formes de soins corporels naturels, économie solidaire et autogestion, entre autres. Cette ainsi que les difficultés liées au confinement ont été affrontés avec clarté et esprit d´innovation. C´est pendant notre séjour continu de plusieurs mois qu´on a vu les avantages de nos choix dans un monde en détresse, qu´on a vu que toute notre énergie de vie était investie sur des choses qui marchent, qui ont du sens et que nous rendent heureux. Tout cet ensemble de pratiques sont comprises à l´École d´Ecologie Intégrative comme notre deuxième intelligence, celle du corps, d´un corps sain qui travaille pour une santé plus générale, qui respecte la communauté environnante et la Mère Nature.

Le défi le plus important du confinement, pour ceux qui n´ont pas été touchés par la maladie et un manque important d´argent a été, probablement, la vie commune continue, presque sans interruption, ou la solitude. Ce défi fait appel à l´intelligence du cœur, le troisième aspect de notre méthodologie qui s´ouvre vers des approches diverses de la connaissance de soi et de la gestion créative des conflits. Si notre intelligence émotionnelle a été largement mise en défi par le confinement, ces outils ont été importants pour affronter l´incertitude que la pandémie a créé par rapport à nos projets de vie, à la peur du contact social, au manque que créait la perte de nos habitudes sociales et culturelles, entre autres difficultés.

Cette intelligence du cœur est impossible sans une attitude empathique envers nous-mêmes et les autres. Les formations de l´École utilisaient des dispositifs facilitant le partage des intériorités pour affronter les difficultés. Tout un chacun a besoin de connaître des outils simples, tels que le silence, comme moyen de guérir des blessures, d´éclairer les idées et d´inspirer des solutions, ainsi que des outils plus complexes d´auto-connaissance comme l´interprétation de rêves, l´Ennéagramme, entre autres. Cela ne nous a pas transformé en supers hommes ou supers femmes mais en personnes plus résilientes face aux problèmes du quotidien, personnes qui persévèrent dans leurs rapports humains malgré toutes les difficultés, qui refusent le mal vivre et cherchent d´autres chemins avec courage.

Cette intelligence du cœur est aussi celle qui favorise l’entraide créative. Des pratiques collectives autogérées ont été développées avec nos voisins, comme la création d´un marché d´échanges crée dès le début de la pandémie. La difficulté d´accès à des aliments frais et variés nous a amené à rencontrer quelques familles qui vivaient autour de la ferme, tous les samedis après-midi pour échanger nos excédents directement, amicalement, sans la présence de l´argent. Au départ cela était possible car on était une communauté très isolée, à 400km des grands foyers de contagion. Plus le virus s´approchait de nous, plus on évitait l´agglomération, tout en échangeant quand même. Dans le même esprit généreux d´échange gagnant-gagnant les paquets de produits sont laissés aujourd´hui dans un endroit précis dans des paniers personnalisés, ensuite échangés par des bénévoles et repris par la suite par les participants, sans besoin de contact direct.

La formation aux quatre intelligences de l École est accompagnée de questionnaires dynamiques qui invitent à l’auto-observation et l’auto-évaluation. Les deux principaux sont : pour commencer le parcours, 1)  ¨Êtes vous en transition écologique?¨ qui invite à l´analyse des écarts entre nos idées et nos pratiques. Pour approfondir le chemin on a le 2) ¨Santé et Bonheur¨ avec des questions qui sont des appuis pour réguler la boussole de notre vie, venues du cœur et de l´esprit. Ce n´est pas par hasard que dans notre cas, avec un régime alimentaire frugal et naturel, des activités physiques bien remplies et une vie pleine de sens et de cohérence, notre santé est très bonne, même si notre bonheur n´est pas complet à cause de la situation de notre pays et du monde et des aléas de la vie quotidienne.

Pour  nous la quatrième intelligence enseignée dans  l´Ecole d´Ecologie Intégrative, résume les trois autres : l´intelligence du mental est importante pour mieux comprendre ce qui se passe en société et pour donner de la clarté et du sens à notre action. L´intelligence du corps nous rend attentifs aux gestes quotidiens, apporte la  cohérence entre ce qu´on pense et ce qu´on fait, et forme la base d’ une vie en plénitude. L´intelligence émotionnelle permet l´amitié et la compassion particulièrement dans les moments difficiles avec nous-mêmes et avec les autres. L´intelligence spirituelle, la moins connue de toutes, est celle qui rend toutes les choses plus faciles. Comment cela? Par la compréhension que tout est interconnecté et que chaque changement individuel favorise le changement collectif et inversement.

Par exemple, à chaque émotion négative, on essaye de ne pas répandre dans le monde ce surplus de malheur, surtout en ce temps de pandémie du COVID19: on accepte la douleur, mais on cherche à l´amoindrir ne la donnant pas trop d´importance. Si on peut sur le moment, on va faire autre chose, soigner un animal, récolter des fruits, planter les semences, méditer dans la forêt…la Nature nous redonne ainsi cette joie simple d´être colibri. La gestion de l´isolement a été autre exemple du besoin de voir dans les difficultés des opportunités pour nous et pour le monde. Dans une ferme presque sans internet, chercher des infos et parler aux proches devient difficile. Au milieu d´une pandémie et dans un pays géré par une extrême droite génocidaire cela était source d´angoisse, bien sûr, mais on le transformait aussi en source de soulagement. Au contraire des amis et amies qui sont restés en ville, on pouvait ne pas suivre les infos catastrophiques et nourrir nos esprits de choses constructives. Cela nous faisait du bien, et une compréhension plus vaste du champ subtil du monde quantique dont nous faisons partie nous permettait d’aider aussi la planète à surmonter ses malheurs.

L´intelligence spirituelle de l´École d´Écologie Intégrative est ainsi abordée aussi d’un point de vue scientifique par l´approche quantique. C´est la physique des possibilités et de l´âme, comme l´appelle le physicien Amit Goswami, ou la physique de la grande matrice du physicien Gregg Braden. Elle nous aide à voir dans la réalité  l'incertitude, l’inclusivité, l’interconnexion, tel nous apprennent les traditions de sagesse de tous les peuples et hors des catégories mécanicistes et cartésiennes de certitudes, hiérarchies et séparativité. La pandemie du COVID19 a été très utile pour mieux comprendre ce qui est la base de la physique quantique : tout ce qui se passe ici, impacte le tout et se passe aussi ailleurs ; tout est incertain et nos approches du réel ne sont que des possibilités ; et tous les êtres vivants et inanimés sont importants dans le processus cosmique qui évolue sans cesse.

La dimension quantique, interconnectée, du monde devient claire aussi dans l´aspect matériel, dans la façon interdépendante dont la Nature s´organise. Une anecdote : la biodiversité à la Ferme s’est largement développée pendant les treize années où nous en sommes devenus les gardiens, à cause, surtout, du reboisement. Cette dimension si positive a des conséquences : au dur travail de fermier on a ajouté la présence de renards, bûches, tatous, entre autres, qui mangent notre production, comme ils ne le faisaient plus depuis 50 ans. Cela nous oblige à approfondir notre cohérence : On célèbre la vie, on accepte l´interdépendance et on partage ce qu´on a produit avec eux !

La dimension spirituelle se manifeste aussi dans notre rapport à l´art et à la beauté, source d´émerveillement et gratitude. Rendre la ferme plus belle est un acte quotidien soit par des peintures en terre de plusieurs couleurs, par des mosaïques de céramiques cassés sur les murs, par des mandalas de fleurs à la porte de la maison (comme le font les indiens si artistiques), par les salades devenues comme des petites ouvres d´art très colorées et en format de fleurs…Avec des matériaux simples, accessibles aux gens des alentours, on propose une vie plus belle, attentive à la joie de recevoir l´abondance de la Nature et de la transformer en harmonie par des gestes simples de gens qui ont du temps pour ce qu´importe vraiment…

La dimension spirituelle est aussi renforcée par la pratique yoguique de la méditation, des asanas et du pranayama, de  la contemplation des oiseaux, du ciel, des papillons...et surtout les expériences rituelles d’hommage aux éléments, comme les chants pour la Nature. Pour se calmer, pour s´inspirer, pour écouter les bruits des éléments qui parlent à nos cœurs, on te le « temple » da la Mère Terre - une simple clairière au milieu de la forêt. Cela nous approche du mystère, du sacré, donc d´une vie spirituelle… laïque. L´incertitude quantique - dont la mort est le symbole majeur - est intégrée par l´ouverture d´esprit, par des méditations guidés autour de la thématique de la finitude… Dans la Ferme de l´Avenir on a des rituels quotidiens simples qui rythment les journées. Ils célèbrent la Vie et montrent qu’une vie saine et durable est faite d’actes de révérence et gratitude à la Terre Mère nourricière.

On se lève le matin dans la gratitude d´être en vie et dans cette partie du monde nouveau et on boit du jus vert ou de la citronnade tiède pour nettoyer et honorer notre corps ; on travaille dans la journée pour la reconstruction du monde dans ce morceau de terre dont nous sommes les gardiens, attentifs au moindre détail aux besoins des humains, des animaux et des plantes qui vivent ici et nous entourent ; on remercie la nourriture et tout le travail et l’énergie humaine qui l´a fait arriver à notre table en abondance ; on ritualise la fin de la journée en chantant, à 18h, pour le sacré féminin. Et pour finir, avant de dormir, on remercie encore, quelque soit notre état d´esprit, sachant que la gratitude est la porte du bien vivre et que les choses dures qu´on vit en ce moment même sont peut-être celles qui vont nous permettre de grandir en humanité; on dit merci pour toutes ces choses qui nous agacent , et on reste confiant en la sagesse de la Vie. Dans ces expériences spirituelles profondes on peut percevoir l’unité de tout et le caractère sacré de la vie.

J´espère vous avoir ainsi montré par ce témoignage que travailler pour un monde meilleur peut être une expérience agréable et enrichissante et non pas seulement un fardeau. « Lutter » contre c´est toujours plus dur. Pour dépasser le vieux monde il est certainement nécessaire de dénoncer sa perversité mais il faut surtout agir pour la justice, l´écologie, la démocratie e la sacralité de la Vie. Ce que j´apprends ici avec cette expérience est que la construction quotidienne d'un mode de vie alternatif, où la joie de la cohérence est présente et où des graines d’'espoir sont semées chaque jour, est un mode de vie bien plus riche et épanouissant que celui que je vivais auparavant en tant qu’universitaire et urbaine. Je vous invite à en faire aussi l’expérience!

 



L´amitié comme force transformatrice du monde

4 de Fevereiro de 2020, 22:05, por Débora Nunes - 0sem comentários ainda

 Amizade dedos

 

LA FORCE DE L'AMITIÉ DANS L ACTION DES ORGANISATIONS LOCALES ET LES RÉSEAUX DE TRANSFORMATION NATIONAUX ET MONDIAUX

L'amitié a toujours été considérée comme une affaire personnelle, mais tout le monde sait qu'elle se multiplie lorsqu'elle est partagée. Des groupes d'amis en émergent, ils peuvent aussi être des groupes engagés lorsqu’ils ont un objectif commun. Sans négliger la discussion sur le rôle des agents économiques, des classes sociales, de la politique, des gouvernements, des institutions, des espaces géographiques et d'autres facteurs structurants qui entravent ou favorisent la performance des réseaux de citoyens, il est important de se concentrer sur la dimension politique des liens affectifs comme quelque chose de pertinent et avec une grande force pratique, comme on le verra dans ce texte.

L'expérience de l'amitié est l'une des constantes de la vie humaine et semble indépendante de la classe sociale, du lieu de naissance ou du stade de la vie de chacun. Il y a ceux qui sont généreux en amitiés et d'autres qui le sont moins, mais cela ne semble pas être directement lié aux problèmes socio-économiques ou politiques. On peut émettre l'hypothèse que seules les caractéristiques personnelles et la dimension culturelle définissent la forme, l'intensité et la dimension numérique de l'expérience d'amitié. Ainsi, si elle transcende l'espace et le temps, l'amitié peut être un moyen inspirant de renouveler la politique partout.

De la véritable relation amicale, il est possible de mettre en évidence au moins deux caractéristiques de base - et apparemment opposées - qui lui confèrent solidité et permanence: la complicité, qui apporte avec elle l'entraide, la compréhension et le respect des individualités et le sentiment agréable de rencontre et coexistence; et l’exigence, dans laquelle votre ami veut voir votre comportement au mieux de vos capacités, critiquant franchement et discrètement un comportement contraire à l'éthique partagée. Ces caractéristiques de l'amitié interpersonnelle peuvent servir de modèle pour des relations collectives alternatives. Au lieu de l'hypocrisie, de la concurrence, de l'atmosphère conflictuelle des relations politiques actuelles, d'autres logiques peuvent gagner de la place et cela peut être promu intentionnellement, dans ce que nous appellerons ici "politique d'amitié".

Dans la pratique, l'amitié est déjà une force motrice inestimable pour les organisations et réseaux locaux qui cherchent à transformer des structures et des processus qui reposent toujours sur la prévalence des inégalités, de la concurrence, de la destructivité et de l'aliénation. Pour contourner leurs difficultés, la société civile organisée utilise les amitiés pour faire face, par exemple, au manque de ressources financières. Le financement collaboratif actuel est beaucoup plus ancien que l'Internet et a servi de base à la constitution historique des organisations présyndicales et syndicales, entre autres. Autre exemple : le manque de soutien professionnel pour mener des actions citoyennes a trouvé dans le volontariat mobilisé par des relations amicales un moyen de surmonter le problème.

De même, l'amitié permet des trous dans le blocus du status quo pour les actions qui veulent le transformer. Le désintérêt des médias traditionnels vis-à-vis des actions civiques a dans l'amitié avec les journalistes, bloggeurs, et dans leur engagement intellectuel, un moyen de vulgariser des actions contre l'hégémonie auprès du grand public. Parmi les nombreux autres obstacles auxquels la société civile organisée est confrontée, citons la bureaucratie et la lenteur de l'État face aux projets socio-environnementaux, ou le désengagement des entreprises et des individus en termes de ressources et d'attentions diverses transmises aux actions collectives. Ainsi, l'utilisation de réseaux d'individus impliqués dans des actions communes est un moyen d'ouvrir des voies viables dans l'enchevêtrement des difficultés qui se dressent sur leur chemin.

Étant donné la preuve du rôle de l'amitié dans le soutien aux organisations et réseaux anti-systémiques, il est temps de la considérer comme quelque chose à cultiver et à amplifier consciemment et pas seulement spontanément, comme cela se produit habituellement aujourd'hui. Il est important de souligner que la « politique d’amitié » pratiquée dans divers cas d'action citoyenne n'a rien à voir avec le népotisme, avec l'usage nocif qui est fait des relations familiales interpersonnelles et de l'amitié pour obtenir des avantages, pour des pratiques de corruption, etc. C'est quelque chose de complètement différent des relations d'intérêt qui recherchent des avantages personnels, mais de la complicité et du respect mutuel qui peuvent prévaloir en cas de partage d'intérêts généreux. L'altruisme des gens qui cherchent à transformer le monde pour le bien des inconnus n'a rien à voir avec les motivations du népotisme. Ils génèrent la confiance et l'amitié interpersonnelles, ce qui enlève les montagnes.

Pour que l'amitié - dans son pouvoir d'inspiration, de contagion et de multiplication - comme l'une des forces de l'action citoyenne face aux défis actuels de l'humanité, que ce soit dans l'espace local, national ou mondial, il faut agir concrètement pour la faire prospérer. Pratiquer la « politique d’amitié », c'est lui ouvrir des espaces de développement au sein des collectifs citoyens. Afin de cultiver l'amitié, elle est introjectée dans le travail quotidien, la production collective, les réunions, les assemblées, les manifestations publiques et d'autres formes d'action par les réseaux civiques, encourageant la confiance et la solidarité. Les moments de détente et de partage favorisent le développement de l’amitié : moments de célébrer, comme les fêtes, les repas, les promenades ; des moments de créativité collective tels que la musique, la danse et les jeux ; les moments d'intimité tels que les cercles de paroles à cœur ouvert, les activités quotidiennes menées en commun et les moments de communion, tels que les rituels, les prières, les méditations collectives. Ceux-ci sont des moments, entre autres, de cultivation de l'amitié qui doivent gagner plus d'espace dans une action engagée.

Dans le réseau international Dialogues en humanité, où une profonde réflexion sur la politique de l'amitié est née, cette discussion a émergé des expériences quotidiennes. Les besoins de traduction et d'hébergement lors d'événements internationaux, par exemple, sont des moteurs de la naissance et de la consolidation des amitiés. Consciemment, il est prioritaire que ces activités soient organisées de manière à ne pas consommer les ressources du réseau, sous forme d'entraide - je le fais pour vous, vous le faites pour moi. L'élargissement de ce concept encourage le don de temps et le partage d’espaces, simplement, sans échange immédiat, juste la culture de nouvelles relations d'intimité et d'amitié prometteuse. Les résultats de ces expériences sont évidents dans les relations personnelles solides et dans la solution de nombreux problèmes concrets du réseau, des services financiers, bureaucratiques et professionnels qui ont dans le réseau des amitiés personnelles une source inépuisable de solutions.

Un autre aspect important du thème de l'amitié en politique est son caractère exemplaire dans la recherche d'un autre monde possible. Sans renouveler les pratiques quotidiennes et sans nouvelles inspirations, les environnements alternatifs contraires aux structures hégémoniques courent le risque de les répéter. La manière de faire de la politique des nouveaux collectifs citoyens, pour soutenir un monde plus juste, solidaire et écologique, ne peut se baser que sur plus de bonne volonté, d'écoute et de respect, pour soi, pour l'autre et pour la Nature. Différentes formes de relations doivent prévaloir afin de ne pas répéter les mêmes pratiques d'exploitation du pouvoir économique, du pouvoir politique hiérarchique traditionnel et d'autres formes de manifestation de l'ego, de la concurrence, de l'égoïsme et de la méfiance. La confiance dans l'objectif commun et le désir « d’être le monde que vous voulez voir » sont la base d'un nouveau comportement politique, qui n'exclut pas la discorde et les conflits, mais le voit comme un processus fructueux de construction de nouveaux accords futurs.

La politique d'amitié, basée sur le partage d'objectifs altruistes et le plaisir de socialiser et de faire confiance est déjà l'un des moteurs de l'action citoyenne, elle est déjà l'une des forces de l'évolution de la politique. Il est pratiqué dans diverses organisations et mouvements sociaux et collectifs où il y a moins de hiérarchie et plus de partage des décisions et des responsabilités. Dans les écovillages et les communautés traditionnelles, où l'attention est portée sur la richesse apportée par chaque partenaire, pour la laisser couler en faveur du bien-être individuel et du développement communautaire. Dans les mouvements spiritualistes où la perception aiguë de l'interdépendance existant dans la grande toile de la vie fait que chaque personne est considérée comme un miroir d'elle-même et du cosmos et que les relations ont donc tendance à être prises en compte dans le cadre de l'amélioration de l'ensemble. Si la politique de l'amitié semble être une nouveauté pas encore suffisamment conceptualisée et analysée, sa pratique est déjà présente dans les micro-mondes qui promeuvent un avenir meilleur pour l'humanité dans son ensemble.

 

Este texto foi publicado originalmente em português, espanhol e francês na mídia cidadã Pressenza:

PT https://www.pressenza.com/pt-pt/2020/02/a-forca-da-amizade-na-acao-de-organizacoes-locais-e-redes-transformadoras-nacionais-e-globais/

FR: https://www.pressenza.com/es/2020/02/la-fuerza-de-la-amistad-en-la-accion-de-organizaciones-locales-y-redes-transformadoras-nacionales-y-mundiales/

ES https://www.pressenza.com/fr/2020/02/la-force-de-lamitie-dans-lactions-des-organisations-locales-et-les-reseaux-de-transformation-nationaux-et-mondiaux/



A amizade como política transformadora

4 de Fevereiro de 2020, 21:08, por Débora Nunes - 1Um comentário

Amizade

 

A amizade tem sido vista historicamente como uma questão pessoal, porém, todo mundo sabe que ela se multiplica quando é partilhada. Disso surgem grupos de amigos.as que podem ser também grupos engajados quando se tem um propósito comum. Sem desprezar a discussão sobre o papel dos agentes econômicos, das classes sociais, da política, dos governos, das instituições, dos espaços geográficos e de outros fatores estruturantes que dificultam ou favorecem a atuação das redes cidadãs, é importante focar a dimensão política dos laços afetivos como algo relevante e com grande força prática, como se verá nesse texto.

A experiência da amizade é uma das constantes da vida humana e parece ser independente de classe social, do local onde se nasce ou da etapa da vida de cada pessoa. Há aquelas que são abundantes em amizades e outras menos, mas isso não parece se relacionar de modo direto com questões socioeconômicas ou políticas. Pode-se levantar a hipótese de que apenas características pessoais e a dimensão cultural definem a forma, a intensidade e a dimensão numérica da vivência da amizade. Assim, se ela transcende espaço e tempo, a amizade pode ser um caminho inspirador da renovação da política em todo lugar.

Da relação amigável genuína pode-se destacar pelo menos duas características básicas - e aparentemente opostas - que lhe dão solidez e perenidade: a cumplicidade, que traz com ela a ajuda mútua, a compreensão e respeito das individualidades e o sentimento prazeroso do encontro e da convivência; e a exigência, na qual o.a amigo.a quer ver no comportamento do.a outro.a o melhor de suas possibilidades, criticando francamente, e discretamente, o comportamento contrário à ética partilhada. Essas características da amizade interpessoal podem servir de modelo para as relações coletivas alternativas. Ao invés da hipocrisia, da competição, da atmosfera conflituosa das relações políticas atualmente existentes, outras lógicas podem ganhar espaço e isso pode ser promovido de modo intencional, no que chamaremos aqui de “política da amizade”.

Na prática, a amizade já é uma força motriz inestimável para as organizações locais e redes que buscam a transformação de estruturas e processos que ainda se baseiam na prevalência da desigualdade, da competição, da destrutividade e da alienação. Para driblar suas dificuldades, a sociedade civil organizada se vale das amizades para enfrentar, por exemplo, a falta de recursos financeiros. O financiamento colaborativo atual é muito mais velho que a internet e foi uma base da constituição histórica das organizações pré-sindicais e sindicais, entre outras. Outro exemplo: a falta de suporte profissional para a realização de ações cidadãs tem no trabalho voluntário mobilizado através das relações de amizade um caminho de superação do problema.

Do mesmo modo, a amizade permite furos no bloqueio do status quo para com as ações que querem transformá-lo. O desinteresse da mídia tradicional em relação às ações cívicas tem na amizade com jornalistas, blogueiros.as, e no engajamento intelectual desses, um caminho para fazer chegar as ações contra hegemônicas ao público em geral. Entre muitos outros bloqueios que a sociedade civil organizada enfrenta estão a burocracia e a lentidão estatal em face dos projetos socio ambientais, ou o desengajamento das empresas e pessoas físicas em termos de recursos e atenções diversas repassados para as ações coletivas. Assim, o uso das redes de contatos dos indivíduos envolvidos em ações comuns são meios de se abrir caminhos viáveis no emaranhado de dificuldades que se interpõem a elas.

Diante da evidência do papel da amizade no suporte às organizações e redes antisistêmicas, é tempo de se pensá-la como algo a ser cultivado e amplificado de forma consciente e não apenas de maneira espontânea, como geralmente ocorre hoje. É importante destacar que a “política da amizade” praticada em várias instâncias da ação cidadã não tem nada a ver com o nepotismo, com o uso nefasto que se faz de relações interpessoais familiares e de amizade para obtenção de mordomias, para práticas corruptas etc. Trata-se aqui de algo completamente diferente de relações interesseiras que buscam benefícios pessoais, mas da cumplicidade e respeito mútuo que podem prevalecer quando existe uma partilha de interesses generosos. O altruísmo das pessoas que buscam a transformação do mundo para o bem de desconhecidos nada tem a ver com as motivações do nepotismo. Elas geram a confiança interpessoal e a amizade, que removem montanhas.

Para se ter a amizade - em seu poder de inspiração, contágio e multiplicação - como uma das forças da ação cidadã em face dos desafios atuais da humanidade, seja no espaço local, nacional ou global, há que se agir concretamente para fazê-la prosperar. Praticar a “política da amizade” significa abrir espaços para que ela se desenvolva no seio dos coletivos cidadãos. Para cultivar a amizade introjeta-se no trabalho cotidiano, na produção coletiva, nas reuniões, nas assembleias, em protestos públicos e outras formas de ação das redes cívicas, o incentivo à confiança e à solidariedade. Momentos de descontração e de partilha favorecem o desenvolvimento da amizade: momentos de celebração, como festas, passeios, almoços e jantares; momentos de criatividade coletiva como músicas, danças e jogos; momentos de intimidade como rodas de conversa com o coração aberto, atividades cotidianas realizadas em comum e momentos de comunhão, como rituais, orações, meditações coletivas, são, entre outros, momentos de cultivo da amizade que precisam ganhar mais espaço na ação engajada. 

Na Rede internacional Diálogos em humanidade, onde nasceu uma profunda reflexão sobre a política da amizade, essa discussão surgiu de vivências cotidianas. As necessidades de tradução e hospedagem nos eventos internacionais, por exemplo, são propulsoras do nascimento e consolidação de amizades. De modo consciente, prioriza-se que essas atividades se organizem de modo a não consumir recursos da rede, na forma de ajuda mútua – eu faço por você, você faz por mim. Ampliando esse conceito incentiva-se a doação de tempo e partilha dos espaços, simplesmente, sem que haja uma imediata troca, apenas o cultivo de novas relações de intimidade e promissora amizade. Os resultados dessas experiências são evidentes nos relacionamentos pessoais sólidos e na solução de muitos problemas concretos da rede, de ordem financeira, burocrática e de serviços profissionais que têm na rede de amizades pessoais uma fonte inesgotável de soluções.

Outro aspecto importante da temática da amizade na política é o caráter exemplar que ela tem na busca de outro mundo possível. Sem renovação de práticas cotidianas e sem inspirações novas os ambientes alternativos que estão na contramão das estruturas hegemônicas correm o risco de repeti-las.  O jeito de fazer política dos novos coletivos cidadãos, para dar sustento a um mundo mais justo, solidário e ecológico só pode se basear em mais boa vontade, escuta e respeito, por si mesmo, pelo outro e pela Natureza. Distintas formas de relacionamento precisam prevalecer para não se repetir as mesmas práticas do poder econômico explorador, do poder político tradicional hierárquico e de outras formas de manifestação do ego, da competição, do egoísmo e da desconfiança. A confiança no propósito comum e o desejo de “ser o mundo que se quer ver” são bases para um novo comportamento político, que não exclui a discórdia e o conflito, mas o veem como um processo fecundo de construção de novos acordos futuros.

A política da amizade, baseada na partilha de objetivos altruístas e no prazer do convívio e da confiança já é um dos motores da ação cidadã, já é uma das forças da evolução da política. Ela está sendo praticada em organizações e movimentos sociais e coletivos diversos em que há menos hierarquia e mais partilha de decisões e de responsabilidades. Nas ecovilas e comunidades tradicionais, onde existe atenção à riqueza que traz cada parceiro/a, para deixá-la fluir em prol do bem estar individual e do desenvolvimento da comunidade. Em movimentos espiritualistas onde a percepção aguda da interdependência existente na grande Teia da Vida faz com que cada pessoa seja vista como um espelho de si e do cosmos e assim os relacionamentos tendem a ser cuidados como parte da melhoria do todo. Se a política da amizade parece uma novidade ainda não suficientemente conceituada e analisada, sua prática já está presente nos micromundos fomentadores de um futuro melhor para a humanidade como um todo.

 

 



Revista Transdisciplinar: A CIÊNCIA PÓS-MATERIALISTA JÁ EXISTE

9 de Novembro de 2019, 9:58, por Débora Nunes - 0sem comentários ainda

http://revistatransdisciplinar.com.br/wp-content/uploads/2019/07/junho-19-Revista-de-julho-19-D%C3%A9bora-Nunes.pdf

 

A Revista Transdisciplinar é um periódico on-line semestral, organizado por Celeste Carneiro, que tem como objetivo socializar o pensamento de autores que desejam expressar suas reflexões sobre os mais diversos temas inter-relacionados com o Ser Integral e sua interação com o mundo que o cerca. Busca a integração de saberes e perfis, valorizando o diálogo entre sabedoria e conhecimento, estimulando a liberdade expressiva e dando oportunidade ao exercício da beleza, quer através da articulação de temas, ideias e conceitos, quer através do estilo de apresentação dessas ideias e conceitos

Pautamos esta Revista no pensamento de Basarab Nicolescu e grupo que escreveu a Carta da Transdisciplinaridade (1994), onde esclarece:

A pluridisciplinaridade diz respeito ao estudo de um objeto de uma mesma e única disciplina por várias disciplinas ao mesmo tempo.

A interdisciplinaridade diz respeito à transferência de métodos de uma disciplina para outra.

A transdisciplinaridade, como o prefixo “trans” indica, diz respeito àquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina. Seu objetivo é a compreensão do mundo presente, para o qual um dos imperativos é a unidade do conhecimento.

Rigor, abertura e tolerância são as características fundamentais da visão transdisciplinar. O rigor da argumentação que leva em conta todos os dados é o agente protetor contra todos os possíveis desvios. A abertura pressupõe a aceitação do desconhecido, do inesperado e do imprevisível. A tolerância é o reconhecimento do direito a idéias e verdades diferentes das nossas.

E no texto Educação para o Séc. XXI, do Relatório Delors (UNESCO, 2006):

Na visão transdisciplinar, há uma transrelação que conecta os quatro pilares do novo sistema de educação (aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser) e tem sua fonte na nossa própria constituição, enquanto seres humanos. Uma educação viável só pode ser uma educação integral do ser humano. Uma educação que é dirigida para a totalidade aberta do ser humano e não apenas para um de seus componentes.

Esperamos contribuir para a difusão do conhecimento, com a sabedoria da abertura e da tolerância, aliada ao rigor que dá o ajuste necessário.



L'École d´Écologie Integrative et la Ferme de l´Avenir

30 de Outubro de 2019, 18:50, por Débora Nunes - 0sem comentários ainda

 

Cabane vue nw    Cabane arrivée sur terrasse 

 Esperando na cancela    Casa sítio vista geral

 

L'École d´Écologie Integrative a son siège social à Salvador depuis 2015 (il est entièrement bio-construit et peut accueillir en résidence 18 personnes). L´Ecole s'adresse à un public de jeunes et d'adultes et son slogan est «Transformez-vous pour transformer le monde».

Les formations ESI sont théoriques et pratiques et peuvent être à long terme (180h en 10 mois), des expériences d’une semaine ou des ateliers d’une journée.

Le programme de formation de l'École repose sur une compréhension profonde de ce que signifie l´Écologie et encourage ses étudiants à inaugurer un nouveau mode de vie.

L’apprentissage est personnel et collectif, et l’expérimentation d’une vie communautaire horizontale, coopérative, et célébrant la diversité fait partie de la méthodologie de l’École.

La Ferme de l´Avenir est le siège rural de l’École, située dans une zone reboisée de 30 ha, avec une production d’aliments biologiques, des salles de classe et des temples pour célébrer la Mère Nature.

En collaboration avec le siège urbain d'ESI, il fournit des expériences permettant d'approfondir les propositions innovantes de l'École en vue de la transition vers une société plus équitable, plus écologique et plus démocratique. À cette fin, chaque participant est encouragé à mener une vie plus solidaire et sereine, en quête d´une sobrieté heureuse où le sens de l’existence est la transformation de soi au nom de la cohérence entre le dire, le sentir, le penser et le faire.

La formation proposée par ESI montre rationnellement, à travers des conférences, des textes et des films, que le mode de production, de consommation et d'élimination de la société actuelle nous amène à la catastrophe.

 En approfondissant cette constatation on peut percevoir qu'il existe une vision du monde (patriarcale, capitaliste et rationaliste) qui définit les actions quotidiennes des gens et que, pour éviter le désastre socio-environnemental, il est nécessaire de pratiquer d'autres visions et d’adopter d’autres comportements.

Du personnel au collectif et du collectif à l’individuel, l´approche quantique de l´Ecole permet de réaliser que tout est interconnecté. Chaque changement individuel favorise le changement collectif et inversement.

La force motrice de ces changements dans le domaine personnel est la cohérence entre l'esprit et le cœur, et dans le domaine collectif c’est la mise en réseau des groupes locaux émergents d’entraide et de créativité.

Ainsi l’Ecole n’est pas uniquement un lieu où on vient pour apprendre (et prendre) mais aussi un espace où on vient pour partager et donner (donner de soi, son temps, son énergie, ses motivations et projets, ses compétences…) ; des groupes de parole sont organisés dans ce sens : ils facilitent le partage des motivations et projets, la mutualisation des moyens et compétences et, s´il est possible, la constitution de groupe-projets.

Les formations de l´École abordent les thèmes pratiques suivants : consommation consciente, permaculture, compostage, recyclage, agroécologie, végétarianisme, bioconstruction, gestion créative des conflits, économie solidaire, méditation, bien-être, diverses approches vers la connaissance de soi, diverses formes de soins corporels naturels, des rituels célébrant une spiritualité non religieuse, des dispositifs facilitant le partage des intériorités et la conscientisation, l’entraide et la créativité, et des pratiques collectives autogérées.

Des visites à des écovillages, des résidences et des espaces organisés de manière écologique, ainsi que l’insertion dans les mouvements de citoyens en quête de transition font partie du programme.

Toute la formation est accompagnée de questionnaires dynamiques qui invitent à l’auto-observation et l’auto-évaluation de ses propres comportements individuels et sociaux ; L’appropriation des résultats est réalisée personnellement et sous forme de cercles de paroles.

Les immersions dans l’espace du futur associent des pratiques écologiques solidaires et démocratiques à une expérience spirituelle profonde dans laquelle on peut percevoir l’unité de tout et le caractère sacré de la vie.

Ces pratiques facilitent l’évolution des comportements vers plus d’attention au vivant ; la joie ressentie lorsqu’on pratique l’attention au vivant devient la boussole qui facilite le changement d’attitude. Là où il y a de la joie, il y a partage, entre les humains et entre eux et la Nature. Travailler pour un monde meilleur devient donc une expérience agréable et non seulement un fardeau de la lutte contre le vieux monde, car dans la construction quotidienne d'un mode de vie alternatif, l'espoir doit être semé chaque jour.

Des rituels quotidiens simples qui montrent qu’une vie saine et durable est faite d’actes de révérence et gratitude à la Terre Mère nourricière rythment les journées.

Les pratiques de l’École et de la Ferme contribuent donc à la construction d’un nouveau modèle de développement plus respectueux des ressources naturelles et des potentiels humains, moins polluant et moins destructeur ; simultanément elles montrent la perversité et la non durabilité du système actuel.

Pour élargir et pérenniser les changements induits par la formation, des petites communautés d’intention et d’action sont proposées de façon à permettre aux stagiaires de rester en réseau, de s’entraider et de co-construire des actions sur leurs lieux de vie.

 

 

 



A Escola de Sustentabilidade Integral e o Sítio do Futuro, propostas de vida alternativa

16 de Outubro de 2019, 10:06, por Débora Nunes - 0sem comentários ainda

Cabane vue nw        Esperando na cancela

 

A Escola de Sustentabilidade Integral tem sede ecológica em Salvador desde 2015, destina-se a um público de jovens e adultos e tem como slogan “Transformar-se para transformar o mundo”. As formações da ESI são teórico-práticas e podem ser de longo prazo (180h, em 10 meses), vivências de uma semana ou oficinas de um dia. O programa formativo da Escola parte de uma compreensão profunda do que significa sustentabilidade e estimula seus estudantes a inaugurarem um novo modo de viver. O aprendizado é pessoal e coletivo e a experimentação da vida comunitária horizontal, cooperativa e que celebra a diversidade é parte da metodologia da Escola.

O Sítio do Futuro é a sede rural da Escola de Sustentabilidade Integral, em área reflorestada de 30ha, com produção orgânica de alimentos, salas de aulas e templos de celebração da Mãe Natureza. Sua sede, como aquela de Salvador, completamente bioconstruída (tijolos de adobe, madeira de reflorestamento, sanitário seco, Bacia de Evapotranspiração, captação de água de chuva, energia solar, etc.) tem 18 leitos e vem recebendo pessoas de várias partes do Brasil e do mundo. Juntamente com a sede urbana da ESI, ele propicia vivências para aprofundamento das propostas inovadoras da Escola em busca de uma transição para uma sociedade mais justa, ecológica e democrática. Para tal, cada participante é incentivado a praticar uma vida sóbria e sadia, mais solidária e serena e onde o sentido da existência se dá na busca da autotransformação em nome da coerência entre o dizer, o sentir, o pensar e o fazer.

A formação proposta pela ESI demonstra racionalmente, através de aulas expositivas, texto e filmes, como o modo de produção, consumo e descarte da sociedade está fabricando a insustentabilidade. Dessa constatação aprofunda-se para a compreensão de que há uma visão de mundo (patriarcal, capitalista e racionalista) que define as ações cotidianas das pessoas e que, para evitar o desastre sócio-ambiental, é necessário praticar outras visões e ações. Do pessoal para o coletivo e do coletivo para o pessoa,l aborda-se o mundo em uma dimensão quântica que faz perceber que tudo está interligado. Cada mudança individual favorece o campo das mudanças coletivas e vice-versa e o motor dessas mudanças no campo pessoal é a coerência entre a mente e o coração, e no campo coletivo, as diversas formas de contestação ao atual modelo de desenvolvimento através do engajamento nas ações da cidadania organizada.

As formações da Escola abordam o consumo consciente, a permacultura, a compostagem, a reciclagem, a agroecologia, o vegetarianismo, a bioconstrução a gestão criativa de conflitos, a economia solidária, a meditação, o Bem Viver, diversas formas de autoconhecimento, diversas formas de cuidados naturais com o corpo, rituais que celebram uma espiritualidade não religiosa e práticas coletivas autogestionárias. Visitas a ecovilas, a residências e espaços organizados ecologicamente, bem como a inserção em movimentos cidadãos de busca da Transição estão no programa. Toda a formação é acompanhada de questionários dinâmicos, inclusive de pegada ecológica e compensação de emissão de carbono, que propiciam a avaliação da evolução gradativa de cada participante, realizada pessoalmente e também em forma de círculos de partilha.

As imersões no espaço do Sítio do Futuro aliam as práticas ecológicas solidárias e democráticas com uma experiência profunda, espiritual, em que se pode perceber a unidade de tudo e de todos e a sacralidade da vida. Isso torna a sustentabilidade algo natural, que, vivenciada, traz alegria, que é bússola de toda a metodologia praticada. Onde há alegria, há partilha, entre os humanos e entre esses e a Natureza. O trabalho por um mundo melhor se torna assim uma experiência prazerosa e não apenas um fardo de combate ao velho mundo, já que, na construção cotidiana de um modo alternativo de viver, se planta a esperança todos os dias.

As práticas da Escola de Sustentabilidade Integral e do Sítio do Futuro contribuem assim para a construção de um novo modelo de desenvolvimento, na medida em que evidenciam, em termos formativos, a perversidade e inviabilidade do atual sistema. Para além de uma ação que atua na mente dos participantes da Escola, ensinam-se  práticas que reduzem a emissão dos gases de efeito estufa em todos os campos da vida (consumo, alimentação, descarte de resíduos, transporte, construção, plantio, de saúde, etc.). Para ampliar o efeito da formação, cria-se uma comunidade de intenções e ações que se ajuda mutuamente na transição para um novo comportamento. Por fim, praticam-se rituais que mostram que a vida sustentável é simplesmente um ato de reverência à Mãe Terra.

 



Movimento Humanista, 50 anos.

21 de Maio de 2019, 14:42, por Débora Nunes - 0sem comentários ainda

 

Alicia, ricardo, eu forum humanista maio 2019 santiago

 

Um olhar externo e alguns materiais para conhecer melhor o Movimento:

https://www.pressenza.com/pt-pt/2019/05/o-forum-humanista-visto-de-fora/

https://www.pressenza.com/fr/2019/05/le-forum-humaniste-vu-de-lexterieur/

https://www.pressenza.com/es/2019/05/el-foro-humanista-visto-desde-fuera/

https://www.pressenza.com/2019/05/the-humanist-forum-seen-from-the-outside/

https://www.pressenza.com/de/2019/05/das-humanistische-forum-von-aussen-betrachtet/

Informações sobre a agencia de notícias do movimento "Pressenza": https://www.pressenza.com/pt-pt/sobre-nos/ 

Materiais sobre o Humanismo, escolhidos por Alícia Blanco:

Documentário sobre os 50 años do Movimento. Silo. La Curación del Sufrimiento. 26 minutos. Subtitulos español e ingles El 4 de mayo de 1969 en Punta de Vacas, Argentina, Silo comenzó su proyecto de humanización https://youtu.be/a5ycOPby8yI

Texto El dia del Leon Alado, em várias línguas: www.silo.net/system/documents/69/original/LeonAlado_es.rtf

Vídeo curto com boa síntese https://www.youtube.com/watch?v=a5ycOPby8yI

Materiais para aprender as quatro "Disciplinas" https://www.parquepuntadevacas.net/matce.php