Revista Galileu fala sobre Grupos de Consumo Responsável
13 de Junho de 2013, 21:00 - sem comentários aindaA gente não quer só comida
Contra o excesso de industrialização dos alimentos, consumidores ativistas arrendam terras, compram sementes e viram sócios de agricultores. Conheça o progressismo culinário
por Rafael Tonon
O tom transgressor desse movimento fica claro no apelido que ele ganhou da revista Time: progressismo culinário. “Têm-se construído diversas práticas para mitigar o dano permanente causado pelo regime alimentar corporativo, baseado na produção em massa e na industrialização”, diz Gimenez. Um dos principais meios de ação desses ativistas é a criação de grupos que buscam parcerias com produtores locais dispostos a oferecer alimentos sem o intermédio de supermercados ou distribuidores. Isso encurta o caminho do produto (economizando viagens de caminhão para centros de distribuição e reduzindo até a poluição causada por elas) e estreita o laço com as famílias que trabalham na terra. “O alimento é muito importante para estar nas mãos de apenas algumas corporações”, defende Harriet Lamb, da The Fairtrade Foundation, entidade que luta por melhores políticas sociais e econômicas de consumo no mundo. Esses grupos, que despontaram no final da década de 90 nos EUA e em 2001 na França, polinizaram terras do mundo todo, inclusive do Brasil.
O grupo de CSA responde por cerca de 20% da renda das três famílias de agricultores envolvidas no projeto — os 80% restantes são conseguidos em feiras de orgânicos. “Mas a ideia é que consigam se sustentar somente a partir do grupo. Isso será possível quando atingirmos 400 integrantes”, diz Pohlmann. Desde o surgimento do CSA de Botucatu, outros foram criados em Campinas (SP), Nova Friburgo (RJ), Maria da Fé (MG) e Parelheiros, bairro da capital paulista, mostrando que a ideia tende a se espalhar por aqui.
Os coletivos de consumo já são um fenômeno mundial. Na França, há 1.600 deles, sob a sigla Amap (Associações para a Preservação da Agricultura Camponesa). Eles entregam regularmente 66 mil caixas de alimentos para cerca de 270 mil associados. Ao aderir a uma Amap, os compradores lidam diretamente com os produtores, pagando meses antes da colheita pelas frutas e hortaliças.
Nos EUA, o modelo vai além. Em alguns casos, famílias criam um fundo para arrendar uma propriedade a longo prazo, de forma que os próprios filhos dos produtores possam perpetuar o trabalho iniciado pelos pais. Em outros, pessoas se reúnem em projetos de financiamento coletivo para incentivar a produção artesanal de comida.
Foi o que aconteceu com o agricultor Gudelio García em Nova York. Em 2010, ele criou uma pequena fazenda para cultivar ervas, temperos e vegetais da culinária mexicana. A demanda foi tanta que a produção se tornou insuficiente. Os consumidores fiéis colocaram, em julho de 2012, um projeto no Kickstarter — maior site de financiamento coletivo no mundo — para permitir que ele aumentasse a fazenda. Em menos de um mês, US$ 5 mil foram rateados pelos compradores, que criaram, então, um grupo para adquirir produtos diretamente da fazenda. “Em 10 anos, a quantidade de coletivos assim deve dobrar”, diz Pohlmann.

Atualmente, os integrantes do grupo pagam R$ 30 para ter direito a aquisições mensais de alimentos e R$ 60 para semanais. Esse dinheiro ajuda a manter a rede funcionando — é preciso pagar despesas como aluguel do espaço para distribuição dos produtos, além do transporte da propriedade rural até a cidade. A exclusividade é garantida. Só quem faz parte da rede tem direito a comprar os alimentos, num máximo de R$ 440 por mês, valor que vai diretamente para o produtor.
Como em outros grupos do tipo, os alimentos precisam ser retirados em um local preestabelecido. A comodidade de recebê-los em casa foi dispensada para que as pessoas sejam mais ativas no negócio. “Cada um deve se comprometer a participar de atividades 10 horas por ano”, afirma Miriam. Entre os afazeres, estão organizar a bancada de alimentos, conferir e atualizar as planilhas de vendas e valores de produtos. “Por ser uma proposta coletiva e autos-sustentável, é imprescindível que todo mundo faça a coisa acontecer.”
Em Piracicaba (SP), a Rede Guandu também promove a comercialização de produtos da agricultura familiar. “A ideia era revalorizar o conceito de local e fomentar a economia dos agricultores da região fazendo mais do que ir à feira”, afirma Andre Toshio, um dos fundadores da iniciativa. “O principal é criar uma interdependência entre consumidores e produtores, fazendo com que um necessite do outro, não apenas economicamente.”
No início, a rede contava com cinco integrantes, amigos na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP, que se juntaram para comprar de produtores que já conheciam, por causa da faculdade. Conforme a coisa cresceu, passaram a ter dificuldade em gerenciar os pedidos, até então feitos por e-mail.
Em parceria com o Centro de Informática da Esalq, arrecadaram, por meio de financiamento público, R$ 28 mil para desenvolver um software para gestão de pedidos. Com o programa, ampliaram o grupo para os 40 consumidores semanais que têm hoje. “O software é específico para os GCRs e a ideia é torná-lo livre para que coletivos no país inteiro possam se organizar e até se formar de maneira mais organizada”, conta Toshio.

TODOS POR UM
Como organizar um grupo de consumo responsável
DEFINA OS PRODUTOS > Para listar o que será comprado veja quais são os itens produzidos localmente. Os sites do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (fbes.org.br) e Faces do Brasil (facesdobrasil.org.br) ajudam na busca de agricultores familiares.
DIVERSIFIQUE > Um grupo consolidado conta com mais de 10 produtores. Isso aumenta a variedade de itens e ajuda a garantir o abastecimento.
ORGANIZE A LOGÍSTICA > Produtos frescos devem ser entregues toda semana enquanto os não perecíveis podem ter prazos mais extensos. Para reduzir custos, um motorista contratado pode passar nas hortas e trazer os produtos a um local fixo: pode ser um colégio ou um centro cultural, por exemplo.
CRIE UMA BOA GESTÃO > É preciso organização para receber o dinheiro, pagar os produtores, controlar os pedidos etc. Defina cargos e responsabilidades para os próprios membros. Será preciso que todos dediquem algumas horas mensais ao trabalho.
Fonte: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI336358-17773,00-A+GENTE+NAO+QUER+SO+COMIDA.html
Consumidores em busca da soberania alimentar, artigo de Esther Vivas
3 de Junho de 2013, 21:00 - sem comentários ainda
O que comemos? De onde vem, como ele se desenvolveu e qual o preço que pagamos por aquilo que compramos? Estas são perguntas cada vez mais frequentes entre os consumidores. Em um mundo globalizado, onde a distância entre o produtor e o consumidor cresceu até o ponto em que ambos não têm praticamente impacto algum sobre a cadeia agroalimentar, saber o que colocamos na boca importa, e muito.
Isto foi evidenciado pelas experiências de grupos e cooperativas de consumo agroecológico que nos últimos anos têm proliferado em todos os lugares de todo o Estado espanhol. Se trata de devolver a capacidade de decidir sobre a produção, a distribuição e o consumo de alimentos aos principais atores envolvidos neste processo, ao campesinato e aos consumidores. O que, em outras palavras, se chama soberania alimentar. Isso significa que, como a própria palavra indica, ser soberano, ter a capacidade de decidir, quando se diz respeito a nossa alimentação (Desmarais, 2007).
Algo que pode parecer muito simples, mas na realidade não é. Hoje, o sistema agrícola e alimentar é monopolizado por um punhado de empresas da indústria agroalimentar e de distribuição que impõem seus interesses particulares, de fazer negócios com a comida, sobre os direitos dos agricultores e as necessidades alimentares das pessoas. Só assim se pode explicar tanta comida e tanta gente sem comer. A produção de alimentos triplicou dos anos 60 até os dias atuais, enquanto a população mundial, desde então, apenas duplicou (GRAIN, 2008), mas, mesmo assim, cerca de 900 milhões de pessoas, segundo a FAO, passam fome. Claramente, algo não está funcionando.
Algumas características
Os grupos e as cooperativas de consumo representam um modelo de agricultura e alimentação antagônico ao dominante. Seu objetivo: encurtar a distância entre a produção e o consumo, eliminando intermediários e estabelecendo relações de confiança e solidariedade entre as duas pontas da cadeia, entre o campo e a cidade; apoiar uma agricultura familiar e de proximidade que cuide de nossa terra e que defenda um mundo rural vivo, com o propósito de viver com dignidade no campo; e promover uma agricultura ecológica e sazonal, que respeite e leve em conta os ciclos da terra. Além disso, nas cidades, estas experiências ajudam a fortalecer o tecido local, gerar conhecimento mútuo e promover iniciativas baseadas na autogestão e auto-organização.
De fato, a maior parte dos grupos de consumidores são encontrados nos núcleos urbanos, onde a distância e a dificuldade de contactar diretamente os produtores é maior e, portanto, as pessoas de um bairro ou de uma localidade se reúnem para realizar “outro consumo”. Existem, igualmente, vários modelos: aqueles em que o produtor serve uma cesta semanal, fechada, com frutas e verduras ou aqueles em que o consumidor pode escolher que alimentos sazonais quer consumir de uma lista de produtos oferecidos pelo agricultor ou agricultores com que trabalha. Além disso, em um nível legal, encontramos majoritariamente grupos definidos como associação e uns poucos, de experiências mais consolidadas e larga trajetória, com formato de cooperativa (Vivas, 2010).
Um pouco de história
Os primeiros grupos surgiram, no Estado espanhol, no final dos anos 80 e início dos anos 90, principalmente na Andaluzia e Catalunha, apesar de também termos encontrado alguns no País Basco e na Comunidade Valenciana, entre outros. Uma segunda onda veio nos anos 2000, quando estes experimentaram um crescimento significativo onde já existiam e apareceram pela primeira vez onde não tinham presença. Atualmente, estas iniciativas têm se consolidado e multiplicado de forma muito significativa, em um processo difícil de quantificar devido ao seu próprio caráter.
O aumento dessas experiências responde, do meu ponto de vista, a duas questões centrais. Por um lado, a crescente preocupação social sobre o que comemos, frente a proliferação de escândalos alimentares nos últimos anos, tais como a doença das vacas loucas, frangos com dioxina, a gripe suína, a E.coli, etc. Comer, e comer bem, importa novamente. E, por outro lado, a necessidade de muitos ativistas sociais de buscar alternativas na vida cotidiana, além de mobilizar contra a globalização neoliberal e seus arquitetos. A partir daqui, que, logo após o surgimento do movimento antiglobalização e antiguerra, no início dos anos 2000, uma parcela significativa das pessoas que participaram ativamente nestes espaços impulsionaram ou se tornaram parte de grupos de consumor agroecológicos, redes de intercâmbio, meios de comunicação alternativos, etc.
Comer bem versus mudança política
Assim, observamos duas sensibilidades que muitas vezes integram essas experiências. Uma que aposta, em termos gerais, em “comer bem”, dando maior peso às questões relacionadas à saúde e outra que, apesar de considerar estes elementos, enfatiza ainda mais o caráter transformador e político dessas iniciativas. Aqui está o desafio dos grupos e das cooperativas de consumo, reivindicar uma alimentação segura e saudável para todos. O que implica em não perder de vista a perspectiva política de mudança.
Se queremos uma agricultura sem agrotóxicos ou transgênicos é necessário começar exigindo a proibição de cultivos de transgênicos no Estado espanhol, porta de entrada e paraíso dos organismos geneticamente modificados em toda a Europa. Se queremos uma agricultura de proximidade, que não contamine o meio ambiente, com alimentos que viajam milhares de quilômetros de distância (Amigos de la Tierra, 2012), é essencial uma reforma agrária e um banco público de terras, que ao invés de especular com o território o torne acessível para aqueles que queiram viver para trabalhar a terra. Em suma, ou mudamos radicalmente este sistema ou “comer bem” vai se tornar um privilégio disponível apenas para aqueles que possam pagar.
Os grupos de consumo são apenas um primeiro passo na mudança em direção a “outra agricultura e outra alimentação”, mas devem ir mais além e questionar o sistema político e econômico que sustenta o atual modelo agroalimentar. A comida, como a habitação, a saúde, a educação…, não se vende, se defende.
Referências bibliográficas
Amigos de la Tierra (2012) Alimentos kilométricos en:http://issuu.com/amigos_de_la_tierra_esp/docs/informe_alimentoskm
Desmarais, A. (2007) La Vía Campesina. La globalización y el poder del campesinado. Madrid. Editorial Popular.
GRAIN (2008) El negocio de matar de hambre en: http://www.grain.org/articles/?id=40
Vivas, E. (2010) “Consumo agroecológico, una opción políticas” en Viento Sur, nº 108, pp. 54-63.
*Artigo publicado originalmente na revista Ae Agricultura y Ganadería Ecológica de la Sociedad Española de Agricultura Ecológica, nº11, primavera 2013.
**Traduzido por Natasha Ísis, do Canal Ibase.
***Esther Vivas, Colaboradora Internacional do Portal EcoDebate, é ativista e pesquisadora em movimentos sociais e políticas agrícolas e alimentares, autora de vários livros, entre os quais “Planeta Indignado”. Esther Vivas é licenciada em jornalismo e mestre em Sociologia. Seus principais campos de pesquisa passam por analisar as alternativas apresentadas por movimentos sociais (globalização, fóruns sociais, revolta), os impactos da agricultura industrial e as alternativas que surgem a partir da soberania alimentar e do consumo crítico.
+info: http://esthervivas.com/portugues/
EcoDebate, 17/05/2013
Feira de Produtos Orgânicos e Agricultura Limpa do Ibirapuera na Virada Sustentável
2 de Junho de 2013, 21:00 - sem comentários aindaProgramação das Atividades da Feira na Virada Sustentável:
Data: Sábado, dia 08 de junho, das 10h às 12h.
Local: CDC Modelódromo do Ibirapuera, Rua Curitiba, 292 (próximo do Clube Circulo Militar).
Permitido bicicletas. Permitido cachorros. Estacionamento no local.
Atividades gratuitas para toda a família:
1. Das 10h às 11h: “Gincaneu” – gincana com pneus reciclados e transformados em brinquedos, móveis e instalações. Dispostos em forma de circuitos, são cheios de desafios e diversão. Concepção do ecodesigner Daniel Beato, da Arte em Pneus.
www.arteempneus.org.br
2. Das 11h às 12h: “Horta caseira” – Aprenda a montar uma horta em casa, transformando seu lixo em adubo orgânico. Oficinas de sementes e compostagem com Fernanda Danelon, hortelã urbana, jornalista e fotógrafa. www.seedsofgarden.wordpress.com
Mais informações: https://www.facebook.com/feira.ibirapuera
Resultado Edital Kairós 07/2013
19 de Maio de 2013, 21:00 - sem comentários aindaResultado_Edital Kairós_ 07_ 2013_Passagem_Aereas
Semana da Agroecologia na Cidade de São Paulo
16 de Maio de 2013, 21:00 - sem comentários aindaEm anexo, banner com a programação das mesas e oficinas temáticas.