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January 12, 2009 22:00 , by Unknown - | 1 person following this article.

Visitando o novo mundo: Piracanga

December 18, 2022 18:29, by Débora Nunes - 0no comments yet

Piracanga mapa em desenho antes 2016

Regeneração, arte e sucesso

A ecovila Piracanga, fundada em 2010 é fruto de um sonho de Angelina Ataíde, uma portuguesa que atraiu um grupo de pessoas para criar uma comunidade em que a vida cotidiana espelhasse princípios espirituais de partilha e união, em constante busca interior. A área da ecovila, comprada por Angelina e este grupo pioneiro, localiza-se em área de difícil acesso na foz do rio Piracanga, na Península de Maraú-BA no entorno de uma APA. A força regenerativa de Piracanga se mostrou ano a ano, pois o ambiente exuberante de hoje foi fruto de muito trabalho da comunidade desde seu início, já que esta ocupou um terreno originalmente desmatado. As práticas artísticas também marcam o ambiente da comunidade, com painéis pintados em muitos espaços e um bom gosto na simplicidade decorativa ecológica que encanta quem visita a ecovila.

A prática da leitura de aura foi uma das atividades que uniu a comunidade no início e trouxe as primeiras imersões, que se tornaram a fonte do sucesso material que faz Piracanga ser a ecovila mais próspera do Brasil. Os cuidados com a Natureza e o trabalho regenerativo, aliado à oferta de atividades de alto conhecimento e práticas físicas diversas, realizadas em um local paradisíaco de encontro do rio com o mar e a excelente infraestrutura, fazem com que a ecovila seja vista como um inovador spa ecológico. Ao atrair pessoas de alto poder aquisitivo que buscam novos valores e práticas, produz-se um fluxo financeiro que financia as atividades profissionais de boa parte dxs habitantes que atuam junto aos turistas. Atualmente, a intensa publicidade na internet, tenta retomar o fluxo turístico de antes da pandemia de COVID 19 (https://unah.eco/)

Piracanga, como muitas ecovilas, tem como dupla atração a abordagem espiritual e as práticas ecológicas. A permacultura, ou cultura da permanência, em suas diversas modalidades, como a agrofloresta e o uso dos resíduos domésticos e dos sanitários secos para produzir fertilizantes, ajudaram a recuperar a Mata Atlântica original. O trabalho comunitário com participação de trabadorxs da região, ano a ano, devolveram ao terreno a exuberância original. O cuidado com a água do subsolo, essencial para a comunidade que a usa cotidianamente, marcou muitas das inovativas atividades empresariais e comunitárias de Piracanga, onde se destacam os produtos de higiene biodegradáveis.

A população pioneira criou o Centro Inquiri, um conjunto de edificações bioconstruídas composto por recepção, administração, restaurante, lanchonete, lojas, espaços para terapias, escola infantil, casa de artes, casa dos aromas, marcenaria, viveiro de mudas, espaço para tratamento de resíduos, cabanas para vivências e alojamentos para residentes e visitantes. Foi este grupo pioneiro que estabeleceu a boa relação, que dura até hoje, entre Piracanga e a população nativa. Estas e estes encontraram na ecovila fonte de emprego, renda e amizade. Muitas adoções, a princípio informais aprofundaram a parceria entre as duas comunidades, pois crianças da região vieram estudar na “alma” da ecovila, a Escola Inkiri.

O espaço criativo e bem cuidado da Escola Inkiri é atencioso com as necessidades das crianças locais e adotadas e foi um marco na fundação da ecovila, em 2010. Desde então vem mobilizando a comunidade pois cada morador.a pode ser escolhido mentor.a para a curiosidade da criança que escolhe um tema de estudo e vai sendo amorosamente guiada por esta pessoa. Baleias, horta, animais diversos...o que a imaginação da criança busca, pessoas adultas são escaladas para ajudá-la. A maternagem é um valor fundante da comunidade e isto se espalha, como se viu, no cuidado com a Natureza e no autocuidado.

Ao logo do tempo a comunidade foi crescendo, terrenos foram vendidos a pessoas de muitos lugares do Brasil e do mundo em busca de uma vida ecológica integrada com a Natureza. Esta nova população nem sempre estava integrada ao modelo de vida e práticas espirituais propostos pela comunidade Inkiri. vinculada ao Centro citado através de um Instituto. O convívio foi se tornando tenso, com conflitos de diversas ordens, separando a comunidade em duas até o rompimento total durante a pandemia de COVID 19. Angelina e parte da comunidade Inkiri saíram para fundar outra ecovila, desta vez na Chapada dos Veadeiros, no planalto central do Brasil.

Depois de um período de paralisia total vinculado à pandemia e à saída de muitos dxs pioneirxs, o patrimônio imobiliário do Intituto foi alugado à empresa Unah, formada por moradores e investidores ligados à comunidade. Este acordo permite a continuidade das atividades que promoveram Piracanga a uma ecovila de sucesso e busca que ela não se desestruture. Pela primeira vez a comunidade se organiza em uma verdadeira associação de moradores e busca uma relação equilibrada no interior do ecossistema de inciativas empresariais, sociais, ecológicas e espirituais que formam a comunidade.

A arquitetura de Piracanga, que tem cerca de cem edificações, é predominantemente bioconstruída, majoritariamente com estrutura em bambu ou eucalipto e cobertura de piaçava ou telha cerâmica. As paredes podem ser em terra, madeira, tijolos ecológicos, entre outros. A energia elétrica é realizada através da captação solar, sem conexão com a mantenedora Coelba; assim procura-se reduzir o consumo energético, evitando o uso de eletrodomésticos em geral, até mesmo geladeiras. O abastecimento de água se dá através de bombas que captam a água dos lençóis freáticos e a levam para reservatórios, sendo o cuidado com a água subterrânea um dos destaques de Piracanga. Este mesmo cuidado se revela no destino final das águas servidas, utilizando-se de soluções permaculturais como bacias de evapotranspiração, fossas sépticas com filtro biológico e círculo de bananeiras. A maioria das casas possui sanitário seco, assim como as estruturas de hospedagem. Todo o lixo orgânico é compostado e recicla-se grande parte dos outros resíduos, que seguem para a cidade vizinha de Itacaré.

Desde sempre a população de Piracanga foi muito flutuante. Fala-se em 150 pessoas,  com muitas mudanças recentes entre aquelas que saíram e as que vieram morar na ecovila pela oportunidade do trabalho remoto advinda da pandemia. As condições de moradia e serviços e o preço dos terrenos faz com que a população moradora, ou proprietária que aluga suas casas, seja sobretudo de estratos de mais alta renda, com nível de escolaridade superior. O preço a pagar pela qualidade de vida oferecida em Piracanga faz com que a ecovila seja relativamente isolada de pessoas diferentes deste estrato, pois não se permite acampamentos, por exemplo. A Escola da Natureza é o único projeto que oferece imersão gratuita em troca de trabalho, permitindo ainda a chegada de jovens idealistas e sem dinheiro que querem viver na comunidade.

A comunidade adota a alimentação vegana e tem pareceria como agricultores da região para parte de seu abastecimento. Proíbe-se a entrada de qualquer produto alterador de consciência, sobretudo o álcool e não existe prática de assistir televisão em Piracanga. Depois da saída da comunidade Inquiri os comportamentos afetivos e sexuais tornaram-se mais livres e foram realizados eventos discutindo e celebrando a diversidade das formas de afeto. A população adota assim uma forma de vida bem diferente e o relativo isolamento geográfico ajuda a criação de uma “bolha” cultural na qual xs visitantes que aspiram por transformações civilizacionais podem se sentir bem.

 

 

Vista aérea Piracanga.pdf

Vista aérea Piracanga.pdf

Vista aérea Piracanga.pdf

Vista aérea Piracanga.pdf

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Visitando o novo mundo: Pedra do Sabiá

December 18, 2022 11:48, by Débora Nunes - 0no comments yet

Persistência, beleza tropical e abundância


Começamos este projeto “Visitando o novo mundo” honrando a amizade. Passamos para ver, em Itacaré, nosso amigo Hugues de Rinquensen, ou simplesmente Hugo, como nós brasileiros que convivemos com ele o chamamos. Trata-se de um francês que escolheu o Brasil já há quatro décadas. Essa escolha significou muito para Hugo, mas também para as pessoas que têm a alegria de passar um tempo se voluntariando, sendo hóspede e recebendo trabalhos terapêutico na Fazenda Pedra do Sabiá, este "espaço de reconexão do Ser". Ou, ainda melhor, tornando-se residentes na comunidade da Pedra, onde se encontra um oásis de paz, beleza, ecologia e cooperação, com acolhimento amoroso e instalações bonitas e confortáveis.


A antiga fazenda de cacau de 200ha comprada por Hugo e sua ex companheira Isa teve sua área de nascentes transformada em RPPN - Reserva Privada de Patrimônio Natural (25ha), sua plantação de cacau tornada orgânica (50ha) e seus espaços de acolhimento abertos ao público. Hugo tem uma filha brasileira, Julia, e com Isa ele criou, logo nos primeiros anos a escola Rosa dos Ventos, que trabalhou para a população local com educação e produção de ervas medicinais. Há 20 anos Hugo criou o espaço de hospedagem da Pedra e por muito tempo sustentou sozinho esse projeto, com apoio das pessoas que trabalham na fazenda e gostam desse gringo visionário de coração grande e disposição para a brincadeira.  Hoje o desafio do seu sonho é dividido com Vera, sua companheira há oito anos, que trouxe para o projeto um pouco mais de conexão com as tradições negras do povo da Bahia. Com ela veio também muita suavidade feminina e baiana e um grande espírito de organização, já que é contadora de formação.

Pergunto a Hugo, por que você resolveu vir pro Brasil e fundar o espaço Pedra do Sabiá? E ele responde que foi chamado pela Natureza tropical, pelas matas virgens de Itacaré tão vivas e gradiosas, ainda mais há décadas atrás. E acrescenta: ..."os humanos precisam não apenas respeitar e cuidar da Natureza, mas se deixar cuidar por ela, escutar sua grandeza e sua sabedoria. Se reconectar". A firme convicção de Hugo de que a vida precisa ter um sentido maior e que sua missão é servir a esse propósito para si mesmo e para outras pessoas sustentou sua força interior para persistir e o ancoramento espiritual do ambiente da fazenda. As matas esplendorosas e preservadas que abrigam o fruto sagrado do cacau trouxe, recentemente, mais abundância para a Pedra. Nas mãos de Hugo e de residentes e voluntárixs, o cacau se torna chocolate 100% puro, usado em cerimônias para abrir a inteligência do coração e preparar outras delícias de chocolate, vendidas no Brasil e no exterior.

O “espaço de reconexão do Ser” oferece ao público dinâmicas diversas de autoconhecimento, como cerimônias de ayuasca, de cacau e outras experiências xamânicas e espirituais diversificadas. A dinâmica comunitária é nutrida também pela boa mesa vegetariana, por uma biblioteca que nutre a mente de novas visões, por muitos trabalhos físicos como o chi qong de bastão liderado por Hugo, pelas caminhadas na mata e banho no lago da reserva, por rodas de conversa e cantoria e por pausas silenciosas no espaço da fogueira. A presença, nos limites da fazenda, do imenso Rio de Contas que pode ser contemplado em vários mirantes permite a experiência do ver fluir a Natureza.

Como todos os espaços do novo mundo, a Pedra já teve altos e baixos, mas a perseverança no propósito é a energia que move o lugar, e vai conquistando respeito na região e fora do país. É esta energia constante que Hugo traz, tanto no financiamento continuado do projeto quanto na superação de todos os obstáculos, que permite também que tudo flua: que as plantações cresçam e frutifiquem, que as flores desabrochem cada vez mais abundantemente, que a experiência do viver junto dos residentes, tentada de muitas formas, vá sendo depurada em modelos mais viáveis. Assim a Natureza, honrada e preservada, em sua força sagrada, empurra seus filhos e filhas a acolher outras pessoas, a partilhar, a construir e a manter os espaços e a tentar sempre de novo. De quebra, dá também seus frutos, abundantemente, para alimentar o corpo e a alma. 



L'avenir de l'humanité par Sri Aurobindo et Teilhard de Chardin

December 5, 2022 13:00, by Débora Nunes - 0no comments yet

Sri aurobindo e teilhard de chardin

Deux sages, un Indien et un Français, écrivant au début du 20e siècle, ont donné des réponses très similaires sur ce que pourrait être l'avenir de l'humanité. Ces réponses sont encourageantes. Examiner la proposition évolutionniste de ces sages et chercher à comprendre comment nous pouvons y contribuer, personnellement et collectivement, peut être une source d'inspiration. Voyons cela :

Sri Aurobindo (1872 - 1950), était un leader indépendantiste indien qui a vécu sa jeunesse en Angleterre. Lorsqu'il est retourné en Inde et a commencé la lutte à laquelle ont participé Gandhi, Nehru et d'autres, il a été arrêté par les Britanniques qui persécutaient les anticolonialistes. Pendant son séjour en prison, il a eu des visions sur l'évolution humaine et a décidé d'élargir son action politique à une œuvre plus universelle. Il s'est exilé à Pondichéry - une colonie française en Inde, où il pouvait être en sécurité - et a développé une forme innovante de yoga, appelée Yoga Intégral. Avec le soutien de Mirra Alfassa, également connue sous le nom de Mère, Aurobindo a fondé une communauté spirituelle (Ashram) et un collège innovant à Pondichéry. Après sa mort, ses enseignements ont inspiré la fondation de la ville futuriste d'Auroville en 1968.

Teilhard de Chardin (1881 à 1955) était un prêtre jésuite français, à la fois théologien, philosophe et docteur en paléontologie, qui a profondément étudié l'évolution de l'Homo Sapiens. Pour son travail missionnaire, il a vécu dans plusieurs pays, dont la Chine, et pour ses recherches en paléontologie, il était présent sur des sites archéologiques du monde entier. Sa réflexion pluridisciplinaire, intégrant les notions nouvellement découvertes de la thermodynamique et de la physique quantique, et ses expériences pratiques, l'ont conduit à une pensée innovante. L'Église a d'abord condamné sa ligne de pensée et a empêché la publication de ses livres de son vivant. Aujourd'hui, Teilhard de Chardin est un nom vénéré dans la science et la religion.

Bien que ne s'étant jamais rencontrés et participant à des univers culturels très différents, Sri Aurobindo et Teilhard de Chardin ont en commun des analyses très proches sur les étapes de l'évolution du cosmos, sur la compréhension du rôle de l'homme dans ce processus et la description de la prochaine étape évolutive. Ces approches ont été rendues possibles par leur vision inspirée de la relation entre la matière et l'esprit. Tant dans la spiritualité indienne que dans la tradition religieuse chrétienne, l'esprit est plus important que la matière, qui est souvent méprisée. Aurobindo et Teilhard de Chardin ont rompu avec ces traditions en trouvant une harmonisation dans le processus évolutif de la matière et de l'esprit.

Dans ses études sur les espèces, Teilhard a identifié une évolution à la fois biologique et morale : les mammifères montrent une affection pour leurs petits que l'on ne retrouve pas chez les reptiles, apparus plus tôt. L'espèce humaine, bien qu'elle ait des accès sporadiques de violence, développe des réseaux de solidarité qui se manifestent dans la société, par exemple, par la prise en charge des plus faibles, qui dans la nature ont tendance à être éliminés. Pour Teilhard, il y a deux évolutions parallèles : celle qui a conduit à l’ « hominisation », l'espèce humaine biologique, et celle qui conduit à l' « humanisation », ou l'élévation spirituelle des humains.

La complexité croissante des systèmes biologiques s'accompagne de la croissance de la conscience, qui atteint son apogée chez l'homme. Le système nerveux humain est beaucoup plus complexe que celui des autres mammifères, qui est à son tour plus complexe que celui des oiseaux, et ainsi de suite avec les reptiles, les poissons et les micro-organismes. Pour Teilhard de Chardin, toute l'évolution de la vie s'est faite et continue de se faire vers plus de spiritualité, et donc vers plus d'amour.  Mais cette complexification vers la spiritualité est encore en cours : « L'humanité est encore embryonnaire » disait Teilhard.

Sri Aurobindo était un grand connaisseur des traditions indiennes qui comprennent que derrière les apparences de l'Univers (Maya) existe la réalité de la Conscience, l'Être de toutes choses, un et éternel. Il note que les espèces non conscientes perçoivent vivement cette unité et vivent dans le présent, intimement liées aux autres membres de leur espèce et à tous les êtres de la nature. Cette perception est rendue difficile pour les humains par la séparation de l'Ego, qui donne la priorité au moi, et par le fonctionnement limité de l'esprit qui, après un certain point de conscience, cesse d'évoluer, tournant en rond. Le passage à un stade ultérieur de la conscience, dans la tradition indienne, a lieu lorsque l'individu se détache définitivement du monde pour se relier au divin par la pratique du yoga. Contrairement à l'ascétisme des Yogis ermites traditionnels, Aurobindo proposait de diviniser la vie et non de renoncer à la vie pour rechercher le divin.

La proposition de Sri Aurobindo avec le Yoga Intégral est d'atteindre un stade supérieur de conscience sans se retirer du monde, en permettant à la perception de l'Unité de descendre en nous, par une pratique continue, disciplinée et longue d'ouverture et de se laisser pénétrer par la puissance de la Conscience Unique. Cette évolution peut se produire grâce à la discipline psychologique du yoga intégral, qui n'est ni un processus mental ni un processus physique, mais une intériorisation méditative avec concentration sur le cœur. Les humains peuvent aller au-delà de leur nature limitée, trouver le divin en eux et lever le voile qui cache l'unité et la divinité qui existent en tout. Pour Aurobindo, la recherche humaine et spontanée du beau, de l’harmonie et du vrai est le signe que nous sommes guidés par la conscience universelle, et que des étincelles du feu divin touchent constamment notre âme, même si nous en sommes peu conscients.

Dans la proposition d'Aurobindo, trouver la conscience divine est une quête existentielle personnelle, mais aussi un processus collectif à travers lequel on peut faire l'expérience de «  l'unité humaine »  et ainsi surmonter la monstruosité des guerres et autres maux sociaux. La proposition de la cité universelle d'Auroville est de rendre possible ce processus d'unité à une échelle prototypique, au sein d'un collectif qui représente l'humanité, dans la mesure où de nombreux individus de cultures différentes vivent ensemble. Réinventer la société en évoluant personnellement et collectivement dans la pratique du Yoga Intégral est le défi permanent des Aurovilliens... et du reste de l'humanité.

Comme Sri Aurobindo, Teilhard comprenait la matière et l'esprit comme deux faces d'une même réalité et non comme contradictoires. Tous deux ont certainement été inspirés par la théorie de l'évolution de Darwin, avec laquelle ils étaient d'accord, mais qu'ils trouvaient insuffisante. A la proposition darwinienne de sélection naturelle des espèces, ils ont incorporé l'aspect de l'évolution spirituelle comme tendance naturelle de l'existence cosmique. Ils voyaient l'évolution de l'univers en trois étapes : la Matière, la Vie et l'Esprit, pour Aurobindo la Géosphère, la Biosphère et la Technosphère, pour Teilhard, avec la même signification : de la matière inerte à l'apparition de la vie et de celle-ci à l'apparition de l'Homme. Tous deux ont imaginé le stade d'évolution suivant, appelé Noosphère, par Teilhard et Supermind, par Aurobindo.

La noosphère et le super-esprit sont tous deux des étapes au cours desquelles des intelligences humaines connectées et en coopération construisent une réalité spirituelle supérieure. La Noosphère est expliquée par Teilhard comme "un film de pensées enveloppant la Terre, formé de communications humaines", très proche du rôle que joue aujourd'hui Internet, de manière balbutiante.  Le super-esprit est comme un esprit collectif qui a dépassé les limites du mental et s'est spiritualisé, en connexion avec la plus grande Unité, une âme collective.

Fidèle aux traditions indiennes, Aurobindo a développé dans le Yoga intégral une proposition d'approche de cette Unité, que Chardin appelait aussi le "Christ cosmique" ou le "Point Oméga". Alors que Chardin, cohérent avec la tradition occidentale, utilisait le raisonnement scientifique et donnait la priorité à l'explication du processus d'évolution spirituelle, Aurobindo, cohérent avec la tradition mystique orientale, cherchait à vivre ce processus et à le décrire. Le yoga intégral n'est pas une technique avec des a-sanas et des exercices de respiration, mais une pratique perceptive des différents niveaux de conscience à partir de notre corps matériel, de sa dimension vitale et de la maîtrise de l'esprit, jusqu'à atteindre, pas à pas, la connexion avec le super-esprit. Bien que Sri Aurobindo propose un processus d'amélioration personnelle qui n'a pas besoin de se faire en dehors du monde, une grande discipline est nécessaire pour la maîtrise du corps, de ses besoins, de ses avidités et de ses désirs, ainsi qu'un travail méditatif à la recherche de sa propre âme. Pour Aurobindo la présence d'un maître est essentielle, quelqu'un qui a fait le chemin de la dévotion, de l'amour et de l'abandon et qui peut communiquer sa force spirituelle à la personne qui cherche à évoluer.

Teilhard appelle "Point Oméga" le point de convergence de l'évolution matérielle et spirituelle, où l'homme rencontre Dieu, dans une spiritualité parfaite. Ce point se manifeste par une ère d'harmonisation des consciences, fondée sur le principe de la "convergence des centres". Chaque centre, ou conscience individuelle, est amené à entrer dans une collaboration toujours plus profonde avec les consciences avec lesquelles il communique, et cette convergence se transforme en un tout "noosphérique". L'identification non-homogénéisante du Tout avec le sujet percevant provoque une croissance de la conscience et le Point Oméga est le pôle d'attraction, tant à l'échelle individuelle que collective. La multiplication des centres comme images relatives de l'ensemble des centres harmonisés participe à la construction du "Christ cosmique". Lorsque les consciences communiquent entre elles, elles créent un "super être", elles font un saut qualitatif, de la même manière que les molécules, en s'associant, sont passées de l'inerte au vivant.



Les quatre éléments, la connaissance de soi et l'évolution

April 6, 2022 3:22, by Débora Nunes - 0no comments yet

4 elements

Les traditions chamaniques d'origines diverses, ainsi que l'astrologie, travaillent les quatre éléments qui constituent la vie sur Terre (le Feu, l'Eau, l'Air et la Terre) comme un moyen de recherche de la connaissance de soi et du dépassement de limites  personnels. D'autres traditions, comme celle des Chinois, incluent le métal et le bois pour expliquer le monde, d'autres incluent l'éther comme cinquième élément... Il est important de dire qu'il n'y a pas de bon ou de mauvais choix dans le nombre et le type d'éléments définis pour interpréter la réalité, ce sont juste des choix qui dépendent du contexte. L'important est que ces références peuvent aider à avoir une vision plus intégrative du monde et contribuer ainsi à notre intériorisation et à notre évolution en tant que personnes et même en tant qu'espèce humaine.

Dans l'École d´Écologie Intégrative, le choix des éléments Feu, Eau, Air et Terre est lié à la tradition chamanique brésilienne et sud-américaine en général, comme moyen de se connecter à la toile de la Vie.  Ainsi, les quatre éléments sont liés aux quatre intelligences (de l'âme, du cœur, de l'esprit et du corps) et aident à la recherche d'une plus grande harmonie et cohérence entre ce que nous aspirons, ressentons, pensons et faisons. La perception de la force ou de la fragilité des éléments en soi, en plus d'être un moyen de se connaître et de se dépasser, est un moyen de stimuler l'interaction communautaire, puisque l'appartenance à un élément est un moyen de constituer des groupes de discussion, de travail et d'entraide dans la communauté ESI.

Selon les différentes traditions, chaque élément présente à la fois des aspects favorables et des défis. Ces traditions diffèrent peu les unes des autres, mais l'important est d'établir clairement comment on interprète chaque élément afin que le concept commun nous permette d'échanger. Dans la logique des nouveaux paradigmes, les vérités existent en tant qu'interprétations partagées qui constituent un espace commun de connaissance et de vie. De cette manière, on peut interagir avec d'autres espaces partagés d'interprétations du monde dans une logique de complémentarité et non de confrontation. Une somme de vérités différentes est plus proche de la complexité de la réalité que des vérités contradictoires qui mutilent la réalité. Ici encore, nous cherchons à mettre en pratique la notion de paradigme holistique et complexe, qui peut librement combiner les influences de différentes traditions (chinoise, ayurvédique, chamanique, etc.).

Pour l'astrologie, le Feu et l'Air sont des éléments Yang, masculins, liés à la pénétration, l'activité, l'énergie, l'expansion, la communication. L'eau et la terre sont des éléments Yin, féminins, liés à l'accueil, l'introspection, la fertilité, l'entretien, le sens pratique. Les archétypes Yin et Yang, toujours complémentaires, sont des forces de la Nature qui, lorsqu'elles sont équilibrées, constituent la cohérence et l'harmonie. Á l´ESI, lorsque nous travaillons sur les éléments liés à leur énergie première, féminine ou masculine, les voies de l'harmonisation intérieure se précisent. Dans ce qui suit, nous expliquerons brièvement ce que l'on entend par aspects favorables et défis de chaque élément et les moyens de les harmoniser. En nous-mêmes et donc dans le monde, comme nous explique la phisyque quantique.

Pour le Feu, qui représente l'intelligence de l'âme, nous avons la vigueur, la détermination, l'enthousiasme, la persistance et l'aspiration spirituelle comme impulsions positives de l'élément. L'excès de Feu apporte l'impulsivité, la bêtise, la colère et l'irritation et une grande susceptibilité menant à des conflits. L'harmonisation de l'élément lui-même peut se faire par stimulation ou par un refroidissement choisi consciemment. Pour ceux qui ont besoin de stimuler leur feu intérieur, le contact avec l'élément est recommandé : bougies, feux de joie, exposition au soleil. Pour calmer le Feu intérieur, selon les cas, on recommande, par exemple, un contact ritualisé, c'est-à-dire en pleine présence, avec la Terre : planter, marcher sur le sol, modeler des céramiques, parmi de nombreuses autres actions.

Les aspects favorables de l'Air, qui représente l'intelligence de âme, sont l'indépendance, la clarté mentale lorsqu'on s'exprime, la cordialité, la perspicacité. Ses défis sont l'instabilité, la propension au mensonge, l'irresponsabilité et la parole inconsciente. Pour équilibrer l'Air, il est important de prêter attention à la respiration et de l'harmoniser. Il est également possible d'utiliser l'Eau de manière ritualisée, où chaque geste est effectué avec une profonde attention. Le moment de prendre un bain, de boire de l'eau, de se laver les mains, d'arroser les plantes, par exemple, permettent un contact ritualisé avec l'Eau. Selon le contexte, la personne et la situation, d'autres éléments peuvent contribuer à neutraliser ou à renforcer l'élément en question.

Les aspects favorables de l'Eau, qui représente l'intelligence du cœur, sont la tendance à la sérénité, la modération et la modestie et la capacité de dévouement. Lorsque l'Eau est déséquilibrée, on peut observer la dépression, l'indifférence, la lâcheté et le découragement. Pour aider à équilibrer l'Eau, le Feu peut être utilisé, en contact rituel comme suggéré ci-dessus. Comme pour tous les autres éléments, la créativité de chacun pour les ritualiser permet un nombre infini de processus de guérison. La chose la plus importante de toutes est la "présence", l'état de conscience attentif au moment présent dans lequel se pratique le contact avec l'élément. La force qui mobilise la guérison et l'évolution de chaque Être est l'INTENTION mise dans l'accomplissement du rituel.

Les aspects favorables de la Terre, lorsqu'elle est équilibrée dans l'Être, sont la stabilité, la fiabilité, le réalisme et la capacité de réalisation. Lorsque cet élément est déséquilibré, il pose les défis du matérialisme, de la superficialité, de l'inconscience, de l'étroitesse d'esprit et des préjugés. Le déséquilibre de l'élément Terre peut être traité par la ritualisation de l'Air, en faisant des pranayamas (exercices de respiration), en marchant en plein air en faisant attention à la respiration, etc. La Terre et le Feu et l'Air et l'Eau sont des polarités que l'on peut facilement identifier comme complémentaires, qui se corrigent mutuellement dans leurs défauts et leurs excès. Cependant, selon le contexte, l'excès de Terre peut être adouci par des rituels avec l'Eau, avec l'Air ou avec le Feu, et ainsi de suite pour tous les éléments.

Les éléments inspirent et organisent la méthodologie de l´ESI. Les personnes des groupes en formation sont invitées à choisir parmi les quatre éléments deux qui les représentent le plus, sur la base des descriptions ci-dessus. Il est suggéré que chaque participant utilise principalement les défis de chaque élément pour s'identifier. Contrairement au monde des egos gonflés où les gens ne mettent en avant que leurs qualités lorsqu'ils se présentent, dans les groupes ESI, ils et elles sont invités à partager leurs vulnérabilités. En faisant cela et en écoutant les autres qui font de même, on crée immédiatement une atmosphère d'empathie qui est beaucoup plus constructive et transformatrice.

Le mot de passe de l'état d'esprit avec lequel on choisit ses éléments est l'idée que "nos défauts sont les exagérations de nos qualités", ainsi chaque personne est invitée à regarder ses défis avec compassion pour elle-même. Naturellement, la même compassion s'établit avec les autres participants. Cela fait également partie de la méthodologie d´encourager les gens à prendre conscience de leurs aspects favorables liés à leurs éléments favoris et à en être reconnaissants. En stimulant la prise de conscience des talents et des défis de chacun et en entreprenant la recherche de transformation de manière collective, le développement personnel et collectif est renforcé, accélérant la Transition vers des comportements plus cohérents.

Les échanges entre les participants liés à un même élément, ou à des éléments complémentaires, servent à une plus grande clarté dans l'élaboration du Plan de Transition, dans lequel on cherche à établir des objectifs à atteindre dans la recherche d'une plus grande cohérence personnelle entre ce que l'on fait, dit, pense et aspire. Tout au long du processus de formation, le partage approfondit les liens interpersonnels, favorisant le sentiment d'appartenance à une communauté intentionnelle, un groupe de personnes qui connaissent leurs défis pour évoluer et qui sont à la recherche concrète de cette évolution, étape par étape. Ce collectif de transition co-créé signifie le soutien et l'encouragement d'attitudes de plus en plus profondes et cohérentes qui choquent l'environnement extérieur, lié aux anciennes valeurs d'égoïsme, de consumérisme, de manque de responsabilité et de jugement. La communauté intentionnelle devient ainsi, pour chaque personne, un nouvel environnement extérieur et un stimulant qui encourage la responsabilité envers le Tout, la compassion, l'authenticité et la simplicité.

Débora Nunes, avril 2022



Os quatro elementos, autoconhecimento e evolução

April 5, 2022 10:49, by Débora Nunes - 0no comments yet

 Grupos   4 elementos forças e desafios

Débora Nunes

Tradições xamânicas de diversas origens, e a astrologia, trabalham os quatro elementos que constituem a Vida na Terra (Fogo, Água, Ar e Terra) como forma de busca de autoconhecimento e autossuperação. Outras tradições, como a chinesa, incluem o metal e a madeira como explicativos da realidade, outras incluem o éter como quinto elemento... É importante dizer que não há escolha certa ou errada no número e tipo de elementos definidos para se interpretar o mundo, são apenas escolhas que dependem do contexto. O importante é que essas referências podem ajudar a ter uma visão mais integrativa do mundo e assim contribuir com nossa interiorização e evolução como pessoas e mesmo como espécie humana.

Na Escola de Sustentabilidade Integral a escolha dos elementos Fogo, Água, Ar e Terra se conecta com a tradição xamânica brasileira e sul-americana em geral, como caminho de conexão com a Teia da Vida.  Assim, os quatro elementos são vinculados às quatro inteligências (da alma, do coração, da mente e do corpo) e ajudam na busca de uma maior harmonia e coerência entre o que almejamos sentimos, pensamos e fazemos. A percepção da força ou fragilidade dos elementos em si mesmo além de ser um caminho de autoconhecimento e autossuperação, é um meio de estimular a interação comunitária, já que o pertencimento a um elemento é um modo de constituir grupos de discussão, de trabalho e de ajuda mútua na comunidade ESI.

Segundo diferentes tradições, cada elemento tem aspectos favoráveis e desafios. Essas tradições diferem pouco entre si, mas o importante é estabelecer claramente como se está interpretando cada elemento para que o conceito comum nos permita trocas. Na lógica dos novos paradigmas, as verdades existem como interpretações partilhadas que constituem um espaço comum de conhecimento e vida. Assim pode-se interagir com outros espaços partilhados de interpretações sobre o mundo numa lógica de complementaridade e não de confronto. Uma soma de verdades diferentes é mais próxima da complexidade da realidade do que verdades em conflito que mutilam a realidade. Aqui, mais uma vez, busca-se praticar a noção de paradigma holístico, complexo, que pode combinar com liberdade influências de diferentes tradições (chinesa, ayurvédica, xamânica, etc).

Para a astrologia, o Fogo e o Ar são elementos Yang, masculinos, relacionados com a penetração, a atividade, a energia, a expansão, a comunicação. A Água e a Terra são elementos Yin, femininos, relacionados com o acolhimento, a introspecção, a fertilidade, a manutenção, a praticidade. Os arquétipos Yin e Yang, sempre complementares, são forças da Natureza, que, equilibrados, constituem coerência e harmonia. Na ESI, quando trabalhamos os elementos ligados à sua energia primeira, feminina ou masculina, os caminhos de harmonização interior ficam mais claros. A seguir explicitaremos brevemente o que se entende como aspectos favoráveis e desafios de cada elemento e formas de harmonizá-los. Em nós mesmos e assim no mundo, como nos explica a física quântica.

Para o Fogo, que representa a inteligência da alma, temos o vigor, a determinação, o entusiasmo, a coragem, a persistência e a aspiração espiritual como impulsos positivos do elemento. O excesso de fogo traz impulsividade, insensatez, raiva e irritação e grande suscetibilidade que leva a conflitos. A harmonização do elemento pode se dar pelo estímulo ou pelo arrefecimento conscientemente escolhido, segundo seu excesso ou falta. Para quem precisa estimular seu Fogo interior, recomenda-se, por exemplo, o contato consciente com o elemento: velas, fogueiras, exposição ao sol. Para acalmar o Fogo interior, a depender de cada caso, recomenda-se, por exemplo, o contato ritualizado, ou seja, em inteira presença, com a Terra: plantar, andar com pé no chão, modelar cerâmica, entre tantas outras ações. Uma cura que o elemento representa é a transmutação que ele permite daquilo que desarmoniza o Ser, como escrever uma carta para desabafar e queimá-la para que os sentimentos sejam transmutados.

Os aspectos favoráveis do Ar, que representa a inteligência da mente, são a independência, a clareza mental ao expressar-se, a cordialidade, a perspicácia, a fluidez. Já seus desafios são a instabilidade, a propensão à mentira, à irresponsabilidade, à fala inconsciente. Para se equilibrar o Ar é possível também utilizar a Água de forma ritualizada, em que cada gesto é feito com profunda atenção. O momento de tomar banho, de beber água, de lavar as mãos, de molhar as plantas, por exemplo, permitem o contato ritualizado com a Água. A depender do contexto, da pessoa, da situação, outros elementos podem ajudar na neutralização ou na potencialização do elemento em destaque. Uma cura que o elemento Ar representa é a possibilidade de conexão com a sabedoria Universal, a mente cósmica, acessada pela respiração consciente ou pela meditação.

Os aspectos favoráveis da Água, que representa a inteligência do coração são a propensão à serenidade, à moderação e modéstia e a capacidade de devoção. Quando a Água está desequilibrada, se pode observar depressão, indiferença, covardia, desânimo. Uma cura que o elemento Água representa é a possibilidade de conexão profunda com as emoções através do choro, água que pode acessada quando se evoca o sofrimento para entendê-lo e superá-lo. Para ajudar o equilíbrio do elemento Água se pode usar o Fogo, em contato ritualizado como foi sugerido acima. Como para todos os demais elementos, a criatividade de cada pessoa ao ritualizá-lo permite uma infinidade de processos de cura. O mais importante de tudo é a “presença”, o estado de consciência atenta ao momento presente em que se pratica o contato com o elemento. A força que mobiliza a cura e a evolução de cada Ser é a INTENÇÃO colocada na realização do ritual.

Os aspectos favoráveis da Terra, quando equilibrada no Ser, são a estabilidade, a confiabilidade, o realismo, o ancoramento no real, a capacidade de realização dos objetivos, de materializar os sonhos. Quando este elemento se encontra desequilibrado, ele coloca os desafios do materialismo, da superficialidade, da inconsciência e da estreiteza de visão e comportamentos preconceituosos. Pode-se tratar o desequilíbrio do elemento Terra com a ritualização do Ar, fazendo pranayamas (exercícios respiratórios), caminhadas ao ar livre com atenção à respiração etc. Uma cura que o elemento Terra representa é a possibilidade de sentir-se apoiado pela Mãe Terra, quando se trabalho junto com ela, cultivando um vaso, um jardim, uma plantação.

A Terra e o Fogo e o Ar e a Água são polaridades facilmente identificáveis como complementares, que se corrigem mutualmente em faltas e excessos. Entretanto, a depender do contexto, o excesso de um elemento, a Terra, por exemplo, pode ser amenizado com rituais com o Ar, mas também com a Água, e com o Fogo e assim acontece para todos os elementos. A complexidade da Vida nos diz que as simplificações e dualidades são didáticas e nos ajudam a decidir a direção de cura a seguir, mas não podem ser estreitas a ponto de nos fazer negar outras possibilidades que refletem a complexidade da realidade. O equilíbrio integrativo de todos os elementos, como das nossas inteligências espiritual, emocional, mental e corporal, demandam um olhar abrangente e inclusivo

Os elementos inspiram e organizam a metodologia da ESI. As pessoas dos grupos em formação são chamadas a escolher entre os quatro elementos dois que mais as representam, a partir das descrições acima. Sugere-se que cada participante use principalmente os desafios de cada elemento para se identificar. Diferente do mundo de egos inflados em que as pessoas apenas ressaltam suas qualidades ao se apresentarem, nos grupos da ESI elas são convidadas a partilhar suas vulnerabilidades. Ao fazerem isso e escutarem outras pessoas que também o fazem, cria-se imediatamente um ambiente de empatia que é bem mais construtivo e impulsionador de transformações.

A senha para o estado de espírito com o qual se deve escolher os elementos é a ideia de que “nossos defeitos são os exageros de nossas qualidades”, portanto, cada pessoa é convidada a olhar seus desafios com compaixão por si mesma. Naturalmente a mesma compaixão se estabelece com as outras e outros participantes. Faz parte da metodologia estimular também que as pessoas se deem conta de seus aspectos favoráveis vinculados aos seus elementos de predileção e sejam gratas por eles. Estimulando-se a consciência sobre os talentos e desafios de cada pessoa e empreendendo-se a busca de transformação de maneira coletiva fortalece-se o desenvolvimento pessoal e do grupo, acelerando a Transição para comportamentos de maior coerência.

As trocas entre participantes vinculados ao mesmo elemento, ou a elementos complementares, servem à maior clareza na elaboração do Plano de Transição, em que se busca estabelecer metas a alcançar na busca de mais coerência pessoal entre o que se faz, se diz, se pensa e se aspira. Ao longo do processo de formação, a partilha aprofunda os laços interpessoais, favorecendo o sentimento de pertencerem a uma comunidade intencional, um conjunto de pessoas que conhece seus desafios para evoluir e que está em busca concreta, passo a passo, dessa evolução. Esse coletivo de Transição co-criado significa apoio e incentivo a atitudes cada vez mais profundas e coerentes e que chocam o ambiente externo, conectado com velhos valores de egotismo, consumismo, desresponsabilização e julgamento. A comunidade intencional torna-se assim, para cada pessoa, um novo ambiente e estimulante externo que incentiva a responsabilidade com o Todo, a compaixão, a autenticidade e a simplicidade.

 



Comment accéder au champ subtil ?

February 16, 2022 1:49, by Débora Nunes - 0no comments yet

Mãos de luz

Si cette question résonne en vous, vous avez probablement déjà pris conscience de la puissance du champ énergétique qui nous relie et nous entoure, en même temps que du champ matériel qui se manifeste dans la réalité objective. La réalité n’est pas que matière, elle est aussi énergie et information. Nous baignons dans ce champ subtil, énergétique et informationnel, et comme un poisson dans l’eau, nous ne voyons pas l’eau. Pour sentir et ressentir ce champ subtil, nous avons besoin de nous ouvrir, de nous reconnecter, à nous-même ; aux autres, et au vivant, humain et non humain.. Voici quelques pratiques simples pour nous ouvrir au champ subtil. Comme toute pratique, leurs effets peuvent prendre plus ou moins de temps, demander de l’entrainement. Nous pouvons compter sur l’entrain du groupe, sur l’égrégore pour nous entrainer.

1 - Prendre conscience de notre intuition
Commencons par ralentir, prendre le temps d’observer notre intuition, ce moyen privilégié d’entrer en contact avec la réalité immatérielle. Bien qu'il s'agisse d'une potentialité humaine plus qu'avérée, la plupart des gens ne l'ont pas encore suffisamment développée, ou ne lui font pas confiance, probablement parce que la vision dominante du monde est matérialiste, centrée sur le rationnel, ce qui ne nous encourage pas à développer notre intuition. Prenons le temps d’observer notre relation avec notre intuition, quelle est la la dernière fois qu'elle nous a aidé, sauvé d'une situation défavorable, ou qu'elle nous a donné des indices pour mieux comprendre un problème concret, une situation concrète ? Quelle est la dernière fois que nous avons regretté de l'avoir ignorée. En prêtant plus d’attention à notre intuition, jour après jour, nous nous ouvrons une voie d'accès au monde immatériel. Plus nous prêtons attention à notre intuition, plus nous avons accès au champ subtil.

2 - Pratiquer la méditation

Cette technique ancienne aiguise notre intuition, elle calme notre mental et permet l’accès à d’autres intelligences. Grâce à ces autres intelligences, nous pouvons pénétrer plus profondément dans notre compréhension du monde, nous pouvons nous ré-unir au monde, en nous et autour de nous. Notre intelligence s'exprime de nombreuses façons, mais la culture dans lequel nous vivons privilégie l’intelligence mentale, rationnelle, logique. Sans le savoir, sans nous en rendre compte, nous nous coupons ainsi de notre intuition, de notre créativité, de toutes nos capacités ressources et potentiels subtils. Réduit au mental, notre esprit est diminué. Quand vous pratiquez la méditation de façon régulière, si possible chaque jour, même si ce n’est au départ que quelques minutes, en choisissant les techniques de méditation qui vous semblent les plus attrayantes, vous vous ouvrez au champ subtil. Pour commencer, vous pouvez simplement vous recentrer, vous concentrer sur quelque chose de précis, comme le rythme de votre respiration, un guide auditif, les battements de votre cœur, un mantra... Bien sûr, votre mental ne va pas s’arrêter. Ce n’est pas grâve : quand vous réalisez que vous vous êtes attachés à une pensée, vous pouvez vous recentrer sur votre respiration, votre guide auditif…. Rien qu’en ayant pris conscience que vous vous étiez déconcentré, vous avez développé votre capacité de concentration. Peu à peu, vous apprendrez ainsi à faire le vide dans votre esprit : vous prêtez de moins en moins d’attention aux pensées qui vous traversent, et de plus en plus au champ subtil. Cet état vous permet d'aiguiser votre créativité et d'écouter plus clairement les messages de l'Univers.

3 – Entrer régulièrement en contact avec la Nature
La Nature absorbe les énergies perturbées et les restitue sous forme d'énergie positive. La Nature apaise l'esprit et les sens et renouvelle la santé. De et dans la Nature, par son immense abondance, nous recevons tout ce dont nous avons besoin et nous nous ouvrons ainsi plus facilement à la Gratitude, un portail puissant vers la joie. La contemplation de la Nature dans son infinie beauté, qui va de la dimension microscopique aux montagnes majestueuses, aux rivières, aux forêts, aux cieux et aux mers, et nous-mêmes, amène la perception de la force de Vie, du sacré. Les quatre éléments sont présents dans la Nature - le feu, l'eau, l'air et la terre – et ils constituent tout et révèlent le sens profond de ce tout (esprit, émotions, pensées et corps physique), donnant un sens aux chemins que nous empruntons. Dans la Nature, par la richesse et les mystères des règnes minéral, végétal, animal et humain, nous ne pouvons qu'honorer la force subtile qui l'anime et ressentir l'enchantement du Vivant.

4 - Ouvrez votre esprit aux nouveaux paradigmes
Dans la vision dominante du monde, nous nous pensons séparés, dénaturés. Nous nous focalisons sur l’avoir, les possessions matérielles, et sur le faire : faire bien, faire plaisir…
Dans une une vision intégrative du monde, que confirme les découvertes récentes de la physique quantique, de la biologie évolutive, de la complexité, de l'histoire intégrale.... Les nouveaux paradigmes – que l’ont peut appeler holistique, écologique, systémique, intégratif, quantique - comprennent le monde comme un grand réseau de matière, d'énergie et d’information dans lequel tout est interconnecté. Quand votre esprit va au-delà de la vision qui sépare tout, qui dénature, qui ne voit que ce qui peut être mesuré, il se rend compte que le champ energetique est aussi réel que le champ matériel, et est composé de vibrations et d´informations, parfois formalisée, parfois informelle. Quand votre esprit appréhende simultanément la matière et l’énergie, au Yin et au Yang, vous êtes reliés à la Toile de la Vie. Vous pouvez alors vous rendre compte que les pensées, les émotions et les intentions sont des vibrations puissantes et des informations qui interfèrent avec le monde matériel. Lorsque votre esprit s'ouvre à la perception du champ subtil il intégre l'intelligence mentale (objective et intuitive) à l'intelligence du cœur (subjective et émotionnelle) et du corps (qui nous informe, même quand nous ne savons pas l’écouter). Inconsciemment, notre esprit a toujours su que tout est Un. Avec un peu d'entraînement, cette perception devient consciente et commence à guider notre vie.

5 - Écoutez votre cœur
Quelques fois par semaine, vous pouvez vous arrêter et observer simplement les battements de votre cœur. Cette voix physique du cœur vous stimule, vous relie aux ondes vibratoires et à l’énergie en vous, vous permet de vous connecter à ce que votre voix intérieure veut dire, dans l'intimité de votre Être. Avec le temps, vous prendrez conscience des conflits intérieurs entre la logique mentale, les raisons du cœur et les informations du corps. Petit à petit, vous réaliserez que même quand le mental doute, le cœur et le corps savent. Cela ne signifie pas que la rationalité est peu utile, mais seulement qu'elle est limitée parce qu'elle est moins intégrative. Dans certaines situations complexes, le cœur sait de manière définitive, même en se passant du raisonnement logique. Il il s'agit d'une connaissance subtile et supérieure, intégrée et intégrative, alignée sur la sagesse de l'Univers. À partir de cette pratique de l'écoute, physique et subtile du cœur et du corps, il vous sera de plus en plus naturel de suivre ce que vous ressentez, ce que vous pressentez comme étant la meilleure voie. Il sera possible de surmonter le mépris que la société matérialiste a pour la sagesse de l'âme qui s'exprime à travers le cœur et l'intuition, en les considérant comme naïfs ou idéalistes. Aucun grand changement évolutif dans l'histoire de l'humanité ne s'est fait sans l'intelligence du cœur.

6. Soignez votre verticalité, alignez votre colonne vertébrale droite

Dans le domaine physique, notre colonne vertébrale est la structure verticale du corps. Quand vous la maintenez alignée et flexible, vous favorisez le fonctionnement de tous vos organes, ainsi que le bon flux de l´air et du sang. De plus, dans le champ subtil, votre colonne vertébrale est votre axe de connexion avec la Terre et le Ciel, avec le féminin et le masculin sacré. Maintenir votre axe, votre verticalité, votre alignement, votre flexibilité, en commençant par votre colonne vertébrale, c’ets vous permettre de vous adapter aux hauts et aux bas de la vie. C’est aussi permettre à vos chakras, ces centres énergétiques subtils situés dans son axe de fonctionner librement, sans blocages ni pression, permettant ainsi aux énergies cosmiques de communiquer avec nous par les voix de l'âme. Une colonne vertébrale alignée et élastique contribue à l'élégance et à la longévité et permet à la force vitale, le Chi, de circuler. Cette force vitale qui circule librement soutient notre pouvoir de guérison grâce à l'énergie de nos mains, donne de la clarté à nos pensées et de l'ouverture à notre cœur, et soutient la vigueur de notre aura qui, en même temps, nous protège et dynamise notre influence dans le monde. Tout coule mieux avec une colonne vertébrale alignée, que ce soit dans le domaine énergétique ou dans le domaine matériel.

7.Cultiver l'autodiscipline, s’entrainer avec entrain

Les pratiques de toutes sortes demandent que vous leur consacriez du temps et que vous vous entrainiez régulièrement. Pour cela, les rituels sont utiles. Ils permetttent de construire de nouvelles habitudes, de nouvelles capacités… C’est aussi le cas pour les pratiques spirituelles. Moins vous en avez l’habitude, plus les rituels sont aidants et plus vous les pratiquez, plus la puissance de ces rituels augmente. Qu'il s'agisse des prières et des bougies des jours saints du catholicisme, des fêtes et des festins sacrés et des aliments interdits du judaïsme, de la lecture du Coran et du jeûne du Ramadan dans l'islam, de la consommation de plantes sacrées et de la recherche de la vision dans le chamanisme ou des danses et des chants du candomblé, chaque pratique spirituelle recommande des préceptes qui facilitent l'accès au monde subtil. Dans nos pratiques, qui sont spirituelles et laïques, c'est-à-dire sans dogmes ni structures religieuses, chacun de nous est responsable de sa propre discipline, de son auto-discipline. Plus vos pratiques sont régulières, plus vos rituels sont ancrés, plus vous vous ouvrez au au monde subtil. Cela est vrai aussi pour une communauté : elle se renforce en créant des rituels communs, en synchronisant les pratiques, nourissant ainsi un égrégore, un tout commun et subtil dans lequel les energies personnelles se renforcent mutuellement. Sans pratiques régulières, chacun peut éprouver des éclairs occasionnels de compréhension du monde subtil, mais pas accéder, de manière évolutive et pérenne, à une conscience chaque fois plus grande.

8. Laissez-vous ouvrir au subtil et réalisez ainsi que tout ce qui doit être, est et sera.

Notre verticalité, notre alignement, notre flexibilité, ainsi que les états de relaxation et de contemplation favorisent la connexion avec ce qui nous transcende. Cette transcendance permet un état d’accueil inconditionnel et d’accès a une plus grande sagesse, à la sagesse universelle, qui ne peut pas se manifester clairement lorsque nous sommes dans un état d'angoisse, de tension ou de mental accéléré. S’ouvrir au subtil, c’est sentir et ressentir que la vie a ses raisons évolutives, même quand nous ne pouvons encore les percevoir. Dites « Oui à la Vie », en observant et en accueillant ce qui se passe, en vous et autour de vous, en vous abandonnant complètement. Plus vous êtes reconnaissant pour ce qui est, plus vous faites ce qui est en votre pouvoir pour que les choses se produisent selon vos souhaits – plus vous vous détachez des choses, plus vous mobilisez l'Univers pour que chaque situation, chaque événement, chaque être vous vienne en aide. Souhaiter, agir et lacher prise sur ce qui doit être est un signe de maturité qui accueille la  Sagesse Universelle. Et elle sait nous rendre ce que nous lui donnons. Demander, donner, recevoir et rendre, c’est partager l’abondance que l’univers et la vie nous offre.

Je remercie la traduction et les ajustements culturels effectués par Georges Comby pour une meilleure compréhension du texte original en bresilien. Débora Nunes

 

 



Como acessar o campo sutil?

January 16, 2022 22:14, by Débora Nunes - 0no comments yet

Mãos de luz

Se você se interessou por esse título é provável que já tenha se dado conta da força do campo energético que envolve tudo, concomitantemente ao campo material que se mostra mais facilmente. Se a realidade é uma mescla desses dois componentes, matéria e energia, e percebemos prioritariamente o mundo material é porque isso é estimulado pela visão de mundo dominante. Para passar a perceber melhor o campo energético, ou campo sutil, é importante o aquietamento, estar mais presentes na percepção de si mesmo e de tudo que nos cerca, inclusive vibratoriamente. Seguem algumas sugestões simples de como acessar o campo sutil. Como todo treinamento, isso sempre toma tempo, maior ou menor, a cada caso, mas isso alargará sua forma de estar na Vida e de entendê-la.


1 – Dê-se conta de sua intuição

Comece por aquietar-se sempre que possível para observar o que lhe informa sua intuição, essa via privilegiada de contato com a realidade imaterial. Embora seja uma potencialidade humana mais que provada, a maioria das pessoas ainda não a desenvolveu suficientemente, provavelmente porque o mundo materialista dominante, com foco no racional, não incentiva isso. Observe como você se relaciona com sua intuição, tente lembrar a última vez em que ela lhe salvou de uma situação adversa, ou lhe deu pistas para melhor entender alguma questão concreta. Qual foi a última vez em que você se arrependeu de ter ignorado sua intuição?. Ao incorporar a ideia de ter uma via de acesso ao campo sutil e começar a dar mais atenção a ela, dia após dia, você certamente acessará mais facilmente esse campo.

 2 - Pratique Meditação

Essa técnica milenar aguça a intuição, na medida em que aquieta a mente e permite que a inteligência mental saia de sua superfície lógica e penetre mais profundamente no entendimento do mundo. A inteligência mental expressa-se de muitas formas, mas como a cultura do mundo em que vivemos exige que sejamos racionais todo o tempo, a intuição e a criatividade, habilidades complementares à lógica da mente, ficam diminuídas. Se você praticar Meditação de forma regular, se possível todos os dias ao menos alguns minutos, escolhendo as técnicas que lhe parecerem mais atraentes, irá aprender a concentrar-se em algo definido, como o ritmo de sua respiração, uma guiança auditiva, o bater de seu coração, um mantra... e assim aprenderá a esvaziar a mente. Claro que sua mente vai resistir a isso, pois seu modo de funcionamento vem sendo o ininterrupto. Não se preocupe, só de perceber o moto contínuo de pensamentos que a mente está acostumada já lhe faz estar na posição de observador.a da mente, o que significa que ela não tem mais uma posição dominante. Persista e aos poucos esse aquietamento mental será mais fácil. Este estado lhe habilita a aguçar a criatividade e a escutar com mais clareza as mensagens do Universo.

3 – Tenha contato regular com a Natureza

A Natureza absorve energias conturbadas e as devolve em forma de energia positiva, por isso acalma a mente e os sentidos e renova a saúde. Da Natureza, em sua imensa abundância, recebemos tudo o que precisamos e assim nos abrimos mais facilmente à Gratidão, esse portal da alegria. A contemplação da Natureza em sua infinita beleza, que abrange desde a dimensão microscópica até as majestosas montanhas, os rios, as matas, os céus e os mares, e nós mesmos, traz a percepção do sagrado, da força da Vida. Na Natureza estão presentes os quatro elementos – fogo, água, ar e terra - que tudo constituem e que tudo revelam em termos do seu sentido profundo (espírito, emoções, pensamentos e corpo físico), dando sentido aos caminhos que trilhamos. Diante da Natureza, da riqueza e dos mistérios dos reinos mineral, vegetal, animal e humano, nos resta honrar a força sutil que lhe anima e sentir o encanto de Viver.

4 - Abra sua mente para os novos paradigmas

No paradigma atual tudo está separado, funciona em modo hierárquico, a matéria é dominante e o ter e o fazer são os maiores valores. Os novos paradigmas se baseiam em uma visão integrativa do mundo e se nutrem das descobertas da física quântica, da biologia evolutiva, da complexidade, da história integral. O paradigma holístico – ou ecológico, sistêmico, integrativo, quântico (por isso se fala deles no plural) – entendem o mundo como uma grande teia de matéria e energia na qual tudo está interligado. Se sua mente ultrapassa a visão que tudo separa, que só vê o que pode ser medido, ela percebe que o campo vibratório, do qual faz parte o campo de informações, é tão real quanto o campo material, e que essas duas facetas explicam a Teia da Vida. Assim se percebe que pensamentos, emoções e intenções são poderosas vibrações que interferem no mundo material, como as ações. Quando sua mente se abre para a percepção do campo sutil e integra a inteligência mental (objetiva e intuitiva) e a inteligência do coração e do corpo, você se conecta à Teia da Vida, à sua própria alma e à alma do mundo. Inconscientemente e intuitivamente sempre soubemos que tudo é Um. Com algum treino essa percepção de torna consciente e passa a guiar nossa vida.

5 - Escute seu coração

Algumas vezes por semana, observe seu coração bater, simplesmente. Essa voz física cardíaca lhe estimula a conectar-se com o que sua voz interior quer dizer, na intimidade do seu Ser. Com o tempo você vai se dando conta de conflitos interiores entre a lógica e as razões do coração. Aos poucos vai perceber que a mente duvida, mas o coração sabe. Isso não significa dizer que a racionalidade seja dispensável, apenas que ela é limitada por ser menos integrativa. Em certas situações complexas o coração sabe de um modo definitivo, dispensando até o raciocínio lógico, pois é um saber de outro nível, alinhado com a sabedoria do Universo. A partir dessa prática de escuta será natural para você seguir aquilo que sente, que intui, como o melhor caminho. Será possível superar o desprezo que a sociedade materialista tem pela sabedoria da alma que se expressa através do coração e da intuição, considerando-os ingênuos ou idealistas. Nenhuma grande mudança evolutiva na história humana se fez sem a inteligência do coração.


6. Mantenha sua coluna ereta

No campo físico, a coluna é a estrutura vertical principal do corpo e mantê-la alinhada e flexível favorece o funcionamento de todos os órgãos, assim como o fluxo do sangue e do ar. No campo sutil ela é o eixo de conexão de cada pessoa com a Terra e o Céu, com o yin e o yang, com o feminino e o masculino interior, sagrados. Mantê-la alinhada e capaz de ajustar-se aos trancos da vida permite que os centros sutis de energia que se situam em seu eixo, os chakras, funcionem livremente, sem bloqueios ou pressões, deixando fluir as energias cósmicas que se comunicam conosco pelas vozes da alma. Uma coluna alinhada e flexível, bem vertical, contribui para a elegância e a longevidade e permite o fluir da força vital, o Chi. A força vital que flui livremente favorece nosso poder de cura pela energia das mãos, dá clareza aos nossos pensamentos e abertura ao nosso coração, além de favorece o vigor da nossa aura que, ao mesmo tempo, nos protege e anima nossa influência no mundo. Tudo flui melhor com uma coluna alinhada, seja no campo energético, seja no campo material.

7. Cultive a autodisciplina e treine com empenho

Práticas espirituais de todos os tipos demandam que se consagre tempo a elas e que se pratiquem rituais. Sejam as orações e velas nos dias santos do Catolicismo, as festas e sagradas e as comidas proibidas do Judaísmo, a leitura do Alcorão e o jejum do Ramadã no Islamismo, o consumo de plantas sagradas e a busca da visão do Xamanismo ou as danças e cantos do Candomblé, cada prática espiritual recomenda preceitos que facilitam o acesso ao mundo sutil. Numa prática espiritual laica, ou seja, sem que haja dogmas e estruturas religiosas, a pessoa que deseja acessar o mundo sutil necessita estabelecer sua própria disciplina, seus próprios rituais. Quando se trata de uma comunidade que intenciona penetrar o mundo sutil para dar sentido à vida e praticar o Amor, essa disciplina e esses rituais podem ser comuns – sintonizando práticas e sincronizando tempos – e assim criar egrégoras de reforço mútuo. Sem práticas regulares alguém poderá experimentar lampejos eventuais de compreensão do mundo sutil, mas um caminho evolutivo e perene de maior consciência só se estabelece com a autodisciplina e regularidade.  Cada pessoa estabelece assim para si mesma, segundo seu gosto e ritmo, o caminho de ampliação da conciência.

8. Se abra ao sutil e perceba que tudo que tiver de ser, será

Os estados de relaxamento e de contemplação, assim como de verticalidade e o alinhamento favorecem a conexão com aquilo que nos transcende. Essa transcendência permite o estado de entrega à Sabedoria Maior que se manifesta mais claramente quando não estamos em estados de angústia, tensão e mente acelerada. Se abrir ao sutil é sentir e perceber que a Vida tem suas razões evolutivas que nem sempre podemos perceber no agora, só o futuro explicará o porquê dos acontecimentos. Diga sim à Vida, observando e acolhendo o que acontece em você e no seu entorno, completamente entregue. Se você agradecer o que é, e fizer o que está ao seu alcance para que as coisas aconteçam conformemente ao seu desejo - mas sem apegar-se a ele - mobilizará o Universo para que tudo esteja a seu favor, mesmo que não seja na sintonia do seu desejo. Desejar, agir e entregar a ação e o desejo àquilo que tem que ser é um sinal de maturidade que acolhe a Sabedoria Maior. E ela sabe retornar-nos o que lhe damos.

 



Auroville: Uma utopia realizada?

September 24, 2021 8:45, by Débora Nunes - 0no comments yet

Auroville composição 2

Este artigo foi originalmente publicado em francês, na Revue Possibles, do Canadá (https://revuepossibles.ojs.umontreal.ca/index.php/revuepossibles/article/view/458)

 

Débora Nunes[1]

Há mais de 50 anos, nessa pequena cidade situada no sul da Índia, no estado de Tamil Nadu, é praticado o sonho da “unidade humana”, segundo o conceito do filósofo, político e místico indiano Sri Aurobindo (1872 – 1950). A cidade tem cerca de três mil habitantes de mais de 50 nacionalidades diferentes e quatro línguas oficiais: tâmil, francês, inglês e hindi. A tenacidade de Mirra Alfassa (1878 – 1973) companheira espiritual de Aurobindo, com apoio da UNESCO, foi capaz de atrair cerca de 300 jovens de várias partes do mundo para começar, em 1968, o que hoje chamamos de “ecovila”. Auroville é contemporânea de outra ecovila mítica, Findhorn[2] mais uma pérola no colar de realidades resistentes à homogeneização capitalista e patriarcal. Ambas surgiram nesse caldo de cultura da rebeldia que sempre esteve presente na humanidade e que fez ainda mais adeptos e adeptas ao longo dos últimos 50 anos. Essas pessoas e suas realizações constituem hoje uma grande teia de experiências alternativas pouco conhecidas, que essa publicação busca ressaltar e que provam o lema do Fórum Social Mundial de que “outro mundo é possível”.

O objetivo da "cidade da Aurora" era de propiciar que pessoas de diferentes culturas pudessem, juntas, viver em paz e em progressiva harmonia. Como propunha Sri Aurobindo, para isso era preciso penetrarem profundamente em seu mundo interior ao tempo em que desabrochariam para o mundo exterior como seres mais evoluídos. Na cultura de Auroville isso significa serem capazes de incluir as diferenças, de sentirem-se mais parte da comunidade humana do que de uma nação específica e buscarem incansavelmente uma convivência feliz e frutífera para todos/as. Nesse grande laboratório humano que é Auroville, tudo foi pensado para facilitar a transformação: desde a abolição da propriedade privada, passando por uma economia de pleno emprego, por dispositivos de educação gratuita por toda a vida, pelo acesso a meios de cura os mais variados, pela regeneração cooperativa da Natureza, pela compreensão do trabalho como manifestação de talentos livremente exercidos em prol do bem comum, pela liberdade afetiva e sexual, até inúmeras formas de estímulo ao autoconhecimento e à interiorização.

Auroville disponibiliza para seus habitantes e visitantes diversos caminhos para a evolução pessoal, entre eles o Yoga Integral, criação de Sri Aurobindo desenvolvida também pela “Mãe” (como Mirra Alfassa é conhecida pelo seu papel, por toda uma vida, como diretora do Ashram de Sri Aurobindo). O Yoga Integral é uma articulação de várias técnicas tradicionais do Yoga, mas sua característica principal é buscar alcançar um estágio superior de consciência sem se afastar do mundo, diferente do caminho tradicional dos iogues. Como líder independentista indiano, companheiro de Gandhi e Nehru, Sri Aurobindo revolucionou a compreensão do Yoga ao imaginar que o trabalho político em busca da evolução humana também é um trabalho de crescimento de consciência, contanto que suas premissas sejam praticadas no cotidiano. Dezoito anos  após a morte de Aurobindo, a “Mãe” decidiu criar uma comunidade cujos habitantes se comprometessem com a tese do Yoga Integral e vivessem e trabalhassem buscando serem pessoas melhores para si e para o mundo, contribuindo para a evolução da humanidade. Auroville é essa “comunidade teste”.

A primeira tarefa das e dos habitantes de Auroville foi começar a restauração de uma área de cerca de dois mil hectares, completamente desertificada e tirar daí seu sustento. O trabalho árduo de construir diques e plantar mais de dois milhões de árvores deu frutos, e hoje se vê uma extensa floresta em todo o perímetro urbano-rural. Enquanto moravam em cabanas e plantavam árvores, os/as aurovillianos/as aprendiam a grande tarefa de viverem juntos e de se autogovernar. Em meio a muitas línguas, culturas, religiões e visões pessoais de mundo, partilhavam o trabalho e a luta pela sobrevivência, tendo um sonho grandioso para si mesmos/as. De muitas maneiras o realizaram, e, ao mesmo tempo, como em todas as utopias, tudo resta a ser feito, pois quando mais se aproxima o horizonte utópico, mais esse projeto se alarga e se aprofunda.

Muitas das pessoas que fundaram Auroville ainda transitam por suas ruas com cabeleiras brancas esvoaçantes em motos, muitas vezes elétricas, e bicicletas, os modos mais comum de transporte na cidade. Transferiram para filhas e netos aquela centelha de rebeldia e idealismo, e aquela capacidade prática de fazerem o que está ao seu alcance, e um pouco mais. Para jovens que nasceram e cresceram na cidade é difícil entender o mundo do entorno, machista, predador e onde o dinheiro é rei pois ouviram muitas histórias e ao mesmo tempo são testemunhas dos desafios imensos que seus pais e mães enfrentaram.  Desafios esses que fizeram com que os 12 km de distância entre Auroville e a cidade indiana mais próxima, Pondicherry, parecessem a distância entre a terra e a lua.

Por mais de 50 anos elas e eles mantiveram seu compromisso de construir a cidade-protótipo da humanidade sonhada por Aurobindo e pela Mãe. Esses seres humanos cheios de defeitos, como qualquer pessoa, abraçaram um compromisso de evolução, e são perseverantes pois transformaram uma terra árida em uma floresta exuberante plantando árvores e cavando cisternas. Enfrentaram uma Índia conservadora e fizeram crescer uma terra libertária de homens e mulheres que trabalham de igual para igual e se dão o direito de amarem-se como quiserem. Construíram choupanas quando só isso era possível e com o tempo fizeram maravilhas de arquitetura, com técnicas inovadoras e materiais locais, honrando pela beleza as maiores paixões da Mãe: as artes e as flores. Fundaram escolas com pedagogias revolucionárias e integrativas que acolhem gratuitamente não só estudantes de Auroville, mas pessoas da região. Criaram um ambiente cultural riquíssimo com as artes mais vanguardistas em equipamentos de alto nível abertos ao público sem cobrar ingresso. Pois inventaram uma economia com parâmetros novos e cooperativos, com uma forma nova de produzir e consumir. Viabilizaram medicinas alternativas para seus habitantes e tecnologias próprias para cuidar da saúde. Promovem uma criatividade tecnológica impressionante, sempre adaptada ao território e amigável com a Natureza. Inventaram técnicas e práticas de autoconhecimento as mais variadas e até construíram um modo de fazer política sem políticos profissionais ...Enfim, muitos aspectos de uma utopia realizada, que além de criar um modo de vida próprio de alta qualidade, se abre para a população das comunidades vizinhas.

Esses visionários e visionárias e sua descendência criaram o futuro no presente, e é por isso que Auroville atrai tantos turistas que querem ver para crer. O turismo ajuda a sustentar o projeto pois permite que cheguem rúpias para sustentar os negócios criados pela comunidade e por pessoas empreendedoras que se dispõem a partilhar o lucro para manter a estrutura da cidade. Porém, passar alguns dias em Auroville é muito mais simples do que viver lá e por isso o projeto urbanístico que visava atingir 50 mil pessoas atraiu até hoje apenas cerca de três mil. Para ser aceita pela comunidade é preciso que a pessoa passe dois anos bancando seus custos e sendo testada em sua capacidade de servir à unidade humana. Depois, é preciso renunciar a ter propriedades; é preciso aceitar um salário muito modesto ainda que seja pra fazer o que gosta (14 mil rupias, ou 200 dólares, podendo chegar a 18 mil); é preciso renunciar ao consumismo...Mesmo sendo um lugar paradisíaco, a população de Auroville cresce pouco. As renúncias esperadas e as obrigações dificultam que pessoas que vivem o mundo “normal” escolham viver ali pra sempre.

 

Uma cidade espiritual

Quem de fato empreende a aventura de viver em Auroville são pessoas adeptas da proposta espiritual de Aurobindo e da Mãe. Pessoas que creem que a espécie humana está evoluindo em direção a uma raça mais consciente, “supramental”, mais integrada ao divino e assim se dispõe a viver pessoalmente esse desafio. Na Carta de Auroville, uma espécie de constituição da cidade escrita de próprio punho pela Mãe, é dito: “1. Auroville não pertence a ninguém em particular. Auroville pertence à humanidade como um todo. Mas para viver em Auroville é necessário ser o servidor voluntário da Consciência Divina. 2. Auroville será o lugar de uma educação sem fim, de um progresso constante e de uma juventude que nunca envelhece. 3. Auroville quer ser a ponte entre o passado e o futuro. Aproveitando todas as descobertas interiores e exteriores, Auroville dará um salto decisivo em direção a realizações futuras. 4. Auroville será um lugar de pesquisas materiais e espirituais para uma manifestação concreta e viva de uma Unidade Humana real.”

O ideal expresso na Carta da cidade é praticado com dedicação, mas com muitas falhas, claro. Para uma população que enfrentou tudo para construir o plano urbano do arquiteto francês Roger Anger, que propunha uma espiral representando a evolução humana na forma de uma galáxia, é difícil não se sentir “dona” da cidade, ao contrário do que prega o princípio 1. O plano desenvolve-se em torno de um ponto, uma velha e imensa árvore Banyan e de uma construção, o Matrimandir, o templo da mãe divina. Por três décadas a população trabalhou duramente para erigir a alma de Auroville, o Matrimandir, uma esfera magnífica de 36 metros, recoberta com parabólicas revestidas em ouro e pousada delicadamente sobre uma espécie de lótus de mármore branco onde uma água límpida corre perpetuamente. Essa é uma realização ciclópica para uma comunidade pobre, como era Auroville em seus começos.

No centro da cidade, arrodeado de jardins magníficos e silenciosos, o Matrimandir testemunha um mundo diferente, em que o espírito é central para a vida, onde a espiritualidade não divide as populações, por ser ecumênica, em que a beleza une a todos/as, em sua construção e manutenção. No salão circular central do Matrimandir, inteiramente branco, apenas o silêncio e um raio de sol captado engenhosamente no centro da esfera representam o caminho para o mundo espiritual. O templo é uma obra prima que ainda conta com 12 salas externas de meditação com base nas qualidades da humanidade, atribuídas pela “Mãe”: receptividade, progresso, coragem, bondade, generosidade, equanimidade, paz, sinceridade, humildade, gratidão, perseverança e aspiração. Milhares de visitantes têm 20 minutos para meditar no grande salão, gratuitamente e sob inscrição prévia. Sim, o Matrimandir é um presente para a humanidade, mas como não entender que a comunidade o proteja como sendo seu?

A ideia de servir à consciência divina, contida na carta acima, é muito comum para pessoas que se dedicam a uma religião, mas Mirra Alfassa tinha horror à ideia de que Auroville se tornasse uma religião e dividisse mais do que unisse a humanidade. Como então, não sendo parte de uma estrutura religiosa dogmática e tendo liberdade de percorrer o caminho espiritual que lhe for conveniente, manter-se firme na determinação de servir ao divino? Seriam os aurovilianos e as aurovilianas seres especiais, de alma elevada, capazes de tanto altruísmo? Não e sim.

Ao terem que se envolver e manter todas as estruturas físicas e sociais e respeitar as regras morais que criou, a população acaba por ter uma vida muito diferente, que favorece certa elevação. Se trabalham na educação, ela é libertadora; se na agricultura, ela é regenerativa; se nas infraestruturas, elas são ecológicas e pertencem a todos/as; se em um comércio, indústria ou serviço, pagam 30% do seu lucro à cidade e lidam com clientes - se não são turistas - que são quase coproprietários. Ou seja, o próprio trabalho em Auroville, seja ele qual for, tem algo do novo mundo que está sendo construído e cobra das pessoas o compromisso de servir a essa causa. Mas o cotidiano cobra seu preço: essa pequena comunidade humana, mesmo com origem cosmopolita e falando várias línguas em seu território, perde privacidade pela convivência contínua em um pequeno espaço geográfico.  Isso impede o anonimato e causa conflitos, como em qualquer cidade pequena do mundo, mas tem também a vantagem de favorecer o espírito de comunidade e a ajuda mútua, sobretudo porque uma sólida base espiritual é compartilhada.

 

Uma cidade igualitária, mas nem tanto.

Para ser aceita como auroviliano/auroviliana, o/a pretendente deve passar dois anos em observação na condição de newcomer que trabalha sem remuneração e deve bancar sua estadia, mesmo usufruindo de algumas maneiras da nutrição no sentido largo que a cidade oferece. Quando uma pessoa adquire a cidadania, ou seja, é acolhida para viver na cidade e ser auroviliana, ela escolhe onde vai trabalhar, oferecendo o melhor de si, lá onde a comunidade mais precisar. A cidadania oferece um lugar para morar, livre acesso a toda a infraestrutura de Auroville e um salário que circula através do cartão Aurocard. O salário de cerca de 200 dólares é o mesmo para qualquer função, diferenciando-se apenas pelas horas trabalhadas. A cidadã ou cidadão passa a ter educação, cultura, saúde e transporte subsidiados e pode fazer suas compras nos mercados sustentados pela cidade, com seu cartão de salário. Têm uma vida boa, em um lugar bonito e ecológico, mas dificilmente pode viajar ao estrangeiro, por exemplo, se não tem alguma renda vinda de fora de Auroville, pois o salário é insuficiente para isso.

Aí está uma das maiores críticas que se faz a Auroville: ser uma colônia de férias de brancos europeus new age. A crítica faz sentido, mas é injusta em muitos aspectos. Primeiro porque mais da metade da população da cidade é indiana, há gente de todas as cores, e que, se há muitos europeus, há gente branca dos mais diversos lugares do mundo, inclusive de lugares que sofreram a colonização europeia. Segundo, porque quando esses europeus, americanos, japoneses, saíram de seus países em 1968 eles não pensavam que poderiam tornar-se herdeiros nas moedas fortes de seus países de origem. O aluguel de um pequeno apartamento em Paris, New York ou Tokio significa uma fortuna em rúpias. Essas pessoas são ricas e é assim que os projetos da comunidade têm muitas doadoras e doadores, é assim que é comum que aurovilianos de origem europeia viajem no verão tórrido de Auroville para visitar a família, enquanto quem não tem herança ou apoio financeiro familiar fica por lá mesmo.

Do mesmo modo, a condição de empreendedor/a em Auroville aufere condições privilegiadas de vida. Se o empreendimento atende turistas, é comum que seja muito bem sucedido e produza muitos lucros. Esses empreendimentos são observados de perto pelo grupo de trabalho responsável por esse tema, garantindo que repassem para a cidade aquilo que não é reinvestido ou que garante o sustento da pessoa proprietária. Entrevistas e observação do comportamento de importantes empreendedores/as de Auroville mostram um comportamento comumente muito diferente dos capitalistas em geral: orgulho de repassar recursos para o sustento da cidade, vidas simples, mesmo que em condições materiais geralmente superiores que a média da população. É assim que o patrimônio imobiliário da cidade recebe investimentos de pessoas que constroem ou reformam as residências onde moram, sabendo que o que foi investido não lhes pertence, mas à cidade.

Outra crítica que se faz a Auroville é sua situação privilegiada em meio a dezenas de vilarejos indianos muito pobres. Ao fato de que muitas pessoas fazem trabalhos domésticos para as famílias aurovilianas e têm salários muito baixos. É difícil concordar ou discordar. Sim, a condição de vida das pessoas em Auroville no geral é bem melhor que a dos camponeses pobres do entorno, mas a cidade oferece cerca de 5 mil empregos para essas pessoas em seus empreendimentos e residências. Sim, o luxo de ter uma doméstica é algo comum na elite indiana e não é muito compreensível em uma cidade que se propõe igualitária e humanista, sobretudo se a condição de doméstica é informal e sem direitos trabalhistas, como no resto da Índia. Por outro lado, a extensão do trabalho humanitário realizado por pessoas, instituições e movimentos cidadãos em Auroville junto às aldeias do entorno é imenso, contam-se dezenas de projetos (Britto, 20xx). Em meio às suas contradições, Auroville segue buscando seu caminho.

 

Uma cidade autossuficiente? Não

Autossuficiência seria a capacidade de sustentar-se em energia, água, alimentos e moradia, serviços essenciais como saúde, educação e cultura, renda para sustentar sua população, e assim por diante. Nenhuma cidade do mundo vive a autossuficiência, mas Auroville tem avanços importantes nesse campo. A começar pela energia, que ela exporta para outros lugares pois seu conjunto de produção eólica é suficiente para seu uso e ainda sobra, usando também a energia solar e biomassa. A água é um problema particular da cidade, pois seu lençol freático, mesmo tendo acumulado milhões de metros cúbicos desde que a cidade foi fundada, pelo reflorestamento empreendido, vem sendo invadido pela água do mar. Assim, Auroville inova criando tecnologias de reciclagem de água através de vórtices purificadores, produz uma água dinamizada puríssima que cura e é orgulho dos e das habitantes, mas gere o tempo todo a possibilidade de escassez.

Sobre os alimentos, Auroville possui um conjunto de fazendas de propriedade da cidade que produzem uma gama variada de produtos, de cereais a queijos, de vegetais e frutas a algas hiper nutritivas, porém essa produção está longe de ser suficiente para alimentar completamente a cidade, embora uma parte também seja exportada. Um destaque da cidade é a Solar Kitchen, uma cozinha comunitária com um imenso fogão solar, que serve mais de duas mil refeições por dia e onde a comunidade se encontra cotidianamente. Uma comida de altíssima qualidade, com alimentos frescos e orgânicos oriundos das fazendas da cidade, cardápio variado, instalações de excelência... tudo isso vendida a preços módicos. Os cafés e restaurantes de Auroville, como em qualquer cidade turística, são de ótima qualidade e preços comparáveis ao resto da Índia, mas há restaurantes e cafés que só transacionam com o Aurocard e por isso são inacessíveis aos turistas, entre eles outra instituição auroviliana, como a Solar Kitchen: o La Terrace Café.

Em termos de moradia, a criatividade da população nas tecnologias ecológicas é muito grande, trabalhando o bambu, a terra em várias metodologias, assim como as formas tradicionais de construção dessa região da Índia. Se as habitações fazem falta esse problema é pequeno em relação a maior parte das cidades do mundo e Auroville tem um conjunto arquitetônico de impressionante beleza e criatividade. Instalações ecológicas nas moradias como energia solar, reciclagem e compostagem de lixo, captação de água de chuva, entre outros, são comuns.

Sobre o autossustento em serviços essenciais como saúde, cultura e educação, já foi expresso mais acima seus avanços e pode-se dizer que apenas os serviços de maior complexidade, como atendimento especializado em hospitais, acesso a universidades, ou instalações culturais complexas, não existem em Auroville. Para uma cidade de apenas três mil habitantes, é uma capacidade de serviços completamente fora do comum. No campo artístico chama a atenção a presença de cinemas, vários auditórios de excelente qualidade, teatros, galerias de arte e ateliers privados e públicos de muitas técnicas. A prática da reciclagem, e sobretudo da reciclagem artística, é um dos destaques da criatividade da população.

O comércio variado necessário para uma vida dos tempos modernos não está presente em Auroville. A priorização de padarias e mercados de pequeno e médio porte em que não circula dinheiro local, já que tudo é transacionado com o Aurocard, faz com que o atendimento às necessidades mais amplas da população seja feito em Kullapalayam, vilarejo vizinho, ou Pondicherry, para onde passam linhas regulares de ônibus. As instalações comerciais de atendimento ao turismo são de alta qualidade e viabilizam a venda da produção artesanal e industrial de Auroville. A criativa indústria da cidade, onde se destacam a moda, alguns itens alimentícios, artigos medicinais com plantas da tradição ayurvédica indiana e outros como incensos, produtos de higiene pessoal, instrumentos musicais, cerâmica – é completamente insuficiente para suprir necessidades do dia-a-dia, porém, como em outros itens, é uma produção impressionantemente dinâmica para uma cidade tão pequena.

A questão da produção local de renda para os habitantes é, como para a maioria esmagadora das pequenas cidades do mundo, um desafio, já que parte importante da renda da cidade vem de fora, seja de contribuições do governo da Índia, seja de instituições internacionais. É importante relembrar que Auroville tem um estatuto muito particular na Índia: a influência de Sri Aurobindo e da Mãe e a persistência dos fundadores conseguiram que o governo doasse parte da terra onde se erigiria Auroville e permitisse que o estatuto da cidade laboratório humano lhe desse certa autonomia em relação ao contexto legal do país. Ao mesmo tempo, o estatuto de um território à parte faz com que o governo indiano contribua com a manutenção da cidade. A outra grande fonte de renda é o turismo, principal base econômica da cidade com oferta variada de hotéis, pousadas e restaurantes.

 

A anarquia divina como regime de governo

O imaginário político da população de Auroville criou uma forma para o conceito vago de “anarquia divina” proposto pela Mãe durante o processo de fundação. Nela governa-se por meio de grupos de trabalho eleitos por uma assembleia de habitantes, com uma espécie de coordenação geral da qual faz parte uma representante do governo da Índia. Para os temas em que em geral nas cidades ao redor do mundo se vê políticos comandando a vida da população, encontram-se grupos de trabalho dos próprios habitantes: de água, energia, planejamento, economia, etc. A Prefeitura não tem um ou uma prefeita, é apenas a sede do governo, de seus arquivos, órgão centrais e das reuniões dos grupos de trabalho.

As grandes decisões da comunidade são tomadas nas Assembleias de Habitantes. No silêncio com o qual se inicia ou as vezes se interrompe a assembleia em momentos de conflito, expressa-se com um pouco mais de clareza a “anarquia divina”. Nesses momentos, convida-se os e as participantes a se conectarem com uma inteligência maior do que aquela do seu próprio ego. Permite-se abrir o coração para conectar-se com a divindade em si mesmo/a e assim espera-se encontrar a chave para o bem governar. O que se assiste é uma grande lentidão para tomada de decisões, pois busca-se formar consensos. Observa-se certa divisão entre pessoas mais apegadas aos princípios originais da criação de Auroville e outras que pensam ser necessário atualizar esses princípios. Essa divisão, entretanto, pode depender dos temas: pessoas que querem manter os princípios originais do projeto urbano da cidade podem ser as que querem atualizar os modos econômicos. Nada é simples.

Os muitos desafios de Auroville para se manter fiel aos princípios de ser um testemunho da ideia de unidade humana universal e, ao mesmo tempo, de integrar-se à realidade circundante, desde o entorno rural dos vilarejos indianos até a dependência do consumo dos turistas (e de seu voyerismo), exigem uma visão não linear de mundo. A complexidade, a integração de desafios contraditórios, a busca da não dualidade são caminhos de futuro testemunhados cotidianamente na cidade. E assim a experiência segue, com seus avanços e recuos, momentos de euforia e outros de desânimo. E já dura 50 anos.

 

Bibliografia:

 

https://auroville.org/

DECOUSTE, Michèle (2002). Auroville, Le Lien D´Or. Vers l´Unité Humaine. Video, 52 min.

Mother and Sri Auroville Plans for Founding Auroville (brochura, sem data)

L´Agenda de Mère.  https://agendamother.wordpress.com/category/language/french/

NUNES, Débora (2018). Auroville, 2046. Après la fin d'un monde" https://cirandas.net/articles/0039/8829/LIVRO%20%20Auroville_2046_FRANCES%2002-09.pdf

NUNES, Débora (2018). Pós-materialismo: por uma política não-cartesiana. https://outraspalavras.net/eurocentrismoemxeque/pos-materialismo-por-uma-politica-nao-cartesiana/

The Auroville Handbook (2018). Edição comemorativa dos 50 anos de Auroville.

The Auroville Experience (2006). Selections from 202 issues of Auroville Today, November 1988 to November 2005, realizado  pela equipe  do jornal Auroville Today.

Towards a Sustainable Future (2004). Auroville Centre Scientific Research. Video, 52 min.

SRI AUROBINDO (2018). A Vida Divina: Uma Visão da Evolução Espiritual da Humanidade (Tradução: Aryamane). São Paulo: Editora Pensamento.

  

[1] A autora desse artigo é pós doutora em Urbanismo, professora da Universidade do Estado da Bahia e fundou a Escola da Sustentabilidade Integral, que funciona em português, francês e inglês e tem como base a ideia de “transformar-se para transformar o mundo”. Débora Nunes visitou três vezes Auroville e na última visita, que durou sete meses, foi professora visitante da Universidade de Pondichery e realizou pesquisas em Auroville como exemplo de cidade do futuro. Os resultados de suas pesquisas são em parte relatados nesse artigo e basearam o livro “Auroville, 2046. Depois do fim de um mundo”, traduzido em sete idiomas e acessível pelo link https://cirandas.net/articles/0038/3353/Auroville%202046%20Por.pdf

[2]   Esta comunidade de cerca de 400 pessoas está localizada à volta da Baía de Findhorn, no norte da Escócia. Fundada em 1962 por Peter e Eileen Caddy e Dorothy Maclean, essa ecovila foi inicialmente conhecida pelo seu trabalho com plantas e comunicação com a natureza. Atualmente, a Fundação Findhorn é um centro internacional de educação espiritual e holística que trabalha em estreita colaboração com outras organizações e indivíduos da comunidade. Partilha com a comunidade de Auroville a convicção de que a humanidade está envolvida num processo de expansão evolutiva da consciência, gerando novos comportamentos civilizacionais e uma cultura planetária imbuída de valores espirituais. Para mais informações: https://www.findhorn.org

 



Carta para a geração do fim do mundo

August 31, 2021 15:48, by Débora Nunes - 0no comments yet

 Fim do mundo

 

 

Esse Artigo foi publicado pela mídia cidadã Outras Palavras em https://outraspalavras.net/pos-capitalismo/carta-para-a-geracao-do-fim-do-mundo/) e e também pela mídia cidadã Pressenza https://www.pressenza.com/pt-pt/2021/06/carta-para-a-geracao-do-fim-do-mundo/. Também foi publicado em inglês (https://www.pressenza.com/2021/07/letter-to-the-end-of-the-world-generation/), francês (https://www.pressenza.com/fr/2021/06/lettre-pour-la-generation-de-la-fin-dun-monde/) e alemão (https://www.pressenza.com/de/2021/07/brief-an-die-generation-weltuntergang/).

Débora Nunes

 

É em solidariedade a vocês que hoje vislumbram o mundo adulto com apreensão e se perguntam sobre o futuro, que escrevo esse texto. Peço licença para oferecer minha experiência como professora de História e pesquisadora do futuro, que me fizeram escrever o livro “Auroville, 2046. Depois do fim de um mundo”. Tenho 55 anos, dois filhos que são jovens adultos e presencio a intensa tomada de consciência da juventude acerca do que nos aguarda, muito antes deles e delas chegarem à minha idade. Os depoimentos são tocantes e a pandemia de COVID19 foi um acelerador dessa antevisão: se um vírus pode fazer o que fez no mundo, imaginem todas as tragédias anunciadas pelos cientistas, como as mudanças climáticas. 

Quero começar partilhando um episódio visionário que aconteceu há vinte anos com um jovem e brilhante estudante, que escreveu sob minha supervisão uma monografia sobre o desenvolvimento urbano da pequena comunidade alternativa do Capão, na Chapada Diamantina, Brasil. Seu trabalho, dedicado e competente, valeu uma aprovação calorosa da banca do Curso de Urbanismo da Universidade do Estado da Bahia. Como é de praxe, a orientadora abraça o orientando dando-lhe as boas-vindas ao mundo dos pesquisadores, que ele entrava com talento evidente. Quando lhe perguntei pelos seus planos de futuro, sobre um possível Mestrado, ele me surpreendeu dizendo que iria morar no Capão e provavelmente ser guia turístico. Espantada, disse-lhe que era muito inteligente e talentoso e que poderia vir a ser professor, ao que ele respondeu com algo como ¨pró, se sou tão inteligente assim não posso planejar minha vida para servir a esse mundo em decomposição¨.

Esse episódio me marcou pois, embora na época conduzisse um grande programa de incentivo ao consumo consciente no meio universitário brasileiro, não tinha tal clareza sobre o futuro. É seguindo o caminho de meu orientando – que está tendo hoje uma vida simples e alegre lá no Capão - que abordarei o tema do futuro dos jovens. Se me permitem um conselho para começar, eu diria: Não planejem carreiras e feitos vinculados ao mundo como ele é - ou era, antes da pandemia - pois ele não existirá mais e essa escolha não será benéfica pra você, nem para a Vida.

Afrontar o ¨ fim de um mundo¨ não é uma perspectiva fácil de encarar, mas posso lhes assegurar que, se as perspectivas são sombrias, é possível também ver luz se aproximando. Como lembram os antigos, após cada noite sempre sobrevém uma manhã. Se as palavras de ordem do futuro próximo serão provavelmente desestruturação e incerteza, elas também serão resiliência e criatividade. Quando a barbárie bater à porta, seremos obrigados a regenerar e em face ao desequilíbrio de grandes proporções, apenas a cooperação poderá fazer com que possamos renascer como civilização. A cooperação também será palavra de ordem do futuro e isso é promissor, mas exigirá coragem e determinação. E, também, o desenvolvimento de habilidades muito femininas, como o cuidado e o acolhimento, que constroem redes de afetos, de amizades, de família e de solidariedade com a família humana e com a Natureza.

Apesar das catástrofes que estão implícitas na ideia de geração do fim do mundo, isso pode ser visto também como uma grande libertação para a juventude. Serão as primeiras gerações que não precisarão, nem poderão, formatar-se ao mundo dos pais, opção sem graça para qualquer jovem com imaginação. E tantos tiveram suas vidas e carreiras profissionais orientadas pelas conveniências... sejam elas de mercado, de trabalhar onde potencialmente se ganha mais dinheiro, ou de prestígio, seguindo os passos da família, para herdar respeito, condições diferenciadas e alta remuneração.

Nesses caminhos antigos em que os e as jovens projetaram seus futuros, muitas vezes se criou expectativas frustradas e infelicidade, pela traição dos talentos individuais. De todo modo, a expectativa de dinheiro e prestígio sempre foi para poucos, deixando a maioria esmagadora frustrada e infeliz. Agora eles são uma quimera acessível talvez apenas a pouquíssimos jovens oriundos de famílias que consigam guardar suas fortunas apesar de tudo e assim possam financiar a ¨prosperidade¨ de mais uma geração. Ao longo da História, muitos jovens, para se integrarem à comunidade de origem, tiveram que abrir mão de seus talentos - e também de suas opções sexuais, de suas inclinações artísticas e de seus sonhos mais criativos. Hoje, pelo impacto da incerteza, eles e elas tendem a ser mais livres para escolherem seus caminhos.

Os sonhos de ¨sucesso¨, de ¨carreiras bem-sucedidas¨, de enriquecimento e prestígio, foram estimulados pela cultura capitalista que construiu o desastre a que estamos assistindo. O modelo do mercado onde o objetivo único é lucrar não é resiliente, sobretudo em tempos de tantas transformações. Na mudança radical que o futuro certamente trará, é uma bobagem gastar a inteligência e o talento da juventude com perspectivas tradicionais.  Num mundo a reconstruir toda a energia e criatividade dos jovens será muito bem-vinda, sobretudo se eles e elas acolhem o futuro como incerto e, portanto, desenvolvem a resiliência – essa capacidade de acomodar-se aos choques da vida tirando da existência o mais importante: aprendizado, amor, inteireza, alegria de viver e conviver.

Muito provavelmente a prosperidade do futuro será concebida de forma diferente. Ela estará muito mais vinculada à ideia de conseguir regenerar a Natureza e as relações humanas em bases que se sustentem. Produzir comida sã, água limpa, ar puro, solos e matas em recuperação, recriando biodiversidade - a grande riqueza do mundo - serão muito mais prestigiados no futuro. Construir relações humanas sólidas, solidárias, com pessoas próximas e distantes – será outra habilidade prestigiada. Ser artista, trazer ao mundo mais fantasia, possibilidades insuspeitadas, mergulhos na alma...Tudo isso será precioso e muito mais valorizado, dando à juventude mais argumentos para rebelar-se, como sempre fez, mas trazendo uma nova legitimidade: afirmar-se servindo ao mundo fazendo o que sua alma pede.

A palavra incerteza aparecerá muito mais nas nossas vidas e nós aprenderemos finalmente o quanto querer controlar a vida é uma ilusão. Melhor vale estar aberta/aberto ao imprevisto e tirar o melhor dele. Quando os sistemas se desestabilizam, principalmente o sistema Terra, as previsões serão mais difíceis, mesmo com todos os avanços tecnológicos. Passo a um segundo conselho, se continuam a me permitir: recomendo vivamente aos jovens que desenvolvam sua intuição, essa habilidade humana tida como feminina, tão pouco usada, e até desprezada. A intuição é um tipo de visão íntima, possibilitada quando mente e coração estão em sintonia. Ela envolve o corpo e a alma e com a intuição é possível escolher o melhor caminho em face do incerto, da dúvida, do medo. Essa habilidade pode ser desenvolvida com exercícios cotidianos, quando a mente é acalmada e outras sabedorias se colocam a nosso serviço. Ela será importante fator de aumento da resiliência e da serenidade necessária para escutar a sabedoria maior em face das adversidades e das possibilidades. Ela é também grande amiga da criatividade e assim da arte, da ciência e da invenção.

Uma potencialidade importante do futuro já pode ser vivida hoje: aprender pela internet, aproveitando o espírito de cooperação que aí impera e que é natural no ser humano. Este espírito é largamente praticado por muitas comunidades alternativas.  Hoje, esses agrupamentos humanos, onde se destacam as ecovilas, já se empenham em diversos modos econômicos ganha-ganha, de partilha e redistribuição; em modos regenerativos de lidar com a Natureza para produzir alimentos e florestas; em modos integrativos de educação e saúde que se baseiam na sabedoria nata das crianças e dos nossos corpos para aprenderem e se manterem saudáveis; nas práticas colaborativas de autoconhecimento que baseiam-se na ideia de transformar-se para transformar o mundo; nas governanças democráticas de coletivos locais que inspiram transformações em escalas maiores; na moderação de consumo requeridas pelo imperativo do lixo zero para evitar o ecocídio; nas tecnologias ecológicas e colaborativas open source, creative commons, etc

É muito provável que no futuro venha a existir muita escassez daquilo que era comum, devido à sucessão de crises previsíveis de alimentos, de água, de combustíveis, pela volatilidade do dinheiro, restrições à mobilidade, etc. Nesse caso, o que era abundante e nocivo felizmente vai aos poucos acabando: petróleo, plásticos, descartáveis, desperdício, superficialidade, competição exacerbada, consumo insensato. Abriremos os olhos para ver abundância ali onde isso era insuspeitado. Todas as possibilidades da reciclagem que transformam resíduos em objetos úteis serão valorizadas no mundo onde os lixões e aterros sanitários serão tesouros. E assim, o que era pouco valorizado pelo “mercado rei”, o que dá pouco ou nenhum dinheiro, mas que traz sentido à vida, se tornará essencial: os fazeres manuais, os fazeres da terra, as artes de modo geral. E, também, aquilo que não traz nenhuma riqueza material: a contemplação, a quietude, o fazer nada, a gostosa interação feliz entre amigos.

Pensem, caros jovens, no mundo apetitoso pode estar vindo por aí...Um mundo em que as “tecnologias interiores” do sonho de Mirra Alfassa para a mais importantes das ecovilas: Auroville, se tornam um caminho de evolução. A “Mãe” de Auroville dizia que chegaria um tempo em que harmonizaríamos nossos feitos externos - as incríveis tecnologias inventadas pela humanidade para lidar com o mundo exterior - com tecnologias interiores, formas engenhosas e sensíveis de lidar com o mundo interno. Esse universo imenso que está dentro de cada um e cada uma de nós está interligado aos outros e pode evoluir. É o que nos dizia Gustav Jung em seu conceito de inconsciente coletivo, como nos diz hoje Rupert Sheldrake no seu conceito de campos morfogenéticos, ou como nos disseram sempre as sabedorias ancestrais. A evolução segue em direção a mais amorosidade e a própria história humana mostra isso, se acompanhamos a evolução histórica da ideia de direito à Vida, por exemplo.

Vocês, jovens de hoje, poderão ajudar a humanidade a dar passos largos na direção da amorosidade. Convido-a, cara juventude, a abrir os olhos para verem as pessoas e comunidades que já estão vivendo o pós capitalismo há anos e mesmo há décadas.Na verdade, essas comunidades apenas atualizaram conceitos presentes nos modos de vida das culturas originárias que foram sufocadas pelo colonialismo. Elas entendiam que a harmonia entre nós e a Terra, entre nós e os outros e entre as diversas partes de nós – corpo, alma, coração e mente – são a única forma de sobrevivermos juntos e de prosperarmos em termos subjetivos e materiais. E de sermos felizes e permitirmos que os outros também sejam. O mundo está falindo, mas também recomeçando, e vocês farão essa história não só superando o capitalismo, mas também o patriarcado.

O lugar em que se está também vai ser muito importante para as oportunidades. Até hoje as cidades grandes e as megálopes eram o lugar dessas oportunidades, mas elas são estruturas pesadas e dependentes, com baixíssima resiliência, insustentáveis. Estão cada vez mais caras, poluídas, congestionadas, violentas e nada no horizonte aponta que isso vai melhorar. Pelo contrário. Cidades médias e pequenas, ecovilas, vida no campo, tudo isso oferece maior resiliência aos problemas ambientais, econômicos, sociais, políticos...Ter um cinturão verde oferece comida mais facilmente, ter um governo mais próximo favorece a democracia, ter famílias e amigos mais perto favorece a cooperação e a vida de vizinhança é muito mais intensa em espaços urbanos menores.

Uma economia de proximidade é mais sólida, os chamados circuitos curtos fortalecem a economia local e distribuem renda. Por isso mesmo haverá uma tendência à descentralização até nas grandes cidades. Com a pandemia e a aceleração do trabalho remoto, via tecnologias digitais, milhões de pessoas deixaram as cidades e instalaram-se em locais mais calmos mantendo sua possibilidade de trabalho e interação. Quando tiveram que se manter isoladas em casa as pessoas tiraram muito mais proveito do comércio local e das relações de vizinhança. Isso tudo já está impactando o futuro, mostrando que há saídas quando o acúmulo de crises for transformando as megacidades em locais com muito mais problemas do que oportunidades.

Essa escassez do que era abundante e abundância do que era insuspeitavelmente útil tende a ser uma característica do futuro.  Dou como exemplo a questão dos alimentos trazendo algo que hoje já faz sucesso em meio à juventude mais criativa: as PANCs, Plantas Alimentícias Não Convencionais, como se diz no Brasil, ou os incredibles edibles, os incroyables comestibles, etc. Sabe aquela plantinha que está ali na esquina, resistente e que cresce sem cuidados? Ela pode ser uma PANC muito nutritiva. Quando a ciência fala que pelas mudanças climáticas será difícil continuar cultivando os alimentos a que estamos acostumados nos lugares em que sempre foram cultivados, nossos olhos podem se abrir para outras possibilidades nutritivas. É o que está acontecendo em muitas partes da Índia hoje com o arroz, a comida nacional. Muitas experiencias estão sendo feitas para substituí-lo pelo mileto, um cereal muito mais nutritivo e resiliente às mudanças climáticas, que demanda muito menos água e fornece muito mais nutrientes que o arroz, e era desprezado.

É quando a catástrofe se torna anástrofe, reconstrução, que cada jovem pode encontrar o lugar da alegria de fazer o que gosta e servir assim ao mundo, sem escolher uma carreira pelo prestígio e dinheiro, como vem se fazendo há gerações. Sem fazer outras escolhas de vida sentindo o peso esmagador das gerações passadas, apenas inspirando-se no que elas fizeram e que vocês admiram e honram. Vocês serão os jardineiros de amanhã, jardineiros DO amanhã, que sabem regenerar, que lidam com os conflitos usando o coração e não o fígado, que percebem que cada gesto individual constrói o mundo coletivo. Que o mundo interno se reflete no mundo externo. E se engajam para fazer o melhor por si, para fazer o melhor para o mundo. Confio em vocês e também desejo boa sorte. Estamos juntas. Estamos juntos. 



Beyond the old world: lessons from the pandemic

November 24, 2020 12:40, by Débora Nunes - 0no comments yet

Esperando na cancela 

I created the Integral Ecology School, with other partners, in 2015, in Salvador, in the Northeast of Brazil. In 2018, aninspiration that came during a long stay in India allowed me to write a short story called "Auroville, 2046. After the end of one world", which talks about the reconstruction of the way of life on planet Earth after the collapse of civilization started in 2020. These two events became important in my life, when the pandemic COVID19 promoted a great rupture in the world and everyone's life went through upheavals. With my husband we chose to live in our small farm, “Sítio do Futuro”, the rural headquarters of the School, where part of the training took place at least four weeks a year.

Thus, we left a city of three million inhabitants to live on a farm with few families around and this allowed us to experience a new world every day, with its challenges and promises. I would like to tell this story for a few months to show how this post-COVID world, which many hope to be more ecological, egalitarian and full of meaning, is being built by thousands of community and personal initiatives, like ours right now.

I could see, moreover, that people who, like us, were already aware of the imperative need to build other forms of life suffered less from the confinement. These people, through very different paths, managed to realize their ideals of life during the social isolation imposed to everybody in the world.

In 2020, millions of people started to wonder why all this was happening and how to get out of this painful moment. That is how the methodology of Integrative Ecology and the slogan of our School “transforming yourself to transform the world” became more understandable. Perhaps that is why my story about the story of Indra, the main character of "Auroville, 2046", was quickly translated into several languages (Spanish, English, French, Italian and Catalan). In the story, Indra was one of the founders of Auroville, one of the first and largest ecovillages on the planet, and, in 2046, shows us how this community was resilient to the collapse of capitalist society. In his imaginary retrospective of what would have happened between 2020 and 2046, Indra explains in all simplicity how we got there and, therefore, can be an inspiration to get out of the current great crisis.

This story illustrated how the personal and collective learning of a horizontal, cooperative and spiritual community life that celebrates diversity is the source of a more resilient and happy life for everyone. Thus, it becomes a hope for its readers during the pandemic and confinement and becomes one of the fundamental messages of the School. Thus, since its publication in 2018, it has become a source of learning for our students. In recounting Indra's trajectory, which shows how people of goodwill have reconstructed the world differently, the tale teaches us how to go through this moment of collapse. We are living, on a small scale and in the short term, Indra's journey. Our students often tell us how this visionary tale inspired and helped them to live this moment, and I can say that the same goes for our neighbours and those who work with us.

The School's slogan takes up the meaning of Gandhi's phrase “Be the world you want to see” and to understand why it was chosen; we have to go back a little bit in the past and look at the changes we made in our lives during this pandemic. The idea came from a failure: a long history of a teacher and activist committed to environmental protection and social justice; after decades of work in politics and academia, I realized, like many others, the relative ineffectiveness of our work. The structural blocks were insurmountable because the everyday life of ordinary people supported this unsustainable world.

The climate emergency and unworthy social inequalities continued to overwhelm us, and we understood that we had to start acting on the ground. Another saying: "If you're in a hurry, take it easy". We were able to observe how the political and institutional means failed to change things and gradually unlocked the capitalist culture so that each person became the bearer of change. The solutions would exist if they were deeply rooted in human culture by changing large numbers of people. So, like other people, I decided to do my part as a hummingbird and invited some activist and creative friends to join me in founding this School of Transformations.

The experience of our School, which since 2015 has been known to the Brazilian, French and Indian audiences, was based on theoretical and practical training. Both were very useful in this confinement, as well as the methodological basis of the School, which is the concern to bring coherence to feelings, aspirations, words and actions. Based on a deep understanding of what Ecology means, the School's training encouraged students to start a more coherent and meaningful way of life.

The School documents say that in Integrative Ecology the intelligence of the mind, the heart and also the body must be mobilized to remain in coherence with those of Nature and the Cosmos. Thus, when Nature is seen as sacred, a secular spirituality takes on meaning and becomes part of everyone's life, pushing for changes. And now our arrival at “Sítio do Futuro” has put all this to the test. During confinement, the School's innovative proposals for the transition to a more equitable, more ecological, more supportive and democratic society show all their relevance. The search for a happy sobriety, a more united and serene life and closer to Nature has been the experience of many of our students, and of ourselves in this year of 2020.

The first major change in our lives was Nature itself that surrounded us everywhere. We, residents of the big city for a long time, were amazed by its solid, beautiful and changeable presence, from morning to night. The pace of days changed naturally: we woke up earlier, we slept earlier too. Daily tasks, very physical, make us sleep much more, to reenergize ourselves. My husband and I live a life very different from the one we had in the city as professors at the University, with much more mental activities, despite all the changes we had made in the last decade. And with all this, we feel much better.

During the School's training, reflections on the meaning of existence and conversation circles stimulated new daily practices. If the transformation of oneself in the name of the coherence between saying, feeling, thinking and doing was the main basis of our integrative methodology, the difficulties due to the confinement confirmed that this coherence was indeed a source of joy and not just a moral duty. All of this helped our resilience in staying on the farm, and it will continue for a long time.

The “Sítio do Futuro” is a largely reforested area of 30 ha in the magnificent Chapada Diamantina region, in Bahia, at the foot of an imposing mountain that forms a Natural Park, the “Parque das Sete Passagens”. There is a small production of organic food on the farm, agroforestry experiments, mainly in a coffee plantation. As for animals, we have a small herd of dairy cows, some chickens and two horses. They are respected, have a name and are esteemed accomplices. The main building, with rooms, classrooms and all the supporting equipment of a school, is completely bio-constructed. When we became “neo-rural”, avoiding going to the city, food production became a priority activity and our source of daily learning.

To support all the work at the farm we are fortunate to count with the help of two lovely young people, a young lady and a boy, who work with us part time and who are both our students and teachers. They are the ones who guide us on the practical issues of rural life. They are also the two most frequent students at the School. In their own words, they never stop learning about a new world that delights them due to its simplicity and consistency. They also help us to understand that the lessons we forge throughout life come from contact with ecovillages in various countries around the world, from our theoretical reflection, from our attempts, mistakes and achievements.

The theoretical training organized by the School of Integral Sustainability, which nourishes the mind, has been shared with students through lectures, texts and films, and has proved to be very important for us in these difficult times. Armed with our rational belief in the need to change the way of production, consumption and disposal in today's society, our creativity has been fuelled daily. The search for basic food self-sufficiency, the manufacture of preserves (dried fruits, aged cheeses, sauerkraut, molasses, kefir, kombucha etc.), the refusal of packaging, the use of dry toilets, the recycling of all kinds of materials (paper, glass, plastic, metal, biomass), manual restoration of work instruments, clothing, degraded agricultural structures ... all of this has become our daily work. Our access to mountain and rain water, solar energy, fireplaces and many other green facilities have been improved in recent months.

Our strength in defending our “ecological neorural” way of life in an environment of mistrust and misunderstandings we encounter came from clear rational arguments that we have developed over more than two decades. In the formation of the School, it was demonstrated that a patriarchal, capitalist and rationalist world view defines people's daily lives and that, in order to avoid the socio-environmental disaster - or to overcome it because it happens at a gallop - it is necessary to practice other visions and adopt other behaviours. We had to persevere in explaining our choices, and also accept, if any, being misunderstood and even ridiculed as stingy, backward, sect members, etc.

If the training of the mind has been important, the practical keys of everyday life on the “Sítio” were the themes addressed in the formation of the School: conscious consumption, composting and recycling, vegetarianism, ecological cuisine that refuses waste and integrates PANCs (unconventional food plants), agroecology, bioconstruction, family manufacture of cleaning and beauty products, various forms of natural body care, solidary economy and self-management, among others. Both this and the difficulties related to social isolation were tackled with clarity and a spirit of innovation. It was during our continuous stay of several months that we saw the advantages of our choices in a world in danger, that we saw that all our vital energy was invested in things that work, have meaning and make us happy. This whole set of practices is understood at the Integral Sustainability School as our second intelligence, that of the body, of a healthy body, which works for a more general health, which respects the surrounding community and Mother Nature.

Perhaps the most significant challenge in confinement, for those who have not been affected by illness and a serious lack of money, is to live together, almost without interruption, or loneliness. This challenge calls for the intelligence of the heart, the third aspect of our methodology that opens up to various approaches to self-knowledge and creative conflict management. If our emotional intelligence was largely challenged by confinement, these tools were important to face the uncertainty that the pandemic created regarding our life plans, the fear of social contact, the lack created by the loss of our social and cultural habits, among other difficulties.

This intelligence of the heart is impossible without an empathetic attitude towards ourselves and the others. The school's training courses used devices that facilitate the sharing of interiorities to face difficulties. Everyone needs to know simple tools, such as silence, as a way to heal wounds, illuminating ideas and inspiring solutions, as well as more complex tools of self-knowledge such as dream interpretation, the Enneagram, among others. This did not transform us into great men or great women, but into more resilient people in face of everyday problems, people who persevere in their human relationships despite all the difficulties, who refuse to live badly and courageously seek other ways.

This intelligence of the heart is also that which promotes creative mutual help. Collective self-management practices have been developed with our neighbours, such as the creation of a commercial market, since the beginning of the pandemic. The difficulty in accessing fresh and varied food led us to meet some families who lived around the farm, and every Saturday afternoon we exchange our surpluses directly, amicably, without the presence of money. This was initially possible because we were a very isolated community, 400km from the main sources of contagion. The closer the virus got to us, the more we avoided crowding, still changing. In the same generous spirit of win-win exchange, product packaging is then left in a specific location in personalized baskets, then exchanged by volunteers and later returned by participants, without the need for direct contact.

Training in the School's four intelligences is accompanied by dynamic questionnaires that invite self-observation and self-assessment. The main two are: to start the journey, (1) “Are you in an ecological transition?” which invites us to analyse the gaps between our ideas and our practices. To deepen the path, we have (2) "Health and Happiness" with questions that serve to support the compass of our life, coming from the heart and mind. It is no accident that in our case, with a frugal and natural diet, full physical activities and a life full of meaning and coherence, our health is very good, even if our happiness is not complete because of the situation in our country and the world and the risks of everyday life.

For us, the fourth intelligence taught at the School of Integral Sustainability summarizes the other three: intelligence of the mind is important to better understand what is happening in society and to give clarity and meaning to our action. The body's intelligence makes us attentive to everyday actions, brings consistency between what we think and what we do, and forms the basis of a full life. Emotional intelligence allows for friendship and compassion with ourselves and others, especially in difficult times. Spiritual intelligence, the least known of all, is what makes everything easier, because it allows us to understand that everything is interconnected and that each individual change promotes collective change and vice versa.

For example, with each negative emotion, we try not to spread this excess of misfortunes in the world, especially in this time of the COVID pandemic19: we accept the pain, but we try to alleviate it by not giving it much importance. If we can at the moment, we will do something else, we will take care of an animal, we will harvest fruits, we will plant seeds, we will meditate in the forest ... Nature gives us this simple joy of being a hummingbird.

Managing isolation was another example of the need to see difficulties as opportunities for us and the world. On a farm with almost no internet, it is difficult to search for information and talk to relatives. In the midst of a pandemic and in a country ruled by an extreme genocidal right, this was a source of distress, of course, but it also became a source of relief. Unlike friends who stayed in the city, we could not follow the catastrophic news and feed our minds and spirits with destructive things. This has done us good, and a broader understanding of the quantum world subtle field of which we are a part has also enabled us to help the planet overcome its evils.

The spiritual intelligence of the Integral Sustainability School is also studied from a scientific point of view by the quantum approach. It is the physics of possibilities, or physics of the soul, as physicist Amit Goswami calls it, or the physics of the great matrix for the scientist Gregg Braden. It helps us to see in reality uncertainty, inclusion, interconnection, as we learn from the wisdom traditions of all peoples and outside the mechanistic and Cartesian categories of certainties, hierarchies and separability. The COVID19 pandemic was very useful to better understand the basis of quantum physics: everything that happens here impacts the whole, and it can also happen elsewhere; everything is uncertain and our approaches to reality are only possibilities; and all living and inanimate beings are important in the constantly evolving cosmic process.

The quantum and interconnected dimension of the world is also clear in the material aspect, in the interdependent way in which Nature is organized. An anecdote: the biodiversity on our farm has developed a lot during the thirteen years in which we became its guardians, mainly because of reforestation. This positive dimension has consequences: to the hard work of a farmer we add the presence of foxes, deer, armadillos, among others, who eat our production, which did not happen 50 years ago. This forces us to deepen our coherence: we celebrate life, accept interdependence and share with them what we produce!

The spiritual dimension is also manifested in our relationship with art and beauty, a source of admiration and gratitude. Making the farm more beautiful is an everyday act whether by clay paintings of various colours, mosaics using broken ceramic on the walls, mandalas of flowers on the doorstep (as they do in India, so artistically), through the salads that have become like very colourful works of art in the shape of flowers ... With simple materials, accessible to the people of the surroundings, we offer a more beautiful life, attentive to the joy of receiving the abundance of Nature and transforming it in harmony through simple gestures of people who have time for what really matters ...

The spiritual dimension is also reinforced by the yogic practice of meditation, asanas and pranayama, by the contemplation of birds, the sky, butterflies ... and especially the ritual experiences of homage to the elements, such as songs for Nature. To calm down, to get inspired, to hear the sounds of the elements that speak to our hearts, we have the “temple” of Mother Earth - a simple clearing in the middle of the forest. This brings us closer to the mystery, to the sacred, therefore, to a spiritual ... secular life. Quantum uncertainty - of which death is the greatest symbol - is integrated by the opening of the mind, by meditations guided around the theme of finitude ... At “Sítio do Futuro” we have simple daily rituals that punctuate the days, celebrating Life and showing that a healthy and sustainable life is made up of acts of reverence and gratitude to nourish Mother Earth.

We woke up in the morning grateful to be alive and being part of the new world; we drink green juice or warm lemonade to clean and honour our bodies; we work during the day for the reconstruction of the world in this piece of land of which we are guardians, attentive to the smallest detail to the needs of the humans, animals and plants that live and surround us here; we are grateful for the food and all the hard work and human energy that brought it to our table in abundance; we ritualized the end of the day by singing, at 6 pm, for the sacred feminine. And finally, before sleeping, we give thanks again, whatever our state of mind, knowing that gratitude is the door to good living and that the hard things we are experiencing at this very moment may be the ones that will allow us to grow in humanity; we say thank you for all these things that bother us and remain confident in the wisdom of life. In these profound spiritual experiences, one can perceive the unity of everything and the sacredness of life.

I hope I have shown you, through this testimony, that working for a better world can be a pleasant and enriching experience, not just a burden. "Fighting" against something is always more difficult. To go beyond the old world, it is certainly necessary to denounce its wickedness, but above all it is necessary to act for justice, ecology, democracy and the sacredness of life. What I have learn here from this experience is that the daily construction of an alternative way of life, where the joy of coherence is present and where seeds of hope are sown every day, is a way of life much richer and more rewarding than the that I experienced before as an academic and urban. I invite you to try it too!