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Blog do Arroyo

12 de Janeiro de 2009, 22:00 , por Desconhecido - | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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147 empresas controlam o núcleo da economia global

25 de Outubro de 2011, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


  

Matemáticosrevelam rede capitalista 
que domina o mundo


Este gráfico mostra as interconexões entre o grupo de 1.318 empresastransnacionais que formam o núcleo da economia mundial. O tamanho de cada pontorepresenta o tamanho da receita de cada uma.

A reportagem é da revista NewScientist, 22-10-2011 e reproduzida pelo sítio Inovação Tecnológica.

Além das ideologias

Conforme os protestos contra o capitalismo se espalham pelo mundo, osmanifestantes vão ganhando novos argumentos.

Uma análise das relações entre 43.000 empresas transnacionais concluiu que umpequeno número delas - sobretudo bancos - tem um poder desproporcionalmenteelevado sobre a economia global.

A conclusão é de três pesquisadores da área de sistemas complexos do Instituto Federal de Tecnologia deLausanne, na Suíça.

Este é o primeiro estudo que vai além das ideologias e identifica empiricamenteessa rede de poder global.

"A realidade é complexa demais, nós temos que ir além dos dogmas, sejameles das teorias da conspiração ou do livre mercado," afirmou James Glattfelder, um dosautores do trabalho. "Nossa análise é baseada na realidade."

Rede de controle econômico mundial

A análise usa a mesma matemática empregada há décadas para criar modelos dossistemas naturais e para a construção de simuladores dos mais diversos tipos.Agora ela foi usada para estudar dados corporativos disponíveis mundialmente.

O resultado é um mapa que traça a rede de controle entre as grandes empresastransnacionais em nível global.

Estudos anteriores já haviam identificado que algumas poucas empresas controlamgrandes porções da economia, mas esses estudos incluíam um número limitado deempresas e não levavam em conta os controles indiretos de propriedade, nãopodendo, portanto, ser usados para dizer como a rede de controle econômicopoderia afetar a economia mundial - tornando-a mais ou menos instável, porexemplo.

O novo estudo pode falar sobre isso com a autoridade de quem analisou uma basede dados com 37 milhões de empresas e investidores.

A análise identificou 43.060 grandes empresas transnacionais e traçou asconexões de controle acionário entre elas, construindo um modelo de podereconômico em escala mundial.

Poder econômico mundial

Refinando ainda mais os dados, o modelo final revelou um núcleo central de1.318 grandes empresas com laços com duas ou mais outras empresas - na média,cada uma delas tem 20 conexões com outras empresas.

Mais do que isso, embora este núcleo central de poder econômico concentreapenas 20% das receitas globais de venda, as 1.318 empresas em conjunto detêm amaioria das ações das principais empresas do mundo - as chamadas blue chips nosmercados de ações.

Em outras palavras, elas detêm um controle sobre a economia real que atinge 60%de todas as vendas realizadas no mundo todo.

E isso não é tudo.

Super-entidade econômica


Quando os cientistas desfizeram o emaranhado dessa rede de propriedadescruzadas, eles identificaram uma "super-entidade" de 147 empresasintimamente inter-relacionadas que controla 40% da riqueza total daqueleprimeiro núcleo central de 1.318 empresas.

"Na verdade, menos de 1% das companhias controla 40% da redeinteira," diz Glattfelder.

E a maioria delas são bancos.

Os pesquisadores afirmam em seu estudo que a concentração de poder em si não éboa e nem ruim, mas essa interconexão pode ser.

Como o mundo viu durante a crise de 2008, essas redes são muito instáveis:basta que um dos nós tenha um problema sério para que o problema se propagueautomaticamente por toda a rede, levando consigo a economia mundial como umtodo.

Eles ponderam, contudo, que essa super-entidade pode não ser o resultado de umaconspiração - 147 empresas seria um número grande demais para sustentar umconluio qualquer.

A questão real, colocam eles, é saber se esse núcleo global de poder econômicopode exercer um poder político centralizado intencionalmente.

Eles suspeitam que as empresas podem até competir entre si no mercado, mas agemem conjunto no interesse comum - e um dos maiores interesses seria resistir amudanças na própria rede.

As 50primeiras das 147 empresas transnacionais super conectadas

    Barclays plc
    Capital Group Companies Inc
    FMR Corporation
    AXA
    State Street Corporation
    JP Morgan Chase & Co
    Legal & General Group plc
    Vanguard Group Inc
    UBS AG
    Merrill Lynch & Co Inc
    Wellington Management Co LLP
    Deutsche Bank AG
    Franklin Resources Inc
    Credit Suisse Group
    Walton Enterprises LLC
    Bank of New York Mellon Corp
    Natixis
    Goldman Sachs Group Inc
    T Rowe Price Group Inc
    Legg Mason Inc
    Morgan Stanley
    Mitsubishi UFJ Financial Group Inc
    Northern Trust Corporation
    Société Générale
    Bank of America Corporation
    Lloyds TSB Group plc
    Invesco plc
    Allianz SE 29. TIAA
    Old Mutual Public Limited Company
    Aviva plc
    Schroders plc
    Dodge & Cox
    Lehman Brothers Holdings Inc*
    Sun Life Financial Inc
    Standard Life plc
    CNCE
    Nomura Holdings Inc
    The Depository Trust Company
    Massachusetts Mutual Life Insurance
    ING Groep NV
    Brandes Investment Partners LP
    Unicredito Italiano SPA
    Deposit Insurance Corporation of Japan
    Vereniging Aegon
    BNP Paribas
    Affiliated Managers Group Inc
    Resona Holdings Inc
    Capital Group International Inc
    China Petrochemical Group Company

Bibliografia:

The network of global corporate control
Stefania Vitali, James B. Glattfelder, Stefano Battiston
arXiv
19 Sep 2011





Quando a Ética Sangra

24 de Outubro de 2011, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


Sobre aintervenção na OAB Pará:


Façoparte de uma geração vitoriosa, dela faz parte Jarbas Vasconcelos. Uma geração quefoi protagonista na transformação do Brasil das Elites econômicas egressas daDitadura, no Brasil que avança com soberania, tendo em perspectiva adistribuição de renda e a diminuição das desigualdades sociais. Mesmo não sendona velocidade que gostaríamos e mesmo sem questionar a estrutura capitalistacomo desejamos, mudamos a história de subordinação que cumprimos historicamentee abrimos possibilidades inéditas que só dependem de nós mesmos enquantosociedade.

Seoptarmos pela radicalização da democracia rumo à Participação Popular nocotidiano do poder, se avançarmos no Controle Social sobre o Estado em todas assuas expressões, se assumirmos a condução das escolas e matrizes curricularescomo povo livre e consciente e, se passarmos a construir a democracia em suadimensão econômica, sem o que a democracia política não passa de meraformalidade, adotando uma Economia Solidária, certamente construiremos um paísjusto e próspero para todos e todas que estiverem dispostos a trabalhar por umfuturo melhor.

Maso que mais me orgulha é de, no contexto desta geração, ter participado de umgrupo de jovens que se recusou a envelhecer suas idéias, dele faz parte JarbasVasconcelos. E me refiro exatamente aos que não ficaram ricos ou famosos acusta do erário público. Mas que conquistaram amplo reconhecimento pelosserviços prestados no resgate da democracia, do direitos dos trabalhadores epela defesa da ética e da competência por onde estiveram.

Quandono início da década de 80 abraçamos a luta contra a Ditadura Militar pelaredemocratização do Brasil, nosso pequeno mas sonhador, ousado e realizadorgrupo de jovens tinha uma rotina dura de estudos políticos e trabalho político-organizativoque formou em nós uma inteligência profundamente comprometida com a honestidadepessoal, mesmo sem ter plena consciência dos preços que teria que pagar porisso. Enfrentamos cavalarias e cavalos com a mesma coragem com que até hoje nosdesapegamos das benesses que o próprio poder que conquistamos nos passou a oferecer.Não é pra qualquer um, há que se ter muita fibra.

Porisso somamos e derrotamos a Ditadura, mas a democracia nos guardava desafiosmaiores e algumas tristes surpresas. Vimos lideranças, estruturas einstituições políticas que ajudamos a criar derraparem na lama das facilidadesimorais do poder e outros que aproveitaram a derrapagem para assumir mesmooutro curso, o do retrocesso da reprodução das relações coronelistas eassistencialistas travestidas em tendências ou flagrantemente reduzidas àpersonalidades, e seus mandatos, em um processo simbiótico em que o dominadorapenas se reproduz porque encontra quem se acomode no ancestral papel dedominado.

Mesmocom tudo isso, conseguimos participar ativamente deste processo de renovaçãopolítica por que passa a nação, mesmo contra a cultura política que, entre ostransformadores advoga a justificativa de que “quem nunca comeu melado” pode, eaté merece, se lambuzar. E continuamos trabalhando, formando e realizando nosentido de uma nação soberana que já percebeu sua necessidade de justiça sociale econômica.

Agora,um destes companheiros, de rara conduta, Jarbas Vasconcelos, está sob fogocerrado. Exatamente porque conseguiu se viabilizar como presidente da OAB Pará,inclusive impondo a adesão de seus adversários, esteios de interessesconservadores que hegemonizavam a entidade até aqui por toda sua história. E,porque pautou o combate aberto à corrupção defendendo a Lei do Ficha Limpa empraça pública.

Maso que foi fatal, foi a ousadia de enfrentar o poder judiciário estadual emdefesa das prerrogativas dos advogados. Fatal porque esta luta pode dar aoadvogado comum as mesmas oportunidades dos grandes escritórios de famíliastradicionais ou apaniguados das elites mamelucas locais, como diria DarcyRibeiro, e isto é uma “infâmia” – não exatamente moral, mas principalmenteàquela que envolve interesses pecuniários.

Comopermitir que um iconoclastazinho vindo do interior ameace a nobreza daquelescuja competência jurídica está garantida apenas pelo sobrenome antigo com quefoi batizado? Como permitir que um qualquer quebre o sacrossanto e medievaldireito ao sucesso por hereditariedade. Se as elites soubessem o bem que fariamaos seus jovens se lhes permitisse conquistar seus espaços por seus própriosméritos, teriam uma postura mais moderna.

Mesolidarizo à Jarbas Vasconcelos, por sua história, mas principalmente por seupresente, como cidadão, como ser humano – o que admite as imperfeições que cabea todos nós – mas principalmente como advogado por convicção. E empenho nesteapoio tudo o que sou, pouco, mas dura e consistentemente construído nestes meus50 anos, em minha própria história de luta por um mundo justo, solidário e pelaética na política.

Queos justos não se calem, muita força ao Jarbas!

Recomendoa leitura da carta de Jarbas, abaixo:

Aos advogados, à sociedade,

"O CONSELHO FEDERAL DA OAB, maculandosua história, decretou inédita e vergonhosa intervenção punitiva na SECCIONAL DOPARÁ. Contra a Lei e o Direito prevaleceu o apetite político daqueles que mefazem oposição, para manter regalias e privilégios, e sem nenhum senso de freiomoral.

NADA HÁ PARA CORRIGIR, SANEAR OU PREVENIRNA SECCIONAL DO PARÁ!

Pelo contrário: temos muito para celebrar.

Nem pode ser crível que os interventoresda direção federal recebam como missão invalidar os atos de moralidadeadministrativa que implementei, em defesa do patrimônio da Seccional, querecebi falido. Sempre tive consciência dos riscos que corria. Afinal de contas,tirei dos meus adversários CARTÕES CORPORATIVOS, CARROS, FRANQUIAS TELEFÔNICASE O USO INDEVIDO DE DINHEIRO DA SECCIONAL.

Quando assumi a ordem tive que dar contade uma dívida de quase dois milhões de reais.
Tenho vida pessoal, familiar eprofissional irrepreensíveis. Nada me envergonha, tudo me honra. Venci comlivros e trabalho. Custa-me demandar contra a Instituição que orgulhosamenteintegro.

Contudo, diante da gravidade da hora e dacovardia dos meus adversários, não devo abdicar dessa alternativa.

Confio na força da Justiça e no valor desuas Instituições democráticas, sob o manto do devido processo legal.

Creio piamente na VITÓRIA DO BEM sobre ainiquidade dos que semeiam mentiras, calúnias e infâmias.

Defenderei meu mandato e minha dignidadepessoal tão violentamente atingidos. O fisiologismo que tanto condenamos nospoderes da República não pode triunfar na OAB!

Até breve, muito breve, com as bênçãos donosso Deus."

JARBAS VASCONCELOS, Advogado



Uma visão de esquerda sobre o legado do governo Lula

18 de Outubro de 2011, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


Classe C e luta de classes

Do pesquisador e amigo Gustavo Venturi, publicado no boletim da Fundação Perseu Abramo

A obra mais importante do governo Lula resultou da combinação de crescimento econômico com políticas de distribuição de renda. Favorecida por um cenário global de aumento do preço dascommodities agrícolas e minerais exportadas pelo Brasil, a aposta no mercado interno – com o investimento nos programas sociais, Bolsa Família à frente, e com forte expansão de programas de crédito – permitiu o crescimento acentuado e a formalização do emprego. Esse desempenho garantiu a sustentabilidade e o dinamismo da economia, principais responsáveis pela travessia da crise financeira internacional de 2008 sem maiores turbulências internas e pela eleição da presidenta Dilma. Também justifica a importância do Brasil no atual cenário econômico e político global e a segurança relativa frente à nova crise sistêmica que gradualmente se confirma, com a quebra sucessiva de Estados-membros da União Europeia.

Internamente, esse cenário criou as bases materiais para o resgate de milhões de brasileiros. Entre 2003 e 2009, cerca de 20 milhões ascenderam da miséria para a pobreza e um contingente ainda maior, cerca de 29 milhões, superou o patamar da pobreza, somando-se à classe média estatística1, que agora constitui a maior parcela da população (50,5%, ou cerca de 95 milhões em 2009, hoje estimada em 100 milhões). Com renda familiar mensal entre R$ 1.100,00 e R$ 4.600,00 (equivalentes ao intervalo entre R$ 275,00 e R$ 1.150,00 de renda per capita, considerando-se a família brasileira típica, de quatro membros), trata-se de um segmento que está na faixa de renda intermediária, levando-se em conta a variância acentuada da distribuição da renda no país, ainda muito desigual.

Também designado como “nova classe média”, ou ainda “classe média popular”, é sintomático que, na maior parte das vezes em que esse segmento social é citado, a mídia corporativa e outros se refiram a ele como “classe C” – categoria de uma escala de estratificação socioeconômica, originada e de largo uso nas pesquisas de mercado, que dividem a população em cinco “classes”, de A a E, caracterizadas (não só, mas primordialmente) pela posse de bens de consumo duráveis nos domicílios. Tradicionalmente pouco usual na Sociologia, tal escala permite classificar toda a população em um continuum que tende a ocultar a noção de antagonismos, de interesses e direitos em conflito – suprimindo, no limite, a ideia de luta de classes. Em outras palavras, remete a uma concepção de cidadãos limitada à dimensão de consumidores.

Tal ênfase e valorização da ascensão dessa nova classe média, bem como a preocupação com sua manutenção em patamares básicos de acesso a bens materiais, ainda que politicamente importante para a conformação da base social e eleitoral de apoio ao governo e moralmente legítima (ao atender a anseios “naturais” da população, sob a hegemonia capitalista vigente), tem outras implicações políticas, para não mencionar as ambientais, que de resto transcendem a lógica econômica do crescimento.

Sustentada mais pela partilha de um bolo que tem crescido do que pela forma de dividi-lo (o que implicaria maior redução da desigualdade, até aqui ainda débil), tratando-se assim de um processo de produção e distribuição de renda que, frente à crise global (talvez mais cedo que tarde), a nova classe média tende a encontrar seus limites. Ao mesmo tempo, a inclusão no mercado por si só não garante o aumento da organização e do associativismo nesse segmento nem o desenvolvimento de uma consciência de classe (talvez se oponha a ambos, reforçando uma ideologia individualista). Assim, o fato de que o debate sobre a continuidade do modelo em curso tenha como eixo a preocupação com a criação de consumidores, mais que com a emergência de cidadãos ativos, constitui um problema que merece reflexão.

Caberia ao PT, como ator político relevante e distinto do governo – ou seja, sem as amarras do dia a dia a que este está preso por força das lógicas de preservação da estabilidade econômica e da governabilidade política –, voltar-se primordialmente para a formulação estratégica da mobilização e organização sociais que permita dar sustentação à defesa e ao aprofundamento das conquistas em curso. Algumas decisões da reforma estatutária aprovada no 4º Congresso do partido – apontando para uma oxigenação da burocracia partidária, ao se abrir para novos olhares com a adoção de cotas para mulheres (50%), jovens (20%) e étnico-raciais (20%) em todas as instâncias de direção – expressam a maturidade do PT para tal empreitada. Aos 31 anos de existência e há nove no governo federal, é importante não se deixar inebriar pelas altas taxas de preferência partidária aferidas em pesquisas recentes (cerca de um terço do eleitorado) – fruto mais provável da combinação da popularidade do governo Dilma e da força atrativa da identidade do partido no poder do que resultado de um crescimento da cultura partidária ou de avanços organizativos da sociedade civil.

Qual é o saldo associativo autônomo das centenas de conferências impulsionadas no governo Lula e que têm tido continuidade no governo Dilma? O que mudou, se algo, nos valores e na visão de mundo e o que esperam politicamente as vastas camadas que se beneficiaram da mobilidade social acentuada na última década? Como estão vendo a política e qual é o lugar que ocupam ou a que aspiram as juventudes, protagonistas de novas sociabilidades? Essas são, entre outras, questões de uma nova agenda da opinião pública que urge investigar e debater. Afinal, certamente não foi para realizar o sonho liberal da inclusão (ainda que de todos) no mercado de consumo – e de quebra, através de um modelo socioambiental insustentável, como hoje vai se evidenciando – que o PT foi criado. Ao menos não é esse um horizonte socialista.

Gustavo Venturi é doutor em Ciência Política e professor do Departamento de Sociologia da FFLCH-USP ([email protected])



15 de outubro, Dia dos Professores e Professoras

13 de Outubro de 2011, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


Carta de Paulo Freire aos professores (trechos)


Ensinar, aprender:
leitura do mundo, leitura da palavra



Nenhum tema mais adequado para constituir-se em objeto destaprimeira
carta a quem ousa ensinar do que a significação críticadesse ato, assim
como a significação igualmente crítica de aprender. É quenão existe ensinar sem aprender e com isto eu quero dizer mais do que diria sedissesse que o
ato de ensinar exige a existência de quem ensina e de quemaprende. Quero dizer que ensinar e aprender se vão dando de tal maneira quequem ensina aprende,
de um lado, porque reconhece um conhecimento antes aprendidoe, de outro,
porque, observado a maneira como a curiosidade do alunoaprendiz trabalha
para apreender o ensinando-se, sem o que não o aprende, oensinante se ajuda a
descobrir incertezas, acertos, equívocos.
O aprendizado do ensinante ao ensinar não se dánecessariamente através
da retificação que o aprendiz lhe faça de erros cometidos. Oaprendizado do
ensinante ao ensinar se verifica à medida em que oensinante, humilde, aberto,
se ache permanentemente disponível a repensar o pensado,rever-se em suas
posições; em que procura envolver-se com a curiosidade dosalunos e dos diferentes caminhos e veredas, que ela os faz percorrer. Algunsdesses caminhos e
algumas dessas veredas, que a curiosidade às vezes quasevirgem dos alunos
percorre, estão grávidas de sugestões, de perguntas que nãoforam percebidas
antes pelo ensinante. Mas agora, ao ensinar, não como umburocrata da mente,
mas reconstruindo os caminhos de sua curiosidade – razão porque seu corpo
consciente, sensível, emocionado, se abre às adivinhaçõesdos alunos, à sua ingenuidade e à sua criatividade – o ensinante que assim atuatem, no seu ensinar, um
momento rico de seu aprender. O ensinante aprende primeiro aensinar mas aprende
a ensinar ao ensinar algo que é reaprendido por estar sendoensinado.
O fato, porém, de que ensinar ensina o ensinante a ensinarum certo
conteúdo não deve significar, de modo algum, que o ensinantese aventure a
ensinar sem competência para fazê-lo. Não o autoriza aensinar o que não sabe.
A responsabilidade ética, política e profissional doensinante lhe coloca o dever
de se preparar, de se capacitar, de se formar antes mesmo deiniciar sua atividade
docente.
...
Assim, em nível de uma posição crítica, a que não dicotomizao saber do
senso comum do outro saber, mais sistemático, de maiorexatidão, mas busca
uma síntese dos contrários, o ato de estudar implica sempreo de ler, mesmo que
neste não se esgote. De ler o mundo, de ler a palavra eassim ler a leitura do
mundo anteriormente feita. Mas ler não é puro entretenimentonem tampouco
um exercício de memorização mecânica de certos trechos dotexto.
...
Ler é uma operação inteligente, difícil, exigente, masgratificante. Ninguém
lê ou estuda autenticamente se não assume, diante do textoou do objeto da
curiosidade a forma crítica de ser ou de estar sendo sujeitoda curiosidade, sujeito
da leitura, sujeito do processo de conhecer em que se acha.Ler é procurar buscar
criar a compreensão do lido; daí, entre outros pontosfundamentais, a importância
do ensino correto da leitura e da escrita. É que ensinar aler é engajar-se numa
experiência criativa em torno da compreensão. Da compreensãoe da comunicação.
E a experiência da compreensão  será tão maisprofunda quanto sejamos
nela capazes de associar, jamais dicotomizar, os conceitosemergentes da experiência escolar aos que resultam do mundo da cotidianidade.
...
Estudar é desocultar, é ganhar a compreensão mais exata doobjeto, é perceber suas relações com outros objetos. Implica que o estudioso,sujeito do estudo, se arrisque, se aventure, sem o que não cria nem recria.
Por isso também é que ensinar não pode ser um puro processo, como
tanto tenho dito, de transferência de conhecimento doensinante ao aprendiz.
Transferência mecânica de que resulte a memorização maquinalque já critiquei.
Ao estudo crítico corresponde um ensino igualmente críticoque demanda
necessariamente uma forma crítica de compreender e derealizar a leitura da palavra e a leitura do mundo, leitura do contexto.
...
Enquanto leitores, não temos o direito de esperar, muitomenos de exigir,
que os escritores façam sua tarefa, a de escrever, e quase anossa, a de compreender
o escrito, explicando a cada passo, no texto ou numa nota aopé da página, o
que quiseram dizer com isto ou aquilo. Seu dever, comoescritores, é escrever
simples, escrever leve, é facilitar e não dificultar acompreensão do leitor, mas
não dar a ele as coisas feitas e prontas.
A compreensão do que se está lendo, estudando, não estalaassim, de
repente, como se fosse um milagre. A compreensão étrabalhada, é forjada, por
quem lê, por quem estuda que, sendo sujeito dela, se deveinstrumentar para
melhor fazê-la. Por isso mesmo, ler, estudar, é um trabalhopaciente, desafiador,
persistente.
...
É preciso que nosso corpo, que socialmente vai se tornandoatuante,
consciente, falante, leitor e “escritor” se apropriecriticamente de sua forma de
vir sendo que faz parte de sua natureza, histórica esocialmente constituindo-se.
Quer dizer, é necessário que não apenas nos demos conta decomo estamos
sendo mas nos assumamos plenamente com estes “seresprogramados, mas para
aprender”, de que nos fala François Jacob (4). É necessário,então, que aprendamos a aprender...
Recusando qualquer interpretação mecanicista da História,recuso igualmente a idealista. A primeira reduz a consciência à pura cópia dasestruturas materiais da sociedade; a segunda submete tudo ao todo poderosismoda consciência.
Minha posição é outra. Entendo que estas relações entreconsciência e mundo
são dialéticas ...
A leitura crítica dos textos e do mundo tem que ver com asua mudança
em processo.



Sobre nossa cultura política

10 de Outubro de 2011, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


A Travessia de Marina

Marina Silva, independente de qualquer filiaçãopartidária ou qualquer interesse político imediato, a partir do que possamosjulgá-la, é uma figura que tem engrandecido enormemente as possibilidades daprópria política no Brasil. Tanto do ponto de vista programático quanto ético.
O princípio político de não se julgarprecipitadamente quem quer que seja, no caso de Marina, é um imperativo sobpena de não se ter a capacidade de identificar o que é especial em nossaHistória, a com H maiúsculo.
Getúlio Vargas, JK e Lula, para ficar nos maisimportantes ex-presidentes pós 30, também foram referências centrais deprocessos que promoveram importantes saltos históricos que impactaram a culturapolítica brasileira, para além da própria conjuntura em que atuou. Marina é umapossibilidade real, mas é a sociedade brasileira, com maior responsabilidadespara as lideranças e formadores de opinião, que definirá com precisão seu papelhistórico.
Getúlio deixou um legado histórico que introduziudefinitivamente na cultura política nacional, o desejo e a capacidade de nospensarmos como nação por inteiro, incluindo todas as regiões, inaugurando assimo anseio por soberania, na cidadania comum.
JK foi referência de um processo que acrescentou emnossa cultura política, o desejo e a capacidade de se pensar o Brasil para alémdas lógicas paroquiais.
Lula marcou definitivamente a adoção da pauta socialem nossa cultura política, ao mesmo tempo em que recolocou o papel deprotagonista entre a cidadania.
E Marina? Quais possibilidades pode trazer?
Mas antes é preciso dizer que, claro que a conquistacultural do sentimento de nação com Getúlio, de grandeza com JK e de justiçacom Lula, não estão colocadas como uma evolução retilínea e muito menos comoelementos irreversíveis. As contradições do contexto da luta entre os diversosprojetos de nação que estão em disputa no Brasil, contingenciam e relativizamestas conquistas como história dinâmica, o que só nos aumenta ainda mais aresponsabilidade, enquanto geração, de combinar melhor as escolhas políticasque determinarão sobre nosso destino nacional.
Neste cenário, é que as possibilidades que oprocesso político representado por Marina deve ser considerado na medida em quejulgarmos como central pelo menos duas novas componentes políticas para nossaadoção cultural.
A primeira diz respeito a adoção da agenda dasustentabilidade em todas as suas dimensões e a segunda à adoção de uma práticapolítica ética, ou seja, a que nos preserve enquanto nação e sociedade organizadaa partir de direitos e deveres estabelecidos e assumidos.
Não se trata de uma única via, mas de uma vianecessária na composição política nacional. Não podemos mais nos submeter aocurto raciocínio da opção política por exclusão, mas por composição estratégica.
Também precisamos fazer a Travessia de que nos falaMarina no texto abaixo, como diz, sob pena de ficarmos à margem de nós mesmos.

Tempo da travessia,
porMarina Silva, publicado na Folha de São Paulo
Faz um ano que fomos às urnas escolher presidente,governadores, senadores e deputados. Ainda hoje repercute o patamar de votação-quase 20 milhões de votos, levando as eleições para o segundo turno- que eu eo empresário ambientalista Guilherme Leal conseguimos, representando um projetode desenvolvimento sustentável para o país.
Venho, assim, com justa razão, suscitandoanálises, criticas e avaliações quanto a possíveis desdobramentos de meu papelno intrincado cenário de nossa realidade política.
Em recente palestra no Rio de Janeiro, encontrei odeputado do PV francês Daniel Cohn-Bendit. Ele referiu-se à baixa expectativa,no passado, de que ocorressem fatos históricos que levaram ao fim estruturas esistemas que pareciam inamovíveis, como a queda do Muro de Berlim, o fim daGuerra Fria ou a existência da Comunidade Europeia. E, no presente, quemimaginaria a queda de algumas ditaduras no mundo árabe, onde o Egito é oexemplo mais eloquente?
Dialogando com Daniel, permiti-me ser mais umaanalista de meu próprio caso e lembrei que, até meados de 2008, ninguém, nem eumesma, seria capaz de preconizar o que aconteceria nas eleições de 2010, ouseja, uma candidatura a presidente, com plataforma de sustentabilidadesocioambiental, surpreender num cenário político em que o script eleitoralhavia sido minuciosamente ensaiado para ser apenas uma espécie de plebiscitoentre as principais forças políticas, PT e PSDB, que passaram a ocupar a cenade nossa crônica e empobrecedora polarização partidária.
Sem pretensão de sair de meu incômodo lugar deobjeto de análise para o talvez menos incômodo lugar de analista, ouso dizeraos que supõem prever os fados da política só com base em correlações de dadospretéritos ou em tendências que sejam bem-vindos à era do imponderável, doimprevisível. Quem poderia afirmar, há 10 ou 15 anos, que os países ricosperderiam sua aura de inexpugnáveis e teriam que lidar abertamente com seuserros, tendo que enquadrar-se nas fórmulas e receitas de "sucesso"que nos ensinaram e prescreveram?
Diante de tantas incertezas dos outros e minhas,foi em Condeúba (BA) que encontrei na poesia de Fernando Pessoa uma excelentemetáfora para minhas buscas de respostas.
Estava lá para o encerramento da Campanha daFraternidade e, graças ao refinamento do padre Juliano, conheci estes versos dePessoa: "Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que játêm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempreaos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremosficado, para sempre, à margem de nós mesmos". 



Categorias

Região Norte, Pará, Crédito e finanças, Educação e formação, Reciclagem, Comércio justo e solidário, Consumo ético e solidário, Finanças Solidárias, Formação, Políticas públicas, Produção, comercialização e consumo
Tags deste artigo: economia política desenvolvimento meio ambiente

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