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января 12, 2009 22:00 , by Unknown - | 1 person following this article.

Cidades do Futuro: Auroville

апреля 13, 2015 13:09, by Débora Nunes - 22 comments

Escrever sobre esse vasto tema exige referências, para que possamos penetrar o desconhecido futuro com luzes que nos ajudem a caminhar. A cidade de Aurovile será a primeira referência com sua proposta de conectar o desenvolvimento do indivíduo ao do coletivo para construir um mundo melhor; a sustentabilidade ecológica de Fritjof Capra, será a segunda referência, e a percepção quântica e complexa do mundo, a terceira, em posts a seguir. Comecemos por Auroville,  cidade fundada há quase 50 anos no sul da India, com a proposta de ser uma cidade universal da família humana na qual “homens e mulheres de todos os países possam viver em paz e em progressiva harmonia, a despeito de suas diferentes crenças, ideologias e nacionalidades”.

Auroville conta hoje com cerca de 2500 habitantes, vindos de 50 países, que continuam a buscar a realização do sonho dos seus idealizadores: Sri Aurobindo e sua discípula,  Mirra Alfassa, chamada por todos de “Mãe”. Sri Aurobindo foi um filósofo e místico indiano que criou a Yoga Integral - que integra evolução individual e evolução do entorno pelo trabalho - e a noção da evolução humana em busca do estágio “supramental”, ou de integração com  o divino. A Mãe teve uma visão de construir uma cidade que favorecesse o processo evolutivo humano descrito por Sri Aurobindo e conseguiu mobilizar apoios no mundo inteiro para a realização de seu projeto. O chamado da Mãe,  apoiado pela Unesco, trouxe para a Índia jovens de vários países que começaram a construir uma cidade onde o comunitarismo, a íntima relação com a Natureza e a tecnologia aplicada deram materialidade à inspiração espiritual.

A primeira tarefa dos habitantes de Auroville foi começar a restauração de uma área de cerca de dois mil hectares, completamente desertificada e tirar daí seu sustento. O trabalho árduo de construir diques e plantar mais de dois milhões de árvores deu frutos e hoje se vê uma extensa floresta em todo o perímetro rural/urbano. Enquanto moravam em cabanas e plantavam árvores, os habitantes de Auroville aprendiam a grande tarefa de viver juntos e se autogovernar. Em meio a muitas línguas, culturas, religiões e visões pessoais de mundo, partilhavam o trabalho e a luta pela sobrevivência, exatamente como as primeiras tribos humanas. A primeira grande diferença é que Auroville nunca foi isolada, mantendo laços com os países de origem de seus habitantes, com instituições de peso como a Unesco e o governo da India e com as comunidades do entorno. A segunda diferença é que eles tinham um projeto para si mesmos.

Ao tempo em que construíam a base de seu sustento, os aurovilianos trabalhavam na construção da cidade, a partir do plano urbano do arquiteto francês Roger Anger. Esse plano, que propunha uma espiral representando a evolução humana na forma de uma galáxia, desenvolve-se em torno de um ponto, uma velha e imensa árvore Banyan e de uma construção, o Matrimandir, o templo da mãe divina. Fiel à ideia de uma espiritualidade sem religiões, no Matrimandir apenas o silêncio e raio de sol no centro de um salão circular inteiramente branco representam o caminho para o mundo espiritual. O templo levou cerca de 40 anos para ser construído, mas é uma obra prima (ver fotos), que conta ainda com 12 salas de meditação sobre os atributos da mãe divina: receptividade, progresso, coragem, bondade, generosidade, equanimidade, paz, sinceridade, humildade, gratidão, perseverança e aspiração.  O templo é frequentado hoje por milhares de visitantes que têm 20 minutos para meditar no grande salão.

As necessidades de sobrevivência e a relação íntima dos aurovilianos com a Natureza foram a base para o desenvolvimento de muitas tecnologias sustentáveis desde os anos 70: energia solar, eólica e de biomassa; agricultura orgânica e cultivo de plantas medicinais da tradição ayurvédica indiana; construções ecológicas com materiais locais de baixo uso energético; tratamento de águas servidas para reaproveitamento nos jardins e reflorestamento; reciclagem do lixo; cozinha comunitária a vapor usando o calor do sol... e tantas outras pesquisas aplicadas.  Ao mesmo tempo, a comunidade desenvolveu um sistema educacional e de saúde inovadores, respeitando os princípios fundadores, assim como foram organizados um sistema econômico de partilha e uma governança horizontal.

Hoje Aurovile prepara-se para festejar seus 50 anos em 2018 e tem no turismo sua principal base econômica.  Pessoas de todos os lugares, atraídas por esse imenso projeto e seus desdobramentos visitam a cidade, que ainda é, contraditoriamente, uma grande floresta. Os desafios de Auroville, de se manter fiel aos princípios do projeto de unidade humana universal e de integrar-se ao entorno rural dos vilarejos indianos; de desenvolver-se sem sucumbir à lógica capitalista que é sua principal fonte de financiamento através do turistas,  exigem uma visão não linear de mundo. A complexidade, ou não dualidade, a integração de desafios contraditórios e a conexão quântica do indivíduo com o todo, podem ser caminhos para enfrentar esses desafios. Em Auroville, mas também talvez em cada um/a e no mundo inteiro.



Notícias do 12o Fórum Social Mundial que está acontecendo em Túnis

марта 26, 2015 7:17, by Débora Nunes - 0no comments yet

Quais desafios para uma cidadania dos povos da Terra?

A marcha de abertura do FSM teve como tema “Povos do Mundo Unidos contra o Terrorismo” e terminou simbolicamente em frente ao Museu do Bardo, atingido recentemente por um ataque que causou a morte de 22 pessoas. Esse ato demonstra a constituição em andamento de uma consciência mundial para enfrentar desafios que são comuns, como a violência, mas que atingem diferentemente os povos da Terra. O Fórum Social Mundial é hoje o maior encontro da cidadania planetária e permite assim esse tipo de encontro de muitas e muitas redes que estão se tecendo internacionalmente para construir um mundo melhor.

 A relação do Brasil com esse evento é profunda já que das suas 12 edições, cinco ocorreram no Brasil. O primeiro Fórum Social Mundial encontro aconteceu em Porto Alegre, em 2001 e inaugurou o lema “Um outro mundo possível”, em contraponto ao Fórum Econômico Mundial, que reúne grandes empresários e políticos em Davos, na Suíça. Outros eventos FSM, que aos poucos incorporou a ideia de que esse outro mundo possível “está em construção”, se passaram em países tão diferentes quanto a Índia, a Venezuela, o Mali, o Paquistão, o Quênia e por duas vezes na Tunísia, em 2013, após a Primavera Árabe, e agora.

 O FSM da Tunísia conta com cerca de 60 mil participantes e envolve mais de mil atividades promovidas por instituições engajadas em questões políticas, ambientais e sociais vindas do mundo inteiro. Todas acreditam que o desafio de construir uma civilização mais humana passa pela união dos povos da Terra e buscam se encontrar atualmente a cada dois anos para aprofundar esses laços e discutir soluções. A rede internacional Diálogos em humanidade é uma dessas instituições e propõe um texto de Patrick Viveret, que traduzi a seguir, sobre linhas de ação concreta para essa cidadania planetária. É importante começar a pensar sobre isso.

Contribuição à discussão sobre o futuro do FSM - Patrick Viveret

 Essa nota se funda em duas hipóteses:

 1) Temos de parar de deixar que o capitalismo financeiro se apresente como motor da mundialização, pois esse não só não está interessado em resolver os desafios globais que a humanidade enfrenta, como, ao contrário, agrava-os pelas práticas da oligarquia financeira. Precisamos construir os elementos de uma consciência global dos "povos da Terra." Ao invés de uma globalização financeira destrutiva dos vínculos ecológicas sociais e culturais precisamos de uma "mundialidade" (no sentido de Edouard Glissant) que alimente estratégias de vínculo do econômico e do financeiro (solidário) ao tecido ecológico, social e cultural dos territórios e dos povos;

 2) Neste contexto, é necessário propor uma alternativa ao duplo retrocesso que está ocorrendo devido à relação simétrica entre, de um lado, o fundamentalismo de mercado (destruidor de identidades, culturas, laços sociais) e, de outro, o fundamentalismo identitário. Uma forma do fundamentalismo identitário é o terrorismo, que responde de modo mortal ao fundamentalismo de mercado e exclui outras identidades, com pretextos religiosos. A alternativa necessária é o surgimento de uma consciência cidadã mundial que evite o risco de caos e de guerra que o confronto entre estes dois fundamentalismos pode crescentemente provocar. Para tanto, é necessário demonstrar a pertinência programática e estratégica desta via.

 Três campos de trabalho devem ser prioritários e eles são portadores de três características:

  *Eles são mundiais e correspondem a desafios cruciais que colocam a questão não só dos bens comuns da humanidade (como o clima) mas também da capacidade de que a humanidade se constitua ela mesma em um bem comum;

 *Eles são objeto de intensas atividades, proposições e experimentações da sociedade civil que frequentemente é mais avançada que os Estados e as multinacionais em sua capacidade de propor soluções a esses desafios;

 *Eles podem ser objeto de alianças dinâmicas pois dispõem de forte apelo junto à opinião pública mundial e a oligarquia financeira está numa situação de fragilidade para se opor ao seu crescimento;

 É o caso, por exemplo, do desafio do clima através da Conferência que acontecerá em dezembro de 2015 em Paris, a COP 21, para a qual a mobilização cidadã está muito forte e pode se aliar ao encontro mundial de cidades e territórios que acontecerá também na França, em Lyon, no início de julho 2015.

 É o caso de alternativas à lógica de guerra de civilizações nas quais se opõe à ideia de que existam bárbaros em certos grupos humanos. Essa alternativa é a perspectiva de aprofundamento da fraternidade humana contida no artigo primeiro da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Se barbárie existe, ela é possível em qualquer lugar e para vencê-la é preciso crescer em humanidade e não em armas e militarização. Trata-se, de fato, de um movimento ante guerra mundial que precisa ser construído.

 É o caso também, e se tratará com mais detalhe nesse ponto, da luta mundial contra a evasão fiscal que se constitui na melhor alternativa à lógica do fundamentalismo de mercado e à oligarquia financeira, e o melhor antídoto contra o fundamentalismo identitário e o terrorismo. 

 Nesse terreno os montantes são substanciais. O ex-chefe da Mc Kinsey estima que o dinheiro que circula em paraísos fiscais está no intervalo entre 26 e 32 trilhões de dólares. Observa-se que a oligarquia financeira está perdendo a batalha da legitimidade desses paraísos fiscais, por longo tempo apresentados como justificáveis, e deve retirar-se gradualmente, embora seu enorme lobby permite retardar ou reduzir a pressão cidadã.

 Comecemos pelo exemplo da Europa, mas seria interessante ver se este é o caso em outros continentes. Vimos assim que:

 a) o Comissário europeu Michel Barnier, ainda que de família política conservadora, reconhece que a evasão fiscal anual representa quase um trilhão de euros, b) O Parlamento Europeu e a Comissão, também liderados por forças conservadoras estão sendo obrigados a considerar medidas eficazes contra a evasão fiscal, sob a pressão da opinião pública que tem sido alertada por iniciativas cidadãs; c) até mesmo o novo presidente da comissão, o ex-primeiro-ministro de Luxemburgo, notório paraíso fiscal, tem que limpar-se da suspeita que paira sobre ele e avançar nessa direção.

 É óbvio que estes pontos fracos são relativos e se a pressão cidadã diminuir os lobbies financeiros rapidamente recuperarão o terreno perdido. Mas, no caso oposto, há potenciais vitórias parciais reais transformando os recuos temporários da oligarquia financeira em vitórias reais para forças cidadãs do mundo. Seria uma pena não usar tais oportunidades. Isto significa usar meios lúdicos e formas populares de ação, como o exemplo dado pela requisição cidadã de cadeiras e poltronas em uma agência bancária HSBC na qual a imprensa demonstrou a existência de uma evasão fiscal maciça. O objetivo da ação é simples: entregaremos novamente as cadeiras quando o banco reembolsar as quantias! Isso ajuda a construir uma forte alternativa simbólica sobre o tema: bancos ajudam empresas multinacionais e os membros da oligarquia financeira a realocar seus ativos em paraísos fiscais. Nós, cidadãos e cidadãs, procederemos à “deslocalização” desses ativos/assentos e os usaremos como um meio de troca na luta contra a evasão fiscal. Tais ações são facilmente reproduzíveis (este já é o caso de ações visando o BNP) e obrigará a oligarquia financeira a reagir. Se ela não se movimentar, abrirá o caminho de uma repetição em massa do movimento. Se ela iniciar processos judiciais contra este, os julgamentos sobre a evasão fiscal podem desempenhar um grande papel no uso de alavancas legais na luta da sociedade civil global.

 A importância dos mecanismos jurídicos:

 A alavancagem legal é realmente uma boa base comum para uso nos três exemplos a seguir:

 -  No campo do clima e mais amplamente no reconhecimento dos crimes ecológicos (ecocidas) em conexão com as discussões da Cúpula dos Povos no Rio em 2012;

 - Em matéria de reconhecimento de crimes contra a humanidade que não podem ser reduzidos apenas aos ataques terroristas atuais, mas incluir, por exemplo, o uso da tortura pelos Estados Unidos durante o governo Bush. Nesta perspectiva, a organização de sessões cidadãs no Tribunal Penal Internacional poderia ser considerada. A batalha pela sua admissibilidade seria um primeiro desafio para preparar o caminho, em caso de bloqueio, à iniciativa de criar um Tribunal Internacional da Cidadania.

No que diz respeito à alavanca legal na luta contra a evasão fiscal, ela permitiria antecipar, se houver bloqueios na sua implementação, um início de fiscalização global dos cidadãos sobre os impostos,  primeiros nos impostos nacionais sobre as atividades perigosas para a humanidade (por exemplo, armas). Uma quota desses impostos poderia ser atribuída a um fundo global cidadão a ser usado, por exemplo, na luta contra as mudanças climáticas e no financiamento dos objetivos vitais, como a luta contra a fome, o acesso a água potável, aos cuidados básicos de saúde, etc. ...



Pequenos belos detalhes da Índia

марта 23, 2015 12:54, by Débora Nunes - 0no comments yet

Esse imenso e variado país, com suas centenas de deuses e de línguas, milhares de comunidades étnicas distintas e tantas religiões diferentes é quase um planeta inteiro. É difícil falar sobre ele como um todo para além da yoga, de Gandhi e das mandalas, sobre os quais publicarei posts mais adiante.

Começarei  por mostrar apenas alguns belos detalhes:

Como as mulheres se enfeitam e perfumam usando flores no cabelo:

Como protegem as casas com desenhos para enfeitar e trazer sorte (rongoli) e como ninguém entra em casa com sapatos:

  

Como sacralizam os animais, vaca, cobra, elefante, macaco...

          



Multidões nas ruas...qual sinal dos tempos?

марта 17, 2015 2:20, by Débora Nunes - 0no comments yet

 

Essa década tem sido provavelmente a que mostra o maior número de pessoas manifestando-se nas ruas em todo a história: a Primavera Árabe, que começou na Tunísia, passou pelo Egito e se espalhou pelo mundo muçulmano; os americanos do Occupy Wall Street que ocuparam na verdade praças em todo o país e não só em Nova York; os jovens espanhóis, franceses e outros europeus do movimento “Los indignados” contra a decadência que lhes rouba o futuro; os brasileiros das jornadas de junho de 2013 por um melhor serviço público e  contra os desmandos na política; os indianos do movimento contra a corrupção que acabou por formar o AAP Party, “Partido do Homem Comum”; os jovens acampados por meses em Hong Kong lutando pela democracia ...isso só para falar de alguns. Agora, de novo, os brasileiros tomaram as ruas.

Para além das explorações partidárias conjunturais desses movimentos, como se faz no Brasil hoje, vê-se uma tendência exponencial de engajamentos políticos da cidadania planetária por uma nova política. O descontentamento com a política pode ser identificado em qualquer conversa com cidadãos comuns de qualquer parte do mundo. A indignação com a condução da política no sistema de democracia representativa (ou de ditaduras remanescentes) é geral e evidencia a busca de novos sistemas. As populações ao redor do planeta estão cada vez mais educadas, informadas e têm meios de mobilização autônomos, através das redes sociais, para denunciar a estreiteza de uma organização política baseada no dinheiro.

Os rumos que esses movimentos têm tomado são muito diferenciados e refletem seu estágio inicial. Há os que foram parcialmente ou totalmente derrotados (por enquanto), como em Hong Kong, no Egito e em outros países do mundo árabe; os que aparentemente se desmobilizaram (por enquanto), como o Occupy e os Indignados; há os que ganharam eleições com propostas de uma política mais participativa, como em Nova Delhi, capital da India e os que ainda estão por demais misturados com a política comezinha e contextual, como no Brasil, para mostrarem toda sua força transformadora. Tudo isso que se vê, olhando no largo movimento da história, conduzirá, com muito trabalho, a uma política melhor, com mais democracia, mais controle social e mais limitações na influência do poder econômico sobre os governos dos povos. Mais promissor ainda: estamos construindo um movimento planetário, que ainda não se dá conta da sua internacionalização, mas isso é uma questão de tempo. Os povos da terra, unidos, jamais serão vencidos!



As mulheres não querem o poder?

марта 8, 2015 13:18, by Débora Nunes - 0no comments yet

Talvez não queiram ESSE poder que está disponível.

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É verdade que há muitos países no mundo nos quais a política é quase interditada às mulheres. Em outros há dificuldades históricas para uma dedicação das mulheres à política tradicional. O propósito desse post, porém, é refletir sobre porque, mesmo depois de décadas de políticas de cotas para que as mulheres sejam candidatas, tanto na Europa quanto no Brasil, o número de parlamentares, presidentas, prefeitas e governadoras ainda é tão pequeno.

A hipótese que coloco em discussão é a de que o poder político disponível, à imagem da sociedade patriarcal, que é concentrado, personalista e baseado na superexposição pública (ou no dinheiro), não atrai a maioria das mulheres. Nem mesmo as que atuam politicamente em outras esferas. Será que processos políticos mais participativos, menos egocentrados, com poder mais distribuído localmente e com responsabilidades coletivas, seriam mais atraentes à alma feminina?

Se olharmos o engajamento delas em associações de bairro, em movimentos de base vinculados ao cuidado ou em dinâmicas sociais mais contemporâneas, com liderança compartilhada, veremos que ali há uma maioria absoluta de mulheres. Ali onde elas podem fazer a diferença na construção do bem-viver ou na manutenção de boas condições de vida, ou onde elas podem partilhar desafios coletivos em uma trama de governança inovadora, ali elas estão.

Mas o que me fez pensar na hipótese desse post não foi a política, mas a ausência quase absoluta de gurus femininos na India.   Fiquei me perguntando porque não há pôsteres imensos de suas excelências iluminadas – com muito respeito por alguns – vestidos de saris femininos... E aí uma potencial guru fêmea, no alto de sua grande maturidade e refinada espiritualidade, respondeu: o verdadeiro poder transformador é interior, está em cada uma e em cada um. O culto à personalidade, só faz esconder essa verdade e não quero servir a esse propósito.

Talvez o que sirva para no mundo espiritual sirva também para a política parlamentar ou para os governos. As mudanças que permanecem são construídas no dia à dia, de baixo pra cima e com responsabilidades horizontais, compartilhadas. As mulheres querem sim fazer política e ajudar o mundo a se tornar mais solidário, mais democrático, mais sustentável, melhor de se viver. Mas a maioria delas – e as estatísticas mostram isso – preferem fazer isso em esferas menos espetaculares e de forma mais coletiva.

 

 



Cidadãos comuns governam capital da India!

марта 3, 2015 1:29, by Débora Nunes - 0no comments yet

Traduzi um breve texto de Siddhartha, jornalista indiano e fundador do movimento Diálogos em humanidade na India, falando da vitória de um novo partido nada convencional, formado por cidadãos sem envolvimento com a política tradicional e que abrem um nova era na governança das cidades.

Sobre o significado da vitória do  Partido do Homem Comum

Siddhartha

A vitória esmagadora do Partido Aadmi Aam (AAP) nas eleições em Nova Delhi foi manchete nos jornais da Índia e em outras partes do mundo. Pela primeira vez por aqui um partido político capturou o imaginário das pessoas pela sua integridade e pela grande determinação em fazer mudanças.

O AAP tem como líder Arvind Kejriwal, o novo governador de Delhi, homem  carismático e honesto, ex-funcionário federal do imposto de renda. O AAP foi capaz de ganhar de forma tão convincente por causa de sua determinação em acabar com a corrupção no funcionalismo público, na polícia e na classe política. O AAP também mostrou aos pobres que as taxas de água e eletricidade estão inflados e que é possível fazer uma redução drástica de preço. Mais importante ainda, o AAP propõe inaugurar uma governança participativa e transparente em Delhi, como um conselho de cidadãos controlando as contas públicas.

Os resultados das eleições de fevereiro mostraram que um grande número de pessoas pobres e de classe média baixa votaram no AAP. Em menor número, setores das classes média e alta também apoiaram o AAP. O Partido do Congresso, que governou a Índia durante largo período, foi completamente dizimado. O BJP, um partido de centro-direita, que governa o país no momento, também se saiu tristemente nas eleições. Enquanto AAP obteve 67 assentos no parlamento, o BJP venceu apenas 3 e o Partido do Congresso não conseguiu nenhum.  

Pela primeira vez na história da India o pertencimento a uma religião, casta, língua e até mesmo a uma classe parece não importar na hora do voto. Os problemas reais que as pessoas enfrentam tomou foi o centro das atenções. Isto traz grande esperança de que outras partes do país também possam seguir o mesmo caminho, especialmente nas grandes cidades. Será preciso esperar um pouco mais, entretanto, para que o eleitorado rural indiano, de imaginário semifeudal e ainda orientado por uma lógica de castas, seja incorporado ao processo renovador da política indiana.

 



Sonho que se sonha junto é realidade

февраля 9, 2015 7:56, by Débora Nunes - 0no comments yet

 

Bangalore, Índia

 Ouvir os versos de Raul Seixas “Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, sonho que se sonha junto é realidade” cantados em inglês por indianos é lembrar que nosso Raul também aprendeu esses versos universais com Cervantes, no romance Dom Quixote.  O espírito dessa canção está onde se constrói coletivamente alternativas para um mundo mais justo, solidário e sustentável. O evento February Dialogues trouxe experiências muito interessantes para um mundo sem lixo,  sobre como produzir agroecologicamente, como tirar energia de plantas nativas, como realizar eventos que combinem aprendizados para a mente, o corpo e o coração...

O evento acontece em um lugar muito especial: Fireflies, um ashram sem guru, ou seja, uma comunidade espiritual – como existem milhares na India  – só que sem guias e reverências. Apenas a Mãe Terra aqui é sagrada, mas todas as religiões são respeitadas. A instituição que mantém essa comunidade, a Pipal Tree Fondation, convida todas as crenças a celebrarem seus deuses, aqui representados em belas estátuas de pedra, e a conviverem em paz, numa região marcada por guerras religiosas. A ideia  de uma espiritualidade vivida através de ações por justiça social, por respeito a Natureza e em meio a uma bela coleção de obras de arte convence gente de todos os tipos e crenças a trabalharem juntos por um mundo melhor.

O evento February Dialogues participa da rede Diálogos em humanidade que existe em diversos países e no Brasil é representada, entre outros, pelo Brechó EcoSolidário. Essa rede mostra uma grande quantidade de “práticas do futuro emergente”, que inspiram coletivos a realizarem hoje o que gostariam de ver desenvolvido no mundo. Essa atitude de agir ao invés de apenas criticar governos e sociedades e o fato de que esses eventos/processos se darem de forma coletiva e auto-gestionária criam uma força de transformação social. Muitas outras redes com essa mesma perspectiva de fazer revoluções tranquilas  estão em andamento e em processo de conexão, criando aos pouco uma rede de redes que dará exemplos para um mundo que parece sem saída e precisa de inspiração.

 

 

 



Indicadores de bem viver

января 27, 2015 0:32, by Débora Nunes - 0no comments yet

Perguntas sobre o sentido da vida e de como tirar melhor proveito da existência acompanham a trajetória humana desde sempre. As respostas, naturalmente, variaram muito no tempo e no espaço e ao longo da história as religiões foram as maiores fornecedoras de indicações de resposta, convidando as pessoas a adotarem suas doutrinas, a viverem “corretamente” e assim alcançarem o céu, o nirvana, o olimpo.... Para além das religiões e dos anseios íntimos de homens e mulheres, apenas a filosofia e, muito mais tarde, no século XIX, a psicologia, que se debruça sobre o indivíduo como nunca antes, se interessaram a dar respostas ao tema.

As discussões de cunho filosófico e psicológico colocam a questão do sentido da busca por uma existência que valha a pena sem fornecer padrões de resposta, propondo apenas caminhos de reflexão e apoio na construção de respostas pessoais. As demais ciências mantiveram-se até bem pouco tempo distantes do tema do sentido da existência e do que seria viver bem.  Ao longo do século XX, concomitantemente com a construção de um Estado de Bem Estar Social, o mundo intelectual começou a construir indicadores para uma avaliação da situação objetiva de grupos humanos, relacionando implicitamente bem estar e renda, por exemplo.

O primeiro indicador de riqueza, surgido após a segunda guerra mundial, foi o Produto Interno Bruto - PIB, representando a soma de todos os bens e serviços produzidos numa determinada região ou país. Este indicador começou por revelar, de maneira inédita - pelos menos por algumas décadas e em relação à maioria dos países – que o produto interno bruto das nações estava efetivamente vinculado a situações objetivas de vida dos cidadãos. Ou seja, fora as exceções de praxe (como países com grande concentração de renda), a renda per capita, os níveis de escolaridade e educação e a longevidade dos cidadãos, por exemplo, tinham relação com a medida do PIB dos países.

Foram criados neste ínterim vários indicadores complementares à mensuração do PIB, como o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, que buscaram identificar a situação de vida das pessoas com dados diretos de nível de renda, educação, saúde e padrão de vida, por exemplo. Ao mesmo tempo, a discussão sobre a necessidade de “corrigir” aquilo que a medida do PIB poderia iludir sobre a vida dos cidadãos, incorporando um indicador que identificasse a desigualdade (mascarada pelo PIB) foi fazendo seu caminho, consolidado hoje na apuração do Índice de Gini, que retrata as diferenças sociais entre grupos humanos que vivem juntos.

Segundo este mesmo caminho de aprofundamento do entendimento sobre a noção de bem estar, observa-se um fenômeno recente de interesse pela dimensão da felicidade, abordados por vários campos intelectuais, até mesmo por áreas ditas “áridas”, ou reativas a discussões subjetivas, como a economia e a administração. Se antes estas áreas relacionavam o bem estar dos trabalhadores e a produtividade, por exemplo, tratando de salários que viabilizassem confortavelmente a “reprodução da força de trabalho”, ou da correta organização do espaço de trabalho, hoje, cada vez mais, elas vêem relacionando também o que se poderia chamar de “bem estar emocional”, ao sucesso das empresas e instituições em geral.

Se até a economia e a administração começam a pensar em indicadores mais amplos de bem estar, o que não dizer das revistas de grande circulação que se propõem, com grande alarde e em dezenas de línguas diferentes, a mostrar o “caminho” para a felicidade, de modo geral de forma quase caricata e sem ir a fundo dessa grande questão humana.

Outro campo no qual esta discussão sobre a felicidade vem chegando paulatinamente é a medicina ocidental, que nasceu com a idéia do “corpo são em mente sã”, mas que desenvolveu de tal forma a farmacologia e a intervenção cirúrgica que esqueceu, nos séculos recentes, suas bases gregas.  Mesmo esta medicina hegemônica e muito comercial vem descobrindo, cada vez com maior sofisticação científica, aquilo que as medicinas tradicionais - como a chinesa e a ayurvédica - já sabem há milênios: a relação entre espírito e matéria, entre saúde física e espiritual, entre felicidade e saúde.

Entre as várias iniciativas de discussão sobre a felicidade, uma chama a atenção, por se dar em uma esfera absolutamente infensa a discussões subjetivas: a administração pública. Embora tomando forma em um minúsculo país monárquico do Himalaia, o Butão, ela atingiu o mundo pela inovação: as políticas públicas do país baseiam-se na medição da Felicidade Interna Bruta – FIB, índice criado em 1972. O FIB trata nove domínios de onde são extraídos indicadores para que a felicidade da nação seja avaliada: bem-estar psicológico; meio ambiente; saúde; educação; cultura; padrão de vida; uso do tempo; vitalidade comunitária e boa governança. A experiência do Butão vem sendo seguida por entidades insuspeitas, como a Comunidade Européia...

Parece assim que a discussão sobre o que de fato conta na vida de cada um e na de todos, sobre o sentido da vida e a felicidade, estão ganhando aos poucos status de tema de interesse público e científico. Não é paradoxal que só agora o mundo se preocupe  com o que pode ser considerado o fim último da vida de cada indivíduo, viver bem?. Talvez isto possa ser entendido pelo fato de que a felicidade sempre foi vista como um tema subjetivo e apenas o bem estar material seria um problema público. A relação entre matéria e espírito, tão evidente na saúde, por exemplo, só agora começa a ter status científico e assim torna-se matéria de atenções intelectuais e políticas.

Em face destes avanços, uma nova dimensão desta discussão tem vindo também recentemente a público a partir do colapso progressivo do sistema Terra, face ao modo de vida dos humanos e seu rebatimento no meio ambiente. Este colapso evidentemente relaciona-se a uma visão estreita da idéia de bem estar, na qual esse estaria vinculado a um consumo cada vez maior de bens materiais, mas também a uma ideia de serviços que também toma o planeta como um provedor infinito de energia. Nesta idéia, indicadores que mostram o acesso a serviços de saúde sofisticados seriam mais expressivos da saúde dos indivíduos do que saber se ele tem um ambiente familiar e comunitário gregário. Como contraponto, pensar no “bem viver”, que tem origem nas tradições milenares dos povos andinos - como os quéchuas, os aimarás e os guaranis - tornou-se uma expressão “avançada” de indicador de felicidade.

A ética do Bem Viver andina não coloca em primeiro plano o homem/a mulher e a satisfação de suas necessidades, mas a continuidade da Vida. O Bem Viver estaria necessariamente vinculado ao bem viver comunitário, à valorização da história e da cultura, assim como ao bom relacionamento com a Natureza e ao uso respeitoso dos recursos naturais. Deslocar o estudo do bem estar para dimensões coletivas, como fazem os indicadores do FIB e a idéia do Bem Viver, é estar em sintonia com o que Fritjof Capra chama de Teia da Vida, na qual as redes, as parcerias, os ciclos e o equilíbrio dinâmico são alguns dos fundamentos.

Retomando e misturando, para finalizar, um filósofo, Patrick Viveret, que escreveu um livro memorável intitulado “Reconsiderar a Riqueza” e um psiquiatra, Carl Jung, que define a alegria como o grande indicador de que estamos no caminho certo na vida que levamos, propõe-se democratizar largamente esse debate. São os cidadãos e cidadãs do mundo, em debates públicos mediados por técnicas artísticas e muito diálogo, que devem escrever os caminhos de identificação da felicidade pessoal e coletiva.  A construção de indicadores que revelem uma sociedade equânime, sustentável e feliz, em curto, médio e longo prazos (e em acordo com as condições de sustentabilidade na vida local e global) não deve ser atributo de funcionários ou intelectuais, mas ser uma pergunta de cada um e de cada uma, todo dia. Só a partir dessa plena consciência de muitas pessoas o coletivo poderá evoluir. E vice-versa.



Link livro "Incubação de Empreendimentos de Economia Solidária"

января 12, 2015 23:25, by Débora Nunes - 0no comments yet

É com alegria que disponibilizo o contéudo integral de meu livro aqui. Apresento-o através de trechos da fala do querido professor Paul Singer:

"Eis finalmente um manual de incubação de cooperativas populares, completo, oferecendo uma ampla visão histórica do projeto socialista, que hoje se consubstancia cada vez mais na economia solidária"

"A incubação é um processo complexo, em que pessoas de extração social diversa e consequentemente de situações de vida diferente, interagem para atingir um fim comum, que não se limita à viabilização dum empreendimento de economia solidária. É disto que trata este livro."

"Não existe ainda teoria que dê conta destas tarefas da incubação (...) Este livro notável da professora Débora Nunes vem preencher esta lacuna (...) O livro (...) constroe elementos desta teoria a partir das experiências de várias incubadoras que ela investigou, somadas à experiência concreta derivada de sua participação pessoal numa incubadora (...). A experiência da autora permeia a obra, enriquecendo com um toque pessoal proposições teóricas – de que a exposição está recheada – de autores clássicos das ciências sociais e da educação".



Quatro milhões nas ruas pela liberdade e contra a violência na França

января 11, 2015 22:10, by Débora Nunes - 0no comments yet

A impressionante manifestação dos franceses hoje, a maior desde  a celebração do fim da segunda guerra mundial, mostra o imenso crescimento da capacidade de mobilização da cidadania em torno de volores fundamentais. A presença surpreendente em Paris de 40 chefes de estado do mundo inteiro, a realização de manifestações nas principais cidades do planeta e a inscrição da frase "Je suis Charlie" em dezenas de línguas em jornais internacionais mostram a constituição de um "povo da Terra", que defende o valor da vida.

Como no Brasil em 2013, cada participante levava seu cartaz ou sua bandeira, e a união da pessoas não dependia de líderes, de palcos, de sistemas de som, mas dos sentimentos e valores compartilhados. Para homenagear os cartunistas mortos, muitos levavam lápis e canetas e cada um sabia que sua presença era importante pra defender a liberdade de expressão. Em silêncio, aplaudindo, cantando, lado a lado na rua, de igual pra igual, artistas, políticos, anônimos, judeus, cristãos, muçulmanos...humanos.  Imaginar que essa prática possa se desenvolver mais e mais dá esperança de que o povo da Terra vá construir junto um mundo melhor de se viver.