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Notícias da Economia Solidária na região

12 de Janeiro de 2009, 22:00 , por Desconhecido - | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
Fonte: site do FBES (www.fbes.org.br)

Relatório da IV Reunião do Conselho Gestor Programa Cata Ação (Belém/PA)

31 de Maio de 2011, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Fonte: Arroyo J.Cláudio ([email protected])

No dia 27 de maio de 2011, realizou-se a quarta reunião do Conselho Gestor (CG) do Programa de Integração Socioeconômica dos Catadores de Materiais Recicláveis (BR-M1057) - CATA AÇÃO, às 19h, na Escola Estadual Brigadeiro Fontenelle, localizada à Rua São Domingos 5411, no bairro Terra Firme - CEP 66077-650. Participaram representantes das seguintes entidades: Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis da Terra Firme - CONCAVES; Fórum da Amazônia Oriental (FAOR), Fórum Paraense de Economia Solidária (FPES), Instituto Saber Ser Amazônia Ribeirinha (ISSAR), Instituto Vitória Régia, Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA); além de jovens colaboradores que participaram da aplicação dos questionários para elaboração do Diagnóstico Cata-Ação/Terra Firme e moradores do bairro. As comunidades da Paróquia São Domingos de Gusmão justificaram sua ausência devido na mesma data ocorrer uma festividade religiosa no bairro. A Eletronorte, Universidade Popular (UNIPOP) e o Programa Brasil Local também justificaram ausência.

A reunião foi pautado pela visita de avaliação de meio-termo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), acompanhado pela executora nacional do projeto Fundação AVINA. O objeto da avaliação foi o processo de gestão do Cata Ação na cidade Belém, bairro da Terra Firme. Logo, o CG foi convidado a se manifestar a fim de ser escutado sobre os encaminhamentos dados ao projeto.

Iniciou-se a reunião com as considerações da coordenadora nacional do Programa Cata Ação, Fernanda Ferreira, que primeiramente agradeceu a presença das entidades citadas acima e explicou o objetivo do encontro, apresentando em seguida o senhor Marcus Vinicius Villarim, consultor do BID para a avaliação de meio-termo do Cata Ação. Em seguida Fernanda propôs que as entidades manifestassem suas avaliações individuais sobre o Cata Ação, mas, antes, o senhor João Claudio Tupinambá Arroyo, coordenador executivo do Cata Ação em Belém, explanou sobre o propósito da criação do Conselho Gestor, enfatizando que a formação do CG busca a articulação entre as entidades locais no intuito de consolidar uma rede de trabalho cooperativo para o Cata Ação e demais projetos que surjam em parceria.

Em seguida a professora Cintia Cardoso, representante da reitoria da UFRA, se colocou no sentindo de informar que a universidade pretende implantar em seu campus um projeto de coleta seletiva alternado entre as cooperativas de catadores de materiais recicláveis, no qual a CONCAVES seria a primeira beneficiada. Na mesma perspectiva a professora Cintia expôs as pretensões da UFRA em sensibilizar a comunidade adjacente da instituição a praticar a coleta seletiva de resíduos sólidos, sendo que a universidade já configura projetos para a educação ambiental dos moradores. Nesse sentindo, cogitou-se uma possível parceria entre o Cata Ação e a UFRA, ficando acertado para breve um diálogo entre Cintia e Arroyo na perspectiva de firmar tal sociedade. Arroyo, ainda colocou que o ISSAR, ONG que gerencia o Cata Ação em Belém, já articula com a Universidade Federal do Pará (UFPA) um projeto de sustentabilidade ambiental, o chamado "Construindo uma cidade solidária e sustentável", que prevê para o campus universitário um sistema de coleta seletiva, além da geração de uma cadeia econômica interna a partir da reciclagem.

Em seguida, a professora Betânia Fidalgo, diretora do ISSAR, contribui ressaltando a importância do diagnóstico do bairro Terra Firme elaborado na primeira fase do Cata Ação, o qual poderia ser disponibilizado à UFRA, já que nele existe uma riqueza de informações sobre o bairro que podem ser trabalhados em diversos projetos sociais.

Durante o encontro foi destacado por Jonas de Jesus, representante da CONCAVES; Ivo Almeida, morador; Betânia Fidalgo e pelo representante do FAOR, Carlos César; a necessidade de estabelecer mecanismos de diálogo com a comunidade sobre os objetivos do Cata Ação, pois há certa limitação na participação dos moradores do bairro que pode advir de problemas de comunicação, por isso, há a ansiedade em estabelecer mecanismos de comunicação entre a gerência do programa, os catadores e os moradores da Terra Firme. Na oportunidade o senhor Carlos Cezar, representante do FAOR, sugeriu a criação de um classificado gratuito dos empreendimentos do bairro, no qual também constaria informes sobre o projeto e programações de mesma temática, ou seja, fazer campanhas sociais a partir de um serviço de utilidade aos moradores.

Em seguida Jonas de Jesus lembrou que no próximo dia 7 de junho comemora-se no Brasil o dia do catador. Ele ainda comentou sobre as precárias condições na coleta do lixo da cidade de Belém, que é a 3a. capital mais suja do país, o que poderia se justificar, segundo o mesmo, por um oligopólio de empresas que fazem a coleta de lixo, o descarregam no Lixão do Aurá e que tem por única preocupação a rentabilidade do negócio, já que não providenciam qualquer solução sustentável para os resíduos sólidos e tampouco incentivam a reciclagem.

Nessa perspectiva, a representante do FPES, Gercina Araújo, observou a necessidade de o ISSAR, como gestor do Cata Ação, e o FPES se articularem com o objetivo de realizar oficinas de educação ambiental. Na oportunidade o senhor Alex Keuffer, representante do Instituto Vitória Régia, citou que a entidade que representa, já assume algumas ações no sentido de educar para um mundo sustentável. Alex ainda propôs com convicção que se deve "partir pra briga", pois já existem leis e legislações que incentivam a gestão de resíduos sólidos no Brasil; Fala enriquecida com a contribuição de Marcus Villarim.

Ainda com a posse da fala, Marcus Villarim se pronunciou sobre o objetivo do encontro, que visa uma avaliação regional do Cata Ação, na perspectiva de destacar as particularidades de cada território, assim, promovendo um tratamento diferenciado atento às peculiaridades de cada território e repriorizando os objetivos da 2a. etapa; inclusive aprimorando um sistema de compartilhamento de informação para o projeto, no qual poderia constar, de acordo com Marcus, um sistema de rádio comunitária para a educação ambiental.

Na ocasião, o senhor Fernando Franco, representante da ONG Doe Seu Lixo, registrou que Belém é noticiada na imprensa por problemas de gestão de resíduos sólidos desde o século XVIII e que a problemática perdura por muitas vezes não haver quem disponibilize projetos para gerenciamento do Lixo e incentivo à reciclagem. Por isso, segundo ele, é preciso capacitar pessoas para a responsabilidade de construir a sustentabilidade ambiental.

Ao final da reunião Margarete dos Santos, moradora e ex-agente da coleta de dados para elaboração do diagnóstico, indagou se o projeto ainda oportunizaria a juventude do bairro. O coordenador do projeto, Arroyo, relembrou o intuito de se criar um fórum dos jovens do Cata Ação, que é uma possível rede de articulação e trabalho do projeto. Por fim, Arroyo externou que o Cata Ação é um aprendizado também como gestão democrática, um projeto para ser tecido em rede e por isso a importância de as entidades locais se reunirem como Conselho Gestor do Cata Ação.

As considerações do encontro anotadas por Marcus Villarim e por Fernanda Ferreira serão repassadas ao Conselho Gestor Nacional do Programa Cata-Ação, que decidirá sobre os próximos passos do programa no território nacional.

É o relato, feito por mim, Cellayne Brito, secretária executiva do ISSAR, em 30 de maio de 2011.



Líderes contra o desmatamento assassinados no Pará

31 de Maio de 2011, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Nota de repúdio*

"As árvores são nossas irmãs" (Zé Cláudio)

A área do Projeto Agroextrativista (PAE) Praia Alta Piranheira foi um maciço castanhal que só os moradores mais antigos conheceram. O castanhal foi explorado durante muito tempo por uma família de Marabá, que se dizia "dona", e por centenas de famílias que coletavam livremente os produtos generosamente cedidos pela natureza. Além da castanha, eram e ainda são facilmente encontrados na floresta do PAE produtos como açaí, andiroba, cupuaçu, diferentes tipos de cipós, ervas medicinais e muitas espécies madeireiras de alto valor econômico.

Na década de 1990, um grupo de famílias apoiado por organizações não governamentais e governamentais deu início à solicitação de criação do PAE Praia Alta Piranheira. Entre essas famílias encontravam-se JOSÉ CLÁUDIO RIBEIRO DA SILVA (Zé Cláudio) e sua esposa MARIA DO ESPÍRITO SANTO SILVA (D. Maria). Zé Claudio e D. Maria eram os mais fervorosos defensores da criação do PAE por acreditarem na possibilidade de se estabelecer uma relação diferente com a natureza. Finalmente criado em 1997, o PAE abrigava mais de 300 famílias de agricultores que se propunham a explorar a natureza de uma forma distinta da comumente adotada na região.

Zé Claudio e D. Maria exercitaram essa nova proposta ao extremo: transformaram seu lote em um laboratório de experiências que demonstrava uma convivência mais harmoniosa entre homem e natureza e, mais que isso, acabaram se tornando sentinelas da preservação e transformando seu espaço de vida em uma zona de resistência ao desmatamento. Com quase 15 anos vivendo no mesmo lugar, o casal mantinha 80% do seu lote preservado. Essa façanha era motivo de orgulho para Zé Claudio e D. Maria. Por essa peculiaridade, em uma região onde predomina o desmatamento, não demorou muito para que o lote de Zé Claudio e D. Maria chamasse atenção de pesquisadores, da mídia, além de servir de estímulo e exemplo para centenas de famílias de agricultores que intercambiavam conhecimentos com o casal.

Na busca de comprovações na linguagem acadêmica de que, além do valor cultural, a floresta em pé é mais valiosa economicamente que em toras, Zé Claudio e D. Maria se aliaram com os pesquisadores. A Universidade Federal do Pará (em especial as ações do Campus Universitário de Marabá e do Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural) apoiou e ampliou cooperações científicas (nacionais e internacionais) com a participação dessas lideranças, que muito contribuíram com ações concretas na busca de alternativas sustentáveis de combate ao desmatamento.

No início deste ano, Dona Maria defendeu sua monografia e obteve seu diploma de graduação no curso de Pedagogia do Campo, assim como vários assentados e lideranças que acessam com frequência os espaços da UFPA e de outras instituições de pesquisa. O filho caçula do casal cursa atualmente o ensino médio no Instituto Federal do Pará/Campus Rural de Marabá (IFPA/CRMB), concebido especialmente para grupos sociais no campo. Esta família é um exemplo de busca e implementação de políticas públicas que realmente valorizem as demandas dos camponeses que habitam neste complexo espaço agrário marcado pela deficiente ação do Estado brasileiro.

Porém, a presença de espécies de alto valor comercial na área do PAE atraía outros interesses. Madeireiros e carvoeiros lançaram uma ofensiva forte sobre as famílias. Num contexto de dificuldades econômicas, muitas cederam ao conto do lucro fácil, o que facilitava a ação ilegal desses exploradores da floresta. Protegidos pela ineficiência do Estado em fazer cumprir a lei ambiental, esses agentes circulam livremente no PAE, consumindo a floresta numa velocidade estonteante. Até a castanheira, árvore protegida por lei, é derrubada sem piedade e sua madeira "maquiada" e colocada no mercado com outros nomes.

A preocupação de Zé Claudio e D. Maria com a preservação da cobertura vegetal extrapolava o seu próprio lote e se estendia a todo o PAE. Foi exatamente essa preocupação que os levou a denunciar a exploração ilegal de madeira dentro do PAE. Órgãos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e Policia Federal receberam inúmeras denúncias formuladas pelo casal. Sem nenhuma resposta efetiva por parte desses órgãos, assumiram a responsabilidade como cidadãos e assentados e passaram a tomar iniciativas de ação direta, interditando estradas, parando caminhões carregados com toras de madeira, anotando as placas, sem medir esforços em defesa das árvores.

Essa atitude corajosa do casal, motivada por um sentimento nobre e de coerência com seus princípios, despertou a ira dos madeireiros, carvoeiros e alguns fazendeiros com interesse nas áreas do PAE. Zé Claudio e D. Maria passaram a sofrer ameaças por defenderem a floresta em pé. Na verdade, eles tentavam fazer o que de direito seria dever do Estado: proibir a exploração ilegal de madeira conforme reza a lei. Sem o apoio do Estado, Zé Claudio e D. Maria defendiam a floresta com a própria vida e tinham consciência do que faziam. Em 2010, em um evento na cidade de Manaus, Zé Claudio disse: "Eu defendo a floresta e seus habitantes em pé, mas devido a esse meu trabalho sou ameaçado de morte pelos empresários da madeira, que não querem ver a floresta em pé".

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) já havia denunciado as ameaças sofridas pelo casal. Zé Claudio e D. Maria faziam parte da lista de 29 pessoas marcadas para morrer no Pará, divulgada pela CPT em 2010. Que sociedade é essa? Uma sociedade na qual as mortes são anunciadas com bastante antecedência e as autoridades não tomam providências! Uma sociedade onde os valores se inverteram. Quem defende a vida, paga com a morte! Quem se preocupa com o bem comum é eliminado para desobstruir o caminho do lucro fácil!

No dia 24 de maio de 2011, em uma tocaia armada por "pistoleiros", escondidos em uma estrada que Zé Claudio e D. Maria usavam no trajeto entre seu lote e a cidade de Nova Ipixuna, foram desferidos os disparos mortais contra o casal. Não satisfeitos com a crueldade praticada, ainda deceparam a orelha de Zé Claudio, provavelmente para servir de prova da encomenda realizada. Essa infâmia, muito comum no período do coronelismo no nordeste brasileiro, é agora reeditada na Amazônia. Dias antes, a casa do Zé Claudio e D. Maria havia sido rondada por pistoleiros e alguns de seus animais domésticos foram alvejados. No dia do assassinato, Zé Claudio e D. Maria estavam saindo de sua casa para procurar segurança na cidade, dado que, aparentemente, o Estado era incapaz de fornecer segurança. Infelizmente, não tiveram tempo de chegar a um lugar seguro.

E, desta forma, o Ano Internacional da Floresta segue marcado por injustiças, impunidades, descasos com as pessoas, suas escolhas e seus direitos. Exigimos que o governo brasileiro não deixe que Zé Cláudio e D. Maria sejam apenas mártires, como tantos outros produzidos na Amazônia, e muitos menos que sejam uma mera estatística criminal. Para se ter a Democracia, certamente precisamos de códigos e leis. E, certamente, o debate democrático acerca dos mesmos é necessário. No entanto, sabemos que não existe Democracia quando o direito de matar aqueles que contestam o poder dominante é assegurado pela complacência à violação do direito fundamental à vida. A Amazônia e os "povos da floresta" não necessitam de mais mártires, mas de pessoas vivas, comprometidas e éticas, que os mantenham. Eles não necessitam de mais violência. Eles têm o direito - constitucional - a dignidade, liberdade de expressão, autonomia e exercício da cidadania.

Em qualquer lugar, e no Brasil que se diz uma Democracia, não é admissível que pessoas possam ser assassinadas pela divergência ao poder corrente e pelo exercício de seus direitos. Não é possível haver "dois Estados" e "duas leis" em um só país, afinal, uma lei que vale apenas para alguns, não é lei.

Os assassinatos de José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva não são ocorrências individuais, são um problema nosso, de toda a sociedade brasileira. Precisamos reagir.

Reagimos porque acreditamos que podemos contribuir, interrogando sobre os conceitos que fundam a interpretação dos conflitos na Amazônia e permeiam as políticas públicas brasileiras de desenvolvimento.

Reagimos porque não é possível admitir a violência como instrumento de regulação social. Reafirmamos aqui nosso compromisso de lutar com as nossas armas: documentando, refletindo e oferecendo à sociedade interpretações sobre esse fenômeno sociopolítico que acompanha o "desenvolvimento sustentável" na Amazônia: a morte anunciada dos defensores da floresta.

"Matar árvores é assassinato" (Zé Claudio)

* Nota pública do Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas (PPGAA/UFPA) e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR/UFRGS)



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Comunicação, Organização do movimento, Região Norte

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