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January 12, 2009 22:00 , by Unknown - | 1 person following this article.

Brésil: les rois de trèfle, de pique, de cœur et de carré tombent. Que reste alors?

June 3, 2016 15:14, by Débora Nunes - 0no comments yet

En moins d'un mois de gouvernement provisoire, le système politique continue à s´effondrer. Les ministres sont en train de tomber l'un après l'autre, à la suite de dénonciations de corruption, alors que tout le monde voit cela avec souci et répulsion. Ce gouvernement, qui a obtenu le pouvoir après un coup d'Etat institutionnel (ses membres pensaient qu´ils serait ainsi protégés), est de moins en moins légitime. La société brésilienne n'accepte plus aucun type de corruption et n´as plus de confiance à la politique traditionnelle.

Les prétendants significatifs qui restent sur le ring désormais sont le nébuleux "marché financier" et l´émergent "peuple brésilien". Le marché financier est gagnant maintenant. Il est formé par des personnes et des entreprises qui négocient sur le marché boursier, de devises, de produits dérivés et tous les types de business qui ont l'argent comme principale marchandise. Qui domine le marché financier sont les banques, donc lorsqu'on parle de «l'intérêt du marché», ou que «le marché est vigilant", ou que "le marché n'a pas aimé les mesures prises", on parle des banques, la plupart du temps. Il est pour ce public là qui parle le gouvernement Temer, et en grande partie, les banquiers ont également été gâtés par les gouvernements Lula / Dilma. Le système politique partout au monde, et pas seulement au Brésil (voir le cas exemplaire de la Grèce), a été pris en otage par les banques et ne travaillant pas pour le peuple, comme il se doit dans une démocratie.

Pour ceux qui pensent à propos des banques seulement comme l'endroit où nous avons nos comptes, nous rappelons quelques chiffres: les banques sont créanciers de dettes partout au monde et les Brésiliens les payent, chaque année, près de 50% du budget de la nation. Imaginez que vous ne seriez pas contents de payer la moitié de votre budget à la banque juste pour abattre une petite partie de votre dette et des intérêts. Les brésiliens ont dû se battre pour avoir 4% du budget national consacré à la Eanté, moins de 4% pour l'Éducation et 3% pour l'Aide Sociale, tandis que les banques - ceux qui dominent le marché financier et les gouvernements - reçoivent 47% du budget total. Selon l’ "Auditoria Cidadã da Dívida" (mouvement civil qui vérifie la dette nationale sur une base historique et continuelle), en 2015, ces banques sont internationales comme Citibank et HSBC et les nationaux comme Itau et Bradesco. Les mêmes qui prêtent $100 Reais  et reçoivent $550 Reais  des brésiliens à la fin de l'année et qui ont une lucrativité de 30% à l´année. D'une manière tout simplement immoral.

Et le peuple brésilien? Celui-là qui était, pour certains éditorialistes des médias nationaux, il y a quelques décennies, "une poignée de rien » restent encore, pour beaucoup de gens, un «tas de pauvres sans classe". Mais ses «gens ordinaires» sont en train d'émerger en tant qu´acteur politique. Grace à des mesures gouvernamentales de la dernière décennie, telles que les quotas dans les universités pour les noirs pauvres, des gens ordinaires deviennent médecin. Grace à la politique de sécurité alimentaire de la Bolsa Família de Lula et Dilma, les plus pauvres ne meurent plus de la faim dans les sècheresses du nord-est et ne travaillent plus, dans les campagnes brésiliennes, pour une rémunération infime à fin de nourrir leur famille. Grace à la valorisation récente du salaire minimum et aux progrès de la législation, les travailleurs domestiques ne sont plus des semi-esclaves et sont de plus en plus respectés. Dans toutes ces politiques publiques les intérêts des gens ordinaires ont remporté les intérêts simplistes de tous ceux qui ont beaucoup d'argent: gagner plus. Voilà le peuple brésilien qui gagne en politique.

Mais le peuple brésilien est aussi la classe moyenne de plus en plus métisse et l'élite blanche. Celle là n´est pas composée entièrement de personnes impliquées jusqu'au cou avec le marché financier. Même au sein la classe moyenne dont la plus grande ambition est de devenir une partie de l'élite et répéter les modes de consommation ridicules et arriérées des riches brésiliens, on peu voir un nouveau mouvement : Il y a une nouvelle génération qui se rebelle dans les rues, dans les écoles et sur Internet. La société brésilienne est encore en train de mûrir politiquement et se laisse encore dupé par des psychopathes et des voleurs, que, comme nous l'avons vu, remplissent la Chambre et le Sénat. La population ne remet pas largement en question le système politique qui manipule l'opinion publique par l'argent et par les médias et ainsi déforme les votes, mais peu à peu émerge comme une force politique. Il se familiarise petit à petit du scénario corrompu de domination imposée par des hommes en costume et cravate qui s´exposent maintenant dans des enregistrements apocalyptiques de leurs conversations qui deviennent publiques et arrive peu à peu à la maturité. Constatant cette situation comme une construction historique qui va durer, il est possible d'envisager un scénario dans lequel les banques vont payer leur dette envers nous et le peuple, plus instruit, informé et mis en réseau, sera le maître sujet de son destin.



Cai o rei de ouros, cai o rei de copas, cai o rei de espadas...não fica nada?

May 27, 2016 11:40, by Débora Nunes - 0no comments yet

Sim, ficam ao menos dois contendores de peso: o nebuloso “mercado financeiro” e o emergente “povo brasileiro”.

Enquanto o sistema político se despedaça aos olhos de todos/as, causando náusea e preocupação, os dois polos de interesse citados acima vão se tornando os personagens principais da nossa história. O mercado financeiro está ganhando agora e é preciso que se entenda melhor essa turma que está dando as cartas no Brasil.  Ele é formado por pessoas e empresas que negociam no mercado de ações, de câmbio, de derivativos e todas as modalidades de negócio que têm o dinheiro como principal mercadoria. Quem domina o mercado financeiro são os BANCOS. Portanto, quando se fala de “interesses do mercado”, de que “o mercado está vigilante”, ou que “o mercado gostou das medidas”, está-se falando dos bancos, principalmente. É para esse público que fala o atual governo Temer. Em grande medida, os banqueiros também foram muito bem tratados pelos governos Lula/Dilma. O sistema político, e não apenas o brasileiro (vejam o caso exemplar da Grécia), vem sendo refém dos bancos e não trabalhando pelo povo, como deveria ser numa democracia.

Para quem pensa em banco principalmente como aquele lugar no qual temos contas, vamos lembrar alguns números: pagamos a eles, todos os anos, quase 50% do orçamento da nação, pois os bancos são credores das dívidas do Brasil. Sim, pense se você pagasse ao banco metade do seu orçamento só pra abater pequena parte de sua dívida e pagar os juros. Pena-se para que a Saúde tenha os 4% do orçamento atual, a Educação menos de 4% e a assistência social, 3%. Os bancos recebem 47% do total, segundo dados da Auditoria Cidadã da Dívida para 2015. E que bancos são esses que dão as cartas do “mercado financeiro” e dos governos? Citibank, HSBC, Itaú, Bradesco... sim, esses mesmos que estão por aí nas ruas...  Os mesmos que emprestam 100 e recebem 550 no final do ano. Eles nos roubam, e roubo é uma palavra leve para esse absurdo inaceitável.

E o povo brasileiro? Esse, que já foi “um punhado de ninguém”, para certos editorialistas da mídia nacional faz algumas poucas décadas, ainda é, para muitos, um “bando de pobres sem classe”. Mas o “povão” vem emergindo. Graças a medidas como as cotas nas Universidades, gente do povo está virando doutor. Graças à política de segurança alimentar do Bolsa Família, que faz chegar no máximo 240 reais no lar das famílias mais pobres, não se morre mais de fome nas secas do Nordeste, nem se trabalha por uma diária vil para alimentar a família no campo brasileiro. Graças à valorização do salário mínimo e aos avanços na legislação, as empregadas domésticas deixaram de ser mucamas e são cada vez mais valorizadas. Em todas essas políticas públicas os interesses do povão ganharam dos interesses monocórdios de quem tem muito dinheiro: ganhar mais. Ponto pro povo brasileiro na política.

O povo brasileiro também é a classe média cada vez mais mestiça e a elite branca e nem toda ela está envolvida até o pescoço com o mercado financeiro. Mesmo na classe média cuja maior ambição é se tornar parte da elite e repetir os ridículos e atrasados padrões de consumo dos ricos brasileiros, tem uma nova geração se mexendo e se rebelando, nas ruas, nas escolas e na internet. A sociedade brasileira ainda está amadurecendo politicamente e ainda se deixa enganar por psicopatas e ladrões que, como vimos, lotam a Câmara e o Senado. O povo ainda não questiona a fundo o sistema político que manipula a opinião pública pela grana e pela mídia e distorce os votos, mas aos poucos emerge como força política. Ele vai se inteirando do cenário de mando dos engravatados que ora são expostos em gravações e delações premiadas apocalípticas e vai amadurecendo.  Observando esse quadro como construção histórica que durará, é possível vislumbrar um cenário no qual os bancos pagarão sua dívida para conosco e o povo, mais educado, informado e em rede, será um sujeito histórico dono do seu destino.

Mas esse amanhã se constrói hoje: Fora Temer e sua corja golpista masculina e monocromática. Abaixo o golpe tecido nas sombras e que enganou a tantos e tantas que hoje caem em si. Que venha à luz, pelo povo nas ruas e nas escolas, pelos vídeos caseiros que mostram a resistência,  pela mídia ninja, pelo conversa afiada, pelo Brasil 247, pelo the intercept e outros blogs, sites, páginas FB que não descansam.

 



Tempos de Temer

May 12, 2016 16:02, by Débora Nunes - 0no comments yet

Ouvindo os rádios e TVs nesses dias observa-se que parece que há dois países: um, no qual vivem os comentaristas midiáticos, que falam do resultado da votação do Senado como uma vitória democrática que estaria animando a sociedade. E outro no qual as pessoas observam tudo com um difuso sentimento de desesperança baseada na ideia de que a política é podre e de que nada que saia daí pode reverter os males que estão fazendo com que se revoltem. São Paulo e Rio não são o Brasil e nem mesmo nesses estados dominantes da mídia nacional há um sentimento generalizado de vitória cívica, como se viu na campanha das Diretas Já ou no impeachment de Collor, por exemplo. O mundo em que circulam os comentaristas da mídia não representa a realidade e felizmente existe a internet e suas múltiplas interpretações de mundo, com vozes de norte a sul do Brasil.

Os novos mandantes, Michel Temer e os ministros anunciados, todos homens, não suscitam empolgação ou esperança da maioria dos brasileiros e brasileiras. São mais do mesmo em termos de políticos que não entendem a política como um serviço, como essa pode vir a ser um dia (e já o é para poucos parlamentares e governantes). Temer e seus ministros têm tendências abertamente liberais, ou seja, para ser simples: tendem a proteger os ricos. Por isso mesmo precisam ser vigiados de perto por uma sociedade civil que majoritariamente não quer retroceder em direitos sociais, seja de que lado ela esteja nesse momento: falando fica Dilma, ou tchau Dilma.

Vingança, hipocrisia e machismo

A sessão do Senado mostrou, nos quinze minutos de fala da maioria dos senadores, o quanto o processo de impedimento da presidenta Dilma Roussef está sendo movido por motivos alheios à ideia de crime de responsabilidade. De modo geral, os discursos pintaram os últimos 15 anos como sendo de verdadeiro descalabro nacional, o que está longe da realidade. Retirando-se os últimos dois anos, os dados sociais e econômicos brasileiros foram positivos, e a política avançou muito se pensarmos nas imagens de corruptos sendo presos pela Lava Jato, como “nunca antes na história desse país”.

Viu-se também no Senado o júbilo daqueles que estão se sentindo vingados por terem sido mantidos afastados do poder por tanto tempo. Outra face da sessão, muito parecida nesse aspecto à que aconteceu na Câmara, é a absoluta hipocrisia de políticos que falam de corrupção no governo (e não se ousou falar de corrupção da presidenta) como se aquela casa fosse formada por anjos, e os partidos não governistas fossem todos limpos.

Outro aspecto da sessão do Senado foi a falta de respeito com que muitos se referiram a Dilma, deixando entrever um machismo que pouco ousa se expressar, mas que está lá, e dá náuseas. Aquela famosa frase da Veja “bela, recatada e do lar”, referindo-se à mulher de Temer (que foi ridicularizada por milhares de mulheres no facebook exibindo-se como “belas, ousadas e de luta”, ou “belas, combativas e da rua”) está lá no imaginário de muitos senadores. Ao se esganaram pra chamar a atenção da mídia, numa tentativa de farsa de festa cívica no Senado, eles davam pena, tão fora do tempo e tão longe do real. Convido suas mulheres a lhes darem o corretivo que merecem.

Mas como chegamos até aqui? Não é fácil responder e há análises várias, desde as que afirmam haver uma articulação internacional da direita com o mercado financeiro, até as que vêm simplesmente uma virada histórica que pune o PT pela traição a seus princípios. Provavelmente um pouco de cada uma das muitas análises, conectadas, explicam a complexidade da realidade brasileira hoje, mas é possível olhar também sob o ângulo das mudanças civilizacionais em curso, que transformarão a política, cedo ou tarde.

Vê-se um sistema político que não se ajusta à sociedade, mas também uma sociedade que não se ajusta à política de participação e transparência que ela quer ver, majoritariamente. Vê-se um descompasso acelerando-se rapidamente entre uma sociedade hierárquica e uma sociedade em rede.   Na primeira, uns mandam e outros obedecem, criticam e se desresponsabilizam. Na segunda, todos são responsáveis e decidem de forma participativa, o que exige atitudes adultas, e o olhar pra seus próprios atos.

A política atual explicita um modelo no qual se vota em representantes e se espera que conduzam o destino de todos, a partir dos poderes executivo e legislativo. As distorções do sistema pelo poder econômico e pelo poder da mídia, aliadas com o descompromisso de eleitores em manter vigilância sobre seus representantes se explicita na triste descrença na política. O velho não morreu e o novo ainda não está pronto pra nascer. Aí está um dos fundamentos da crise. Enquanto ela persiste, seria bom ouvir a frase do senador Romário, falando calmamente, votando a favor do impeachment e pedindo grandeza: “Os mandatos acabam e o país fica”. Não se esqueça disso, Temer.

 



Umbuzeiro: Sonata arbórea

May 4, 2016 23:33, by Débora Nunes - 0no comments yet

 

 

SONATA ARBÓREA NÚMERO 1

De Ordep Serra, para Emerson Sales e Débora Nunes

 

             Sempre gostei de contemplar as grandes árvores. Tenho passado bons momentos sob sua sombra. Criei amizade com várias delas. Já dediquei um poema a uma paineira, que chamei de Maria Clara. Ela tem uma personalidade luminosa. Era muito jovem quando a conheci, muito tempo atrás. Ainda tem jeito de menina-moça, que há de ostentar por muitos anos. Sua juventude resiste ao tempo, faz-se inesgotável. A mais antiga paineira que conheço, viçosa há mais de um século, nada tem de velha. Brinca feito menina de espalhar sua paina, como se fossem os cabelos brancos a que renunciou para sempre.  Já fazia isso na primeira adolescência. Maria Clara confirma, a brincadeira infantil dura séculos.

            Mangueiras me encantam desde a infância. Em seus palácios barrocos vive a graça maternal, forte e acolhedora. A sombra que dão já é nutritiva. As de Salvador são mães de santo poderosas, de seios fartos. Seus frutos instruem o coração. A manga espada corta os dissabores. A manga rosa ensina o rumo dos jardins, esconde na sua polpa uma leira de delícias. A bela carlota provoca doces arrepios, convida aos beijos. 

            Muitas árvores se enraizaram profundamente na minha memória graças ao esplendor da revelação com que sua beleza me abençoou em diferentes momentos da vida. No horto de minhas lembranças, algumas se destacam por sua atitude impecável. De muitas recordo o gesto solene, glorioso, capaz de dar sentido a uma paisagem, que sem sua dança divina, quase imóvel, simplesmente desaparece.

            Conheço árvores com vários temperamentos: carinhosas, enérgicas, sisudas, joviais. Não poucas me conquistaram por seu jeito cordial, sua natureza amável. Outras me seduzem por seu estilo caprichoso, ou me conquistam por seus modos sérios de matrona,  sua perfeita dignidade. Algumas combinam modos graves e sentimento jocoso.

            Guardo a emoção que senti, ainda criança, ao ver pela primeira vez um bode trepado num umbuzeiro, saboreando as frutas verdes. Me fez a impressão de um sacerdote num rito solene, mas engraçado. Não esqueço a beleza da cena bizarra.

            Umbuzeiros são muito espirituosos. Venero esses risonhos anjos do sertão, que brindam com humor seus frutos ácidos. No mundo árido, eles fazem par com os juazeiros, que têm a mesma alegria impossível, desafiadora. (As cabras também os adoram). Respeito muito as gameleiras, com seu ar solene, de profundo mistério, e as graciosas baraúnas. A sabedoria das jaqueiras me impressiona profundamente. As árvores de fruta-pão têm um jeito carinhoso de babás, prontas a nutrir. Os sapotizeiros também, só que acordam mais cedo.

            O cajueiro é de circo. Pode embriagar muito mais que a cachaça das batidas. Inúmeros bêbados já tentaram explicar-se, depois de estranhos desvarios, balbuciando inutilmente: “Foi o caju”. 

            Nada mais bonito que os ipês com suas roupas  de baile. Gosto das buganvílias coquetes, das acácias sedutoras, do jacarandá luminoso com seu roxo amor ao espetáculo e sua mística. A quaresmeira, apesar do nome, está sempre disposta a um carnaval. Lembra a esquisita alegria da semana santa baiana. As sucupiras são atrizes, sempre dignas de aplausos. Aprecio muito seu penteado.

            A caviúna do cerrado tem jeito de mulher rendeira. Quando se enflora, dana-se a cantar. Nem todos a ouvem, mas sua cantiga é muito bonita. A bela Ingarana é uma soprano lírica, mestra de muitos pássaros.

            Todos se alegram quando a cajazeira acende suas lâmpadas. Ela adora festas. Árvore perdulária, joga com alegria seus frutos luminosos ao chão, com a graça incontrolável de quem dissipa fortunas. 

            A imponência do jequitibá e das grandes castanheiras, a serena força do mogno  e a majestade do pau ferro me impressionam profundamente. Esses gigantes da floresta se acham entre os mais belos dos arcanjos pousados na Mãe Terra. Já o cedro, seja do Líbano ou do Brasil, é com certeza um serafim.           

            É preciso ter coração muito duro para não se comover com as lágrimas douradas de um salgueiro em flor.  Seu pranto verde também contempla as dores do mundo, vale por muitas elegias. Quando encontro um desses beatos no meu caminho, rezo logo: ora pro nobis.

            Os ciprestres italianos me encantam por sua graça esguia, tão elegante que até nos cemitérios fazem pensar em Vênus e seus caprichos. Gostei de vê-los em Roma, onde não tinham cara de enterro. Em pleno dia, apontavam às estrelas.  Mas nos jardins de gente esnobe eles me parecem constrangidos, assumem um jeito realmente fúnebre. Sinto que não gostam de ser tratados como lacaios. 

            Seria longa a ladainha se eu fosse falar das belas senhoras verdes que conheci nos remanescentes da nossa mata atlântica (hoje brutalmente mutilada), paraíso de uma incurável saudade. Quanto às soberanas amazônicas, tenho sua imagem comigo, mas de quase todas ignoro os nomes: minhas poucas incursões na grande hiléia e meu despreparo botânico me condenaram a amar deusas anônimas. Em todo o caso, boas lembranças me ficaram. Guardo com fervor, entre outros encantos, o que aprendi no Xingu sobre o mistério dos pequizeiros eróticos, com sua deliciosa armadilha. Hoje associo o fruto malicioso às coisas boas da vida, ao perigo sempre desejado, ao insuspeito charme do Deus Jacaré. Graças aos sábios xinguanos, ainda sonho, também, com a grande árvore que guardava no seu tronco todas as águas do mundo. Acho difícil me convencer de que ela não existe.

            Admiro as árvores do mangue, que debruçam com doce volúpia sobre águas fecundas. São muito generosas essas pastoras de caranguejos.

            Me detenho aqui, a muito custo, porque são muitos os meus amores vegetais: não cabem numa crônica. Justifico meu desvario: ele vem de longos tempos e deriva de graças inesquecíveis.

            Quem nunca se apaixonou por uma árvore não conhece ainda o amor. Homem sem essa experiência não está preparado para o encanto das belas mulheres. Não desfrutará como se deve o corpo subitamente selvagem que lhe pede para enraizar-se; não sentirá o frêmito de invisíveis folhas num vendaval delicioso, nem sentirá em lábios sequiosos o sabor de inúmeras frutas. Não está pronto para as melhores dádivas.

            Se você acha que sou maluco, está quase certo. Esclareço: minha loucura nada tem de perverso, é alegre e pacífica. Repudio solenemente a má louquice, avara e destrutiva, que mata e desmata. Logo, sou bomluco. Descendo de bugres místicos e de portugueses sonhadores, porém os antepassados mais próximos de meu coração, confesso logo: são negros da Costa, adoradores de árvores, com quem ainda falo em meus delírios. São eles que me me fazem compor sonatas arbóreas.

 

 



Collor and Dilma: the impoverishment of politics in Brazil

April 20, 2016 14:04, by Débora Nunes - 0no comments yet

I belong to the generation that built the end of the military dictatorship, which took place in 1984. We campaigned in favor of the amnesty for political prisoners and exiles militants and in favor of direct elections for the president (Diretas Já!). My generation also went to the streets in search for ethics in politics and for the impeachment of the corrupted playboy president of that time, Fernando Collor, who finally resigned in 1992.

For this reason, I couldn´t help from being sadly moved by the scenes I viewed at the television a few days ago, on April 17, 2016. The show that was performed -when the Parliament voted in favor of the impeachment process to President Dilma Roussef- illustrates the politics poverty that we are living in Brazil. Everything is not over for her yet, because the Federal Senate still has to vote for the prosecution to start.

Instead of assisting, like in 1992, to a campaign led by social movements – that had won against the dictatorship – and to honorable people leading the impeachment process in the Parliament, I saw the cynically ill face of Eduardo Cunha, the portrait of a Mafioso politician presiding the court. Instead of hearing deputies´ moving speaks, honoring their lives dedicated to the country, I heard angry and/or fascist’s assumptions, side by side with childish declarations like “kisses to daddy and mom who are watching me”. Those deputies, who were authentically thinking that they were defending the country against corruption, may have felt embarrassed in company of such people.

Instead of seeing, like in 1984 and 1992, a united population in defense of its country, enthusiastic with regards to the ongoing democratic progress, I saw part of the Brazilian society cruelly divided, manipulated by political parties and by media that impose their one-sided point of view, instead of providing information. This day will be unforgettable because the degradation of the democratic practice became evident, transformed in a spectacle with no respect to the Constitution.

Everybody knows that the prosecution doesn’t bring any charges against President Roussef for corruption, but only for budgetary mismanagement of the federal budget, which has already been practiced by others presidents. But almost no deputy cited this issue in his/her vote, as if the trial was another. Indeed, it was another, which makes this vote unconstitutional.

The cure could be worse than the disease. If the impeachment goes on and we have the misfortune of getting vice president Temer and the corrupted PMDB ruling the country, things can get worse in terms of political unsustainability. The Supreme Court may also revoke Temer and then the president would be Eduardo Cunha (argh!). If then we have luck and the House impeaches Cunha, the position will be for Renan Calheiros (who is also persecuted for corruption)! And if the Senate also impeaches Calheiros, Gilmar Mendes would in turn replace him. Mendes is the one who defended Collor in 1992, he is the judge of hate, not the one of temperance! We have hideous prospects ahead. Only one alternative remains to be wished: stay Dilma, stay! The PT and her government seriously screwed up, associated with bad people and misbehaved, but her biography is a thousand times more decent than these gentlemen´s ones.

How to find hope in the midst of so much sadness? Exactly in the fact that party politics are so degraded that civil society is in a process of inventing, to create new political models. In Brazil, and in the world, horizontal models are being born. They provide social control at all stages of political processes, they separate political and economic power, they keep careerism apart, have great local roots, favor interpersonal trust as well as collective responsibility. Innovations always begin in an invisible way. The Brazilian population wishes ethical politics - and this demand is from the entire, united, society - and does not want the same anymore. It should evolve in search of a deep political reform.

The hope also comes from the fact that the millions of people who built the Brazilian democracy are vigilant. Many of them evolved in their political practices for more co-responsibility and want to see this evolution in Brazil. We have already made profound changes in the country and we will continue to do so, this time it will be with our children´s, the new generation, support. These, who share horizontal networks and need not to lie at home, do not tolerate the policy that is going on and require consistency between what is said and what is done. The future is theirs and we will help them build it, without allowing any setback.



Collor et Dilma: l'appauvrissement de la politique au Brésil

April 19, 2016 17:31, by Débora Nunes - 0no comments yet

Je suis de la génération qui a construit la fin de la dictature militaire, avec la campagne pour l´Amnistie des prisonniers et exilés politiques et pour des élections presidentielles directes (Diretas Já) dans les annés 1970 et 1980. Ensuite, cette génération es t descendue dans la  rue à la recherche d'éthique dans la politique, demandant  la destitution du président, playboy corrompu, Fernando Collor. Par conséquent, je ne pouvais pas ne pas m´emouvoir devant le spectacle de la pauvreté politique que j´ai vu  à la télévision ce 17 avril, bien que le résultat ne soit pas définitif (car il y a encore le vote au Sénat). Ce triste spectacle illustre le moment politique que nous vivons.

En 1992, lors du impeachement de Collor, nous avons eu une campagne dans les rues menée par les mouvements sociaux, les mêmes qui avaient renversé la dictature, et des gens honorables au parlement qui dirigeaient le processus pro-impeachment. Maintenant, je n´ai vu que  la face cyniquement maladive d´Eduardo Cunha, le portrait parfait du politique mafieux, en tant que président de la cour. Au lieu d'écouter des discours émouvants de députés qui ont honoré à l´époque leur vie dédiée au Brésil, j'ai entendu des déclarations en colère et / ou fascistes, à côté d´autres, infantines, du genre "j´embrasse maman et papa qui me regardent à la télé."  Ceux qui ont voté pensant véritablement défendre le pays de la corruption étaient probablement gênés d'être en telle compagnie.

Au lieu de voir, comme en 1984 et en 1992, une population enthousiaste des progrès démocratiques réalisés dans le  pays et unie dans la défense du Brésil, on  a vu une division cruelle d´une partie de la société brésilienne, manipulée par les partis politiques et les médias qui imposent leurs vues au lieu d'informer. Ce jour 17 Avril 2016 sera inoubliable, car il a révelé la dégradation du processus politique démocratique et sa transformation en un spectacle mediatique sans respect de la Constitution.  Tout le monde sait que l´inculpation de « crime de responsabilité » de la présidente qui est en cours d'ouverture n´est lié à aucune affaire de corruption, mais plutôt à une manipulation « bureaucratique »,  assez courante, du budget de l´Etat. Mais presque aucun député a cité cette question dans son vote, comme si le procès était un autre. Ce qui était effectivement le cas, c´est ce qui est contraire à la Constitution.

Eh bien, seulement le remède peut être pire que le mal! Si la mise en accusation se confirme, nous aurons le ténébreux Temer  (le vice président du corrompu PMDB)  comme gouverneur du pays, et  les choses pourront empirer encore en termes de précarité politique. Temer peut aussi être révoqué par la Cour Suprême et alors ce sera Eduardo Cunha qui sera le président (Argh!). Si nous avons la chance que Cunha soit mis en accusation par la Chambre (une enquête est en cours), la vacance sera remplie par Renan Calheiros (également en examen)! Et si ce dernier est destitué par le Sénat pour corruption, il peut à son tour être remplacé par Gilmar Mendes , qui a défendu la mise en accusation de Collor et qui est le juge de la haine et non de la tempérance! Cette perspective hideuse avance. Il ne reste plus qu'à prier : Dilma Reste! Le PT et son gouvernement ont fait des erreurs sérieuses, se sont  acoquinés avec des gens malsains et ont consommé leurs propres méfaits, mais la biographie de Dilma est mille fois plus décente que celle de ces messieurs.

Comment trouver l´espoir au mileu de tant de tristesse? Justement, dans le fait que la politique partisane est tellement dégradée que la société civile est en train d´inventer de nouveaux modèles politiques. Des modèles horizontaux sont en train de naître au Brésil et dans le monde. Ces modèles  prévoient un  contrôle par la société civile à chaque étape des processus politiques ; ils séparent la politique du pouvoir économique, refusent le carrièrisme politique, ont un fort ancrage local, favorisent la confiance  interpersonnelle et la responsabilité collective. Les innovations sont toujours invisibles au début, mais la population brésilienne, indépendemment de sa couleur polique, aspire à une vie politique plus saine. C´est cela qui nous unit et qui va nous faire évoluer vers une réforme politique profonde.

L´espoir vient aussi du fait que les millions de brésiliens qui avons construit la démocratie sommes vigilants, qu´une grande partie d´entre nous a évolué dans ses pratiques politiques vers une plus grande co-responsabilité. Nous voulons voir le Brésil évoluer dans ce sens, comme sont en train de le faire d´autres pays depuis peu.  Nous avons déjà fait de profondes transformations dans ce pays et nous continuerons à en faire,  cette fois-ci avec  l´aide des jeunes générations , celles de nos enfants. Ils sont immergés dans les réseaux horizontaux et n´ont pas besoin de mentir à la maison, aussi ils ne tolèrent pas cette politique- là et exigent que les gens soient cohérents dans leurs faits et leurs paroles. Le futur leur appartient et nous les aiderons à le construire, sans permettre des reculades.

Voir quelques articles dans la presse internationale.

1 - New York Times: http://www.nytimes.com/…/dilma-rousseff-targeted-in-brazil-…

2 - El País: http://brasil.elpais.com/…/linha-sucessoria-de-dilma-rouss…/

3 - Der Spiegel: http://www.spiegel.de/…/brasilien-hexenjagd-auf-lula-ein-ka…

4 - The Independent: http://www.independent.co.uk/…/brazils-political-process-da…

5 - Le Monde: http://www.lemonde.fr/…/bresil-michel-temer-voit-son-heure-…

6 - Forbes: http://www.forbes.com/…/why-impeaching-brazils-president-di…

 



Collor e Dilma: empobrecemos imensamente na política

April 18, 2016 22:34, by Débora Nunes - 0no comments yet

Sou da geração que construiu o fim da ditadura militar com a campanha pela Anistia e pela Diretas Já e que foi às ruas em busca de ética na política com o impeachment do playboy corrupto Fernando Collor. Por isso mesmo não podia deixar de me emocionar tristemente com o espetáculo de pobreza política que assisti ontem pela TV e que, embora não seja definitivo (pois há ainda o Senado), ilustra em que momento político estamos vivendo.

Ao invés de ver, como em 1992, uma campanha nas ruas liderada pelos movimentos sociais, os mesmos que tinham derrubado a ditadura, e gente honrada no parlamento liderando o processo pró-impeachment, via o rosto cinicamente doentio de Eduardo Cunha, retrato da política mafiosa, como presidente do tribunal. Ao invés de ouvir discursos emocionados de deputados que honravam uma biografia de dedicação ao país, ouvia afirmações raivosas e/ou fascistas, ao lado de bisonhas declarações do tipo “beijinho a papai e mamãe que estão me assistindo”.  Os que genuinamente votavam pensando defender o país da corrupção provavelmente sentiam-se constrangidos de estarem na companhia de quem estavam.

Ao invés de ver, como em 1984 e em 1992, uma população entusiasmada pelos avanços democráticos e unida em defesa de seu país, vi uma cruel divisão da sociedade brasileira, manipulada pelos partidos políticos e por uma mídia que impõe seus pontos de vista ao invés de informar. Será inesquecível esse dia 17 de abril de 2016, o dia em que escancararmos a degradação do processo democrático em política “espetaculosa” e sem respeito à Constituição. Vamos e venhamos, o processo de crime de responsabilidade está sendo aberto sem nenhuma comprovação de culpa da presidenta em corrupção, e sim por umas tais de “pedaladas fiscais”. Só que quase nenhum deputado citou esse assunto em seu voto, como se o julgamento fosse outro. E era, e isso é inconstitucional.

Pois é, só que depois da tempestade pode estar vindo a ambulância, e não a bonança! Se passar o impeachment e tivermos a temeridade de Temer e o PMDB governando o país, as coisas podem se agravar ainda mais em termos de insustentabilidade política.Temer poderá ainda ser cassado pelo STF e Cunha será o presidente (Argh!). Se então tivermos a sorte de Cunha ser cassado pela Câmara, a vaga será de Renan Calheiros! E se for cassado pelo Senado por corrupção, por sua vez pode ser substituído por Gilmar Mendes que defendeu Collor no processo de impeachment e que é o juiz do ódio e não da temperança! Que perspectiva horrorosa temos pela frente. Só resta pedir: Fica Dilma!  O PT e seu governo erraram gravemente, se misturaram com porcos e agora comem farelos, mas sua biografia é mil vezes mais decente do que a desses senhores.

Como encontrar esperança em meio a tanta tristeza? Exatamente no fato de que a política partidária está tão degradada que há um processo de invenção na sociedade civil visando criar novos modelos políticos. No Brasil e no mundo modelos horizontais estão nascendo, que preveem controle social em todas as etapas dos processos políticos, que separam política e poder econômico, que afastam o carreirismo, que têm grande enraizamento local, que favorecem a confiança interpessoal e a responsabilidade coletiva.  As inovações sempre começam invisíveis, mas a população brasileira quer mais seriedade na política – e essa é uma demanda  verde-amarela-vermelha-azul e cor de rosa –  e não quer mais do mesmo. Ela evoluirá em busca de uma reforma política profunda.

A esperança vem do fato também de que os milhões que construíram a democracia estão vigilantes, que grande parte evoluiu em suas práticas políticas para mais corresponsabilidade e querem ver essa evolução no Brasil. Já fizemos transformações profundas nesse país e continuaremos fazendo, dessa vez com o apoio da nova geração, dos nossos filhos. Esses, que vivem em redes horizontais e que não precisam mentir em casa, não toleram a política que aí está e exigem coerência entre o que se diz e o que se faz. O futuro é deles e os ajudaremos a construí-lo, sem permitir nenhum retrocesso.

 



Meditação e política

March 23, 2016 18:43, by Débora Nunes - 0no comments yet

Em tempos difíceis, a busca de manter a serenidade interna em face da tempestade externa, que é um dos objetivos de quem medita, pode ser um bom caminho. E se a tranquilidade de cada um é preciosa, mais ainda é a de um país inteiro. A boa nova ensinada pela física quântica nos diz que o mundo externo e o mundo interno estão em profunda ligação, assim, manter a calma individualmente contribui para a tranquilização do entorno coletivo. Desse modo, manter a “mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo” também pode ser uma atitude política.

Então, vamos lá: tem-se uma tempestade externa que tem raízes ideológicas e de projeto de sociedade distintos. Entretanto, esses projetos vêm se confrontando há  décadas sem que o pais se incendiasse, criando possibilidades nada positivas. O clima atual de polarização pode ser colocado em perspectiva, ao se tentar imaginar o que pode sair dessa crise e cada um pode sentir qual opção quer ajudar a construir. Uma maioria esmagadora de brasileiros quer o prosseguimento da via democrática e o fortalecimento das instituições e seu aperfeiçoamento e é pra esse tipo de pessoas que esse texto está sendo escrito.

Ao se colocar a situação atual em perspectiva, outra técnica meditativa pode ser bem vinda: a que se baseia no sentir profundo em torno de quatro palavras: observo, acolho, agradeço e ofereço. Assim, podemos buscar observar os fatos de modo um pouco mais neutro, olhando a realidade em sua complexidade, sem nos limitarmos apenas ao que “tendemos a ver”. Em seguida, passa-se a acolher o que é visto tentando evitar julgamentos, aceitar o que é, sabendo que tudo tem dois lados. O próximo passo é encontrar caminhos para tirar lições positivas do que vemos e sermos capazes de agradecer o que observamos e acolhemos. Finalmente, é hora de oferecer, ou seja, colocarmo-nos na perspectiva do que podemos nos engajar a ser ou fazer em face do que observamos, acolhemos e agradecemos.

Avançando um pouco mais e alinhavando técnicas meditativas com o quadro político atual: se sua mente estiver calma e seu coração tranquilo, seja de que lado você estiver, algumas questões podem ser facilmente entendidas como detonadores da tempestade externa atual: para muitos, a condução coercitiva e a divulgação intempestiva de escutas telefônicas de Lula, de um lado, é inaceitável. Para outros tantos, é a indicação para ministro de Estado de alguém que está sendo investigado, mesmo em face da imensa mobilização social pela lei da “ficha limpa”, que tenta trazer mais ética na esfera pública.

Ok, leitor/a, para você que está muito envolvido emocionalmente com o que está acontecendo, vou tentar dar voz ao que “não quer calar”. De um lado, o clima de FLA-FLU, persecutório, que a mídia vem tentando imprimir no país (até pra manter sua audiência, em queda livre em face das novas mídias sociais). Do outro, você não quer deixar de falar do uso da máquina pública que o governo faz pra defender sua posição. Certamente há muitas outras circunstâncias, que, de um lado e de outro, agravam o quadro simplificado que descrevi, mas o objetivo não é dar razão a um lado ou outro, mas ver o quadro em perspectiva.

Olhando assim, talvez seja possível entender a ira de cada um dos lados e, sem deixar de tomar partido, se essa é sua opção, ajudar a reencontrar caminhos de convivência civilizada, que é a única saída pra manter a democracia. Nos colocarmos em perspectiva significa imaginar o que vai sair dessa crise: como em outros países onde essas polarizações exacerbadas já ocorreram, os partidos ou linhas ideológicas diretamente em disputa serão provavelmente muito prejudicados nas próximas eleições. Se os políticos de um lado e de outro fossem mais serenos, perceberiam que o acirramento das contradições irá possivelmente afastá-los de seus objetivos de poder.

A crise abre novas oportunidades: se petistas e peessedebistas, juntos com seus aliados, pagarão um preço alto nas próximas eleições, é hora de perguntar: existem alternativas que possam substituir essas tendências políticas? dificilmente eleitoras e eleitores irão mudar da água pro vinho. Provavelmente vão buscar propostas próximas à que já vem abraçando historicamente. O que mudou, de fato, é uma tolerância cada vez menor com a falta de ética na política e uma confiança cada vez menor no sistema político atual, em grande parte manipulado pelo poder econômico.

Duas novas agremiações políticas que se desenham no horizonte político brasileiro provavelmente crescerão no vácuo da crise. O contínuo movimento da Vida, seja da natureza, seja da política, não vai cessar. Os dois partidos propõem maior horizontalidade na política e buscam aliar a preocupação com a ecologia e com as condições sociais dos brasileiros. Essas são tendências que se apresentam também em outros países e que animam a juventude, tão descrente da política. São eles que farão a política do futuro.

Os que se digladiam agora, sem calma, sem autoquestionamento e sem perspectivas, podem estar ateando fogo em suas próprias vestes, e na nação. Não seria melhor buscar encontrar algum lugar de paz dentro de si, olhar o longo prazo da sociedade brasileira e ajudar a construir, serenamente, o país melhor que todos queremos? Conflitos são bons e nos fazem avançar. Mentiras, violência e a negação do direito de existência de outras perspectivas de mundo precisam ficar para traz.  Dialogar é preciso, e faz bem.  Meditar também.



DEBATE dia 16/03: Especialistas baianos avaliam a Conferência do Clima (COP 21), PAF 3, 18:30h

March 10, 2016 7:25, by Débora Nunes - 0no comments yet

A Conferência do Clima realizada em Paris, em dezembro de 2015, discutiu um dos assuntos mais importantes para a humanidade hoje: o aquecimento global, suas consequências e medidas para reduzir as emissões de carbono que causam as mudanças climáticas. A análise dos resultados do evento tem suscitado controvérsias entre especialistas: alguns acreditam que houve um "acordo histórico" que poderá amenizar as catástrofes climáticas e outros acreditam que a Conferência foi inócua, pois não se previu punições aos países que descumprirem o acordo. Nesse debate, diversos pontos de vista serão contrastados a partir de análises de especialistas que estiveram presentes no evento.

O certo é que 195 países membros da Convenção do Clima da ONU estiveram presentes, assim como milhares de organizações da sociedade civil, mesmo com o clima de medo por causa dos atentados que ensanguentaram Paris no início do ano passado. A pressão da sociedade civil, preocupada com seu futuro e o das novas gerações empurrou a Conferência, mas a resistência dos setores petrolíferos e de interesses nacionais localizados quase paralisou os trabalhos. Um acordo foi construído e valerá a partir de 2020, incluindo todas as nações da Terra, e não apenas os países ricos, na reestruturação das economias e dos modos de vida para combater o aquecimento global.

Os especialistas e professores doutores Osvaldo Soliano, Asher Kiperstok e Emerson Sales, a professora doutora Débora Nunes e o Sr. Eduardo Athayde, da WWI, debaterão o tema a partir de suas vivências diretas da COP21 realizada em Paris em dezembro de 2015, ou do acompanhamento histórico que fazem da temática ambiental.

 

Data 16/03/2015 quarta feira, de 18:30h às 21:30h

Local: Auditório do PAF 3 - UFBA, em Ondina

Promoção: Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Urbano e Regional (PPDRU- UNIFACS) e Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC-UFBA)

 



Avaliação da proposta de PDDU de Salvador

February 13, 2016 17:52, by Débora Nunes - 0no comments yet

 

Para contribuir com o debate cidadão sobe o projeto de Lei do Plano Diretor Urbano de Salvador (PL 396/2015) o professor Ordep Serra e eu fizemos uma avaliação do que foi produzido até hoje, que pode ser acessado aqui. Acompanhe o processo de discussão em curso no site do Participa Salvador. Participe da 2ª Oficina: "Projeto de Lei do PDDU de Salvador, Reflexões Propositivas", que será realizada dia 16/02, das 14h às 20h no Ministério Público Estadual, em Nazaré.