Ir para o conteúdo
Mostrar cesto Esconder cesto
Tela cheia

Blog "vida quer viver!"

12 de Janeiro de 2009, 22:00 , por Daniel Tygel - | 1 pessoa seguindo este artigo.

Lagartas sempre são lagartas
Mas não serão lagartas para sempre...


Lançamento da campanha "Quem são os Proprietários do Brasil?" reúne 2 mil pessoas no Circo Voador

26 de Outubro de 2012, 22:00, por Daniel Tygel - 0sem comentários ainda

Fonte: http://www.virusplanetario.net/lancamento-da-campanha-quem-sao-proprietarios-do-brasil-reune-2-mil-pessoas-no-circo-voador/

Na última quinta-feira (25/10), os shows das bandas El Efecto e Mundo Livre S.A. abriram o lançamento da campanha “Quem são os Proprietários do Brasil?”, evento que reuniu 2 mil pessoas no Circo Voador, no Centro do Rio de Janeiro. A campanha tem como objetivo  promover o debate público sobre os grandes grupos econômicos do Brasil e seus controladores, além de evidenciar como estes se relacionam com o poder público através de orgãos como o Banco do Desenvolvimento Nacional (BNDES). O Instituto Mais Democracia, que está mobilizando a campanha, desenvolveu em parceria com a organização Eita (Educação, Informação e Tecnologia para a Autogestão) um sistema de informação que cruza dados oficiais de grandes empresas e pretende lançar ainda em dezembro deste ano um ranking baseado no Índice de Poder Acumulado (IPA) dos grandes proprietários do país.

Os organizadores da campanha argumentam que a diferença entre o trabalho que estão desenvolvendo para os rankings tradicionais veiculados pelo Jornal Valor Econômico e a Revista Exame é que não pretendem listar as grandes empresas, mas sim as pessoas e as empresas de participação que as controlam. A proposta é dar transparência a essas informações, geralmente difusas e de acesso difícil. Durante breve apresentação da campanha no Circo Voador, o Coordenador do Instituto Mais Democracia, João Roberto Pinto, defendeu a importância de se conhecer os grupos econômicos por trás do capitalismo brasileiro.

- O maior desafio democrático é conectar o movimento político ao universo econômico, ou seja, a participação e ação pública sobre a propriedade privada, sobre o controle da acumulação”, aponta João Roberto.

Ainda de acordo com ele, a luta por direitos se mantém restrita ao “andar de baixo”, limitada aos direitos políticos, mas pouco se debate sobre a economia e o poder que as empresas exercem nesse setor, influenciando a política de forma desigual.

O integrante da Eita, Daniel Tygel, apresentou a metodologia desenhada para cruzar as informações sobre as empresas e montar o ranking dos proprietários do Brasil. Para se determinar o Índice de Poder Acumulado de uma determinada empresa ou pessoa soma-se sua receita própria (no caso de ser uma empresa) com o percentual de ações com direito a voto que ela possui. Quando ela tem mais do que 50%, esta pessoa ou empresa controla a outra.

Através de exemplos como o do Grupo Pão de Açúcar (a maior rede varejista brasileira) ou da empresa Braskem (grande empresa do setor petroquímico), Daniel apresentou uma cascata de grupos de participações acionárias que se sucedem até chegar às famílias e empresários que de fato controlam política e economicamente essas grandes empresas. Ele questionou ainda o fato de como esses grupos por trás de empresas conhecidas “não possuem logo, telefone ou mesmo sede”.

- Ao seguir o rastro do controle proprietário, chegamos a indivíduos e famílias que acumulam bilhões de dólares e ainda são privilegiados com financiamento público através do BNDES. Essas pessoas se escondem por trás de uma verdadeira cascata de grupos de participações. Se escondem porque a indignidade não está na pobreza, é a extrema riqueza que é indigna, pontua Daniel.

Para construir a metodologia que vai desenvolver o ranking dos proprietários do Brasil a Eita e o Instituto Mais Democracia se respaldaram em estudos existentes sobre quantificação de poder econômico em grupos empresariais, entre os quais se destaca o artigo “The network of global corporate control”, da Universidade ETH de Zurique, na Suíça, publicado em 2011.

Para saber mais sobre a campanha visite o site do Instituto Mais Democracia



O referendum islandês e os silêncios da mídia

21 de Outubro de 2012, 22:00, por Daniel Tygel - 0sem comentários ainda

Por Mauro Santayana*

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5821

Os cidadãos da Islândia referendaram, ontem, com cerca de 70% dos votos, o texto básico de sua nova Constituição, redigido por 25 delegados, quase todos homens comuns, escolhidos pelo voto direto da população, incluindo a estatização de seus recursos naturais.



Os cidadãos da Islândia referendaram, ontem, com cerca de 70% dos votos, o texto básico de sua nova Constituição, redigido por 25 delegados, quase todos homens comuns, escolhidos pelo voto direto da população, incluindo a estatização de seus recursos naturais. A Islândia é um desses enigmas da História. Situada em uma área aquecida pela Corrente do Golfo, que serpenteia no Atlântico Norte, a ilha, de 103.000 qm2, só é ocupada em seu litoral. O interior, de montes elevados, com 200 vulcões em atividade, é inteiramente hostil – mas se trata de uma das mais antigas democracias do mundo, com seu parlamento (Althingi) funcionando há mais de mil anos. Mesmo sob a soberania da Noruega e da Dinamarca, até o fim do século 19, os islandeses sempre mantiveram confortável autonomia em seus assuntos internos.

Em 2003, sob a pressão neoliberal, a Islândia privatizou o seu sistema bancário, até então estatal. Como lhes conviesse, os grandes bancos norte-americanos e ingleses, que já operavam no mercado derivativo, na espiral das subprimes, transformaram Reykjavik em um grande centro financeiro internacional e uma das maiores vítimas do neoliberalismo. Com apenas 320.000 habitantes, a ilha se tornou um cômodo paraíso fiscal para os grandes bancos.

Instituições como o Lehman Brothers usavam o crédito internacional do país a fim de atrair investimentos europeus, sobretudo britânicos. Esse dinheiro era aplicado na ciranda financeira, comandada pelos bancos norte-americanos. A quebra do Lehman Brothers expôs a Islândia que assumiu, assim, dívida superior a dez vezes o seu produto interno bruto. O governo foi obrigado a reestatizar os seus três bancos, cujos executivos foram processados e alguns condenados à prisão.

A fim de fazer frente ao imenso débito, o governo decidiu que cada um dos islandeses – de todas as idades - pagaria 130 euros mensais durante 15 anos. O povo exigiu um referendum e, com 93% dos votos, decidiu não pagar dívida que era responsabilidade do sistema financeiro internacional, a partir de Wall Street e da City de Londres.

A dívida externa do país, construída pela irresponsabilidade dos bancos associados às maiores instituições financeiras mundiais, levou a nação à insolvência e os islandeses ao desespero. A crise se tornou política, com a decisão de seu povo de mudar tudo. Uma assembléia popular, reunida espontaneamente, decidiu eleger corpo constituinte de 25 cidadãos, que não tivessem qualquer atividade partidária, a fim de redigir a Carta Constitucional do país. Para candidatar-se ao corpo legislativo bastava a indicação de 30 pessoas. Houve 500 candidatos. Os escolhidos ouviram a população adulta, que se manifestou via internet, com sugestões para o texto. O governo encampou a iniciativa e oficializou a comissão, ao submeter o documento ao referendum realizado ontem.

Ao ser aprovado ontem, por mais de dois terços da população, o texto constitucional deverá ser ratificado pelo Parlamento.

Embora a Islândia seja uma nação pequena, distante da Europa e da América, e com a economia dependente dos mercados externos (exporta peixes, principalmente o bacalhau), seu exemplo pode servir aos outros povos, sufocados pela irracionalidade da ditadura financeira.

Durante estes poucos anos, nos quais os islandeses resistiram contra o acosso dos grandes bancos internacionais, os meios de comunicação internacional fizeram conveniente silêncio sobre o que vem ocorrendo em Reykjavik. É eloqüente sinal de que os islandeses podem estar abrindo caminho a uma pacífica revolução mundial dos povos.


 
Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.



Debate de Caldas: Reportagem da TV Poços

28 de Setembro de 2012, 21:00, por Daniel Tygel - 0sem comentários ainda

Parabéns a todas e a todos.

Sinceros agradecimentos aos dois comitês, à Câmara Municipal, à Rádio Caldas (valeu Roberto!), ao Jornal de Caldas, à Nowtech (grande iniciativa, Marcelo), ao Jornal do Alto Rio Pardo, à Cuia pelas fotos, ao Victor da Audio Play (por passar o carro anunciando o debate na rádio mais uma vez), à população que esteve na câmara e no lado de fora assistindo ao telão.

E, é claro, um agradecimento especial a todas e todos da comissão organizadora com as mais de 10 associações: Que nos tornemos um Fórum Caldense de Cidadania e Participação!



Debate eleitoral para a Prefeitura: Caldas ganha, todos ganham!

23 de Setembro de 2012, 21:00, por Daniel Tygel - 44 comentários

Por Daniel Tygel, publicado no Jornal de Caldas na edição de 22 de setembro de 2012

Esta eleição para Prefeito de Caldas tem uma novidade: Mais de dez associações de moradores e de segmentos da cidade se reuniram e decidiram organizar um debate entre os dois candidatos, Anderson e Ulisses. Depois de prepararem juntos a proposta, as associações se reuniram com os representantes dos dois comitês de campanha, e apresentaram a ideia. Os comitês "200 Anos Mais Feliz" e "Caldas Muito Mais Feliz" acolheram a sugestão, e num clima de muito diálogo e abertura, chegaram a um consenso quanto à data, o local e as regras do debate. O documento com estes acordos foi assinado pelos dois comitês e pelas associações e registrado no Cartório Eleitoral de Caldas.

As associações que estão promovendo o debate são as seguintes: Associação dos Moradores do Maranhão, Associação Balde Cheio, Associação Pocinhos Vivo, Índios Xukuru Kariri de Caldas, Associação Comunitária da Pedra Branca, Arte-Caldas, Associação Arco-Íris, Associação dos Moradores de Santa Cruz, Associação Comercial e Industrial de Caldas (ACIAC), Sindicato Metabase, Sindicato das/dos Trabalhadoras/es Rurais de Caldas (STR), e Associação Oportunidade.

O debate acontece no dia 27 de setembro, quinta-feira, das 19h até às 22h na Câmara dos Vereadores de Caldas, e é aberto ao público. Como há pouco espaço na câmara (apenas 230 vagas para o público), o debate será transmitido de três maneiras:

1. Por telão: do lado de fora da Câmara Municipal em um telão para quem não conseguir entrar.

2. Pela Rádio Caldas FM 105,9

3. Pela internet no seguinte endereço: http://cameras.nowtech.com.br/debate

A iniciativa tem o apoio do Jornal de Caldas, do Jornal Sonha Caldas, da Câmara Municipal, da Nowtech e da Rádio Caldas FM.

O evento é uma oportunidade para que cada cidadão e cidadã caldense possa decidir o seu voto a partir do programa e propostas concretas dos candidatos, ao invés de ser por amizade, favor ou vínculo familiar. Por isso, é fundamental que os militantes de cada candidato exerçam sua cidadania e aproveitem o momento para ouvir e respeitar tanto o seu candidato como o candidato adversário. Agindo assim, os militantes contribuem para que Caldas consiga melhorar a qualidade de suas eleições e permitem que os indecisos possam escutar os dois candidatos com calma e atenção.

O debate terá 4 blocos. No primeiro, os candidatos vão ler as respostas da sua equipe de apoio para 8 perguntas que foram entregues pela Comissão Organizadora no dia 17 de setembro. No segundo bloco, os candidatos a prefeito responderão a 10 perguntas apresentadas na hora por representantes de cada uma das associações da Comissão Organizadora. No terceiro bloco, os candidatos a vice-prefeito farão uma pergunta para o seu adversário. E no quarto e último bloco, os candidatos à prefeitura farão, cada um, uma pergunta para seu adversário.

Se alguém da plateia ofender ou fizer sons e atos que atrapalhem qualquer candidato a expor suas ideias, esta pessoa será retirada do local. Todas as perguntas serão realizadas sem ofensas pessoais ou morais a nenhum dos candidatos. Além disso, os candidatos poderão pedir direito de resposta caso se sintam pessoalmente ofendidos pelo adversário em qualquer momento do debate.

Todas as respostas e falas dos dois candidatos serão assinadas por eles e pelas associações, com firma reconhecida, para registrar oficialmente o que foi dito no debate. Este documento servirá para a população cobrar do futuro prefeito o cumprimento do que propôs.

As associações que estão promovendo o debate estão muito animadas, pois acreditam que este é um passo importante para que as eleições em Caldas não sejam somente uma disputa de grupos, mas sim um momento para que a população possa conhecer e exigir propostas concretas para a melhoria da cidade.

Este grupo de associações, que nada mais é que um Fórum de Cidadania e Participação Caldense, pretende continuar se reunindo depois das eleições, e já convida as outras associações que não puderam participar até agora. Assim, a população poderá se unir e se organizar para cobrar e contribuir com ideias e soluções para a cidade junto ao Prefeito e aos Vereadores que tiverem sido eleitos. Afinal de contas, segundo o prêmio Nobel José Saramago, "para educar as futuras gerações de modo que possam cultivar corações justos, bondosos e solidários, é preciso ter um sentimento de responsabilidade coletiva, pelo qual um de nós é responsável por todos os outros".

A construção de uma Caldas melhor, mais justa, transparente e participativa é tarefa de todos e todas nós!



Primeiro ministro do Butão fala sobre o FIB e suas consequências nas políticas públicas

31 de Agosto de 2012, 21:00, por Daniel Tygel - 0sem comentários ainda

Discurso do Primeiro Ministro do Butão, Sr. Jigmi Thinley

Abertura da 5a Conferência Internacional sobre FIB (Felicidade Interna Bruta), Foz de Iguaçu, Brasil, 20 de novembro 2009

Fonte: http://www.visaofuturo.org.br/pdfs2/Discurso_...pdf

Eu e a minha delegação estamos deveras encantados de estarmos aqui em Itaipu, às margens dos imponentes rios Paraná e Iguaçu, com suas inspiradoras Cataratas do Iguaçu. É uma honra e uma questão de profunda satisfação para o Governo Real, para o povo butanês e para mim, que a 5a Conferência Internacional sobre FIB – Felicidade Interna Bruta, esteja acontecendo pela 1a vez na América do Sul, neste vasto e grandioso país, o Brasil.

Esse nosso encontro aqui é um testemunho do crescimento da idéia do FIB enquanto um movimento internacional muito além dos limites de uma única nação. A presença de vocês aqui é um indicativo da sua devoção em prol de um melhor modo de viver, em direção a tornar este planeta um lar mais seguro, mais sustentável e feliz, tanto para a humanidade quanto para as demais espécies que não têm voz, mas cujo destino é moldado pelas nossas ações.

Para começar, gostaria de agradecer à Itaipu Binacional por sediar esta conferência, e ao governo brasileiro por facilitá-la. Gostaria também de expressar minha gratidão em particular a três pessoas, pelo seu entusiasmo e árduo trabalho, através dos quais elas foram capazes de frutificar essa importante conferência internacional.

Em primeiro lugar eu gostaria de agradecer a Dra. Susan Andrews, fundadora e coordenadora do Parque Ecológico Visão Futuro. Ela assumiu a enorme responsabilidade de organizar a conferência há um ano atrás, durante a 4a Conferência Internacional sobre FIB, realizada no Butão. A realização da atual conferência é atribuível à sua desenvoltura, comprometimento, e, sem dúvida, à sua convicção de que o FIB é benéfico para toda a humanidade. O incrível trabalho que ela está fazendo neste país para promover o FIB, em vez de meramente falar a respeito, merece a nossa sincera admiração.

Em segundo lugar, sou muito grato ao Dr. Nelton Friedrich, Diretor brasileiro para Meio Ambiente e Sustentabilidade da Itaipu Binacional, pelo seu irrestrito apoio, e por promover inspiração para a conferência. E também ao Dr. Jorge Miguel Samek, Diretor Geral Brasileiro para a Itaipu Binacional, que merece os nossos sinceros agradecimentos pelo seu generoso apoio ao sediar a conferência.

Gostaria de também expressar minha gratidão ao Ministério de Relações Exteriores do Brasil, à Prefeitura de Foz do Iguaçu, e à Itaipu Binacional. Todos nós do Butão estamos nos sentido muito honrados pela generosa hospitalidade.

Evolução do conceito e prática do FIB

Como alguns de vocês talvez não estejam familiarizados com a evolução do FIB, deixem-me começar com um breve pano de fundo.

A jornada do Butão no caminho do FIB foi desfraldada nos início dos anos 1970, com um simples pronunciamento feito por Sua Majestade o Quarto Rei do Butão. Ele declarou que ‘Felicidade Interna Bruta é mais importante do que o Produto Interno Bruto (PIB)’.

Ao assim fazer, o Rei questionou a validade da prevalente crença de que somente o PIB pudesse ser uma métrica de progresso da sociedade. Ele argumentou que o bem- estar geral do seu povo era muito mais importante do que o crescimento econômico (que vem a ser a única atividade medida pelo PIB). O bem-estar, estava convencido o Rei, deve ser enxergado como uma função da felicidade das pessoas.

O Rei manteve a convicção de que era sua responsabilidade, e do seu governo, de criar as condições que possibilitassem às pessoas buscarem e aumentarem sua felicidade. Isso, asseverou ele, poderia ser alcançado através de uma abordagem holística de desenvolvimento, através da qual as necessidades do corpo físico e da mente fossem equilibradas, onde as necessidades de um são complementares às necessidades da outra, contrariamente ao foco no crescimento do PIB, que veio às custas do empobrecimento espiritual e mental.

Foi um questionamento refrescantemente, corajoso e profundo, ainda mais porque veio da mente de um adolescente. A pertinência desta sua questão ainda está por ser vista na experiência de desenvolvimento das últimas quatro décadas. Muito da emergente prosperidade fracassou na provisão de satisfação com a vida e com o bem-estar subjetivo, especialmente no industrializado e rico hemisfério norte, onde, de fato, o nível de felicidade estagnou-se.

O real alinhamento do roteiro para desenvolvimento holístico e sustentável no meu país foi executado metodicamente, sob a clara luz do FIB, através do reinado do Quarto Rei. Isso foi feito principalmente através da formulação de leis e políticas públicas para esse fim. Acreditando na primazia da deliberação pública, do diálogo público e da opinião pública na definição de qualquer meta nacional. Sua Majestade assegurou-se de que o FIB ganhasse apoio e a sensação de propriedade pública consensual, não tanto pela persuasão, mas por causar introspecção.

Tais crenças e práticas guiaram logicamente o rei e o povo para que o país se estabelecesse num deliberado caminho à democracia, com uma aspiração por uma mais elevada meta de cidadania iluminada. O que se seguiu foi a abdicação do trono por Sua majestade o Rei, aos 51 anos de idade, para que se abrisse o caminho à completa democratização do Butão. Trabalhando em parceria com o seu sucessor, ambos deram ao país uma Monarquia Constitucional Democrática, que se estabeleceu em 2008.

Desse modo, a democracia butanesa brotou do ventre do FIB. Sua majestade o 5o Rei, Jigme Khesar Namgyel Wangchuck, que ascendeu ao Trono em 2006, proveu ainda mais estímulo ao FIB. E além disso, a nossa Constituição descreve o estado e o governo como tendo que ser guiados pela filosofia do FIB. Logo, o desenvolvimento do conceito de FIB andou de mãos dadas com a prática do FIB com políticas e programas.

É simplesmente natural, portanto, que o primeiro governo democraticamente eleito, que eu lidero, tenha chegado ao poder através de um manifesto político através do qual o meu partido se comprometeu a prosseguir no caminho do FIB.

Mais recentemente aumentamos as nossas tentativas de transformar e desenvolver instituições de modo que estas sejam estruturalmente alinhadas com a aplicação dos conceitos do FIB na formulação de políticas, desenho e implementação de programas. Como sabemos, este não é o modo normal dos governos se estruturarem ou funcionarem.

Eles normalmente ecoam o paradigma do desenvolvimento condicionado pelo PIB, através do qual a prática é de se ter ministérios correspondentes a setores tais como agricultura, comércio, indústria, fazenda etc. , que mantém suas próprias contabilidades em separado.

A busca do FIB pela sociedade precisa ser refletida na estrutura organizacional do seu governo. Isso implica na criação de ministérios ou departamentos que correspondam àquelas funções ou domínios que promovam ou criem condições facilitadoras para o FIB.

Estas deveriam tipicamente incluir tais agências como ministérios para o bem-estar psicológico, vitalidade comunitária, resiliência cultural e integridade ecológica, etc. Se isso fosse para se tornar realidade num país, então é concebível que outros líderes e seus cidadãos irão se mobilizar para seguir o mesmo caminho, do mesmo modo que as organizações que lidam com temas ambientais surgiram rapidamente nos últimos 20 anos. Essencialmente, minha proposta é de que forma e substância precisam caminhar juntas.

Sem substância, a forma, no caso as organizações, acabará morrendo por falta de propósito e irrelevância, do mesmo modo que uma idéia que não tenha forma para o seu avanço irá simplesmente se dissipar. Similarmente, quando não há uma relação entre uma organização e o conceito do FIB, provavelmente em algum estágio ambos irão operar divergentemente, e o processo se tornará contra producente.

Estou feliz por informar que novas estruturas e processos de tomada de decisão que refletem os objetivos do FIB continuam a evoluir no Butão. A agência de planejamento sócio-econômico do país, conhecida anteriormente por Comissão de Planejamento, foi renomeada para Comissão de FIB, e seu papel foi substancialmente alterado para que planos estratégicos sejam alinhados visando apoiar e atingir valores FIB.

Cada política, programa ou projeto precisa ter agora algum valor FIB. Na pior das hipóteses precisa ser “FIB-Neutro”, ou seja, não prejudicar o FIB. Para este fim, ferramentas de triagem estão sendo testadas para assegurar que valores ótimos de FIB possam ser incorporados e concretizados por meio de desenhos de projetos, ao mesmo tempo em que sejam removidos elementos que sejam opostos ao FIB.

A maneira do FIB ser internalizado pela política, e o modo como deve ser implementado, dependem significativamente de governos que devem ser hábeis no direcionamento dos seus recursos em prol de metas mais elevadas, primordialmente por causar uma mudança para cima na consciência coletiva. Isso então irá, no meu modo de ver, possibilitar que as pessoas moldem a natureza da nossa economia política, dos nossos fundamentos legais, dos nossos sistemas de saúde e educação de tal forma que os tornarão distintamente diferentes do jeito que foram ao longo do tempo.

O conceito de Felicidade no âmago do FIB é a Felicidade Coletiva, que por sua vez tem diversas características. Ao longo dos séculos, a felicidade tem sido relegada à esfera privada, enquanto que a provisão de diversos outros bens e serviços de natureza pública foi trazida para o foco do domínio público.

Todavia, como no conceito de justiça, a felicidade é um bem público, mesmo que experienciada subjetivamente. Enquanto que a felicidade é influenciada por uma estrutura de referência, e, neste sentido, é parcialmente relativa às experiências da pessoa no que tange aos outros ou ao passado, é também, mais importantemente, relacional em caráter.

A felicidade é, de fato, mais relacional do que relativa, porque a qualidade e a profundidade do relacionamento com os outros influencia a nossa felicidade muito mais do que a possessão de uma mercadoria. Alguém pode ser mais rico do que o seu vizinho, mas, além de um mero prazer fugaz, essa pessoa volta à “infelicidade” quando se compara a alguém que é ainda mais rico do que ela, e por aí vai. Sucesso relativo não leva à genuína felicidade. A verdadeira felicidade que surge de uma mais profunda sensação de satisfação tem um alcance além do limiar de prazer gerado pela possessão de mercadorias.

Uma vez que a felicidade tem tanto mais a ver com relacionamentos do que com vantagens relativas sobre outras pessoas em termos monetários, status social, ou possessões materiais, a criação ou o melhoramento das condições que promovem relacionamentos merece muito mais tempo e recursos do que estivemos preparados para dar.

As pessoas são mais felizes quando estão cercadas por outras que compartilham da sua alegria. Similarmente, as dores dos infortúnios são muito mais difíceis de suportar quando se sofre e se chora solitariamente. A solidão e a separação amplificam a tristeza, e são frequentemente as causas que levam as pessoas ao desespero e ao suicídio. A felicidade por sua vez emerge quando os relacionamentos são seguros e vicejantes.

Ela se dissipa em relacionamentos que sofrem a erosão da confiança, do afeto e do cuidado. Relacionamentos podem ser condicionados pelo ambiente físico mesmo quando são na sua maioria criação e produtos do caráter de um indivíduo, da sua personalidade, do seu comportamento e competências sociais. Desfrutar de relacionamentos resilientes e duradouros, e criar organizações e ambientes que façam florescer tais relacionamentos positivos, é um desafio crucial e uma responsabilidade do estado que aspira elevar o bem- estar do seu povo. Nesse sentido, estou convencido que os relacionamentos prosperam melhor no meio rural, onde a interdependência é um modo de vida, e onde se viver em harmonia com a natureza é uma compulsão.

É desconcertante se dar conta de que a migração do meio rural aos centros urbanos seja uma tendência universalmente irreversível. No último século, o mundo se tornou mais urbano do que jamais foi, com mais de 50% da população mundial vivendo em áreas urbanas. À medida que as nossas redes sociais se transformam de pequenos assentamentos rurais para um estilo de vida mais urbano, existe um óbvio deslocamento e uma fragmentação da vida social e comunitária – bem como dos valores que sustentam a vitalidade comunitária.

O crescimento urbano não é inevitável. A urbanização ou a migração da zona rural para a urbana, em particular, é uma fuga que é compelida pelo fracasso dos estados no planejamento e na obtenção de um desenvolvimento equilibrado e equânime. Essa migração se torna atraente quando as populações rurais se sentem privadas e frustradas pela falta de oportunidades, quando testemunham óbvias disparidades, e caem nas garras das ilusões de uma vida melhor e mais excitante nas cidades.

A saída para isso é através da “localização” (ênfase na localidade) da produção e na planejada redução da expansão urbana, particularmente quando esta for evitável. Mas isso é mais fácil falar do que fazer. É nas cidades e nas suas periferias onde todas as formas de atividades econômicas acontecem, é onde as pessoas gostam de fazer os seus “agitos e buchichos”, porque isso faz sentido econômico. Mas reluzentes arranha- céus de aço e vidro – ícones de façanhas de engenharia e símbolos de prosperidade - ocultam em suas sombras uma história que não é assim tão radiante. Desilusões, desespero, crimes e favelas de miséria são freqüentemente a realidade entre um número desproporcionalmente alto de habitantes.

As profundas pegadas carbônicas e o horror ecológico que são discerníveis ao olhar mais atento são os resultados de uma concentração populacional e de um consumismo que viceja melhor nas cidades.

A comida que alimenta os milhões dos centros urbanos viaja talvez a distância mais longa em termos de alimento/quilômetro, que muitas vezes, se estica não apenas de uma área urbana para outra parte do país, mas de uma cidade para as mais distantes cidades do globo.

Trata-se de um desafio para o gestor da cidade dar um fim a estupendas quantidades de lixo urbano, sendo boa parte do mesmo contaminante, que não pode ser metabolizado pela ecologia de concreto e metal dos assentamentos urbanos. E acima de tudo, as conseqüências em termos de ruptura dos elos sociais e filiações comunitárias implícitas à vida urbana não são menos severas. É aqui que o paradoxo da solidão em meio às multidões ocorre numa flagrante realidade. Existe muito que está sendo feito, e muito mais que precisa ser feito para melhorar a qualidade das estruturas urbanas, dos serviços urbanos e da ecologia urbana. Muito mais recursos precisam ser despendidos para melhorar a vida urbana.

Para a maioria de nós, as prazerosas sensações dos cinco sentidos (tato, olfato, paladar, audição e visão) são fontes de felicidade e satisfação. Todavia, uma felicidade cuja natureza dependa de estímulos externos não é apenas efêmera mas até perigosa em boa medida, a menos que seja contrabalançada com contemplação interna ou meditação, para gerar fontes internas de contentamento e felicidade através da compreensão da verdadeira natureza da nossa mente. A própria natureza do mercado numa sociedade consumista é de manter sempre aceso e crescente o fluxo de prazeres fugazes oriundos dos estímulos externos.

Isso acontece através de mais e mais extração dos finitos recursos da Terra para produzir mais e mais daquilo que na verdade menos precisamos, de modo que mais e mais possa ser consumido ou desperdiçado através de sedutores comerciais.

Em última análise, mesmo enquanto insaciáveis consumistas, nós, por também sermos seres inteligentes, teremos que nos reconciliar com a realidade, e chegarmos a um acordo com a idéia de uma ‘condição suficiente’ para a sobrevivência e felicidade para nós mesmos, e, se tivermos qualquer consciência moral, para o bem das futuras gerações e da humanidade em si. Chegaremos a compreender que, além de um certo nível de afluência, adquirir mais não irá aumentar a felicidade. Nos daremos conta que a nossa ganância está destruindo a ecologia que sustenta a nossa vida. Não existe infinitude na fonte da nossa riqueza material que precisa sair da natureza, cuja capacidade de doar está rapidamente se esgotando. Nosso nível de demanda material e de consumo precisa ser determinado pela capacidade da ecologia específica do nosso meio dentro de um parâmetro objetivo, e por aquilo que seja inteligentemente e responsavelmente considerado suficiente ao nível individual.

O equilíbrio entre a economia e a ecologia é uma consideração chave no FIB. A Sociedade Orientada para a Felicidade que eu agora tentarei explicar trata de como a busca da felicidade é algo bom para se fazer não apenas para si próprio, mas também para a sociedade, e porque o ‘coletivo’ é uma parte inseparável do conceito de FIB.

A experiência da felicidade muda através do ciclo de vida de um indivíduo. Seu significado muda com as sensibilidades e com a nossa compreensão e apreciação da interdependência.

Não podemos ser verdadeiramente felizes como indivíduos enquanto houver sofrimento à nossa volta, mesmo que não tenhamos nada a ver com isso. Quanto mais amplo for o horizonte de uma pessoa, mais sensível e holística ela é. Quanto mais essa pessoa se dá conta de que sua felicidade está conectada à dos demais, mais inclusiva se torna sua motivação ética para possibilitar a felicidade dos outros.

Uma pessoa feliz é aquela que não apenas valoriza a felicidade para si, mas também para as outras pessoas, mesmo que em algumas ocasiões isso custe sua individualidade. A boa coisa na busca da felicidade é que ela também é consistente com as noções morais e éticas. Enquanto criaturas sociais, nossas razões para sermos felizes frequentemente envolvem o engajamento em esforços moralmente corretos e que valem à pena serem perseguidos.

Essa sensação de felicidade é uma resposta direta a tal ação. Na estrutura conceitual do FIB, a felicidade é verdadeiramente multidimensional, pois é constituída por muitos elementos e domínios da vida. Se assumirmos que cada indivíduo fosse querer ser feliz por si só, o FIB não seria diferente do conceito da bem conhecida utilidade para maximizar cifras econômicas, motivadas apenas pela sua necessidade de gerar satisfação pessoal.

A busca do FIB significa empreender para criar uma sociedade ou nação na qual a facilitação da progressiva felicidade coletiva seja a meta da governança. Para servir a esse propósito, a sociedade que se adapte e adote metas cambiantes, e por conseguinte defina a si mesma, precisa querer ir contra barreiras e idéias concorrentes que possam ter a força de empurrar a sociedade em direções diferentes ou opostas.

O significativo desfrute da vida como um todo é prejudicado não apenas pelas circunstâncias individuais, pelas falácias cognitivas e a nossa falta de vontade positiva, mas também pelo legado de gerações passadas na forma de condições estruturais que podem tanto impedir – ou nos auxiliar – a alcançar a harmonia da existência ou certos objetivos. Logo, construindo um consenso, motivando, criando e mantendo um desejo verdadeiramente consciente para buscar a felicidade coletiva entre as pessoas se torna uma das principais funções do governo.

Este tem sido o caso no Butão, onde um Rei elevou a consciência do povo quanto ao seu único e mais importante desejo, e articulou-o como a meta nacional. O FIB não é uma meta derivada de um desejo do Rei para o povo, mas uma visão compartilhada que o Rei ajudou a compartilhar.

Os esforços de uma sociedade que seja guiada pelo FIB precisam ser no sentido de promover um exitoso ciclo de vida de nascimento, viver, envelhecer e morrer, bem diferente da ‘armadilha biológica’ da qual escreveu Hemingway. Um nascimento bem- sucedido significa alcançar uma taxa mínima de mortalidade infantil e maternal, seguida de uma feliz infância, educação e criação com doses iguais de firmeza e afeto. Isso pode advir principalmente de uma boa atuação dos pais, que por sua vez é resultante de um casamento seguro e estável.

Uma vida bem-sucedida significa uma vida produtiva, saudável e gratificante, na qual a pessoa ganha a vida fazendo aquilo que lhe dá satisfação sem o custo de ter de ceder às questões de ordem moral ou ética.

Construir e desfrutar de fortes e genuínos relacionamentos é o que faz a vida ser boa. Um envelhecimento bem-sucedido significa permanecer vivaz nos nossos anos mais avançados, sem sucumbir às enfermidades precoces; sem ter que sofrer as indignidades de ser marginalizado pela sociedade; e sem sofrer a falta de respeito, amor e cuidados de apoio daqueles que são considerados sua família.

Finalmente, uma morte bem-sucedida vem a ser uma passagem calma e natural da vida sem arrependimentos em meio a uma dignificante lamentação por aqueles que estão suportando a perda. Creio que a verdadeira grandeza da pessoa é ser vista no momento da sua morte – na sabedoria com a qual ela abraça a verdade suprema sem resignação. Ao nível mais fundamental, a felicidade e o bem-estar coletivos dependem de dois absolutos imperativos que precisamos cultivar. Valorizar e proteger; relacionamentos e meio-ambiente. Já elaborei na 1a variável fundamental.

O segundo imperativo é o ambiente natural, sem a integridade do qual a vida em si não pode ser sustentada.

Mesmo assim, a própria sustentabilidade da natureza se tornou questionável. Suas brilhantes cores estão sendo poluídas por turvos matizes. O reconfortante silêncio intercalado pela própria melodia da natureza, que tem o seu próprio ritmo, não mais existe, ou se torna menos visível e audível, pois fomos entorpecidos e ensurdecidos pelos choques da vida cotidiana e pelo ruído de elevados ‘decibéis’.

Ainda lembro de como na minha juventude éramos capazes de ouvir a ressonância dos terremotos que se aproximavam nos nossos vales antes mesmo que eles de fato chegassem. O ar que respiramos está progressivamente sendo atado com uma série de emissões que carregam tóxicos gases e partículas. Nossos rios estão ou secando ou incapazes de agüentar o envenenamento dos seus tóxicos afluentes, morrendo juntamente com muitas das formas de vida marinha. Mesmo assim, com uma benigna negligência, fazemos ajustes, entre outras formas, ao cunhar estranhos novos termos tais como ‘desintoxicar’ nossos corpos.

Existem muitas outras preocupantes tendências. Como mencionei antes, as aspirações consumistas continuarão a aumentar, até exaurirem os nossos recursos e as chances de sobrevivência das futuras gerações. A população continuará a aumentar. O clima está mudando, assumindo um comportamento errático, que está confundindo o ser humano, a vida animal e as plantações, o que está produzindo resultados catastróficos. Mais freqüentes desastrosas inundações, deslizamentos, secas, incêndios, epidemias são a ordem do dia. A elevação dos níveis dos oceanos é uma crescente ameaça. E as realocações e migrações para longe dos assentamentos costeiros estão separando famílias, minando tradições e erodindo sistemas culturais e sociais. E tem também o gradual colapso da biodiversidade, a emergência dos vetores e vírus em territórios até então desconhecidos, a acidificação e assim por diante. Todos esses fatores ameaçam minar tudo aquilo que alcançamos até agora, socialmente e economicamente falando. A natureza está morrendo. O nosso planeta está enfermo. A restauração da qualidade e da pureza do ar, da luz, do silêncio, da água e do solo é urgente, não apenas para o nosso próprio bem-estar, mas para a nossa própria sobrevivência e a sobrevivência das outras espécies.

Precisamos começar um processo restaurativo e ‘descontaminante’. Precisamos trabalhar ligeiro, e em todos os níveis: individual, comunitário, nacional e global, contra as causas-raíz desses desafios.

Podemos presumir que o bem-estar e a boa saúde possam ser, em grande monta, comprados através de uma renda mais elevada e de uma melhor assistência e tratamento médicos. Avanços em engenharia de saúde pública e descobertas em bio-ciência têm nos dado acesso a tratamentos para uma crescente gama de enfermidades. Mas a maioria dos tratamentos é para doenças não-transmissíveis, resultantes de um estilo de vida insalubre e ao custo de não se devotar tempo para cultivar relacionamentos saudáveis. A natureza do nosso estilo de vida, moldada por sistemas mais amplos, por assim dizer, impôs um enorme custo oculto em nós.

Cerca de 64% das mortalidades no mundo são devidas a doenças não transmissíveis. Em torno de 450 milhões de pessoas – 12% da população mundial – padece de problemas de saúde mental de um tipo ou outro.

Considerando que tais perdas de vida e felicidade sejam evitáveis, é um comentário triste na sociedade em que vivemos. Desafortunadamente, as pessoas continuarão a deslizar para estilos de vida insalubres e fracassos de relacionamento a uma taxa que irá requerer cada vez mais recursos para o tratamento daquilo que seria obstável.

O FIB enfatiza um estilo de vida fundamentalmente saudável em vez de tratamento e cura. Esta não é uma aspiração modesta, porque demandará uma enorme mudança no nosso equilíbrio trabalho-vida-lazer, que por sua vez demandará grandes mudanças na estrutura da economia e das organizações. E mais certamente, tal abordagem irá requerer, em muitos casos, mudanças fundamentais no desenvolvimento das estratégias das sociedades.

A nossa vida no trabalho é inevitavelmente influenciada pelas normas e culturas organizacionais. Há, portanto, méritos a serem reconhecidos ao se promover mudanças no local de trabalho, não apenas para aumentar os níveis de felicidade dos colaboradores em si, mas também pelo fato do que isso gera em benefícios diretos de produtividade, que por sua vez se traduzem em crescimento organizacional sustentado. Um colaborador feliz é um colaborador produtivo.

Faz então sentido orientar o desenvolvimento das áreas de Recursos Humanos e de Sistemas de Gestão como estruturas organizacionais alinhadas com as considerações do FIB. Para começo de conversa, no nível micro, existe um considerável espaço para as regras relacionadas à gestão de pessoas, treinamento e condições de trabalho, premiação e incentivos a serem estruturados para que gerem a maximização da felicidade nas organizações. No longo prazo, uma sociedade orientada pelo FIB precisa receber o ímpeto tanto do sistema educacional quanto da mídia, na medida em que ambos são os mais poderosos fatores que influenciam a compreensão, a percepção, o comportamento e o processo de tomada de decisão das pessoas. Ou seja, a educação e a mídia precisam se tornar esferas de influência que sejam promotoras e apoiadoras da felicidade coletiva. A mídia precisa assumir para si o papel de prover um contínuo comentário sobre temas contemporâneos a partir do ponto de vista do FIB, de modo que as pessoas possam, o mais frequentemente possível, ter uma perspectiva FIB sobre suas próprias vidas, da sociedade e eventos que as afetam. Para os jovens, os valores e práticas do FIB devem ser infundidos nos seus livros escolares.

Aqui, pode ser que seja interessante observar que a mídia no Butão é oficialmente reconhecida como o 4o e independente ramo da governança. Quanto à educação, uma conferência estará sendo realizada no início de dezembro, já no ano que vem, para infundir e embutir valores de FIB no sistema através de cada disciplina, incluindo matemática e atividades extra-curriculares.

A economia do FIB, assim como as finanças públicas, são meios-chave para influenciar e moldar qualquer sociedade. Nenhuma discussão sobre FIB será completa sem que se gastem alguns momentos nesse tópico. Aqui, o papel do governo é supremo em qualquer sociedade, na medida em que se manifesta pelo modo como administra seus recursos, e pelo jeito como formula suas leis, ele mesmo seguindo-as ou ignorando-as.

Se a felicidade coletiva for uma visão a ser buscada principalmente através de verbas governamentais, o nosso sistema fiscal tem que ser coerente com esse objetivo. Todavia, se as alocações orçamentárias, a legislação, os impostos e outras medidas de natureza fiscal forem baseadas em um critério convencional, desprovido de considerações relacionadas ao FIB, essa busca seria fútil, uma vez que os resultados seriam inconsistentes com o FIB.

Isso torna forte o caso de uma fórmula para o orçamento nacional e para um processo que seja radicalmente diferente, e dê aos contribuintes incentivos para que busquem o FIB. Tais atividades, como aquelas que promovam a formação de capital social, tecnologia “verde”, integridade familiar, etc., mereceriam portanto uma consideração especial.

O comportamento e as preferências das pessoas comuns, da forma como são expressos nos seus padrões de gastos, são condicionados por dois fatores. O primeiro está relacionado ao preço dos bens e serviços. O segundo é o conteúdo da mídia. O preço e a mídia mudam a noção do consumidor quanto a valor e comportamento.

Por mais que sejam poderosos os instrumentos, seu papel crítico no cultivo dos valores e comportamentos do FIB precisa ser plenamente apreciado. Infelizmente, os preços dos bens e serviços e o conteúdo da mídia atualmente não refletem os verdadeiros custos ambientais e sociais, nem tampouco os outros custos de natureza comunitária, cultural, etc. Como resultado disso, as escolhas que as pessoas fazem têm pouco a ver com a criação de um real valor, ou com a promoção de comportamentos que gerem felicidade num ambiente sustentável.

É imperativo que o custo total da contabilidade nacional, que leva em conta, entre outras coisas, uma análise da pegada ecológica, se torne uma prática corrente. Tal nova forma de contabilidade deveria refletir plenamente os custos culturais, sociais e ecológicos, conforme eu frequentemente tenho enfatizado, e como está mencionado no Relatório da Comissão Sarkozy. Isto nos permitirá chegarmos aos custos reais dos bens e serviços, levando à determinação de um sistema de preços mais acurado, o qual, por sua vez, pode se tornar a base para um sistema fiscal mais significativo e responsável.

De todas as pinceladas que foram usadas para pintar o século passado, dois pincéis proveram as linhas mais definidoras. Primeiro, foi a democracia, e segundo, a abrasiva pincelada do PIB. Bem apropriadamente, o Século XX pode ser referido como o século da democratização, e o período (2a metade) do fetiche do PIB. Enquanto o primeiro fez muito para promover o direito individual e a liberdade, o segundo fez com que os adoradores de todas as fés se ajoelhassem perante o altar do consumismo e do onisciente mercado.

O PIB foi adotado inquestionavelmente como o indicador para medir o crescimento das economias, através do qual seres humanos foram reduzidos a entidades consumidoras, e o progresso da sociedade entendido como significando apenas crescimento econômico. Assumiu-se que, à medida que as economias crescessem, as pessoas devessem se tornar mais felizes, mesmo às custas de uma crescente desigualdade, mais poluição, crime ou doenças. O que importa sob a ethos do PIB é a produção e o consumo transacionados na tela dos mercados.

Nada é para se interpor no caminho do livre mercado, e a democracia serviu para baixar a resistência à dominância do mercado. Falando em democracia e liberdade, as políticas governamentais precisam responder às deliberadas preferências das pessoas. Estas são influenciadas pelo critério público que adotamos e popularizamos como indicando sucesso. É nesse contexto que precisamos questionar até que ponto os critérios públicos de sucesso associados ao PIB estão nos servindo bem, e até que ponto eles estão nos orientando em direção a uma governança e a um desenvolvimento satisfatórios.

O crescimento econômico, conforme medido pelo PIB, bem como a ênfase na eficiência econômica, tem dado margem ao nível mais elevado de riqueza agregada jamais visto no planeta. Mas mesmo assim o número de vítimas da pobreza e sua vulnerabilidade a toda sorte de ameaças estão no seu ápice. Não apenas calamidades naturais estão golpeando com uma fúria e freqüência cada vez maiores por conta do colapso da biodiversidade e da mudança climática, mas muitos outros desastres feitos pelos seres humanos, resultantes de fracassos sistêmicos da nossa estrutura macroeconômica, têm começado a afetar a todos nós que estamos integrados num mundo globalizado pelo comércio e pelas finanças.

Nem mesmo os ricos estão imunes, como ficou claramente demonstrado pela crise global mundial, que expôs a natureza ilusória da riqueza como o PIB nos faria definir.

Por um tempo demasiado longo, o PIB e o mercado têm nos iludido ao nos fazer pensar que eles são a medida e a fonte do nosso bem-estar. Temos ficado todos sob a sua influência e pressão para avaliar nosso desempenho nacional e as nossas preferências sociais segundo a moldura da “mania do crescimento”. Qualquer movimento para cima dos índices do PIB significou sucesso para a sociedade e um maior índice de aprovação para o governo e seus líderes.

Deixe-me repetir. Temos dispensado pouca importância à compreensão de que o que está sendo medido é principalmente a soma dos bens e serviços produzidos e trocados no mercado, que por sua vez são comunicados em termos quantitativos e relativos.

Tal informação nada divulga sobre crime, abuso de drogas, suicídio, acidentes de trânsito, estabilidade da família, integridade da nossa ecologia, justiça e igualdade, e, acima de tudo, o nível de felicidade do nosso povo. Pelo fato de nos termos tornado “animais econômicos”, e abandonado a nossa razão à mentalidade da ‘manada do PIB’, perdemos de vista as outras mais importantes mudanças e eventos que na verdade significam mais para os seres humanos.

É chegada a hora de mudar o critério do conjunto de indicadores de sucesso público. Para esse fim, precisamos encontrar a vontade e utilizar a genialidade que nos é inerente para desenvolver e adotar uma mais verdadeira e humanista definição de riqueza e crescimento, que abranja os valores pelos quais devemos lutar. Estes deveriam ser medidos em termos de domínios de valor, através dos quais a sociedade possa, perpetuamente, desfrutar de abundância e prosperidade em meio à felicidade. Gostaria de, humildemente, mostrar que o Butão tem impulsionado seu desenvolvimento nacional através de quatro estratégias usualmente conhecidas como os quatro pilares do FIB. Estes por sua vez são fundamentados em nove domínios de valor (a saber: bem-estar psicológico, vitalidade comunitária, resiliência cultural, uso equilibrado do tempo, sensibilidade ao meio-ambiente, padrão de vida, saúde, educação e governança), que então compreendem 72 mensuráveis variáveis, as quais, quando agregadas, formam o indicador de felicidade nacional.

Mas voltando à metáfora, o que a pintura do Século 21 precisa é um terceiro pincel que possa trazer o melhor dos pincéis da democracia e do PIB, e também acrescentar uma variedade de cores e linhas que embelezarão a pintura com brilhantes ondulações de felicidade. Falando claramente, precisamos, neste novo século, de uma métrica composta que incorpore boa governança e crescimento material como parte de um compreensivo conjunto de índices para induzir e medir o progresso holístico da sociedade, e o mais importante: bem-estar humano e felicidade.

Nenhuma instituição humana pode nos servir para todas as eventualidades sem se submeter à mudança, mesmos que essas próprias instituições sejam os agentes de mudança. É imperativo que não retardemos ainda mais os nossos esforços para transformar e construir novos sistemas e arranjos. Quanto a isso, a insatisfação generalizada com o sistema econômico global, que está no limite, nos deveria dar a razão para sentirmo-nos encorajados.

E uma vez que nos tornemos conscientes do nosso destrutivo modo de vida, a crescente busca por uma nova arquitetura macroeconômica que não seja nem aquela do mercado completamente livre, como entendida no sentido neo-liberal, nem tampouco completamente socialista, nos dá razões para sermos otimistas.

Essa busca nos preenche de esperança de que essa silenciosa e incessante energia, tão evidente nessa nossa reunião, carregará a sociedade a uma era de uma vida racional e iluminada.

Permitam-me concluir. A sociedade como um todo, contrariamente aos indivíduos, não pode avançar coerentemente sem uma unidade de propósito. Será que alguém realmente gostaria de argumentar contra uma visão de felicidade coletiva? Estou ciente de que existem os céticos que contestariam o fato de que a natureza subjetiva da felicidade não permite o conceito de que esta oriente a governança de qualquer sociedade. Aqui, precisamos distinguir entre dados subjetivos e a interpretação subjetiva dos dados, uma vez que estas são duas coisas completamente diferentes.

Uma interpretação subjetivamente tendenciosa de dados é em geral não-científica, assim como o é no FIB. Por outro lado, dados subjetivos são a única informação que pode refletir um relato na 1a pessoa.

Estados subjetivos não são, por definição, capturados pelos dados objetivos Eu argumentaria ainda mais: que os dados subjetivos, quando elucidados de forma apropriada, podem ser o principal conjunto de informações que represente a realidade dos nossos sentimentos e da nossa consciência. Não há outro modo de sabermos como nos sentimos sobre a felicidade.

Tal desconfiança quanto aos dados subjetivos tem sido o principal impedimento contra a inclusão da felicidade na governança e no planejamento do desenvolvimento. Essa desconfiança tem obscurecido a felicidade no domínio da governança. Onde uma verdadeira infelicidade existe, então certamente algo está errado.

Não vejo razão para que esperemos por séries de dados objetivos sobre pessoas que estejam infelizes, quando sabemos que a realidade do sujeito é, em ultima análise, subjetiva. Nem tampouco enxergo qualquer conflito entre dar à felicidade um foco maior na formulação de políticas com direitos e liberdades. Pelo contrário, no contexto do FIB, um foco maior na felicidade posiciona o que todos os seres valorizam no centro para a formulação das políticas públicas.

Acredito que a nossa geração não apenas tenha a responsabilidade moral, mas a oportunidade de corrigir o que esteja errado em nosso modo de vida. A próxima geração talvez não tenha o tempo ao seu lado, considerando que todos os erros acumulados terão atingido um ponto irreversível.

Como podemos ser felizes quando sabemos que as gerações que nos sucederão se defrontarão com desafios bem maiores para a sua sobrevivência, e o que dirá serem de fato felizes? Precisamos começar a viver novamente como uma raça humana, como seres civilizados, como seres que não são apenas aqueles do corpo, mas da mente também.

Grato pela sua indulgência.

 

Sua Excelência o Primeiro Ministro do Butão Jigme Thinley



Imagem do Bem Viver (Sumak Kawsay / Buen Vivir)

31 de Agosto de 2012, 21:00, por Daniel Tygel - 0sem comentários ainda

Linda imagem por Olman Bolaños, www.parabolascr.com, para o boletim da Red Mujeres para el Desarrollo de setembro de 2012



O que devemos discutir na V Plenária? Algumas reflexões a partir do massacre de grevistas na África do Sul

16 de Agosto de 2012, 21:00, por Daniel Tygel - 1Um comentário

    Vejam a lógica das notícias: como os miseráveis trabalhadores (favelados) das minas, que depois do Apartheid continuaram miseráveis, estavam prejudicando os lucros de uma empresa multinacional de Platina, que também eram lucros para o governo, então valia a pena matá-los (mais de 30, assassinados).
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/08/confronto-de-policia-e-mineiros-na-africa-do-sul-mata-36-diz-sindicato.html

    Vejam que é dito, na notícia, que os "policiais foram forçados a atirar, pois estavam sendo atacados e o único jeito de dispersar era matando". Vejam que em nenhum momento se comenta o absurdo que é a polícia continuar lá presente se 3 mil trabalhadores com ódio gigantesco estavam lá. O correto era a polícia ter se retirado, e a presidência entrar em negociação direta. Vejam a naturalidade com que os meios de comunicação "justificam" a presença da polícia pelo fato daquelas minas serem responsáveis pela produção de 96% da platina do país, e a terceira maior produção do mundo.

     Vejam como as reivindicações dos trabalhadores não são citadas. Vejam como nenhum mineiro é ouvido.

     Isso é o mundo em que vivemos. É raro que a polícia abra tiros desse jeito, mas isso aconteceu aqui em Pinheirinho, com apoio do governo estadual de São Paulo. O que não é raro é que a propriedade privada dos ricos, grandes empresas transnacionais, seja protegida com todos os mecanismos do Estado à disposição: regulamentos legais, financiamentos, policiamento, todo tipo de seguranças e garantia. Se uma pessoa pobre se levanta contra o lucro, é um criminoso.

     Esta defesa intransigente dos lucros e da propriedade privada dos enriquecidos está por trás de boa parte das obras de infra-estrutura no Brasil e demais países, como a TKSA, Belo Monte, Transposição do São Francisco e tantas outras hidrelétricas, portos, estradas. Está por trás também do agronegócio e da violência no campo. Do uso abusivo de venenos e sementes de grandes empresas e dos vários mecanismos de coerção, assistência técnica e proteção das empresas. Está por trás da criminalização dos movimentos sociais.

      Isso é, na minha opinião, umas das coisas que precisam ser discutidas na V Plenária Nacional de Economia Solidária: quais os significados e impactos da autogestão, do trabalho associado e da cooperação ao invés de competição na organização da economia? O que significa uma economia para a vida e não para o lucro? Que estratégias devemos usar para conseguir lutar por um reconhecimento da economia solidária como motor de um outro desenvolvimento?
 
     Aliás, por que a economia solidária não recebe apoio quando se baseia na cooperação e na autogestão, mas só recebe apoio se ganha uma carinha de "empreendedorismo social" e microempreendedores ou ação social contra a pobreza? Por que? Será que é por que não damos resultados econômicos em termos de PIB? É isso? Ou será que a economia solidária não interessa a um Estado totalmente ligado a interesses do grande capital, dos ricos, das multinacionais?

      Na minha opinião, este debate mais amplo é necessário. Tivemos coragem e ousadia em negar a fusão da economia solidária com o microempreendedorismo "sebraeano", com a ideia de "capital social" (ganhar dinheiro fazendo o "bem"), em 2011 na discussão do PL865. Conseguimos lograr uma importante aliança com alguns movimentos durante o encontro de Diálogos e Convergências em setembro de 2011 (vale ler a carta final do encontro! ela se encontra em www.dialogoseconvergencias.org). Conseguimos agora nos colocar durante a Cúpula dos Povos claramente contra a economia verde e sua mercantilização da vida.

      Mas é bom entendermos o que isso significa: ter posicionamento pela vida e contra o lucro implica em ser criminalizado, ser isolado, e ter setores torcendo para que os empreendimentos solidários não vão para frente. Os empreendimentos solidários têm dificuldades por não terem nenhum tipo de apoio, enquanto as empresas convencionais têm todo tipo de apoio, desde o cultural, financeiro, de logística, de financiamento, de isenções tributárias e até mesmo de vigilância sanitária, por seu modo industrial de produção, contrário ao modo mais artesanal e comunitário da economia solidária.

     Ao tomarmos posição, temos também que ter clareza de que nos colocamos "contra a corrente", até mesmo de setores chamados de progressistas, como grupos de algumas centrais sindicais ou de partidos "progressistas". E ao nos colocarmos contra a corrente, temos que lutar para ganhar um reconhecimento como motores de outro desenvolvimento. E nos alinhar com outros movimentos sociais à luta pela mudança do modelo de desenvolvimento.

      Acredito que este tema enriquece o debate da V Plenária Nacional. Pois às vezes sinto um excesso de disputas internas em alguns dos fóruns estaduais, muitas vezes por migalhas e restos de programinhas e ações, enquanto deveríamos estar olhando para o conjunto da sociedade neste contexto atual. É por isso que a V Plenária é diferente da IV Plenária. A IV Plenária, em 2008, era de reestruturação e debates internos sobre o FBES. A V Plenária, por sua vez, necessita ter como foco uma análise da situação contextual e das lutas que são necessárias travar por parte do movimento de economia solidária.

      E isso é difícil, pois o simples fato de sobreviver como um empreendimento solidário hoje é um ato de luta. Por isso o movimento de economia solidária, assim como o de agroecologia, são diferentes de muitos outros movimentos.

       Não é uma luta só de reivindicação e crítica ao sistema, mas principalmente uma luta em fazer a ação econômica no dia a dia, produzir, consumir, vender, com outra lógica. É uma política do cotidiano (daí a importância enorme do movimento de mulheres e da educação popular influenciando o movimento de economia solidária), que não se manifesta em massivas demonstrações populares, mas sim em lindos e diversificados produtos e serviços produzidos e comercializados a partir de princípios e valores não capitalistas (não-capitalista significa aqui: "não centrado no acúmulo de capital", ou seja, "não centrado no lucro, mas sim no cuidado e na reprodução da vida").

      Como fazermos um movimento social diferente, com a cara da Economia Solidária? Esta é outra questão que julgo importante para a V Plenária. A partir das práticas existentes, de cooperação, organização em rede, realização de feiras, construção de bancos comunitários e fundos rotativos, de centrais de comercialização solidária, de incubadoras universitárias... são tantas manifestações diferentes da Economia Solidária. Como dar mais visibilidade a isso? E como impedir que isso seja confundido com as palhaçadas da "responsabilidade social empresarial", da "economia social", da visão-sebrae de microempreendedorismo, e da visão dos governos federal, estadual e municipal de que economia solidária é apenas uma ação social?

       Vamos discutir isso? É para isso que servem os Fóruns de Economia Solidária: para servirem de referência e de base às pessoas que fazem o movimento de economia solidária. Disputas ou alianças confusas com setores da economia social e empresarial só fragilizam esta "casa". Que tal cuidarmos de nossas casas? Fazer dos Fóruns de Economia Solidária a casa em que as/os trabalhadores de empreendimentos solidários e de entidades possam se encontrar, celebrar, se reconhecer, partilhar suas dúvidas, dores, lutas, experiências, conquistas e outras práticas do dia a dia?

       A Plenária não pode também se resumir a ficar olhando somente para pequenos programinhas que existem ou somente para políticas públicas. A Plenária é diferente de uma Conferência. A Plenária é do movimento de economia solidária. Uma conferência é uma ação governamental de discussão de políticas públicas. Temos que ir muito além disso.

       Que tal se a Plenária for um momento lúdico, de encontro, de festa popular, em que possamos nos reconhecer, olhar nossas práticas e experiências, e perceber as tantas coisas legais que estão acontecendo neste país na economia solidária? São milhares de exemplos bonitos e fortes, em todo o canto deste belo país. Que seja momento de encontro e cooperação, e não de "disputa" aos moldes sindicais ou partidários. Que consigamos lidar com as diferenças internamente, mas sem perder a identidade!

       Reproduzo abaixo o resultado das audiências públicas do PL 865, no ano passado. Acho que são inspiradoras para vermos o que é e  o que não é a economia solidária. Seguem abaixo.

       Deixo, com estas breves reflexões, um abraço carinhoso a cada um e cada uma que, ao viver da economia solidária, está dando um passo de transformar nossa sociedade. Esta é a verdadeira luta, que precisa de trincheiras, que são os fóruns de economia solidária.

        Vamos que vamos, rumo a V Plenária Nacional de Economia Solidária!

            Carinho,

                    daniel

lua nova de agosto de 2012

Leia abaixo um pequeno trecho do documento entregue à Presidência da República em agosto de 2011 depois das audiências públicas estaduais e nacional. Apś a entrega deste documento, o governo voltou atrás e dissociou a economia solidária do microempreendedorismo. O documento encontra-se em:
http://www.fbes.org.br/?option=com_docman&task=doc_download&gid=1452


1. Identidade da Economia Solidária

A análise das centenas de falas nas audiências públicas é uma verdadeira aula a respeito do que é a economia solidária. A riqueza de expressões e formas de definir este fato social e econômico do Brasil é difícil de sintetizar aqui, mas é possível apontar-se alguns elementos recorrentes (as atas e relatórios estão em www.cirandas.net/pl865/relatos ):

Economia Solidária como estratégia de desenvolvimento territorial, sustentável, diverso e solidário: ao invés de ser reduzida ao aspecto meramente produtivista, a Economia Solidária manifesta-se de distintas formas em relação com a comunidade, o bairro, a cidade, na articulação de redes e cadeias solidárias de produção, comercialização e consumo, além das iniciativas de finanças solidárias (bancos comunitários e fundos rotativos). A Economia Solidária é, portanto, uma estratégia diferenciada de desenvolvimento, construída a partir dos atores locais, com sua diversidade étnica, racial, ambiental, cultural e econômica, e com valores de solidariedade, cooperação, democracia e preservação ambiental.

Economia Solidária como opção de organização da Economia Popular: surgem em várias falas a experiência concreta de organização de artesãos, catadores, agricultores, autônomos em empreendimentos solidários coletivos como forma de fortalecimento econômico e político. Inúmeros depoimentos demonstram a capacidade da Economia Solidária oferecer um caminho para que empreendedores e pequenos negócios possam se organizar e se fortalecer e ao mesmo tempo fortalecer seus pares nos territórios.

Economia Solidária como estratégia emancipatória de luta contra a pobreza: Nos mais diversos ramos de atividade, a Economia Solidária desencadeia processos de emancipação econômica e maior participação social de pessoas normalmente marginalizadas do sistema econômico em vigor. Pessoas que nunca seriam contratadas numa empresa se organizam, ampliam sua auto-estima, partilham seus conhecimentos populares e se tornam protagonistas da ação econômica em suas comunidades. Este acúmulo do movimento permite que a Economia Solidária consiga chegar onde as políticas convencionais de desenvolvimento não conseguem, dando resultados de grande impacto positivo com baixo investimento.

Economia Solidária e a diversidade cultural, étnica, racial: Destacam-se nas falas a presença de povos e comunidades tradicionais, tais como pescadores artesanais, quilombolas, indígenas, ribeirinhos, entre outros, além de grupos e iniciativas de cultura popular organizadas na Economia Solidária. A Economia Solidária tem uma capacidade de lidar com as várias lógicas econômicas e de vida existentes no país, pois é feita por estes atores.

Economia Solidária e emancipação econômica das mulheres: A importância da Economia Solidária para a emancipação econômica das mulheres foi repetidamente frisada. Hoje boa parte das lideranças do campo da Economia Solidária são mulheres, que através da atividade econômica associada ampliam sua participação em espaços públicos nas comunidades e territórios. São milhares de empreendimentos de economia solidária em que as mulheres ganham sua autonomia financeira e auto-estima para enfrentar os desafios estruturais em combater uma sociedade ainda machista.

Transversalidade da Economia Solidária na sociedade: Percebe-se a importância da articulação existente da economia solidária com setores importantes como agroecologia, agricultura familiar, artesanato, catadores, mulheres, povos e comunidades tradicionais, segurança e soberania alimentar e nutricional, ambientalismo, agroextrativismo, segurança pública, territórios da paz, territórios da cidadania, moradia urbana, saúde mental, reforma agrária, entre tantos outros. São inúmeros setores e movimentos que, em suas práticas econômicas, fazem Economia Solidária, e que têm suas propostas de desenvolvimento e sociedade incorporadas pelos princípios, valores e expressões da Economia Solidária.

Transversalidade da Economia Solidária no poder público: Muitos parlamentares e gestores públicos municipais, estaduais e federais manifestaram-se sobre a transversalidade das políticas públicas de Economia Solidária, o que exige lugares institucionais de articulação estratégicos nos governos. As áreas de governo contempladas vão deste agricultura e pesca a inovação tecnológica, desenvolvimento econômico, meio-ambiente, cultura e ordenação urbana.


2. Distinção entre a Economia Solidária e a Micro e Pequena Empresa

Para além de uma afirmação da identidade da Economia Solidária, as audiências públicas deixaram claro que, se a Micro e Pequena se define por uma forma jurídica específica e faturamento, a Economia Solidária é uma estratégia de desenvolvimento. Neste sentido, não se pode pensar as duas coisas como sendo equivalentes ou comparáveis. Segundo a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas (LCP 123/2006), "consideram-se microempresas ou empresas de pequeno porte a sociedade empresária, a sociedade simples e o empresário a que se refere o art. 966 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, devidamente registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que: I - no caso das microempresas, o empresário, a pessoa jurídica, ou a ela equiparada, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais); II - no caso das empresas de pequeno porte, o empresário, a pessoa jurídica, ou a ela equiparada, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 2.400.000,00 (dois milhões e quatrocentos mil reais)".

A Economia Solidária tem como atores fundamentais os empreendimentos de economia solidária, que podem ser grandes ou pequenos, e que podem se constituir a partir de diferentes formatos jurídicos, inclusive a própria forma jurídica da microempresa. O Decreto 7.358/2010, que cria o Sistema Nacional de Comércio Justo e Solidário, reconhece legalmente o empreendimento econômico solidário, não pela forma jurídica, mas sim pelas relações efetivas de autogestão, democracia interna e trabalho associado das/dos trabalhadoras/es envolvidas/os (preponderância do trabalho associado sobre o trabalho subordinado/assalariado).

Ao se falar de Economia Solidária, entretanto, está se falando muito além dos empreendimentos econômicos solidários em si, mas de um campo amplo de relações sociais e econômicas. Fazendo uma analogia: falar de “desenvolvimento” não é, em hipótese alguma, equiparável a se falar em “empresa”, apesar da empresa ser um dos atores do desenvolvimento.

Portanto, assim como não há um “Ministério do Agricultor Familiar”, mas sim de “Desenvolvimento Agrário”, nem há um “Ministério da Grande Empresa”, mas sim um “Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior”, não há sentido buscar fazer equivalência entre os termos “Economia Solidária” e “Micro e Pequena Empresa”: são campos de ordens completamente distintas.

Fonte: http://www.fbes.org.br/?option=com_docman&task=doc_download&gid=1452



ondas...

9 de Agosto de 2012, 21:00, por Daniel Tygel - 0sem comentários ainda



Vídeo "Sobre Cirandas e Cirandar"

7 de Agosto de 2012, 21:00, por Daniel Tygel - 33 comentários

Outros detalhes (incluindo o texto lido) seguem mais abaixo, depois do vídeo...

IMAGENS:

  • Klemperer's Dream e Swarm, de galaxydynamics (http://www.youtube.com/user/galaxydynamics)
  • Campanha pela Lei de Economia Solidária (Fórum Brasileiro de Economia Solidária - http://www.fbes.org.br)


TELAS DO CIRANDAS:


TEXTO:

O texto original encontra-se em:
http://cirandas.net/leilarita/blog/sobre-cirandas-e-cirandar

O texto adaptado ao vídeo segue abaixo:

SOBRE CIRANDAS E CIRANDAR (adaptação)

Fonte: http://www.desaguares.blogspot.com.br/2012/08/cirandas-e-cirandar.html

Cirandar enquanto movimento que gira que gera que promove que acolhe.

Que Lança.

Lançar...
 
Existe a lei da gravidade que atrai corpos e os impulsiona para frente, fazendo com que o tempo gasto entre o ponto de partida e o ponto de chegada diminua através de uma "reorientação" da rota.

No movimento desse processo gravitacional  em que corpos são atraídos e são lançados, não haveria aí, uma relação com a rede CIRANDAS.net ? Uma relação que está na imagem do "lançamento", da força que o CIRANDAS tem de atuar com estes milhares de grupos que se baseiam na cooperação, sem precisar de patrão nem empregados, e que lutam para sobreviver e superar o sistema capitalista competitivo. 

Para esses grupos, o CIRANDAS entra como "instrumento de propulsão" para se lançarem no mundo, na orbita do Reconhecimento. Pessoas e grupos que estão  no anonimato, e que através do movimento de cirandar conseguem estabelecer contato com "outras cirandas", outras órbitas. E a partir desse contato são lançadas a quilômetros luz na construção de uma nova mentalidade, de uma nova forma de se sentir e de pensar, na construção de "Constelações Cirandeiras".

Pessoas e grupos que interagem entre si, que se fortalecem e que, com certeza, "Sem pressa nem Pausa", promoverão a grande mudança.

Parece que o movimento é lento, mas o Tempo daqui não é o Tempo de lá...



Funk da autogestão versus economia verde

4 de Agosto de 2012, 21:00, por Daniel Tygel - 0sem comentários ainda

Veja descrição abaixo / Vea descripción abajo / Description en bas / Description below...

Português: Funk da autogestão contra a economia verde, criado por vanessa e daniel durante a marcha global na Cúpula dos Povos no dia 21 de junho de 2012. Ele foi um dos "hits" cantados pelo pessoal dos movimentos da Economia Solidária e da Agroecologia na marcha. O vídeo foi gravado logo após a marcha, e é cantado por Vanessa com "ritmo" de Daniel, acompanhados por Nicolás, Yasy, Tatiana, Lígia, Fernanda, Adriana e Eric. Gravado por Tatiana.

Español: Funk de la autogestión contra la Economía Verde, creado por vanessa y daniel durante la marcha global de la Cumbre de los Pueblos el 21 de junio de 2012. Fue uno de los "hits" cantados por la gente de los movimientos de Economía Solidaria y Agroecología en la marcha. El video fue grabado poco después de la marcha, y es cantado por Vanessa y con "ritmo" de Daniel, acompañados por Nicolás, Yasy, Tatiana, Lígia, Fernanda, Adriana y Eric. Grabado por Tatiana.

Français: Funk de l'autogestion contre l'économie verte, créé par vanessa et daniel au cours de la marche globale au Sommet des Peuples le 21 Juin 2012. Il était l'un des "hits" chanté par les gens du mouvement de l'Économie Solidaire et Agroécologie dans la marche. La vidéo a été enregistrée juste après la marche, et elle est chantée par Vanessa avec «rythme» de Daniel, accompagnés par Nicolas, Yasy, Tatiana, Lígia, Fernanda, Adriana et Eric. Enregistrée par Tatiana.

English: Funk "Self-Management Against Green Economy", created by vanessa and daniel during the global march in the People's Summit on June 21, 2012. It was one of the popular "hits" sung by people in the Solidarity Economy and Agroecology movements during the march. The video was recorded shortly after the march. It is sung by Vanessa with Daniel's "rhythm", accompanied by Nicolas, Yasy, Tatiana, Lígia, Fernanda, Adriana and Eric. Recorded by Tatiana.



Com a palavra, as/os maias sobre 2012, antes e depois

2 de Agosto de 2012, 21:00, por Daniel Tygel - 0sem comentários ainda

Filme maravilhoso! Une toda a base da espiritualidade maia; do que chamamos de novos caminhos de desenvolvimento; e a luta dos povos indígenas de origem maia contra os grandes projetos.

Um sentido profundo e concreto para este fim de ciclo segundo os calendários maias..... O espiritual e o político articulados..... a tristeza dos ataques do lucro desenfreado e a esperança pela autodeterminação dos povos.

Seguem abaixo o filme e a descrição resumida.

Lindo...

O filme (em espanhol, com 1h04):

Descrição:

http://www.2012palabramaya.org

Todo el mundo habla de las Profecías Mayas sobre el 2012
¿Pero quién está escuchando a los mayas?

Este innovador documental nos acerca a las voces de las personas mayas , que nos comparten su visión de las profecías de sus ancestros y su lucha por defender a la Madre Tierra y a su cultura de la destrucción.

2012 La Palabra Maya es un mensaje de esperanza y una llamada a la acción. A través de los testimonios de mayas contemporáneos de todo Mesoamérica, desde guías espirituales a activistas, líderes comunitarios, campesinos, artistas, maestros, niñas y niños, este documental nos lleva a un extraordinario viaje al corazón de la lucha y la espiritualidad Maya.



Las "tejituras" de cuerpo y de alma

5 de Julho de 2012, 21:00, por Daniel Tygel - 1Um comentário

peuntes que se construyen... entre el magico y el cotidiano... el arte de manejar el tiempo



À noite fui perseguido por um Objetivo

4 de Julho de 2012, 21:00, por Daniel Tygel - 0sem comentários ainda

Anoche me acechaba un objetivo

Por Luis Miguel Rivas G.

Desde que ingresé a la nómina de la COCOCOCO (Corporación para la Coordinación de Comités de trabajo Comunitario en las Comunas) mi vida ha sido una constante entrega, generalmente a costa de mi propio tiempo, que lo diga mi mujer, a la causa de los más pobres. El espíritu filantrópico que palpitaba en mí desde niño encontró la posibilidad de realizarse cuando fui nombrado funcionario de la COCO, como abreviadamente y con cariño nos referimos mis compañeros y yo a nuestra entidad.

Mi escritorio está lleno de documentos. Algunos los ha escrito gente muy inteligente que escribe sobre los pobres y que yo leo muy admirado. Otros los he escrito yo después de haber leído los que son escritos por esas personas inteligentes que yo tanto admiro. Me pagan muy bien para que todos los días escriba muchas hojas que después separo por montoncitos. Al completar cada montoncito le escribo una portada y le pongo un clip. Cada uno de esos montoncitos así organizados se llama Un Proyecto.

Todas las mañanas llego a mi oficina a las ocho en punto, sirvo un tinto y me clavo en el escritorio a machacar objetivos generales y específicos. Para que el lector lego en estos asuntos se haga una idea de lo que es un objetivo pasaré a dar un ejemplo:

Objetivo General

Elaborar un diagnóstico que dé cuenta de los ítems que configuran el contexto social dentro del cual se inscribe la problemática específica de las comunidades involucradas en las dinámicas transaccionales de la cultura popular.

Pues bien, eso es lo que yo escribo todos los días desde las ocho de la mañana hasta las seis, siete, ocho, nueve o diez de la noche. Pero no sólo eso escribo. También redacto Justificaciones, que son cosas parecidas a un objetivo, pero mucho más largas, con un estilo más coloquial y un toque más publicitario. Y Marcos Teóricos, que son parecidos a las Justificaciones pero mucho más largos y con frases encerradas entre comillas que yo saco de los documentos escritos por esas personas inteligentes que admiro tanto. Pero de todos modos los más absorbentes son los Objetivos. Me he pasado un día completo buscando la palabra precisa para empezar a darle vida a uno de ellos. Empiezo escribiendo “fomentar” y luego lo cambio por “promover”, tacho y anoto “motivar”, aplico el corrector del frasquito blanco y pongo encima “estimular” y después borro y pongo otra y otra y otra palabra terminada en “ar”, “er” o “ir”, hasta que me recorro todo el Pequeño Larousse y termino llorando recostado sobre el escritorio y compruebo lo doloroso que es trabajar por la construcción de un país mejor.

Anoche, después de abandonar la oficina a las diez de la noche, llegué a mi casa con una gran preocupación porque a esas alturas debía tener listos cinco montoncitos con su portada y su clip, y sólo había podido terminar tres. Mi mujer, que a veces se cansa de no verme en casa, me dijo, poniéndose un poco roja y tirando al suelo las boletas que tenía reservadas para el concierto de la Orquesta Sinfónica, que estaba bien que llegara tarde, pero que encima de eso llegara haciendo malacara y sin hablarle ni a los hijos, ya era el colmo.

—En el contexto —le contesté— de nuestra relación, querida, habíamos preestablecido desde el principio unos espacios de autonomía relativa. Fue una decisión producto del consenso, socializamos nuestros respectivos puntos de vista y definimos, dejando de lado presupuestos machistas, feministas o de cualquier tipo de dominación, que cada uno contaría con su segmento de libertad. Además —seguí diciéndole mientras la miraba con ternura— tu reacción beligerante, intolerante, ante el conflicto, cierra las posibilidades del diálogo y la negociación.

Luego rematé diciendo: “Por eso este país está como está” y con la mirada al frente me dirigí directamente a nuestra cama matrimonial, donde caí como una piedra. Soñé que andaba por una calle oscura en una noche lluviosa. Caminaba preocupado, tenso, pero no sabía por qué. De pronto al voltear una esquina apareció una figura pesada y oscura, con las manos puestas en jarra y mirándome fijamente con gesto de reproche. No tuve que hacer esfuerzos para reconocerlo: Era un Objetivo General. El pánico se apoderó de mí y antes de emprender carrera alcancé a oír que me decía: “Me planteaste mal”. Tenía piernas largas y mucha más agilidad que yo. Crucé calles y avenidas con toda la velocidad de mis piernas enclenques y el Objetivo General cada vez estaba más cerca de mi espalda.

De pronto, al entrar en un callejón estrecho vi un nicho en la pared y allí me refugié. El Objetivo General pasó de largo y cuando lo vi perderse al final de la calle respiré profundo y salí del escondite. Pero, ¡destino cruel!, una vez afuera el Objetivo General volvió a aparecer, esta vez acompañado por una horda de seres enjutos y con voces chillonas. Era un batallón de Objetivos Específicos. La jauría me persiguió por toda la ciudad. Recuerdo que pasé por mi oficina, por mi apartamento, por el club, por la casa de mi mamá y en todos los lugares los Objetivos Generales y Específicos me acosaban y me obligaban a seguir corriendo. Al final de la noche decidí rendirme y caí exhausto en una acera de la Avenida Oriental. Los Objetivos General y Específicos formaron a mi alrededor un círculo que se iba estrechando cada segundo.

Cuando empezaba a ahogarme mi mujer me despertó. Desayuné sin decir una sola palabra. Estaba cansado y temeroso por el complot de los Objetivos. Afortunadamente mi mujer y mis hijos respetaron mi espacio de autonomía relativa y no me preguntaron nada. Como todos los días, después de desayunar bajé al garaje y me dispuse a encender el carro para calentar motores mientras mi hija Clemencia se cepillaba los dientes. Al darle switche el carro no encendió. Tuve que hacer por lo menos cinco intentos hasta que el motor por fin se puso en marcha. Esto nunca me había sucedido y el sueño de la noche anterior volvió a mi cabeza. Dejé a Clemencia en el colegio y continué mi ruta cotidiana hasta la oficina.

Más adelante, en el semáforo de la Oriental con La Playa, le subí volumen a la música. Estaban tocando una canción alegre y con ritmo juguetón. Recosté la cabeza en el espaldar, tamborileé con los dedos sobre la cabrilla y me puse a mirar a los peatones que cruzaban la calle frente a mí. Muchos de ellos eran pobres que se dirigían a sus quehaceres diarios. Mientras oía la música y veía pasar frente al parabrisas esos rostros de mi tierra tuve un acceso de ternura. Estaba contemplando esas caras sufridas que eran la razón de mi vida, cuando lo vi. Era él. Caminaba entre un grupo de personas apresuradas. Volteó la cabeza y me miró de frente. Me estremecí. Pensé que podría ser una alucinación mía, pero en una segunda mirada comprobé que no podía haber duda: era un Objetivo General. Tenía ese mismo aspecto rígido y prepotente que tienen los Objetivos Generales, la misma mirada de ambición insensata, el mismo optimismo dictatorial.

Cuando el semáforo cambió empujé la palanca bruscamente produciendo un desagradable traquido en la caja de cambios. Arranqué a toda velocidad y llegué a mi oficina. No saludé a nadie y fui directamente a mi escritorio. Antes de empezar mi labor del día y acabar con los montoncitos que tenía retrasados di una última mirada por la ventana. Abajo, de un bus recién estacionado vi bajar varios, muchos seres pequeños sin identidad, que sólo parecían existir como parte del grupo. Me volví a estremecer. Corrí el vidrio y saque la cabeza para ver mejor. Tampoco había duda: todos tenían el mismo caminado tímido, la actitud apocada y el aspecto de vieja cositera de los Objetivos Específicos. Se dirigían a la entrada de mi edificio con sus pasitos cortos y constantes. Entonces cerré la ventana y corrí a mi escritorio. Era evidente: el mundo empezaba a ser invadido por los Objetivos Generales y Específicos. Decidí resistir acabando por lo menos con los que estaban a mi alcance. Rompí todos los montoncitos con clip y portada archivados en mis cajones y los que reposaban sobre mi escritorio. Rasgué todas las hojas con información de la COCOCOCO. Al terminar la operación pensé que una invasión de tal magnitud no incluiría solamente a lo Objetivos. Sabía que si volvía a mirar por la ventana seguramente me encontraría con la presencia de un paquidérmico Marco Teórico y que tras las montañas, en pocas horas, empezarían a aparecer batallones de Presupuestos, Cronogramas, Justificaciones... Sabía que la cosa era seria y que hoy en la tarde o mañana en la mañana podría aparecer sobrevolando el cielo de nuestra ciudad un Diagnóstico Comunitario y luego otro y otro más hasta conformar un escuadrón dispuesto a bombardearnos.

Entonces dejé mi escritorio y me dirigí al ascensor pasando frente a mis compañeros que permanecían sentados sobre sus escritorios, ignorantes del peligro que corríamos los trabajadores comunitarios y también ignorantes de la heroica acción que iba yo a ejecutar, ya no en pro de los pobres directamente sino a favor, cosa todavía más importante, de quienes trabajaban para que los pobres dejaran de ser pobres. Tomé el ascensor y subí seis pisos pensando que quizá por el otro ascensor en ese mismo momento estaban subiendo los Objetivos Específicos. Me bajé en el piso dieciocho y fui directamente a la base de sistemas de nuestra Corporación. Borré palabra por palabra cada Objetivo, cada Justificación, cada Cronograma, cada Marco Teórico que aparecía registrado en la memoria y para cerciorarme borré todos y cada uno de los verbos que aparecían registrados con sus terminaciones “ar”, “er” o “ir”. Terminada mi misión, supuse que a esas alturas los Objetivos ya se habrían tomado la oficina. Entonces decidí quedarme aquí en el piso dieciocho. Me senté frente a una pantalla y empecé a digitar rápidamente estas palabras para que quede constancia de que una vez más un hombre ha sucumbido como mártir, luego de entregar su vida completa a la lucha por los más necesitados.

Fuente:
Rivas Granada, Luis Miguel. Los amigos míos se viven muriendo (y otros relatos), Fondo Editorial Universidad Eafit, Medellín, abril de 2007.



Palestra sobre Ushahidi - mapas vivos e colaborativos

30 de Junho de 2012, 21:00, por Daniel Tygel - 0sem comentários ainda

Realmente interessante...



Da minha aldeia... a vida de agora, o tal local/global!

29 de Junho de 2012, 21:00, por Daniel Tygel - 0sem comentários ainda

Alberto Caeiro

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...

Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer

Porque eu sou do tamanho do que vejo

E não, do tamanho da minha altura...

 

Nas cidades a vida é mais pequena

Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.

Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,

Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe

de todo o céu,

Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos
nos podem dar,

E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.